Fim de um Mundo Sátiras Modernas
Ao findar o século XIX, Gomes Leal já indiciara, pelas fantasias líricas do último decénio e pelos excertos de narrativa ocultista em verso, como pretendia dar cumprimento ao seu anúncio de que aderira à estética do Mistério em desfavor da musa da Revolta. Mas, além de a crise do Ultimatum lhe haver reavivado os brios de poeta panfletário e tribunício, nunca se abstém da denúncia satírica das "Mentiras convencionais", nem abdica dos seus dotes de gazetilha crítica e de humor mefistofélico perante figuras e costumes da vida social e da vida literária. Por isso, Gomes Leal constitui o volume Fim de um Mundo como repositório ilustrativo dessas várias modalidades de intervenção do seu atrevido estro - desde os clamorosos poemas de combate político ("A Traição", "O Hereje", "O Renegado", "Troça à Inglaterra", etc.) até aos epigramas de "Bilhetes postais" e "À janela de Naná", de "Caricaturas a carvão" a "Mefistófeles no cemitério".
| Editora | Assírio & Alvim |
|---|---|
| Coleção | Obras de Gomes Leal |
| Categorias | |
| Editora | Assírio & Alvim |
| Negar Chronopost e Cobrança | Não |
| Autores | Gomes Leal |
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Claridades do Sul“Dandy” saturniano, entre a boémia e a pobreza, entre o prestígio panfletário e o abandono visionário, Gomes Leal (Lisboa, 1848-1921) publicou irregularmente a mais extraordinária e desconcertante obra poética do seu tempo. Personificando a figura romântica do predestinado para os rasgos de génio e para os transes da desgraça, Gomes Leal revelou logo na primeira e insuperada colectânea -Claridades do Sul (1875) - potencialidades ímpares e nunca perfeitamente actualizadas. Aí cruzava todas as tendências do século XIX e por vezes antecipava aspectos do Modernismo e da imaginação surrealista. -
História de Jesus (Para as Criancinhas Lerem)Pouco depois da fulguração poliédrica das Claridades do Sul (1875), e em plena expansão da sua aura de poeta panfletário, vate da emancipação da Consciência humana e da Justiça social, o génio desconcertante de Gomes Leal também ultima O Anti-Cristo e surpreende com a pura narrativa lírica da História de Jesus (1883) - que é canto melodioso das "coisas graciosas" e é “história em verso brando" de um Cristo romântico, "suave Rabi" com o apelo nostálgico do Infinito e com o carisma divino do Eterno. -
A Fome de Camões e Outros Destinos PoéticosEntre a afirmação fulgurante das Claridades do Sul e a suavidade da História de Jesus, Fome de Camões impõe-se sobretudo pelas intervenções da "musa da Revolta" e pelos prenúncios da nova epopeia da emancipação humana (O Anti-Cristo). Entretanto, a reemergência do mito do Poeta, profético e saturniano, nos rituais literários do século XIX, impregnava a obra de Gomes Leal; e o tricentenário da morte de Camões, em 1880, suscita a realização cimeira desse vector: A Fome de Camões, fenomenologia da desgraça em poema épico-alegórico e celebração do "canto heróico, original e novo" que foi o de Camões e de quantos com ele partilharam a predestinação e a condição de génio desditoso. -
O Anti-Cristo I Parte Cristo é o MalO poeta prestigiado pela difusão das Claridades do Sul (1875) não fixa o ímpeto criativo na elaboração de obras como História de Jesus e A Fome de Camões. Desde então, o seu espírito vive dominado por um ambicioso projecto de emancipação irreligiosa, pautada pelo Cientismo e pelo Positivismo: uma epopeia da Consciência moderna, que se quer modelada segundo os cânones literários do Naturalismo - O Anti-Cristo (1884-1886). Mas a euforia combativa vê-se já contrariada pelo pessissimismo irracionalista e um novo sentido do trágico germina no desencantamento científico do Mundo e na despromoção evolucionista do Homem. Assim actua a “imaginação nevrálgica” que Gomes Leal atribui ao herói problemático d’O Anti-Cristo. -
A Mulher de Luto Processo Ruidoso e SingularEmbora querendo-se sempre poeta inspirado e exímio na sátira social e no humorismo mefistofélico, Gomes Leal passa a privilegiar a "estética do Mistério" na viragem do século. A concretização criativa dessa opção fará convergir a receptividade do poeta à crise ideológica do fim-de-século e o seu já antigo gosto pelo fantástico e pelo cruzamento espectral do amor e da morte. A Mulher de Luto (1902) funde essas tendências em narrativa que se singulariza pela feição ocultista e espírita, mas valoriza-se sobretudo como necrografia em que o poeta se projecta, até desfechar em alta expressão lírica do drama pessoal. -
O Anti-Cristo - II Parte - As Teses SelvagensEsta obra, editada por Gomes Leal em 1907, é tão diferente de O Anti-Cristo, volume por si publicado em 1884-86, que merece uma edição autónoma. Muitos passos que constavam da primeira edição foram eliminados, tendo sido acrescentados passos novos, como a magnífica sequência de sonetos das Teses Selvagens. José Seabra Pereira faz, como já vem sendo hábito, a edição de O Anti-Cristo II — As Teses Selvagens, enriquecendo o livro com o seu prefácio. Viajai, pois, leitores, “através das épocas selvagens / e, de História na mão, cruzai pelas estradas, // onde trotam barões, paladins, cavalgadas, // barrigudos cardeais em douradas cavalgadas”. -
Mefistófoles em Lisboa e Outros Humorismos PoéticosAs "virtudes do riso" e a sua desconcertante feição "mefistofélica" atravessam toda a trajectória de Gomes Leal (1848-1921). Com seus matizes diversos, desde a ironia à sátira ou à paródia, o humor quadrava bem com a condição humana e literária de Gomes Leal e com a sua matriz romântica. Na ambivalência de inconformismo titânico e decepção nostálgica, de visionarismo profético e cepticismo, de pundonor subjectivo e desgosto social, de desassombro crítico e ânsia melancólica, o humorismo ‘transcendental’ afigurou-se indispensável para a realização do Poeta na modernidade cultural. Por conseguinte, depois da colectânea Fim de um Mundo, que constituíra um marco de Sátiras Modernas na viragem do século XIX para o século XX, Gomes Leal organiza novo livro para condensar outra face do seu humorismo poético, fazendo publicar em 1907 Mefistófeles em Lisboa. -
Memórias de uma Época Maldita - I. O Senhor dos Passos da Graça"O conjunto de todos os depoimentos fará correr a jorros uma luz claríssima como de gás acetilene sobre uma das épocas mais originais da História Humana. E então se verá que a obra nada fica a dever em perversidade, e em cenas melodramáticas inesperadas, aos dramas da Camorra, dos Rosa Cruz, ou dos Iluminados da Alemanha, nem em crueldades e paixões tenebrosas e riscadas de vergões sanguinolentos, como listrões de sangue de uma aurora polar, aos flamejantes incêndios de Moscovo e da Comuna de Paris, ou aos dramas ominosos da primeira revolução francesa, nas semanas inexprimíveis e sinistras do Terror.E agora, que já levantámos ao leitor uma pontinha do pano do teatro e do florido cenário — que é Portugal —, onde se vai desenrolar todo o drama sanguinoso e original, narremos como foi que o autor travou conhecimento com a estranha figura de revoltado, que vai abrir as páginas da nossa história, e cujas feições tanto nos intrigaram ao princípio, como se fosse o próprio diabólico Melmoth, mas irreconciliado.Atenção: o singularíssimo drama vai começar." -
História de um Casamento Triste - e outros contos“Então comecei, afundando-me cada vez mais num desesperado desalento, a apaixonar-me realmente e sem remédio pelo encanto misterioso da minha esposa. Quando ela saía ia sempre vagaroso, atrás dela, à distância, seguindo os seus inocentes passos, minado por um ciúme ridículo. Em casa espreitava todos os seus gestos, as suas palavras, as suas ordens, e até as suas orações mesmo. Mas com isto eu só consegui apenas, por calamidade, fazer-lhe compreender completamente que a amava, sem nunca conseguir fazer-me estimar.” Livros cosidos, com folhas não aparadas, à semelhança do que se fazia no passado. A editora liga assim a coleção à História do Livro e associa-lhe uma vantagem ecológica, evitando o desperdício de papel.
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O Essencial Sobre José Saramago«Aquilo que neste livro se entende como essencial em José Saramago corresponde à sua específica identidade como escritor, com a singularidade e com as propriedades que o diferenciam, nos seus fundamentos e manifestações. Mas isso não é tudo. No autor de Memorial do Convento afirma-se também uma condição de cidadão e de homem político, pensando o seu tempo e os fenómenos sociais e culturais que o conformam. Para o que aqui importa, isso é igualmente essencial em Saramago, até porque aquela condição de cidadão não é estranha às obras literárias com as quais ela interage, em termos muito expressivos.» in Contracapa -
Confissões de um Jovem EscritorUmberto Eco publicou seu primeiro romance, O Nome da Rosa, em 1980, quando tinha quase 50 anos. Nestas suas Confissões, escritas cerca de trinta anos depois da sua estreia na ficção, o brilhante intelectual italiano percorre a sua longa carreira como ensaísta dedicando especial atenção ao labor criativo que consagrou aos romances que o aclamaram. De forma simultaneamente divertida e séria, com o brilhantismo de sempre, Umberto Eco explora temas como a fronteira entre a ficção e a não-ficção, a ambiguidade que o escritor mantém para que seus leitores se sintam livres para seguir o seu próprio caminho interpre tativo, bem como a capacidade de gerar neles emoções. Composto por quatro conferências integradas no âmbito das palestras Richard Ellmann sobre Literatura Moderna que Eco proferiu na Universidade Emory, em Atlanta, nos Estados Unidos, Confissões de um jovem escritor é uma viagem irresistível aos mundos imaginários do autor e ao modo como os transformou em histórias inesquecíveis para todos os leitores. O “jovem escritor” revela-se, afinal, um grande mestre e aqui partilha a sua sabedoria sobre a arte da imaginação e o poder das palavras. -
Sobre as MulheresSobre as Mulheres é uma amostra substancial da escrita de Susan Sontag em torno da questão da mulher. Ao longo dos sete ensaios e entrevistas (e de uma troca pública de argumentos), são abordados relevantes temas, como os desafios e a humilhação que as mulheres enfrentam à medida que envelhecem, a relação entre a luta pela libertação das mulheres e a luta de classes, a beleza, o feminismo, o fascismo, o cinema. Ao fim de cinquenta anos – datam dos primeiros anos da década de 1970 –, estes textos não envelheceram nem perderam pertinência. E, no seu conjunto, revelam a curiosidade incansável, a precisão histórica, a solidez política e o repúdio por categorizações fáceis – em suma, a inimitável inteligência de Sontag em pleno exercício.«É um deleite observar a agilidade da mente seccionando através da flacidez do pensamento preguiçoso.» The Washington Post«Uma nova compilação de primeiros textos de Sontag sobre género, sexualidade e feminismo.» Kirkus Reviews -
Para Tão Curtos Amores, Tão Longa VidaNuma época e num país como o nosso, em que se regista um número muito elevado de divórcios, e em que muitos casais preferem «viver juntos» a casar-se, dando origem nas estatísticas a muitas crianças nascidas «fora do casamento», nesta época e neste país a pergunta mais próxima da realidade não é por que duram tão pouco tantos casamentos, mas antes: Por que é que há casamentos que duram até à morte dos cônjuges? Qual é o segredo? Há um segredo nisso? Este novo livro de Daniel Sampaio, que traz o título tão evocativo: Para Tão Curtos Amores, Tão Longa Vida, discute as relações afetivas breves e as prolongadas, a monogamia e a infidelidade, a importância da relação precoce com os pais e as vicissitudes do amor. Combinando dois estilos, o ficcional e o ensaístico, que domina na perfeição, o autor traz perante os nossos olhos, de modo muito transparente e sem preconceitos, tão abundantes nestas matérias, os problemas e dificuldades dos casais no mundo de hoje, as suas vitórias e derrotas na luta permanente para manterem viva a sua união.Um livro para todos nós porque (quase) todos nós, mais tarde ou mais cedo, passamos por isso. -
A Vida na SelvaHá quem nasça para o romance ou para a poesia e se torne conhecido pelo seu trabalho literário; e quem chegue a esse ponto depois de percorrer um longo caminho de vida, atravessando os escolhos e a complexidade de uma profissão, ou de uma passagem pela política, ou de um reconhecimento público que não está ligado à literatura. Foi o caso de Álvaro Laborinho Lúcio, que publicou o seu primeiro e inesperado romance (O Chamador) em 2014.Desde então, em leituras públicas, festivais, conferências e textos com destinos vários, tem feito uma viagem de que guarda memórias, opiniões, interesses, perguntas e respostas, perplexidades e reconhecimentos. Estes textos são o primeiro resumo de uma vida com a literatura – e o testemunho de um homem comprometido com as suas paixões e o diálogo com os outros. O resultado é comovente e tão inesperado como foi a publicação do primeiro romance. -
Almoço de DomingoUm romance, uma biografia, uma leitura de Portugal e das várias gerações portuguesas entre 1931 e 2021. Tudo olhado a partir de uma geografia e de uma família.Com este novo romance de José Luís Peixoto acompanhamos, entre 1931 e 2021, a biografia de um homem famoso que o leitor há de identificar — em paralelo com história do país durante esses anos. No Alentejo da raia, o contrabando é a resistência perante a pobreza, tal como é a metáfora das múltiplas e imprecisas fronteiras que rodeiam a existência e a literatura. Através dessa entrada, chega-se muito longe, sem nunca esquecer as origens. Num percurso de várias gerações, tocado pela Guerra Civil de Espanha, pelo 25 de abril, por figuras como Marcelo Caetano ou Mário Soares e Felipe González, este é também um romance sobre a idade, sobre a vida contra a morte, sobre o amor profundo e ancestral de uma família reunida, em torno do patriarca, no seu almoço de domingo.«O passado tem de provar constantemente que existiu. Aquilo que foi esquecido e o que não existiu ocupam o mesmo lugar. Há muita realidade a passear-se por aí, frágil, transportada apenas por uma única pessoa. Se esse indivíduo desaparecer, toda essa realidade desaparece sem apelo, não existe meio de recuperá-la, é como se não tivesse existido.» «Os motoristas estão à espera, o brado da multidão mistura-se com o rugido dos motores. Antes de entrarmos, o Mário Soares aproxima-se de mim, correu tudo tão bem, e abraça-me com um par estrondosas palmadas no centro das costas. A coluna de carros avança devagar pelas ruas da vila. Tenho a garganta apertada, não consigo falar. Como me orgulha que Campo Maior seja a capital da península durante este momento.»«Autobiografia é um romance que desafia o leitor ao diluir fronteiras entre o real e o ficcional, entre espaços e tempos, entre duas personagens de nome José, um jovem escritor e José Saramago. Este é o melhor romance de José Luís Peixoto.»José Riço Direitinho, Público «O principal risco de Autobiografia era esgotar-se no plano da mera homenagem engenhosa, mas Peixoto evitou essa armadilha, ao construir uma narrativa que se expande em várias direções, acumulando camadas de complexidade.»José Mário Silva, Expresso -
Electra Nº 23A Atenção, tema de que se ocupa o dossier central do número 23 da revista Electra, é um recurso escasso e precioso e por isso objecto de uma guerra de concorrência sem tréguas para conseguir a sua captura. Nunca houve uma tão grande proliferação de informação, de produtos de consumo, de bens culturais, de acontecimentos que reclamam a atenção. Ela é a mercadoria da qual depende o valor de todas as mercadorias, sejam materiais ou imateriais, reais ou simbólicas. A Atenção é, pois, uma questão fundamental do nosso tempo e é um tópico crucial para o compreendermos. Sobre ela destacam-se neste dossier artigos e entrevistas de Yves Citton, Enrico Campo, Mark Wigley, Georg Franck e Claire Bishop. Nesta edição, na secção “Primeira Pessoa”, são publicadas entrevistas à escritora, professora e crítica norte-americana Svetlana Alpers (por Afonso Dias Ramos), cujo trabalho pioneiro redefiniu o campo da história da arte nas últimas décadas, e a Philippe Descola (por António Guerreiro), figura central da Antropologia, que nos fala de temas que vão desde a produção de imagens e das tradições e dos estilos iconográficos à questão da oposição entre natureza e cultura. A secção “Furo” apresenta um conjunto de desenhos e cartas inéditos da pintora Maria Helena Vieira da Silva. Em 1928, tinha vinte anos. Havia saído de Portugal para estudar arte em Paris e, de França, foi a Itália numa viagem de estudo. Durante esse percurso desenhou num caderno esboços rápidos do que via, e ao mesmo tempo, escrevia cartas à mãe para lhe contar as suas impressões e descobertas. Uma selecção destes desenhos e destas cartas, que estabelecem entre si um diálogo íntimo e consonante, é agora revelada. Na Electra 23, é publicada, na secção “Figura”, um retrato do grande poeta grego Konstandinos Kavafis, feito pelo professor e tradutor Nikos Pratsinis, a partir de oito perguntas capitais; é comentada, pelo escritor Christian Salmon, na secção “Passagens”, uma reflexão sobre a história trágica da Europa Central do consagrado romancista e ensaísta checo, Milan Kundera. Ainda neste número, o ensaísta e jornalista Sergio Molino dá-nos um mapa pessoal da cidade de Saragoça, em que a história e a geografia, a literatura e a arte se encontram; o jornalista e colunista brasileiro Marcelo Leite trata das investigações em curso desde os anos 90, com vista ao uso farmacológico e terapêutico dos psicadélicos; a escritora e veterinária María Sanchez constrói um diário que é atravessado por procuras e encontros, casas e viagens, livros e animais, terras e mulheres, amor e amizade; o arquitecto, investigador e curador chileno Francisco Díaz aborda a relação entre solo e terreno, a partir do projecto da Cidade da Cultura de Santiago de Compostela, da autoria de Peter Eisenman; o artista e ensaísta João Sousa Cardoso escreve sobre a obra do escultor Rui Chafes, revisitando três exposições e um livro apresentados durante o ano de 2023; e o dramaturgo Miguel Castro Caldas comenta a palavra “Confortável”.Vários -
Diário SelvagemEste «Diário Selvagem», «até aqui quase integralmente inédito, é um livro mítico, listado e discutido em inúmeras cartas e cronologias do autor, a que só alguns biógrafos e estudiosos foram tendo acesso».