Ensaios e Cartas Escolhidas
Os ensaios e estudos de Friedrich Hölderlin reunidos neste volume, lado a lado com a sua correspondência com figuras como Hegel, Schelling e Schiller, dão testemunho do seu envolvimento directo nas questões filosóficas, estéticas e políticas do seu tempo. Percorrendo todos os momentos da sua obra, do romance Hipérion à tragédia A Morte de Empédocles, e desta à poesia lírica, estes textos tornam claro o papel decisivo de Hölderlin na génese do Idealismo Alemão, e o modo como antecipou, quer como poeta, quer como tradutor, muitos dos desafios que viria a enfrentar a poesia moderna. Procurando responder à questão ancestral da relação entre a finitude e o absoluto, a beleza e a verdade, a ética e a estética, Hölderlin tentou ligar entre si os vários momentos que definiram a sua formação: o pensamento de Heraclito, Platão e Espinosa, o projecto filosófico de Kant e Fichte, e o estudo contínuo da poesia antiga (Homero, Sófocles, Píndaro). Na raiz das reflexões e da actividade de Hölderlin está a sua determinação em fixar os fundamentos daquilo a que chamou a lógica poética, isto é, o princípio de articulação entre o que seria a lei universal, calculável, de um poema, e o seu sentido vivo, que não pode ser calculado, e que permanece assim por fixar.
| Editora | Imprensa da Universidade de Lisboa |
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| Editora | Imprensa da Universidade de Lisboa |
| Negar Chronopost e Cobrança | Não |
| Autores | Friedrich Hölderlin |
Friedrich Hölderlin, nascido a 20 de março de 1770 em Lauffen am Neckar, na Alemanha, foi um dos mais influentes poetas e filósofos do seu tempo. Por vontade expressa da sua mãe, que queria destiná-lo à carreira eclesiástica, Hölderlin frequenta o Seminário de Tübingen a partir de 1788, onde estuda Filosofia e Teologia, e também onde conhece Hegel e Schelling, com quem redigiria mais tarde um dos mais célebres documentos do idealismo alemão: O mais antigo programa de sistema do idealismo alemão. Termina os estudos em 1793 mas nunca chega a abraçar a carreira eclesiástica, antes tornando-se preceptor. Dois anos mais tarde, frequenta brevemente a Universidade de Iena, onde convive com Johann Gottlieb Fichte e com Novalis. Em 1796 apaixona-se por Susette Gontard, a «Diotima» dos seus poemas. Este amor impossível marca toda a sua escrita posterior. A partir de 1802, ano em que esta morre, as suas perturbações psíquicas vão-se agravando. Em 1806 é enviado para uma clínica mas considerado incurável, e acaba por ser entregue aos cuidados do marceneiro Ernst Zimmer, em cuja residência, na Torre de Tübingen, passa os últimos 36 anos da sua vida, morrendo a 7 de junho de 1843 aos 73 anos. Hölderlin foi um grande admirador da mitologia grega e de antigos poetas gregos como Píndaro e Sófocles, mesclando, nos seus escritos, temas cristãos e helénicos. A sua obra mais conhecida é o romance Hipérion, de 1799.
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ElegiasNestas Elegias, Hölderlin manifesta a simpatia que nutria pela cultura classicista, cujos valores estéticos gostava de cultivar na sua poesia. Assim, escritas em verso, os temas destas Elegias estão, regra geral, relacionados com o culto do belo e/ou a mitologia clássica de origem pagã. Partindo de cenários extraordinários (como o amor de dois deuses), mas também de situações mais frequentes (como o regresso a casa dos pais, ou um passeio pelo campo), o autor constrói quadros idílicos. Um livro de deslumbramento, de culto do belo, de trabalho da luz e de apelo à Natureza. -
Hipérion ou o Eremita da GréciaHölderlin fazia 27 anos quando publicou o primeiro volume do romance epistolar Hipérion. É um livro resultante de um grande amor impossível, aqui divinamente plasmado. Um amor que se expandiu com idêntica desenvoltura pela poesia e pela loucura, até que, definitivamente, encaminharam e encerraram o poeta na Torre de Tübingen. Hipérion, um dos livros fundamentais de toda a literatura, sai pela primeira vez entre nós, fruto do demorado trabalho de investigação e tradução de Maria Teresa Dias Furtado. -
Hinos TardiosDentro das formas literárias, Hölderlin sempre manifestou um apreço especial pelo hino, composição que ao longo da vida se esforçou por desenvolver e aperfeiçoar. Nesses versos, o poeta celebrava a Natureza, as belas paisagens e as pessoas que faziam parte da sua vida, mas também as civilizações clássicas que admirava e estudava apaixonadamente. Nesta edição bilingue temos oportunidade de conhecer os hinos tardios de Hölderlin, incompreendidos pela sociedade do seu tempo, e conhecer, através do prefácio de Maria Teresa Dias Furtado, a ligação que manteve com essa forma de escrita durante toda a vida. -
Todos os Poemas seguido de Esboço de Uma PoéticaTrazer ao leitor português toda a poesia de Hölderlin significa entrar num mar desconhecido desse leitor, num território de contradições, de uma diversidade não imaginada e desigual de registos poéticos, do mais naïf e convencional ao mais elaborado e sublime, do mais heróico ao mais prosaico, do poema transbordante à brevidade do dístico epigramático. Mas é altura de esta poesia nos ser dada de corpo inteiro. Só assim se compreenderá o percurso trágico, intenso e nele mesmo tenso e contraditório desta figura singular da Poesia, corrigindo ao mesmo tempo uma certa visão, mitificada e totalmente sublimizada, de um poeta que, como tantos outros, tem lados bem mais humanos e vulneráveis do que aqueles que os chamados «grandes poemas» nos dão. -
Hipérion ou o Eremita da GréciaNeste romance, o primeiro e único escrito pelo autor, Hölderlin reflete sobre o princípio de libertação humana pela luta armada e o constante aperfeiçoamento interior, através do convívio íntimo com as artes e o mundo natural. Narrada em sucessivas cartas a um amigo e amada, Hipérion conta a sua longa jornada nas planícies da Grécia: desde a missão contrarrevolucionária contra os Turcos, que acabavam de dominar o país grego, passando pela angústia com o desfecho da rebelião, até ao último desejo de se tornar um eremita nas montanhas. Publicado em dois volumes (1797-1799), Hipérion ou o Eremita da Grécia é um exemplo maior de um dos mais importantes autores da literatura alemã.
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Para Tão Curtos Amores, Tão Longa VidaNuma época e num país como o nosso, em que se regista um número muito elevado de divórcios, e em que muitos casais preferem «viver juntos» a casar-se, dando origem nas estatísticas a muitas crianças nascidas «fora do casamento», nesta época e neste país a pergunta mais próxima da realidade não é por que duram tão pouco tantos casamentos, mas antes: Por que é que há casamentos que duram até à morte dos cônjuges? Qual é o segredo? Há um segredo nisso? Este novo livro de Daniel Sampaio, que traz o título tão evocativo: Para Tão Curtos Amores, Tão Longa Vida, discute as relações afetivas breves e as prolongadas, a monogamia e a infidelidade, a importância da relação precoce com os pais e as vicissitudes do amor. Combinando dois estilos, o ficcional e o ensaístico, que domina na perfeição, o autor traz perante os nossos olhos, de modo muito transparente e sem preconceitos, tão abundantes nestas matérias, os problemas e dificuldades dos casais no mundo de hoje, as suas vitórias e derrotas na luta permanente para manterem viva a sua união.Um livro para todos nós porque (quase) todos nós, mais tarde ou mais cedo, passamos por isso. -
Sobre as MulheresSobre as Mulheres é uma amostra substancial da escrita de Susan Sontag em torno da questão da mulher. Ao longo dos sete ensaios e entrevistas (e de uma troca pública de argumentos), são abordados relevantes temas, como os desafios e a humilhação que as mulheres enfrentam à medida que envelhecem, a relação entre a luta pela libertação das mulheres e a luta de classes, a beleza, o feminismo, o fascismo, o cinema. Ao fim de cinquenta anos – datam dos primeiros anos da década de 1970 –, estes textos não envelheceram nem perderam pertinência. E, no seu conjunto, revelam a curiosidade incansável, a precisão histórica, a solidez política e o repúdio por categorizações fáceis – em suma, a inimitável inteligência de Sontag em pleno exercício.«É um deleite observar a agilidade da mente seccionando através da flacidez do pensamento preguiçoso.» The Washington Post«Uma nova compilação de primeiros textos de Sontag sobre género, sexualidade e feminismo.» Kirkus Reviews -
A Vida na SelvaHá quem nasça para o romance ou para a poesia e se torne conhecido pelo seu trabalho literário; e quem chegue a esse ponto depois de percorrer um longo caminho de vida, atravessando os escolhos e a complexidade de uma profissão, ou de uma passagem pela política, ou de um reconhecimento público que não está ligado à literatura. Foi o caso de Álvaro Laborinho Lúcio, que publicou o seu primeiro e inesperado romance (O Chamador) em 2014.Desde então, em leituras públicas, festivais, conferências e textos com destinos vários, tem feito uma viagem de que guarda memórias, opiniões, interesses, perguntas e respostas, perplexidades e reconhecimentos. Estes textos são o primeiro resumo de uma vida com a literatura – e o testemunho de um homem comprometido com as suas paixões e o diálogo com os outros. O resultado é comovente e tão inesperado como foi a publicação do primeiro romance. -
O Infinito num JuncoA Invenção do livro na antiguidade e o nascer da sede dos livros.Este é um livro sobre a história dos livros. Uma narrativa desse artefacto fascinante que inventámos para que as palavras pudessem viajar no tempo e no espaço. É o relato do seu nascimento, da sua evolução e das suas muitas formas ao longo de mais de 30 séculos: livros de fumo, de pedra, de argila, de papiro, de seda, de pele, de árvore, de plástico e, agora, de plástico e luz.É também um livro de viagens, com escalas nos campos de batalha de Alexandre, o Grande, na Villa dos Papiros horas antes da erupção do Vesúvio, nos palácios de Cleópatra, na cena do homicídio de Hipátia, nas primeiras livrarias conhecidas, nas celas dos escribas, nas fogueiras onde arderam os livros proibidos, nos gulag, na biblioteca de Sarajevo e num labirinto subterrâneo em Oxford no ano 2000.Este livro é também uma história íntima entrelaçada com evocações literárias, experiências pessoais e histórias antigas que nunca perdem a relevância: Heródoto e os factos alternativos, Aristófanes e os processos judiciais contra humoristas, Tito Lívio e o fenómeno dos fãs, Sulpícia e a voz literária de mulheres.Mas acima de tudo, é uma entusiasmante aventura coletiva, protagonizada por milhares de personagens que, ao longo do tempo, tornaram o livro possível e o ajudaram a transformar-se e evoluir – contadores de histórias, escribas, ilustradores e iluminadores, tradutores, alfarrabistas, professores, sábios, espiões, freiras e monjes, rebeldes, escravos e aventureiros.É com fluência, curiosidade e um permanente sentido de assombro que Irene Vallejo relata as peripécias deste objeto inverosímil que mantém vivas as nossas ideias, descobertas e sonhos. E, ao fazê-lo, conta também a nossa história de leitores ávidos, de todo o mundo, que mantemos o livro vivo.Um dos melhores livros do ano segundo os jornais El Mundo,La Vanguardia e The New York Times(Espanha). -
O Anticrítico«O Anticrítico» é uma compilação dos ensaios de Diogo Vaz Pinto — textos de crítica literária, e não só —, escritos entre 2014 e 2023, incluindo alguns inéditos. «Não tenho conta para as vezes todas em que, para ir com a rábula insultuosa que me tecem, pegando uns onde outros deixaram, numa cooperativa de imbecis que, sinceramente, me comove, já me quiseram tirar a condição que vem de tudo o que faço. Mais difícil seria desmontar alguma coisa. Resta que, ou ignoram muito vermelhuscos, ou a ideia é revogar-me a carta, licença, prostrar-me na indigência de eu ser uma qualquer abominação, «Bicho», monstro que ligam com tudo o que é baixo, e mesmo assim paira sobre eles sem explicação. Um Chernobyl encarnado. Crítico não sou. Ou só pseudo. Videirinho e jornaleiro, pilha-galinhas e o mais que eu coso bem ao meu estuporado currículo. Pois seja, eu fico então gordo disso tudo. E viro-me do avesso. Sou o anticrítico, então! Roubando esta de Augusto de Campos sem pudor. Há muito que não me retiram do sentido a ideia de que o principal é cortar com a impostura disto tudo. A gloríola da mediocridade, o sentido gregário, essa ratada ficção ligando os «egozinhos de porta-aberta» do nosso meio literato.» -
Terra QueimadaEnsaio profético e demolidor, TERRA QUEIMADA (2022) expõe a forma como o complexo internético se tornou «motor implacável de vício, solidão, falsas esperanças, crueldade, psicose, endividamento, vida desbaratada, corrosão da memória e desintegração social». Nele, Jonathan Crary faz uma crítica radical da digitalização do mundo e denuncia realidades inegáveis: a incompatibilidade entre um planeta habitável e a economia consumista e técnica, a atomização provocada pelas redes sociais, a era digital como fase terminal do capitalismo planetário. «Se é possível um futuro habitável e comum no nosso planeta», conclui, «esse futuro será offline, dissociado dos sistemas e da actividade do capitalismo 24/7, que destroem o mundo». -
Mário Cesariny e Antonio Tabucchi - Cartas e outros TextosFernando Cabral Martins: «O surrealismo português já tinha atingido no final dos anos sessenta uma definição que tornava possível, de um ponto de vista exterior, descomprometido, fazer uma avaliação de conjunto.» Antonio Tabucchi veio a Portugal no rasto de um poeta: Fernando Pessoa, ou melhor Álvaro de Campos, de quem lera por acaso o poema «Tabacaria». Quis aprender a língua do autor do poema e para isso inscreveu-se na cadeira de Língua e Literatura Portuguesa na Universidade de Pisa, que então frequentava. O seu mestre foi uma professora especial, bela, inteligente e culta, Luciana Stegagno Picchio. Antonio quis conhecer o país onde se falava aquela língua e ao qual pertencia aquele poeta e, na Primavera de 1965, com o seu Fiat 500, chegou a Portugal. Aí conheceu uma portuguesa com quem falou de Pessoa, e com quem continuou a trocar correspondência até ao ano seguinte, quando se tornaram namorados, vindo depois a casar (1970). Mas até lá, veio amiúde a Portugal […] e começou a interessar-se pelo Surrealismo português, sobre o qual havia muito pouco material crítico, praticamente nada, em vista da sua futura tese de licenciatura. Conheceu então (1967) dois membros ilustres daquele movimento, dois grandes poetas, Alexandre O’Neill e Mário Cesariny de Vasconcelos, com quem passou muitas horas, primeiro para os entrevistar e depois, com sempre maior intimidade, já com laços de amizade, só pelo prazer de estarem juntos. [Maria José de Lancastre] Esta é a história de um desencontro. Cesariny, como o surrealismo, considerava a universidade um inimigo, e Tabucchi, para todos os efeitos, era em 1971 um universitário. Mesmo se, no caso dele, havia por parte do poeta o agrado de ver como a sua poesia e o seu lugar no surrealismo português eram reconhecidos — pela primeira vez — por um leitor com a distância crítica e a óbvia inteligência de Antonio Tabucchi. Aqui, nos textos que documentam o contacto directo entre ambos do final dos anos 60, pode ver-se uma ilustração do modo como a história do surrealismo foi sendo feita, com que ritmo e a partir de que posições. E que implica a consciência, por parte do poeta, da importância do sentido que a crítica atribui à História, capaz (ou não) de tornar o passado digno do presente, ou vice- -versa. E manifesta, por parte do jovem crítico italiano, a intuição da grandeza de um movimento que evoluía na sombra, num carceral jardim à beira-mar. [Fernando Cabral Martins]
