Homossexualidade no Livro do Desassossego de Fernando Pessoa
O Livro do Desassossego é uma das produções literárias mais famosas de Fernando Pessoa, é uma das suas reflexões mais importantes, e é considerado o seu melhor trabalho enquanto escritor. Esses textos metem o seu coração a nu, constituem o que há de mais profundo e sentido no seu autor, a sua “autobiografia sem factos”, e são considerados como aquilo que melhor retrata a profundidade psicológica de Fernando Pessoa, que muito se identificava com o seu heterónimo Bernardo Soares.
Entre os vários temas do Livro do Desassossego, encontra-se também o da homossexualidade, que era uma das razões do desassossego de Fernando Pessoa. Alguns dos textos aqui selecionados são uma referência direta à homossexualidade, outros são uma referência indireta, e outros são o resultado de uma interpretação nossa. Junto da seleção e da organização dos textos por subtemas, encontram-se aqui explicações de modo a tornar mais acessível cada um desses textos, que são por vezes de difícil compreensão, devido ao seu carater enigmático, aos seus subentendidos, às suas máscaras.
Além dessas explicações, este estudo estabelece relações entre o Livro do Desassossego e a generalidade da obra literária de Fernando Pessoa, mostrando pontos de confluência e de complementaridade recíprocos: por um lado encarando-se o Livro do Desassossego como um complemento dos seus textos homoeróticos, e por outro lado encarando-se os seus textos homoeróticos como um complemento do Livro do Desassossego.
| Editora | Colibri |
|---|---|
| Categorias | |
| Editora | Colibri |
| Negar Chronopost e Cobrança | Não |
| Autores | Victor Correia |
Victor Correia frequentou a Pontifícia Universidade de São Tomás de Aquino, em Roma (formação em Filosofia). Frequentou também o curso de piano, durante alguns anos. Concluiu a licenciatura em Filosofia, na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, é pós-graduado em Formação Educacional, na mesma Faculdade, e tem o Mestrado em Estética e Filosofia da Arte, na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (formações obtidas antes do Processo de Bolonha). É doutorado em Filosofia Política e Jurídica, na Universidade da Sorbonne, em Paris. É pós-doutorado em Ética e Filosofia Política, na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Tem exercido funções de docência na sua área de formação, e tem organizado e apresentado palestras em várias conferências. É membro de algumas associações científicas e culturais. Tem publicado diversos artigos em jornais, e em revistas nacionais e internacionais. Tem também alguns livros publicados.
-
A Censura e o Vandalismo na ArteVictor Correia, autor de uma muito diversificada obra de divulgação nas áreas da filosofia e da arte, questiona neste livro várias manifestações de censura e de vandalismo na arte, no passado e na actualidade, procurando as razões que os sustentam e colocando a defesa da liberdade de expressão como um bem fundamental para a criação artística. -
Homossexualidade e Homoerotismo em Fernando Pessoa“Existe na nossa civilização um preconceito e um juízo comum, de que a homossexualidade é imoral, e de que, portanto, deve ser combatida e extirpada.Proponho-me demonstrar que esse preconceito é injusto, que a homossexualidade não é imoral, e que, portanto, não há mister que se combata, ou que se promova a sua extirpação.Demonstrarei, por fim, qual a origem deste preconceito falso.(…) Demonstraremos, primeiro, que a homossexualidade não é contra a Natureza. Isto é, demonstraremos que é natural no estádio evolutivo em relação ao qual a consideramos, isto é, no estádio evolutivo presente da humanidade. Não nos referimos a estádio evolutivo social só; reportamo-nos às sociedades civilizadas em geral, e não a umas em particular, espécie esta de género.Proponho-me demonstrar que a homossexualidade não é imoral à luz de nenhum conceito que cientificamente se possa fazer da moralidade. Demonstrando isso, quedará demonstrado que, guardadas certas reservas que adiante se especificarão, a expressão literária e artística da homossexualidade também não é imoral.E o corolário natural é que nada há que moralizar, onde nada há de imoral.”Fernando Pessoa, espólio da Biblioteca Nacional, 55 D – 21, 32, 3) Este livro reúne os muitos textos em poesia e em prosa, nos quais Fernando Pessoa exprime sentimentos homoeróticos, ou nos quais aborda o tema da homossexualidade, de forma explícita ou implícita, que se encontram dispersos ao longo da vasta obra de Fernando Pessoa, e que foram publicados até hoje. Encontram-se reunidos neste livro por vários tipos de texto, e por diferentes temas. Este livro inclui também o tema da dualidade da identidade de género, que é exprimida em alguns dos textos de Fernando Pessoa, que este associa também por vezes à homossexualidade, e inclui ainda os textos onde Fernando Pessoa exprime o seu desdém pelas mulheres, sob o ponto de vista afetivo. Grande parte destes textos são pouco conhecidos, e muitos têm determinados pormenores que passam geralmente despercebidos, para os quais chamamos a atenção em notas de rodapé. Este livro contém também alguns textos inéditos. -
Fernando Pessoa - Textos Ateístas, Antirreligiosos e AnticatólicosEste livro reúne muitos dos textos ateístas, agnósticos, céticos, antirreligiosos, anticristãos, anticatólicos, e anticlericais, que foram escritos por Fernando Pessoa, ao longo de toda a sua vida, e que foram publicados até hoje. São textos de poesia e de prosa, uns literários e outros não literários, aqui anotados e organizados por diversos capítulos. Estes textos aparecem em Fernando Pessoa ortónimo, mas também em praticamente todos os seus heterónimos, o que revela portanto que a sua descrença em Deus e a sua crítica às religiões, encontra-se ao longo da sua vasta obra. Apesar da aspiração de Fernando Pessoa ao Ilimitado, e à Perfeição, e da sua busca de um significado para a Vida, isso não é a mesma coisa que acreditar em Deus, conforme se pode confirmar nestes textos. Este livro mostra que o ateísmo, a antirreligião, e o anticatolicismo, presentes nos vários textos de Fernando Pessoa, são algo pensado e defendido enquanto escritor e ensaísta, e também algo sentido e assumido enquanto indivíduo. -
Quem Tem Medo dos Filósofos? Citações Filosóficas PolémicasEste é o primeiro livro de citações filosóficas publicado em Portugal. Trata-se de citações pouco ou nada conhecidas, por vezes mesmo ocultadas, para não depreciar a imagem dos seus autores, devido ao seu carácter polémico e, por vezes, chocante. A polémica das citações apresentadas neste livro não se deve apenas ao facto de virem de filósofos, contrastando com a boa imagem que deles se tem geralmente, mas também, e sobretudo, devido ao seu próprio conteúdo, que contrasta com a imagem idealizada, esclarecida e sábia que se tem da Filosofia. Neste livro, encontraremos afirmações de vários filósofos contra os negros, os judeus, as mulheres, os animais, o trabalho, a educação, o Estado, a Pátria, a Democracia, os Direitos do Homem, a Igreja, as relações humanas, a ciência e a técnica, e a defesa da pena de morte, da escravatura, das riquezas materiais, da mentira, entre outras. -
Os Mistérios do Livro SagradoUma análise literal e minuciosa dos textos sagrados, assente numa investigação inédita e surpreendente *****A Bíblia Sagrada é o livro mais vendido em todo o mundo, mas poucas pessoas o leram e o conhecem a fundo Considerado a Palavra de Deus, o livro está, no entanto, marcado por algumas contradições e versões divergentes, erros históricos e científicos e ainda vários absurdos e exageros.Baseado nos textos sagrados, o autor analisa temas fundamentais para todos os seres humanos Desde a criação do Homem até ao fim do mundo, do nascimento à ressurreição de Jesus, são analisados mais de 100 assuntos sensíveis que ajudam a explicar a visão do mundo cristão ao longo de dois milénios.Esta obra é o resultado de uma investigação que expõe algumas das questões mais polémicas da Bíblia, permitindo um outro olhar sobre o livro mais importante para os católicos de todo o mundo. -
O que é o Radicalismo?O radicalismo é uma ideologia, uma crença, ou uma classificação dessa ideologia e dessa crença? Numa linguagem acessível à generalidade do público, relaciona o conceito de radicalismo com outros conceitos semelhantes, analisando os pontos de convergência e de divergência, e mostra a sua ambiguidade e subjectividade. Na sociedade de hoje, predominantemente progressista, mais aberta e tolerante a novos valores, o radicalismo assume novos contornos. -
Deus e o CoronavírusEste livro contém uma análise inédita e polémica no mercado editorial português sobre a pandemia provocada pelo novo coronavírus: a pandemia tendo como fio condutor a questão de Deus e a questão de Deus tendo como fio condutor a pandemia.Trata-se de uma investigação que também mostra como as religiões encararam a pandemia, assim como as grandes polémicas por ela levantadas: a recusa do encerramento dos templos, a tese de que a pandemia foi um castigo de Deus, a rejeição religiosa das vacinas, o charlatanismo religioso e as superstições, a ineficácia das orações contra o coronavírus, a relação dos medos e das teorias da conspiração sobre o coronavírus com a atitude religiosa.Por outro lado, este livro apresenta os seguintes problemas: Deus é considerado um Ser perfeito, todo-poderoso, bondoso e preocupado com a Humanidade. Sendo assim, porquê o Seu silêncio, tendo permitido que esta tragédia acontecesse? Afinal onde está Deus? Deus existe realmente? -
Poemas Eróticos da Antiguidade ClássicaA poesia atravessa, fulgurante, a nossa mente e o nosso coração. Desde a Antiguidade Clássica, na Grécia e em Roma, a poesia erótica foi um licor divino, talvez o mais íntimo, mas também mais popular dos tópicos. Esta antologia de poesia erótica reúne precisamente os textos mais sensuais dos grandes autores da Grécia e Roma antigas. O erotismo está presente em poetas como os gregos Arquíloco, Anacreonte, Safo, Homero, Píndaro, Sófocles ou Eurípedes, bem como nos romanos Lucrécio, Marcial, Juvenal, Catulo, Horácio, Virgílio ou o grande Ovídio, e em muitos outros, numa selecção de mais de 40 autores e perto de 200 poemas. -
O Mundo Problemático das Redes SociaisAs redes sociais estão muito marcadas por esta ambivalência: por um lado permitem que as pessoas sejam mais elas mesmas, devido ao anonimato e ao facto de não se estarem frente a frente umas com as outras, permitindo-lhes por isso dizerem o que sentem e o que pensam (por exemplo através dos comentários ofensivos ou dos discursos de ódio). Por outro lado, as redes sociais permitem que as pessoas se escondam e construam sobre si, perante as outras pessoas, uma imagem fictícia, fazendo-se passar por quem não são, dizendo o que na verdade não pensam, de modo a cativarem melhor os outros (por exemplo nos amores virtuais), ou a cultivarem o “politicamente correto”.Nunca as pessoas comunicaram tanto umas com as outras como nas redes sociais, mas por outro lado nunca se sentiram tão sós, por passarem tantas horas seguidas dependentes e alienadas num mundo virtual. Nunca houve tanta informação como nas redes sociais, mas por outro lado nunca houve tanta desinformação e tanta poluição informativa. Os utilizadores das redes sociais são apanhados por muitas armadilhas da comunicação e da informação, pois nem tudo o que se quer comunicar é comunicação, nem tudo o que se quer informar é informação, a comunicação é por vezes anti comunicação, e a informação é por vezes contra informação, e as amizades não passam de amizades virtuais, de pessoas que nunca se conheceram, não se conhecem, nem nunca se conhecerão.***As redes sociais são algo novo no mundo de hoje, muitas coisas passam pelas redes sociais, muitas coisas passam apenas através delas, e trouxeram vários benefícios e vantagens aos seus utilizadores. No entanto, as redes sociais também trouxeram e trazem muitos problemas e muitas desvantagens, sobretudo devido ao seu mau uso, aumentado e proporci- onados pela forma de comunicação das redes sociais. Há diversos mundos nas redes sociais, incluindo os mundos problemáticos, alguns deles originados e outros especialmente incentivados pelas redes sociais. Este livro tem como objetivo mostrar em que consistem esses problemas e esse mau uso, mostrar a sua especificidade, e fazer uma reflexão sobre as suas causas e as suas consequências. -
Poemas Eróticos Sobre Frades, Freiras e PadresUma antologia única de poemas eróticos sobre frades, freiras e padres, escritos por mais de cinquenta autores portugueses clássicos, da Idade Média ao início do século XX.São poemas de amor e de explícito desejo sexual de frades e padres pelas freiras, e delas por eles, mas também de amor e de explícito desejo sexual que homens leigos nutriram pelas religiosas. Da autoria de poetas portugueses, uns são narrados na primeira pessoa, por protagonistas reais ou imaginários; outros na terceira pessoa, evocando amores e desejos alheios. Alguns poetas apoiam os que se envolvem ou desejam a sexualidade freirática, outros fazem dessa sexualidade uma fantasia literária, e outros, ainda, convertem-na em sátira.No final da antologia, o leitor encontra um conjunto de poemas inéditos do século XVIII, cujos manuscritos estão no arquivo nacional da Torre do Tombo: são da autoria de um frade, Frei João de Deus, e foram endereçados a diversas freiras. Têm agora, pela primeira vez, publicação em Portugal.Poemas Eróticos Sobre Frades, Freiras e Padres, nos Clássicos da Literatura Portuguesa oferece aos leitores uma faceta pouco conhecida da nossa literatura: um testemunho histórico de uma realidade que sempre existiu ao longo dos séculos, de uma forma disfarçada ou tolerada. Uma preciosidade para a história do erotismo em Portugal.
-
Para Tão Curtos Amores, Tão Longa VidaNuma época e num país como o nosso, em que se regista um número muito elevado de divórcios, e em que muitos casais preferem «viver juntos» a casar-se, dando origem nas estatísticas a muitas crianças nascidas «fora do casamento», nesta época e neste país a pergunta mais próxima da realidade não é por que duram tão pouco tantos casamentos, mas antes: Por que é que há casamentos que duram até à morte dos cônjuges? Qual é o segredo? Há um segredo nisso? Este novo livro de Daniel Sampaio, que traz o título tão evocativo: Para Tão Curtos Amores, Tão Longa Vida, discute as relações afetivas breves e as prolongadas, a monogamia e a infidelidade, a importância da relação precoce com os pais e as vicissitudes do amor. Combinando dois estilos, o ficcional e o ensaístico, que domina na perfeição, o autor traz perante os nossos olhos, de modo muito transparente e sem preconceitos, tão abundantes nestas matérias, os problemas e dificuldades dos casais no mundo de hoje, as suas vitórias e derrotas na luta permanente para manterem viva a sua união.Um livro para todos nós porque (quase) todos nós, mais tarde ou mais cedo, passamos por isso. -
Sobre as MulheresSobre as Mulheres é uma amostra substancial da escrita de Susan Sontag em torno da questão da mulher. Ao longo dos sete ensaios e entrevistas (e de uma troca pública de argumentos), são abordados relevantes temas, como os desafios e a humilhação que as mulheres enfrentam à medida que envelhecem, a relação entre a luta pela libertação das mulheres e a luta de classes, a beleza, o feminismo, o fascismo, o cinema. Ao fim de cinquenta anos – datam dos primeiros anos da década de 1970 –, estes textos não envelheceram nem perderam pertinência. E, no seu conjunto, revelam a curiosidade incansável, a precisão histórica, a solidez política e o repúdio por categorizações fáceis – em suma, a inimitável inteligência de Sontag em pleno exercício.«É um deleite observar a agilidade da mente seccionando através da flacidez do pensamento preguiçoso.» The Washington Post«Uma nova compilação de primeiros textos de Sontag sobre género, sexualidade e feminismo.» Kirkus Reviews -
A Vida na SelvaHá quem nasça para o romance ou para a poesia e se torne conhecido pelo seu trabalho literário; e quem chegue a esse ponto depois de percorrer um longo caminho de vida, atravessando os escolhos e a complexidade de uma profissão, ou de uma passagem pela política, ou de um reconhecimento público que não está ligado à literatura. Foi o caso de Álvaro Laborinho Lúcio, que publicou o seu primeiro e inesperado romance (O Chamador) em 2014.Desde então, em leituras públicas, festivais, conferências e textos com destinos vários, tem feito uma viagem de que guarda memórias, opiniões, interesses, perguntas e respostas, perplexidades e reconhecimentos. Estes textos são o primeiro resumo de uma vida com a literatura – e o testemunho de um homem comprometido com as suas paixões e o diálogo com os outros. O resultado é comovente e tão inesperado como foi a publicação do primeiro romance. -
O Infinito num JuncoA Invenção do livro na antiguidade e o nascer da sede dos livros.Este é um livro sobre a história dos livros. Uma narrativa desse artefacto fascinante que inventámos para que as palavras pudessem viajar no tempo e no espaço. É o relato do seu nascimento, da sua evolução e das suas muitas formas ao longo de mais de 30 séculos: livros de fumo, de pedra, de argila, de papiro, de seda, de pele, de árvore, de plástico e, agora, de plástico e luz.É também um livro de viagens, com escalas nos campos de batalha de Alexandre, o Grande, na Villa dos Papiros horas antes da erupção do Vesúvio, nos palácios de Cleópatra, na cena do homicídio de Hipátia, nas primeiras livrarias conhecidas, nas celas dos escribas, nas fogueiras onde arderam os livros proibidos, nos gulag, na biblioteca de Sarajevo e num labirinto subterrâneo em Oxford no ano 2000.Este livro é também uma história íntima entrelaçada com evocações literárias, experiências pessoais e histórias antigas que nunca perdem a relevância: Heródoto e os factos alternativos, Aristófanes e os processos judiciais contra humoristas, Tito Lívio e o fenómeno dos fãs, Sulpícia e a voz literária de mulheres.Mas acima de tudo, é uma entusiasmante aventura coletiva, protagonizada por milhares de personagens que, ao longo do tempo, tornaram o livro possível e o ajudaram a transformar-se e evoluir – contadores de histórias, escribas, ilustradores e iluminadores, tradutores, alfarrabistas, professores, sábios, espiões, freiras e monjes, rebeldes, escravos e aventureiros.É com fluência, curiosidade e um permanente sentido de assombro que Irene Vallejo relata as peripécias deste objeto inverosímil que mantém vivas as nossas ideias, descobertas e sonhos. E, ao fazê-lo, conta também a nossa história de leitores ávidos, de todo o mundo, que mantemos o livro vivo.Um dos melhores livros do ano segundo os jornais El Mundo,La Vanguardia e The New York Times(Espanha). -
O Anticrítico«O Anticrítico» é uma compilação dos ensaios de Diogo Vaz Pinto — textos de crítica literária, e não só —, escritos entre 2014 e 2023, incluindo alguns inéditos. «Não tenho conta para as vezes todas em que, para ir com a rábula insultuosa que me tecem, pegando uns onde outros deixaram, numa cooperativa de imbecis que, sinceramente, me comove, já me quiseram tirar a condição que vem de tudo o que faço. Mais difícil seria desmontar alguma coisa. Resta que, ou ignoram muito vermelhuscos, ou a ideia é revogar-me a carta, licença, prostrar-me na indigência de eu ser uma qualquer abominação, «Bicho», monstro que ligam com tudo o que é baixo, e mesmo assim paira sobre eles sem explicação. Um Chernobyl encarnado. Crítico não sou. Ou só pseudo. Videirinho e jornaleiro, pilha-galinhas e o mais que eu coso bem ao meu estuporado currículo. Pois seja, eu fico então gordo disso tudo. E viro-me do avesso. Sou o anticrítico, então! Roubando esta de Augusto de Campos sem pudor. Há muito que não me retiram do sentido a ideia de que o principal é cortar com a impostura disto tudo. A gloríola da mediocridade, o sentido gregário, essa ratada ficção ligando os «egozinhos de porta-aberta» do nosso meio literato.» -
Terra QueimadaEnsaio profético e demolidor, TERRA QUEIMADA (2022) expõe a forma como o complexo internético se tornou «motor implacável de vício, solidão, falsas esperanças, crueldade, psicose, endividamento, vida desbaratada, corrosão da memória e desintegração social». Nele, Jonathan Crary faz uma crítica radical da digitalização do mundo e denuncia realidades inegáveis: a incompatibilidade entre um planeta habitável e a economia consumista e técnica, a atomização provocada pelas redes sociais, a era digital como fase terminal do capitalismo planetário. «Se é possível um futuro habitável e comum no nosso planeta», conclui, «esse futuro será offline, dissociado dos sistemas e da actividade do capitalismo 24/7, que destroem o mundo». -
Mário Cesariny e Antonio Tabucchi - Cartas e outros TextosFernando Cabral Martins: «O surrealismo português já tinha atingido no final dos anos sessenta uma definição que tornava possível, de um ponto de vista exterior, descomprometido, fazer uma avaliação de conjunto.» Antonio Tabucchi veio a Portugal no rasto de um poeta: Fernando Pessoa, ou melhor Álvaro de Campos, de quem lera por acaso o poema «Tabacaria». Quis aprender a língua do autor do poema e para isso inscreveu-se na cadeira de Língua e Literatura Portuguesa na Universidade de Pisa, que então frequentava. O seu mestre foi uma professora especial, bela, inteligente e culta, Luciana Stegagno Picchio. Antonio quis conhecer o país onde se falava aquela língua e ao qual pertencia aquele poeta e, na Primavera de 1965, com o seu Fiat 500, chegou a Portugal. Aí conheceu uma portuguesa com quem falou de Pessoa, e com quem continuou a trocar correspondência até ao ano seguinte, quando se tornaram namorados, vindo depois a casar (1970). Mas até lá, veio amiúde a Portugal […] e começou a interessar-se pelo Surrealismo português, sobre o qual havia muito pouco material crítico, praticamente nada, em vista da sua futura tese de licenciatura. Conheceu então (1967) dois membros ilustres daquele movimento, dois grandes poetas, Alexandre O’Neill e Mário Cesariny de Vasconcelos, com quem passou muitas horas, primeiro para os entrevistar e depois, com sempre maior intimidade, já com laços de amizade, só pelo prazer de estarem juntos. [Maria José de Lancastre] Esta é a história de um desencontro. Cesariny, como o surrealismo, considerava a universidade um inimigo, e Tabucchi, para todos os efeitos, era em 1971 um universitário. Mesmo se, no caso dele, havia por parte do poeta o agrado de ver como a sua poesia e o seu lugar no surrealismo português eram reconhecidos — pela primeira vez — por um leitor com a distância crítica e a óbvia inteligência de Antonio Tabucchi. Aqui, nos textos que documentam o contacto directo entre ambos do final dos anos 60, pode ver-se uma ilustração do modo como a história do surrealismo foi sendo feita, com que ritmo e a partir de que posições. E que implica a consciência, por parte do poeta, da importância do sentido que a crítica atribui à História, capaz (ou não) de tornar o passado digno do presente, ou vice- -versa. E manifesta, por parte do jovem crítico italiano, a intuição da grandeza de um movimento que evoluía na sombra, num carceral jardim à beira-mar. [Fernando Cabral Martins]
