Comédia thriller em termos de relato no aqui e agora do pensamento e das ações de dois polícias, uma guarda prisional e um deputado progressista.

As racionalizações dos personagens caem em redundâncias, circularidades, dúvidas obsessivas, erros silogísticos, dilemas sem resolução, para chegar à complexidade.

Mas é este o modo de pensar tortuoso dos habitantes do Estado da Metrópole, diferente de todos os outros.

O Estado atravessa uma crise profunda depois da queda de um regime autoritário. A Assembleia Constituinte recém-eleita reflete um país bicéfalo, com uma zona Leste onde vivem as classes mais abastadas e outra de Oeste, mais popular e proletária. Os dois partidos maioritários têm pro- jetos constitucionais muito diferentes. E o governo transitório tem de enfrentar uma guerrilha independentista na região semidesértica do Fim de Mundo.

Ainda pior, a Metrópole é atingida por uma série de surtos de patologias somatoformes como o tique do pestanejar e a síndrome de La Tourette, às quais se vêm juntar a paranoia e a despersonalização. Para além de mortes misteriosas atribuídas a um serial killer. Psicólogos e especialistas da psicopatologia não se entendem sobre as causas e o tratamento destes surtos de patologias, que se propagam pelos bairros da cidade e levam muitos a procurar refúgio nas montanhas. Nestas, os independentistas lutam com as vítimas da síndrome e estas enfrentam uma matilha de cães selvagens conduzida por um sacerdote. A declaração do estado de emergência leva uma parte dos deputados da Assembleia a rebelarem-se contra o governo de transição e a Metrópole afunda-se na guerra civil.