A Doença como Metáfora
O medo da doença, o pavor das palavras. Em 1978, quando convalescia de cancro, Susan Sontag escreveu A Doença como Metáfora, um notável ensaio sobre a utilização alegórica e culpabilizante da doença na nossa cultura. Tornou-se num clássico que a revista Newsweek considerou «um dos livros mais libertadores do seu tempo».
Neste livro, Susan Sontag defende que a maneira mais autêntica de enfrentar a doença – e a mais saudável de estar doente – é resistir a esse «pensamento metafórico» e alegórico. Ao desmistificar essas fantasias, Sontag mostra o que a doença não é: nem maldição, nem castigo, nem um sinal de culpa.
Um ensaio que continua a ter uma enorme influência no pensamento dos profissionais médicos e, acima de tudo, na vida de muitos milhares de pacientes e cuidadores.
Em 1989, em A Sida e as Suas Metáforas, Sontag retoma este tema e desenvolve-o no contexto da crise da sida, na altura, uma doença nova.
«Um combate contra as metáforas letais do medo.»
Michael Ignatieff, The New Republic
«Um livro breve e libertador.»
Kirkus Reviews
| Editora | Quetzal |
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| Editora | Quetzal |
| Negar Chronopost e Cobrança | Não |
| Autores | Susan Sontag |
Susan Sontag nasceu em 1933, em Nova Iorque, cidade onde morreu, em 2004 – e foi uma das mais importantes intelectuais norte-americanas da segunda metade do século xx. Foi professora, ativista na defesa dos direitos das mulheres e dos direitos humanos em geral, ficcionista e ensaísta frequentemente premiada e amplamente traduzida. A sua escrita foi presença assídua em publicações como The New Yorker, The New York Review of Books, The New York Times, The Times Literary Supplement, entre muitas outras. Susan Sontag teve um filho, David Rieff – editor póstumo dos seus escritos –, e viveu os últimos anos da sua vida com a fotógrafa Annie Leibovitz.
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RenascerEste é o primeiro de três volumes que constituem os diários e apontamentos de Susan Sontag e um surpreendente registo da formação de um grande intelecto.O livro começa com entradas diarísticas dos anos de faculdade e as primeiras experiências ficcionais; e acaba em 1963, quando Sontag já se tornara participante e observadora da vida intelectual e artística da cidade de Nova Iorque.Renascer é um auto-retrato caleidoscópico de uma das maiores escritoras e pensadoras norte-americanas, dona de uma curiosidade voraz e de uma enorme apentência pela vida. Nele, assistimos à complexitude da sua jovem consciência, partilhamos os encontros com escritores que ajudaram a formar o seu pensamento, e somos arrebatados para o profundo desafio que constitui a escrita em si. E tudo isto através do inimitável detalhe da circunstância do dia-a-dia. -
Ao Mesmo TempoEste volume junta dezasseis ensaios e conferências escritos por Sontag nos últimos anos de vida, período em que as homenagens à sua obra se sucediam por todo o mundo. Em AT THE SAME TIME escreve sobre a liberdade da literatura, sobre a coragem e a resistência, e analisa destemidamente os dilemas da América do pós 11 de Setembro da degradação da retórica política à horrível tortura dos prisioneiros de Abu Ghraib. No prefácio, David Rieff descreve a paixão que a impeliu toda a vida: Interessava-se por tudo. Na verdade, se apenas tivesse uma palavra para a evocar, essa palavra seria avidez. Queria experimentar tudo, provar tudo, ir a toda a parte, fazer tudo (...) Penso que, para ela, a alegria de viver e a alegria de saber eram uma e a mesma coisa. A inteligência incisiva de Susan Sontag, o brilho da sua expressividade, a profunda curiosidade pela arte e pela política e a sua responsabilidade de testemunhar enquanto autor, colocam-na entre os mais importantes pensadores e escritores do século XX. -
Olhando o Sofrimento dos OutrosSusan Sontag volta ao tema das representações visuais da guerra e da violência na nossa cultura. Este foi o último livro de Susan Sontag a ser publicado antes da sua morte, em 2004. Considerado por muitos uma continuação ou uma adenda ao livro Sobre Fotografia (também publicado pela Quetzal), apesar de os dois livros terem opiniões sobre fotografia radicalmente diferentes, este longo ensaio dedica-se sobretudo à fotografia de guerra. Enquanto desmonta uma série de lugares-comuns no que concerne às imagens de dor, horror e atrocidade, Olhando o Sofrimento dos Outros reafirma a importância das mesmas, mas mina a esperança de que estas consigam comunicar alguma coisa substancial. Se por um lado, a narrativa e o enquadramento conferem às imagens o grosso do seu significado; por outro, os que não passaram por essas experiências tremendas «não são capazes de compreender, não são capazes de imaginar» o que essas imagens representam. -
Ensaios Sobre FotografiaEnsaios sobre Fotografia é um conjunto de ensaios em que Sontag examina uma série de problemas - a um só tempo estéticos e morais - levantados pela presença e autoridade da imagem fotografada nas nossas vidas. Uma obra de referência na discussão sobre o papel da fotografia entre a experiência e a realidade, Ensaios sobre Fotografia valeu a Susan Sontag a atribuição do prestigiado prémio do National Book Critics Circle.«[estes textos tornaram-se] rapidamente clássicos dos estudos sobre a semiótica da fotografia. […] Como seria de esperar, Sontag excluiu uma análise estritamente técnica da prática fotográfica, que tendesse a desligá-la do quadro social. Abrangentes e reflexivas, as suas observações dialogam, de modo erudito e sedutor, com a filosofia, a sociologia, a história, a estética e a pintura, partindo sempre do princípio segundo o qual, atualmente, “tudo existe para terminar numa fotografia”.[…] uma obra que permanece como um inquietante alerta, mas também como um instrumento de prazer.»Rui Bebiano, Ler -
HistóriasÉ para os contos que nos devemos voltar se queremos conhecer Sontag mais intimamente. Ao longo de toda a sua vida de escritora, Susan Sontag dedicou-se intermitentemente à ficção curta. Este livro passa pela alegoria, pela parábola e pela autobiografia e mostra uma personalidade em confronto com problemas não assimiláveis pelo ensaio, a forma mais praticada por Sontag. Aqui ela apanha fragmentos da vida, em relance, dramatiza os seus desgostos e temores mais íntimos e deixa que as personagens se apoderem dela como e quando querem. O resultado é um conjunto de grande versatilidade e charme. E imbuído do brilhantismo que define toda a obra de Susan Sontag. «Casamento, perda, encontro com Thomas Mann. Estas histórias são ricas em conhecimento autobiográfico.»The Guardian«Agora, tantos anos depois da sua morte, toda a sua ficção breve foi reunida neste volume – e que repasto abundante que é.»The Herald«Sontag, a fantasticamente segura “dama sombria das letras americanas” é [aqui] guilhotinada pela Sontag punk, pela agitada Sontag diarística, pela Sontag perplexa.»The New Yorker«Susan Sontag, a crítica literária e social, está perfeitamente em casa na ficção […] e até por ela transfigurada.»The New York Times Magazine -
Illness As Metaphor and AIDS and Its MetaphorsSontag wrote "Illness as Metaphor" in 1978, while suffering from breast cancer herself. In her study, she reveals that the metaphors and myths surrounding certain illnesses, especially cancer, add greatly to the suffering of the patients and often inhibit them from seeking proper treatment. By demystifying the fantasies surrounding cancer, Sontag shows cancer for what it is - a disease; not a curse, not a punishment, certainly not an embarrassment, and highly curable, if good treatment is found early enough. Almost a decade later, with the outbreak of a new, stigmatized disease replete with mystifications and punitive metaphors, Sontag wrote "Aids and Its Metaphors", extending the argument of the earlier book to the AIDS pandemic. -
On PhotographySusan Sontag's groundbreaking critique of photography asks forceful questions about the moral and aesthetic issues surrounding this art form.Susan Sontag's On Photography is a seminal and groundbreaking work on the subject.Susan Sontag's groundbreaking critique of photography asks forceful questions about the moral and aesthetic issues surrounding this art form. Photographs are everywhere, and the 'insatiability of the photographing eye' has profoundly altered our relationship with the world. Photographs have the power to shock, idealize or seduce, they create a sense of nostalgia and act as a memorial, and they can be used as evidence against us or to identify us. In these six incisive essays, Sontag examines the ways in which we use these omnipresent images to manufacture a sense of reality and authority in our lives.'Sontag offers enough food for thought to satisfy the most intellectual of appetites' - The Times -
O Amante do VulcãoEsgotado há muito, o grande romance histórico de Susan Sontag é uma história sobre um triângulo amoroso, a condição das mulheres, a arte, a política – e Nápoles no século XVIII. O «amante do vulcão» referido no título é Sir William Hamilton, diplomata, arqueólogo, vulcanólogo e antiquário britânico – um temperamento erudito e curioso que é também recordado como o marido complacente de Emma Hamilton, amante do Almirante Nelson, famoso pelas suas intervenções nas Guerras Napoleónicas e depois vitorioso na batalha de Trafalgar. A história decorre em Nápoles, onde, de 1764 até 1800, Sir William, conhecido como Cavaliere, foi o embaixador britânico no reino das Duas Sicílias. O romance é uma espécie de tríptico, dividido entre Hamilton, a sua esposa e Lord Nelson. No amor que irrompe entre Emma e Lord Nelson, o Cavaliere encontra outro daqueles fenómenos naturais da vulcanologia que ele só pode observar, nunca experimentar – Emma, cheia de alegria e uma certa vulgaridade, egoísmo, amor à vida, e crueldade; Nelson, uma fonte de mistério, herói militar e também um homem contraditório e um tirano impiedoso. O resultado, na visão de Sontag, só pode ser prodigioso. Um romance inesquecível. «O Amante do Vulcão é um romance poderoso de ideias: alimentado pelo feminismo de Sontag, aplica uma lente moderna às preocupações morais, sociais e estéticas do Iluminismo. E é também um inventário terno do desejo.» The Guardian «Walter Scott certamente teria aprovado o livro; teria gostado imensamente dele.» John Banville, The New York Times «Há uma qualidade operática no livro, e uma grandiosidade, às vezes majestosa, na arte de contar. O estilo é confiante, vigoroso, espirituoso.» John Banville, The New York Times «Sontag acrescenta uma textura histórica à sua saga de intriga sexual e amorosa – e leva-nos a conhecer a vida sórdida, cheia de paixão e política.» Kirkus Review -
Renascer - Diários e Apontamentos 1947-1963Susan Sontag nasceu em 1933, em Nova Iorque, cidade onde morreu, em 2004 — e foi uma das mais importantes intelectuais norte-americanas da segunda metade do século xx. Foi professora, ativista na defesa dos direitos das mulheres e dos direitos humanos em geral, ficcionista e ensaísta frequentemente premiada e amplamente traduzida.A sua escrita foi presença assídua em publicações como The New Yorker, The New York Review of Books, The New York Times, The Times Literary Supplement, entre muitas outras. Susan Sontag teve um filho, David Rieff — editor dos seus diários inéditos —, e viveu os últimos anos da sua vida com a fotógrafa Annie Leibovitz. -
Contra a Interpretação e Outros Ensaios«Contra a interpretação» é um dos mais célebres ensaios de Susan Sontag e o que dá título à sua primeira coletânea de ensaios e recensões, publicada em 1966. Sobre estes escritos, Sontag observou que escrevia «com fervorosa parcialidade, acerca de problemas que […] suscitavam certas obras de arte, maioritariamente contemporâneas, de géneros diferentes: queria revelar e clarificar os pressupostos teóricos subjacentes a determinados juízos de valor e gostos». Entre eles, encontram-se «A morte da tragédia», «Notas sobre o camp», «Marat/Sade/Artaud» e «Sobre o estilo» (publicados na Partisan Review); «Os Cadernos de Camus» e «Ionesco» (New York Review of Books); «O artista como sofredor exemplar» (The Second Coming); «Uma cultura e a nova sensibilidade» (Mademoiselle); e «A imaginação da catástrofe» (Commentary), para nomear apenas alguns.
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Para Tão Curtos Amores, Tão Longa VidaNuma época e num país como o nosso, em que se regista um número muito elevado de divórcios, e em que muitos casais preferem «viver juntos» a casar-se, dando origem nas estatísticas a muitas crianças nascidas «fora do casamento», nesta época e neste país a pergunta mais próxima da realidade não é por que duram tão pouco tantos casamentos, mas antes: Por que é que há casamentos que duram até à morte dos cônjuges? Qual é o segredo? Há um segredo nisso? Este novo livro de Daniel Sampaio, que traz o título tão evocativo: Para Tão Curtos Amores, Tão Longa Vida, discute as relações afetivas breves e as prolongadas, a monogamia e a infidelidade, a importância da relação precoce com os pais e as vicissitudes do amor. Combinando dois estilos, o ficcional e o ensaístico, que domina na perfeição, o autor traz perante os nossos olhos, de modo muito transparente e sem preconceitos, tão abundantes nestas matérias, os problemas e dificuldades dos casais no mundo de hoje, as suas vitórias e derrotas na luta permanente para manterem viva a sua união.Um livro para todos nós porque (quase) todos nós, mais tarde ou mais cedo, passamos por isso. -
Sobre as MulheresSobre as Mulheres é uma amostra substancial da escrita de Susan Sontag em torno da questão da mulher. Ao longo dos sete ensaios e entrevistas (e de uma troca pública de argumentos), são abordados relevantes temas, como os desafios e a humilhação que as mulheres enfrentam à medida que envelhecem, a relação entre a luta pela libertação das mulheres e a luta de classes, a beleza, o feminismo, o fascismo, o cinema. Ao fim de cinquenta anos – datam dos primeiros anos da década de 1970 –, estes textos não envelheceram nem perderam pertinência. E, no seu conjunto, revelam a curiosidade incansável, a precisão histórica, a solidez política e o repúdio por categorizações fáceis – em suma, a inimitável inteligência de Sontag em pleno exercício.«É um deleite observar a agilidade da mente seccionando através da flacidez do pensamento preguiçoso.» The Washington Post«Uma nova compilação de primeiros textos de Sontag sobre género, sexualidade e feminismo.» Kirkus Reviews -
A Vida na SelvaHá quem nasça para o romance ou para a poesia e se torne conhecido pelo seu trabalho literário; e quem chegue a esse ponto depois de percorrer um longo caminho de vida, atravessando os escolhos e a complexidade de uma profissão, ou de uma passagem pela política, ou de um reconhecimento público que não está ligado à literatura. Foi o caso de Álvaro Laborinho Lúcio, que publicou o seu primeiro e inesperado romance (O Chamador) em 2014.Desde então, em leituras públicas, festivais, conferências e textos com destinos vários, tem feito uma viagem de que guarda memórias, opiniões, interesses, perguntas e respostas, perplexidades e reconhecimentos. Estes textos são o primeiro resumo de uma vida com a literatura – e o testemunho de um homem comprometido com as suas paixões e o diálogo com os outros. O resultado é comovente e tão inesperado como foi a publicação do primeiro romance. -
O Infinito num JuncoA Invenção do livro na antiguidade e o nascer da sede dos livros.Este é um livro sobre a história dos livros. Uma narrativa desse artefacto fascinante que inventámos para que as palavras pudessem viajar no tempo e no espaço. É o relato do seu nascimento, da sua evolução e das suas muitas formas ao longo de mais de 30 séculos: livros de fumo, de pedra, de argila, de papiro, de seda, de pele, de árvore, de plástico e, agora, de plástico e luz.É também um livro de viagens, com escalas nos campos de batalha de Alexandre, o Grande, na Villa dos Papiros horas antes da erupção do Vesúvio, nos palácios de Cleópatra, na cena do homicídio de Hipátia, nas primeiras livrarias conhecidas, nas celas dos escribas, nas fogueiras onde arderam os livros proibidos, nos gulag, na biblioteca de Sarajevo e num labirinto subterrâneo em Oxford no ano 2000.Este livro é também uma história íntima entrelaçada com evocações literárias, experiências pessoais e histórias antigas que nunca perdem a relevância: Heródoto e os factos alternativos, Aristófanes e os processos judiciais contra humoristas, Tito Lívio e o fenómeno dos fãs, Sulpícia e a voz literária de mulheres.Mas acima de tudo, é uma entusiasmante aventura coletiva, protagonizada por milhares de personagens que, ao longo do tempo, tornaram o livro possível e o ajudaram a transformar-se e evoluir – contadores de histórias, escribas, ilustradores e iluminadores, tradutores, alfarrabistas, professores, sábios, espiões, freiras e monjes, rebeldes, escravos e aventureiros.É com fluência, curiosidade e um permanente sentido de assombro que Irene Vallejo relata as peripécias deste objeto inverosímil que mantém vivas as nossas ideias, descobertas e sonhos. E, ao fazê-lo, conta também a nossa história de leitores ávidos, de todo o mundo, que mantemos o livro vivo.Um dos melhores livros do ano segundo os jornais El Mundo,La Vanguardia e The New York Times(Espanha). -
O Anticrítico«O Anticrítico» é uma compilação dos ensaios de Diogo Vaz Pinto — textos de crítica literária, e não só —, escritos entre 2014 e 2023, incluindo alguns inéditos. «Não tenho conta para as vezes todas em que, para ir com a rábula insultuosa que me tecem, pegando uns onde outros deixaram, numa cooperativa de imbecis que, sinceramente, me comove, já me quiseram tirar a condição que vem de tudo o que faço. Mais difícil seria desmontar alguma coisa. Resta que, ou ignoram muito vermelhuscos, ou a ideia é revogar-me a carta, licença, prostrar-me na indigência de eu ser uma qualquer abominação, «Bicho», monstro que ligam com tudo o que é baixo, e mesmo assim paira sobre eles sem explicação. Um Chernobyl encarnado. Crítico não sou. Ou só pseudo. Videirinho e jornaleiro, pilha-galinhas e o mais que eu coso bem ao meu estuporado currículo. Pois seja, eu fico então gordo disso tudo. E viro-me do avesso. Sou o anticrítico, então! Roubando esta de Augusto de Campos sem pudor. Há muito que não me retiram do sentido a ideia de que o principal é cortar com a impostura disto tudo. A gloríola da mediocridade, o sentido gregário, essa ratada ficção ligando os «egozinhos de porta-aberta» do nosso meio literato.» -
Terra QueimadaEnsaio profético e demolidor, TERRA QUEIMADA (2022) expõe a forma como o complexo internético se tornou «motor implacável de vício, solidão, falsas esperanças, crueldade, psicose, endividamento, vida desbaratada, corrosão da memória e desintegração social». Nele, Jonathan Crary faz uma crítica radical da digitalização do mundo e denuncia realidades inegáveis: a incompatibilidade entre um planeta habitável e a economia consumista e técnica, a atomização provocada pelas redes sociais, a era digital como fase terminal do capitalismo planetário. «Se é possível um futuro habitável e comum no nosso planeta», conclui, «esse futuro será offline, dissociado dos sistemas e da actividade do capitalismo 24/7, que destroem o mundo». -
Mário Cesariny e Antonio Tabucchi - Cartas e outros TextosFernando Cabral Martins: «O surrealismo português já tinha atingido no final dos anos sessenta uma definição que tornava possível, de um ponto de vista exterior, descomprometido, fazer uma avaliação de conjunto.» Antonio Tabucchi veio a Portugal no rasto de um poeta: Fernando Pessoa, ou melhor Álvaro de Campos, de quem lera por acaso o poema «Tabacaria». Quis aprender a língua do autor do poema e para isso inscreveu-se na cadeira de Língua e Literatura Portuguesa na Universidade de Pisa, que então frequentava. O seu mestre foi uma professora especial, bela, inteligente e culta, Luciana Stegagno Picchio. Antonio quis conhecer o país onde se falava aquela língua e ao qual pertencia aquele poeta e, na Primavera de 1965, com o seu Fiat 500, chegou a Portugal. Aí conheceu uma portuguesa com quem falou de Pessoa, e com quem continuou a trocar correspondência até ao ano seguinte, quando se tornaram namorados, vindo depois a casar (1970). Mas até lá, veio amiúde a Portugal […] e começou a interessar-se pelo Surrealismo português, sobre o qual havia muito pouco material crítico, praticamente nada, em vista da sua futura tese de licenciatura. Conheceu então (1967) dois membros ilustres daquele movimento, dois grandes poetas, Alexandre O’Neill e Mário Cesariny de Vasconcelos, com quem passou muitas horas, primeiro para os entrevistar e depois, com sempre maior intimidade, já com laços de amizade, só pelo prazer de estarem juntos. [Maria José de Lancastre] Esta é a história de um desencontro. Cesariny, como o surrealismo, considerava a universidade um inimigo, e Tabucchi, para todos os efeitos, era em 1971 um universitário. Mesmo se, no caso dele, havia por parte do poeta o agrado de ver como a sua poesia e o seu lugar no surrealismo português eram reconhecidos — pela primeira vez — por um leitor com a distância crítica e a óbvia inteligência de Antonio Tabucchi. Aqui, nos textos que documentam o contacto directo entre ambos do final dos anos 60, pode ver-se uma ilustração do modo como a história do surrealismo foi sendo feita, com que ritmo e a partir de que posições. E que implica a consciência, por parte do poeta, da importância do sentido que a crítica atribui à História, capaz (ou não) de tornar o passado digno do presente, ou vice- -versa. E manifesta, por parte do jovem crítico italiano, a intuição da grandeza de um movimento que evoluía na sombra, num carceral jardim à beira-mar. [Fernando Cabral Martins]
