Avenida da Liberdade, n.º 1
Luís Serpa (n. 1957, em Lisboa) é marinheiro por opção e um apaixonado pela literatura.
Em 1966 foi para Quelimane e em 1971 para a então Lourenço Marques, em Moçambique, com uma breve passagem pela Suíça entre as duas.
Em 1974 regressou a Portugal e matriculou-se na Escola Náutica Infante D. Henrique. Interrompeu o segundo ano para ir passar uns meses ao Rio de Janeiro, mas voltou a tempo de acabar o curso. Foi para a Marinha Mercante, onde esteve dois anos – dos quais seis meses na marinha Venezuelana. Deu a volta ao mundo num graneleiro que quase afundou no mar do Japão, andou na cabotagem num cimenteiro na costa venezuelana e nas Caraíbas, andou à pescada na Namíbia e fez a sua última viagem na marinha na última viagem do N/M LEIXÕES, Lisboa – Nacala e volta.
Em 1978 inscreveu-se na Escola Superior de Cinema, de que fez apenas o primeiro ano, devido a uma viagem por França e pela Suíça que começou em 1979 e se prolongou por quase vinte anos, com um interregno de um ano em Aveiro, nas dragagens do porto. Na Suíça lavou pratos, tirou neve dos telhados, trabalhou numa quinta, num Albergue de Juventude, num café, lavou janelas, reparou elevadores (enfim, ajudou a repará-los), fez limpezas, fez videos e montou uma agência de viagens / tour operator / agência de charter em Genebra com base nos Açores, fez transportes de embarcações de vela e a motor no Mediterrâneo e no mar do Norte, fez regatas, deu aulas de vela e de regata, atravessou o Atlântico pela primeira vez à vela, sobrevivendo a um ciclone, casou com uma mulher extraordinária chamada Sandra e teve dois filhos lindos, Tomás e Helena.
Em 1994 resolveu deixar o mar e os barcos e foi enviado pelo ACNUR para o Burundi, onde passou um ano a fazer de logistics oficer (e comprou um pequeno veleiro para navegar no lago Tanganyka). Foi durante o genocídio do Rwanda e provavelmente o ano mais intenso da sua vida. Em 1996 voltou à ajuda humanitária, desta vez no então Zaire, com o CICR. Kabyla pai tomava o poder das mãos de Mobutu. Ficou seis meses, no lado governamental.
Em 1997 resolveu regressar a Lourenço Marques, erro que pagou caro e não só porque Lourenço Marques se tinha transformado em Maputo (ou seja, não regressou a lado nenhum). O regresso à Europa, em Dezembro de 1999 permitiu-lhe assistir às celebrações do milénio em Genebra. Deu um salto a Londres, voltou a Genebra para ser estafeta numa companhia de entregas, foi contratado para montar um projecto de turismo enológico em avião privado com base em Neuchatel, Suíça, o projecto abortou e voltou para Portugal.
Passou o pouco que restava de 2001 e 2002 todo a mudar-se da Suíça para Portugal, com passagens por Bruxelas e Paris. Entre 2003 e 2010 tentou viver em Portugal, primeiro da vela e das embarcações de recreio – regatas, escola de vela eventos náuticos - e depois de um projecto chamado Mares – Olhares, uma das poucas coisas que fez pelas quais daria dez anos de vida, talvez quinze. Em 2010 voltou ao mar, o único meio no qual é recebido de braços abertos. Andou pelas Caraíbas, pelo Mediterrâneo, Brasil, Panamá, atravessou o Atlântico mais quatro vezes e agora está em Palma de Mallorca desde 2018 por causa de uma embarcação de vela chamada PANDA pela qual se apaixonou, apesar de todas as promessas feitas a si próprio de que isso nunca mais voltaria a acontecer.
Escreve desde pequeno, mas por felicidade tudo o que escreveu foi-se perdendo. Em 2003 decidiu contrariar tanta felicidade e criou o blogue Don Vivo, com o intuito de aí armazenar as coisas que ia escrevendo. O blogue ganhou vida própria e tornou-se uma parte integrante, importante e essencial da sua vida.
Para além dos eventos náuticos organizou eventos culturais com a Ler por aí… um projecto cultural cujo objectivo é unir a literatura e a geografia (não que seja muito preciso, é uma união que existe provavelmente desde que a geografia e a literatura existem. Mas o facto de o vinho existir há milhares de anos não impede ninguém de o beber, pois não?) Na Ler por aí… organizou jantares culturais e ajudou na abertura da livraria-café, um espaço a que em segredo chamou “La Bourlingue” porque é a palavra de que mais gosta em todas as línguas do universo.
Gosta de ler e de fotografar, paixões que herdou do Pai, ele também marinheiro. Gosta de navegar, se bem “gostar” não seja o verbo apropriado; e de conhecer as pessoas, coisa estranha num tipo que é fundamentalmente tímido. Gosta de comer e de beber, pelo que aprendeu a cozinhar - com a tia Mamé, uma senhora que escreveu um dos livros da vida dele: um receituário que tanto quanto sabe nunca foi publicado mas que devia ser obrigatório em todas as escolas do país, porque um homem só é verdadeiramente autónomo quando sabe cozinhar.
Espera um dia estabelecer-se simultaneamente em Mértola, em Lisboa, em Palma e em Genebra e nos intervalos ir a Jost van Dyke beber painkillers, a S. Luis do Maranhão ver os amigos que lá deixou e tanta falta lhe fazem e a Bocas del Toro porque sim.
Aos sessenta e um anos continua maravilhado com tudo o que vê, vive, sonha e ama, coisa que um espírito mais sóbrio atribuiria sem dúvida a um excesso de ingenuidade e ele também.
Estas são as histórias e aventuras do homem, do marinheiro, do aventureiro.
| Editora | BookBuilders |
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| Categorias | |
| Editora | BookBuilders |
| Negar Chronopost e Cobrança | Não |
| Autores | Luis Serpa, Manuel Monteiro |
Manuel Monteiro é autor, revisor linguístico e formador profissional de Revisão de Textos. Em 1999, venceu o concurso literário do SOS Racismo e, em 2012, o programa Novos Talentos Fnac Literatura. É autor, entre outros livros, do Dicionário de Erros Frequentes da Língua e, mais recentemente, de Por Amor à Língua (2018) e Sobre o Politicamente Correcto (2020), ambos recebidos entusiasticamente pela crítica. Em 2021 publicou O funambulista, o ateu intolerante e outras histórias reais, crónicas insólitas de um quotidiano particular. Exerceu, durante muitos anos, o ofício de jornalista, escrevendo, ainda hoje, para jornais.
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Do Recenseamento Eleitoral em Portugal"O recenseamento eleitoral é uma das traves mestras do actual sistema político representativo português. É em sua função que se atribuem deputados aos círculos eleitorais do território nacional e que se define o número de eleitos para a esmagadora maioria dos órgãos autárquicos, sendo ainda decisivo na validação constitucional dos referendos.Em Portugal, a sua importância política começou a ser notória logo no período da Monarquia Constitucional, onde controlar as comissões de recenseamento era condição essencial para ganhar eleições, não tendo essa importância diminuído nem durante a Primeira República, nem durante o Estado Novo.De oficioso e voluntário até às eleições para a Assembleia Constituinte, em 1975, do novo regime democrático, o recenseamento eleitoral passou a oficioso e obrigatório na letra da Constituição de 1976, e é hoje, de facto, depois da inscrição automática dos eleitores apenas oficioso.Justificando assiduamente o número de deputados que compõem o Parlamento e garantindo por essa via a sustentabilidade do sistema partidário, a obrigatoriedade do recenseamento levou-nos a reflectir sobre a possibilidade de adopção de um novo sistema de inscrição eleitoral alicerçado na livre decisão dos cidadãos.Um sistema que aliando a liberdade à responsabilidade fizesse depender o número de representantes a eleger ou apenas da inscrição voluntária nos cadernos eleitorais ou desta e da efectiva taxa de votação.A liberdade de intervenção e de participação eleitoral, desde o recenseamento até ao voto, norteiam assim o nosso estudo, alicerçaram o caminho que percorremos e fundamentaram as considerações que fazemos." -
Sei Onde Mora o HerbertoO romance conta a história de um homem vulgar, mas que, devido a duas características, vai viver uma vida invulgar.O personagem principal tem uma fobia que o faz perseguir homens famosos, para saber mais da sua vida íntima (Salazar, Álvaro Cunhal, Sebastião Alba, Herberto Helder) e que o conduz às mais mirabolantes aventuras.E tem um dom sexual (fruto da iniciação na juventude com uma prostituta do Bairro Alto) que faz dele um agente de felicidade para mulheres insatisfeitas, casadas e solteiras. No romance, um outro personagem adquire uma dimensão original: o gato Osborne, que toma a palavra e participa na acção, assumindo um papel decisivo no seu desfecho. -
Por Amor À Língua - Contra o Uso Incorrecto da Língua PortuguesaSe chove muito, chove torrencialmente. Se aconselhamos ou recomendamos com ênfase, aconselhamos e recomendamos vivamente. Se rejeitamos ou recusamos, rejeitamos e recusamos liminarmente. Mas, se afirmamos, afirmamos categoricamente ou peremptoriamente. Quando acreditamos, acreditamos piamente; mas, quando confiamos, já confiamos cegamente. Se nos enganamos, enganamo-nos redondamente; mas, se falhamos, já falhamos rotundamente. E, quando alguém mente, não raro, recorremos à rima para o insultar: mente descaradamente. E tudo isto nos deveria IRRITAR SOLENEMENTE (quando alguém se irrita, fá-lo sempre com solenidade). -
Sobre o Politicamente CorrectoManuel Monteiro, autor do aclamado “Por amor à língua”, vira a sua atenção para o politicamente correto e a linguagem a ele associado. O cuidado e o respeito na forma como nos dirigimos ao outro e como descrevemos o mundo à nossa volta são considerados formas básicas de educação. Mas serão todas as suas propostas positivas e igualmente defensáveis? Ou, pelo contrário, terão algumas destas imposições linguísticas o condão de limitar de tal forma a liberdade de pensamento de cada um que muitos acabam por não se rever na mensagem que querem fazer passar? Argumentos de ambos os lados são pesados com a ponderação e humor característicos do autor acerca de um assunto mais complexo e estratificado do que aquilo que aparenta. -
O Funambulista, o Ateu Intolerante e Outras Histórias ReaisEm O Funambulista, o Ateu Intolerante e Outras Histórias Reais, Manuel Monteiro relata, com talento, algumas das histórias que o marcaram, versando os temas do quotidiano a que dificilmente alguém consegue fugir nesta lide de estar vivo e existir em comunidade. Do trabalho à religião, passando pela violência, o sexo ou a vaidade, todos os episódios são narrados com a minúcia e a frieza de um cirurgião, acompanhados de uma utilíssima panaceia de sugestões literárias e da Sétima Arte, cumprindo o papel que melhor lhes cabe: o de bússola.Em conversa com amigos, familiares, taxistas, colegas e desconhecidos, viajamos entre a comédia e a tragédia, para descobrir que o mundo e as opiniões são tão diversos como as pessoas que nele habitam. E que, não raras vezes, a realidade nada fica a dever à ficção.Entre o insólito e o quotidiano, o abismo da alma humana. -
Do Recenseamento Eleitoral em Portugal"O recenseamento eleitoral é uma das traves mestras do actual sistema político representativo português. É em sua função que se atribuem deputados aos círculos eleitorais do território nacional e que se define o número de eleitos para a esmagadora maioria dos órgãos autárquicos, sendo ainda decisivo na validação constitucional dos referendos. Em Portugal, a sua importância política começou a ser notória logo no período da Monarquia Constitucional, onde controlar as comissões de recenseamento era condição essencial para ganhar eleições, não tendo essa importância diminuído nem durante a Primeira República, nem durante o Estado Novo. De oficioso e voluntário até às eleições para a Assembleia Constituinte, em 1975, do novo regime democrático, o recenseamento eleitoral passou a oficioso e obrigatório na letra da Constituição de 1976, e é hoje, de facto, depois da inscrição automática dos eleitores apenas oficioso. Justificando assiduamente o número de deputados que compõem o Parlamento e garantindo por essa via a sustentabilidade do sistema partidário, a obrigatoriedade do recenseamento levou-nos a reflectir sobre a possibilidade de adopção de um novo sistema de inscrição eleitoral alicerçado na livre decisão dos cidadãos. Um sistema que aliando a liberdade à responsabilidade fizesse depender o número de representantes a eleger ou apenas da inscrição voluntária nos cadernos eleitorais ou desta e da efectiva taxa de votação. A liberdade de intervenção e de participação eleitoral, desde o recenseamento até ao voto, norteiam assim o nosso estudo, alicerçaram o caminho que percorremos e fundamentaram as considerações que fazemos." -
O Mundo pelos Olhos da LínguaUm novo livro de Manuel Monteiro, em defesa da língua, contra as falácias e os erros que a dominam.Manuel Monteiro gosta da língua portuguesa. Gosta particularmente quando é bem falada – o que nem sempre acontece na forma como nos expressamos no nosso quotidiano ou mesmo naquilo que ouvimos na televisão e na rádio. No seu novo livro, Manuel Monteiro ensina-nos a pensar com clareza e a evitar determinadas falácias e erros comuns no nosso discurso. Porque pensamento e linguagem são indissociáveis, e quando um é claro, o outro é claríssimo. Os Portugueses deixaram de se intitular, passaram a auto-intitular-se. O Português já não se proclama coisa alguma; ele autoproclama-se. De ego inflado, o Português reluz. Convenhamos: tem mais pinta. Repare: ele não se domina nem se controla; ele autodomina-se e autocontrola-se. É outra loiça.
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O Essencial Sobre José Saramago«Aquilo que neste livro se entende como essencial em José Saramago corresponde à sua específica identidade como escritor, com a singularidade e com as propriedades que o diferenciam, nos seus fundamentos e manifestações. Mas isso não é tudo. No autor de Memorial do Convento afirma-se também uma condição de cidadão e de homem político, pensando o seu tempo e os fenómenos sociais e culturais que o conformam. Para o que aqui importa, isso é igualmente essencial em Saramago, até porque aquela condição de cidadão não é estranha às obras literárias com as quais ela interage, em termos muito expressivos.» in Contracapa -
Confissões de um Jovem EscritorUmberto Eco publicou seu primeiro romance, O Nome da Rosa, em 1980, quando tinha quase 50 anos. Nestas suas Confissões, escritas cerca de trinta anos depois da sua estreia na ficção, o brilhante intelectual italiano percorre a sua longa carreira como ensaísta dedicando especial atenção ao labor criativo que consagrou aos romances que o aclamaram. De forma simultaneamente divertida e séria, com o brilhantismo de sempre, Umberto Eco explora temas como a fronteira entre a ficção e a não-ficção, a ambiguidade que o escritor mantém para que seus leitores se sintam livres para seguir o seu próprio caminho interpre tativo, bem como a capacidade de gerar neles emoções. Composto por quatro conferências integradas no âmbito das palestras Richard Ellmann sobre Literatura Moderna que Eco proferiu na Universidade Emory, em Atlanta, nos Estados Unidos, Confissões de um jovem escritor é uma viagem irresistível aos mundos imaginários do autor e ao modo como os transformou em histórias inesquecíveis para todos os leitores. O “jovem escritor” revela-se, afinal, um grande mestre e aqui partilha a sua sabedoria sobre a arte da imaginação e o poder das palavras. -
Sobre as MulheresSobre as Mulheres é uma amostra substancial da escrita de Susan Sontag em torno da questão da mulher. Ao longo dos sete ensaios e entrevistas (e de uma troca pública de argumentos), são abordados relevantes temas, como os desafios e a humilhação que as mulheres enfrentam à medida que envelhecem, a relação entre a luta pela libertação das mulheres e a luta de classes, a beleza, o feminismo, o fascismo, o cinema. Ao fim de cinquenta anos – datam dos primeiros anos da década de 1970 –, estes textos não envelheceram nem perderam pertinência. E, no seu conjunto, revelam a curiosidade incansável, a precisão histórica, a solidez política e o repúdio por categorizações fáceis – em suma, a inimitável inteligência de Sontag em pleno exercício.«É um deleite observar a agilidade da mente seccionando através da flacidez do pensamento preguiçoso.» The Washington Post«Uma nova compilação de primeiros textos de Sontag sobre género, sexualidade e feminismo.» Kirkus Reviews -
Para Tão Curtos Amores, Tão Longa VidaNuma época e num país como o nosso, em que se regista um número muito elevado de divórcios, e em que muitos casais preferem «viver juntos» a casar-se, dando origem nas estatísticas a muitas crianças nascidas «fora do casamento», nesta época e neste país a pergunta mais próxima da realidade não é por que duram tão pouco tantos casamentos, mas antes: Por que é que há casamentos que duram até à morte dos cônjuges? Qual é o segredo? Há um segredo nisso? Este novo livro de Daniel Sampaio, que traz o título tão evocativo: Para Tão Curtos Amores, Tão Longa Vida, discute as relações afetivas breves e as prolongadas, a monogamia e a infidelidade, a importância da relação precoce com os pais e as vicissitudes do amor. Combinando dois estilos, o ficcional e o ensaístico, que domina na perfeição, o autor traz perante os nossos olhos, de modo muito transparente e sem preconceitos, tão abundantes nestas matérias, os problemas e dificuldades dos casais no mundo de hoje, as suas vitórias e derrotas na luta permanente para manterem viva a sua união.Um livro para todos nós porque (quase) todos nós, mais tarde ou mais cedo, passamos por isso. -
A Vida na SelvaHá quem nasça para o romance ou para a poesia e se torne conhecido pelo seu trabalho literário; e quem chegue a esse ponto depois de percorrer um longo caminho de vida, atravessando os escolhos e a complexidade de uma profissão, ou de uma passagem pela política, ou de um reconhecimento público que não está ligado à literatura. Foi o caso de Álvaro Laborinho Lúcio, que publicou o seu primeiro e inesperado romance (O Chamador) em 2014.Desde então, em leituras públicas, festivais, conferências e textos com destinos vários, tem feito uma viagem de que guarda memórias, opiniões, interesses, perguntas e respostas, perplexidades e reconhecimentos. Estes textos são o primeiro resumo de uma vida com a literatura – e o testemunho de um homem comprometido com as suas paixões e o diálogo com os outros. O resultado é comovente e tão inesperado como foi a publicação do primeiro romance. -
Almoço de DomingoUm romance, uma biografia, uma leitura de Portugal e das várias gerações portuguesas entre 1931 e 2021. Tudo olhado a partir de uma geografia e de uma família.Com este novo romance de José Luís Peixoto acompanhamos, entre 1931 e 2021, a biografia de um homem famoso que o leitor há de identificar — em paralelo com história do país durante esses anos. No Alentejo da raia, o contrabando é a resistência perante a pobreza, tal como é a metáfora das múltiplas e imprecisas fronteiras que rodeiam a existência e a literatura. Através dessa entrada, chega-se muito longe, sem nunca esquecer as origens. Num percurso de várias gerações, tocado pela Guerra Civil de Espanha, pelo 25 de abril, por figuras como Marcelo Caetano ou Mário Soares e Felipe González, este é também um romance sobre a idade, sobre a vida contra a morte, sobre o amor profundo e ancestral de uma família reunida, em torno do patriarca, no seu almoço de domingo.«O passado tem de provar constantemente que existiu. Aquilo que foi esquecido e o que não existiu ocupam o mesmo lugar. Há muita realidade a passear-se por aí, frágil, transportada apenas por uma única pessoa. Se esse indivíduo desaparecer, toda essa realidade desaparece sem apelo, não existe meio de recuperá-la, é como se não tivesse existido.» «Os motoristas estão à espera, o brado da multidão mistura-se com o rugido dos motores. Antes de entrarmos, o Mário Soares aproxima-se de mim, correu tudo tão bem, e abraça-me com um par estrondosas palmadas no centro das costas. A coluna de carros avança devagar pelas ruas da vila. Tenho a garganta apertada, não consigo falar. Como me orgulha que Campo Maior seja a capital da península durante este momento.»«Autobiografia é um romance que desafia o leitor ao diluir fronteiras entre o real e o ficcional, entre espaços e tempos, entre duas personagens de nome José, um jovem escritor e José Saramago. Este é o melhor romance de José Luís Peixoto.»José Riço Direitinho, Público «O principal risco de Autobiografia era esgotar-se no plano da mera homenagem engenhosa, mas Peixoto evitou essa armadilha, ao construir uma narrativa que se expande em várias direções, acumulando camadas de complexidade.»José Mário Silva, Expresso -
Electra Nº 23A Atenção, tema de que se ocupa o dossier central do número 23 da revista Electra, é um recurso escasso e precioso e por isso objecto de uma guerra de concorrência sem tréguas para conseguir a sua captura. Nunca houve uma tão grande proliferação de informação, de produtos de consumo, de bens culturais, de acontecimentos que reclamam a atenção. Ela é a mercadoria da qual depende o valor de todas as mercadorias, sejam materiais ou imateriais, reais ou simbólicas. A Atenção é, pois, uma questão fundamental do nosso tempo e é um tópico crucial para o compreendermos. Sobre ela destacam-se neste dossier artigos e entrevistas de Yves Citton, Enrico Campo, Mark Wigley, Georg Franck e Claire Bishop. Nesta edição, na secção “Primeira Pessoa”, são publicadas entrevistas à escritora, professora e crítica norte-americana Svetlana Alpers (por Afonso Dias Ramos), cujo trabalho pioneiro redefiniu o campo da história da arte nas últimas décadas, e a Philippe Descola (por António Guerreiro), figura central da Antropologia, que nos fala de temas que vão desde a produção de imagens e das tradições e dos estilos iconográficos à questão da oposição entre natureza e cultura. A secção “Furo” apresenta um conjunto de desenhos e cartas inéditos da pintora Maria Helena Vieira da Silva. Em 1928, tinha vinte anos. Havia saído de Portugal para estudar arte em Paris e, de França, foi a Itália numa viagem de estudo. Durante esse percurso desenhou num caderno esboços rápidos do que via, e ao mesmo tempo, escrevia cartas à mãe para lhe contar as suas impressões e descobertas. Uma selecção destes desenhos e destas cartas, que estabelecem entre si um diálogo íntimo e consonante, é agora revelada. Na Electra 23, é publicada, na secção “Figura”, um retrato do grande poeta grego Konstandinos Kavafis, feito pelo professor e tradutor Nikos Pratsinis, a partir de oito perguntas capitais; é comentada, pelo escritor Christian Salmon, na secção “Passagens”, uma reflexão sobre a história trágica da Europa Central do consagrado romancista e ensaísta checo, Milan Kundera. Ainda neste número, o ensaísta e jornalista Sergio Molino dá-nos um mapa pessoal da cidade de Saragoça, em que a história e a geografia, a literatura e a arte se encontram; o jornalista e colunista brasileiro Marcelo Leite trata das investigações em curso desde os anos 90, com vista ao uso farmacológico e terapêutico dos psicadélicos; a escritora e veterinária María Sanchez constrói um diário que é atravessado por procuras e encontros, casas e viagens, livros e animais, terras e mulheres, amor e amizade; o arquitecto, investigador e curador chileno Francisco Díaz aborda a relação entre solo e terreno, a partir do projecto da Cidade da Cultura de Santiago de Compostela, da autoria de Peter Eisenman; o artista e ensaísta João Sousa Cardoso escreve sobre a obra do escultor Rui Chafes, revisitando três exposições e um livro apresentados durante o ano de 2023; e o dramaturgo Miguel Castro Caldas comenta a palavra “Confortável”.Vários -
Diário SelvagemEste «Diário Selvagem», «até aqui quase integralmente inédito, é um livro mítico, listado e discutido em inúmeras cartas e cronologias do autor, a que só alguns biógrafos e estudiosos foram tendo acesso».