O Porta-Estandarte
Em O Porta-Estandarte (obra escrita e reescrita desde 1986, a última das quais em 2017, ano da morte prematura do autor), revelam-se diversas camadas onde encontramos gravada alguma da história do seu pensamento. Mas o que importa reter nesta obra, é que a harmonia entre Espírito e Natureza parece ser uma ideia retida e aprofundada na maturidade do autor. Mas essa mesma harmonia encontrada pelo filho do Rei e Rainha (personagens da narrativa) não será sentida pelo seu próprio filho (neto, portanto, do Rei e Rainha), que sente a necessidade de regressar ao povo da Ilha das Flores. Nesta fase final da obra, levanta-se, pois, a questão do que será o verdadeiro porta-estandarte. Aquele que finalmente encontra a harmonia fora do seu povo, num modo de contemplação prática que elimina a tensão entre Espírito e Natureza? Ou aquele que pretende regressar e liderar o seu povo? Deve-se procurar a felicidade individual na contemplação ou, como Platão indica n’A República, voltar à caverna e trazer os concidadãos consigo?
Mário T Cabral via o regresso à caverna como uma obrigação moral e política. No seu papel de professor, regressava diariamente à caverna, vindo na camioneta que liga São Mateus a Angra. Chegado ao Liceu, abria todas as janelas da sala de aula pedindo luz. É a luz que aponta a saída da caverna. Paralelamente, ia escrevendo a presente obra, entre tantas outras, seguindo um dos seus horários rigorosos. O Porta-Estandarte é obra de uma vida, escrita por quem foi, nas suas aulas, um porta-estandarte da filosofia nascida na Grécia, tal como preservada pela cultura cristã, e trabalhada por Mário T Cabral numa ilha portuguesa. Cada livro publicado é um reabrir da janela fechada prematuramente em 2017.
Nuno Martins, do “Prefácio”
| Editora | Companhia das Ilhas |
|---|---|
| Coleção | Obras de Mário T. Cabral |
| Categorias | |
| Editora | Companhia das Ilhas |
| Negar Chronopost e Cobrança | Não |
| Autores | Mário T. Cabral |
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O Livro dos Anjos(...) Os primeiros poemas de O Livro dos Anjos (...) foram escritos ainda em 1989, quando o autor deixou Lisboa e regressou aos Açores. Deveriam integrar outro livro - Via Sacra - Poemas Místicos - mas, aos poucos, emanciparam-se e tornaram-se um projecto autónomo. Em 1998, isto é, nove anos depois, estava terminada a primeira versão, já de si vista e revista, escrita e rescrita. Mário foi sempre o oposto do poeta espontâneo, arrebatado, sentimental; era racional, cristão, porém grego, apolíneo, que pondera, traça, esculpe, em busca da beleza ou da verdade. A versão derradeira, que encontra nas páginas que se seguem, seria terminada a 13 de Julho de 2017, a quatro semanas da morte. Tinham passado 28 anos desde a redacção do primeiro verso, mais de metade da vida do Mário, toda a carreira profissional e quase toda a vida literária. Que aconteceu a estes poemas ao longo desses 28 anos? Mudaram, várias vezes. Transfiguraram-se, numas ocasiões complexificaram-se, noutras simplificaram-se, viveram, envelheceram. Como o próprio livro diz e no contexto de um tema caro ao autor, “um jardim nunca está pronto”. O mesmo com estes poemas. Nunca estiveram completos nem terminados. Cessam aqui porque cessou a mão que os escrevia, completam-se por impossibilidade de serem mais. Não houve um momento em que tivessem sido melhores nem piores; foram, como as árvores ou as flores, de acordo com a estação da vida, a destreza e a energia do jardineiro. Conheceram várias reencarnações e terminam nestas. São as que o público conhecerá. (…) Nas suas notas no fim do século, o autor definia-o como “um livro religioso, que descreve a morte física do Eu e a ressurreição metafísica do Espírito Santo ou Logos”. Mas a versão de então não o era tanto como a derradeira. Afinal, como se lê nos poemas actuais, o anjo “sabe vinte anos antes o que venho a saber”, “Estou com eles no futuro à minha espera”. Alexandre Borges (do Prefácio) -
As Quatro EstaçõesÉ já uma tese antiga, a de que existimos condicionados a um movimento constante amarrado a uma imobilidade permanente, próxima da solenidade. Primavera, tempo da revolução, dos recomeços brutais e das metamorfoses assíduas, cuja força germinadora emana também do ódio com que «o galo novo mata o galo velho». E se o Verão é a estação do vigor, regente de plenitude tal que pode já antever o seu decrescimento, o Outono, por sua vez, fica a postos para o «rodopio senil» e «o terror existe, efectivamente, ao fim da tarde», num impasse entre claridade e nostalgia. Por fim, no Inverno, lugar da cegueira, «luva sem dedos», não sabemos se estamos confrontados com o fim, se com o perpétuo replantio de novos fins. Quatro Estações pode ser lido como um ensaio poético-filosófico, ou entendido como uma narrativa teleológica, onde, sob o manto em que o caos é o denominador comum, os eventos mínimos quotidiano subjazem sempre, como uma eterna sombra, a uma ordem maior do que a sua aparência. Entrecruzando diferentes artérias literárias num pulsar verbalmente intenso, a voz de Mário T. Cabral encara-nos, neste livro, com todo o seu despojo, clarividência, desassombro, fulgor, beleza -
Para Onde Vamos, Irmãs?Serenidade e urgência, mas nunca medo: no confronto com as revelações implacáveis que a morte lhe traz, o sujeito destes poemas não resvala um só passo. Pelo contrário, mune-se dela. Pressentida e, portanto, desarmada, rendida ao poder criador do verbo, tão indefesa quanto libertadora, como em Antero, tão despida que se abre, a morte reduz-se, como nos célebres versos de Herberto, a nada mais do que uma «porta / para uma nova palavra». Que palavra? Esta parece, de facto, ser a pergunta suscitada pelo título. Para Onde Vamos, Irmãs? reúne textos escritos e reescritos entre 1985 e 2017, ano em que o poeta terceirense «enrolou todo o seu corpo em forma de viagem» e adormeceu como «as sementes que o lavrador atira, de mão em leque». A evidência da passagem e da partida não lhe merece nenhum timbre condoído, nenhum desconsolo encolerizado – à harmonia entre lei e natureza responde com a lucidez de quem «aprendeu a serenar», de quem regressa ao «reino do sol», como quem adquiriu um imperturbável «conhecimento sinestésico», mesmo que todo o conhecimento, já dizia o sábio do Eclesiastes, acarrete tristeza. É a tristeza, todavia, de quem constata estar só quando o sol «lhe entra pela boca» – nada que se compare com a miséria daqueles que querem ficar «vivos para sempre / ressequidos e podres». -
É Preciso que Te Lembres dos Passeios com o Teu Cão - Poesia (1983-2017)Com desenhos e pinturas do Autor. Apresentação de Paulo Borges | Edição de Carlos Alberto Machado | Organização visual de Mariana Martins Matos | Nota editorial de Alexandre Borges Com É PRECISO QUE TE LEMBRES DOS PASSEIOS COM O TEU CÃO conclui a Companhia das Ilhas a publicação da poesia inédita de Mário T Cabral. O presente volume reúne 14 livros que se encontravam nos arquivos do autor em diferentes pontos de evolução – de BESTIÁRIO, PROVINCIANA, HORAS A MEU PAI ou SONETOS, que poderiam, pela sua consistência e dimensão, ser, sem dificuldade, publicados autonomamente, a outros ainda em evidente estado inicial, mas onde são já perceptíveis o conceito e o estilo projectados, em cada caso, pelo poeta. De fora, fica apenas um número residual de poemas, reunidos em conjuntos de forma ainda vaga ou inconsistente, onde ainda não era vislumbrável o caminho de um “livro”. -
Meteorologia - Contos para Adultos que não Quiseram ser GrandesDe que «meteorologia» se fala aqui? A questão ganha pertinência se pensarmos num contexto insular em que, durante certo tempo, os factores atmosféricos, climáticos, adquiriram no interior da reflexão literária e cultural algum papel de relevo.Neste particular, os contos de Mário T Cabral oscilam entre a referência explícita e a alusão tangencial que, no seu nível de conhecimento, um leitor de proximidade será capaz, ainda assim, de descodificar. Trata-se, por norma, de uma indicação pontual, sem grandes expansões descritivas, deixando ao leitor a possibilidade de lançar mão da informação empírica à disposição no seu “arquivo” pessoal – ou ainda, num outro plano, constituem os lugares de um território ficcional em que as personagens se movimentam e interagem, por vezes em situação conflituosa. Mais do que ater-se demoradamente aos traços físicos de um determinado espaço, sem a cedência à “tentação” paisagística e etnográfica, o escritor opta pela apresentação de personagens e de situações que no seu desenvolvimento configuram um jogo de experiências colectivas ou individuais e um quadro de relações interpessoais que remetem em último lugar para diferentes facetas de uma condição social.Ora, é preferencialmente sobre espaço açoriano que se recortam as personagens de Cabral. Enquadradas por situações comuns, elas movimentam-se em histórias de um quotidiano comezinho, embora complexo e diversificado, sem heroísmos nem sobressaltos, pautado pela mediania que as vidas miúdas arrastam com elas, e em que diversos caminhos desembocam na religiosidade e nos seus rituais e expressões.Urbano Bettencourt, do “Prefácio -
EudemimPrefácio de Leonor Sampaio da Silva «Eudemim é um livro polifónico e complexo, ao longo do qual acompanhamos o percurso de um homem desde o dia em que celebra o seu trigésimo aniversário até depois da sua morte, através de inúmeras vozes (incluindo a dele próprio), que nos narram as suas origens e descendência, as suas dores e fragilidades, os seus sonhos e conquistas. Bastaria isso para vislumbrar nele um projecto de escrita ambicioso. Acresce ainda ao complexo fio que urde a acção principal vários outros factores que contribuem para a opulência de uma narrativa em que a literatura se alia à pintura, à arquitectura e à filosofia para se mostrar como espaço inclusivo de saberes e sensibilidades. […] No plano geográfico, o arquipélago é o espelho territorial da temática abordada no romance. A ilha espelha o isolamento, e a condição arquipelágica reitera a unidade na multiplicidade, não só por via da proximidade insular, mas pelo tipo de nuvens que povoam o céu açoriano: “Os céus das ilhas são com a maior frequência repletos de nuvens em diversas cores e gradações, o que dá a ideia de espaço ainda maior e desdobrado até ao Eterno.” […] Na esteira do pensamento contemporâneo que aborda o tema complexo da identidade sob a perspectiva dinâmica de um conhecimento que se vai construindo com o tempo, influenciado pelas experiências e as relações interpessoais, recusando o carácter estático e unívoco que, no passado a prendeu a estereótipos, e de um tema (o Duplo) com profundas raízes na tradução literária ocidental (pense-se, por exemplo em Dr. Jekyll and Mr. Hyde, de Robert Louis Stevenson, ou de Orlando, de Virginia Woolf, para só citar dois exemplos) Eudemim convida à visão do Eu como o Outro-Dentro-de-Mim: não um monstro ou uma ameaça, mas uma oportunidade de recomeços infinitos. Em número plural e em nome do pluralismo se tece este romance, que é reflexão filosófica, partilha artística e manifesto a favor da diferença como a face mais promissora do Eu futuro.» [Do Prefácio] -
A Ceia GrandeApresentação de Sandra Garcia «(…) Neste livro emocionamo-nos com a dimensão do amor pelo Filho, de José, que o abre, ao de Maria, que o encerra. Um amor cheio de matizes, humano e divino, terreno e reverente, maior do que as palavras. São vários os personagens que nos vão dando novas leituras e abordagens de Cristo. Na sua maioria, à parte Maria e José, não se trata de personagens principais ou as mais óbvias, mas as que figuraram em segundo plano e que aqui adquirem centralidade e voz própria. (…) A dúvida e a divisão entre o dever de cuidar da casa e da família e entre tudo deixar para segui-Lo que angustiou o jovem herdeiro que não acedeu, de imediato, ao repto: “Vem e Segue-Me», e que depois é reconciliada com a certeza de que «não há nada de mal na posse, quando ela respeita a Lei – embora, mesmo assim, os bens jamais saciem a nossa sede de infinito.” O Mário foi um homem da sua casa, da sua família. Foi da Razão e da Filosofia, como foi da Arte, da Ética e da Estética. E foi também da Fé. Principalmente da Fé. Assim mesmo: sem contradições, por inteiro. Como o jovem herdeiro desde muito cedo que intuiu “que nada de apenas humano me alimentaria a vida”. Teve sempre sede de Infinito. Que possamos também vislumbrá-la e partilhá-la, essa sede de Infinito que nos inquieta, no banquete que é a obra A Ceia Grande.»[Sandra Garcia]
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O Essencial Sobre José Saramago«Aquilo que neste livro se entende como essencial em José Saramago corresponde à sua específica identidade como escritor, com a singularidade e com as propriedades que o diferenciam, nos seus fundamentos e manifestações. Mas isso não é tudo. No autor de Memorial do Convento afirma-se também uma condição de cidadão e de homem político, pensando o seu tempo e os fenómenos sociais e culturais que o conformam. Para o que aqui importa, isso é igualmente essencial em Saramago, até porque aquela condição de cidadão não é estranha às obras literárias com as quais ela interage, em termos muito expressivos.» in Contracapa -
Confissões de um Jovem EscritorUmberto Eco publicou seu primeiro romance, O Nome da Rosa, em 1980, quando tinha quase 50 anos. Nestas suas Confissões, escritas cerca de trinta anos depois da sua estreia na ficção, o brilhante intelectual italiano percorre a sua longa carreira como ensaísta dedicando especial atenção ao labor criativo que consagrou aos romances que o aclamaram. De forma simultaneamente divertida e séria, com o brilhantismo de sempre, Umberto Eco explora temas como a fronteira entre a ficção e a não-ficção, a ambiguidade que o escritor mantém para que seus leitores se sintam livres para seguir o seu próprio caminho interpre tativo, bem como a capacidade de gerar neles emoções. Composto por quatro conferências integradas no âmbito das palestras Richard Ellmann sobre Literatura Moderna que Eco proferiu na Universidade Emory, em Atlanta, nos Estados Unidos, Confissões de um jovem escritor é uma viagem irresistível aos mundos imaginários do autor e ao modo como os transformou em histórias inesquecíveis para todos os leitores. O “jovem escritor” revela-se, afinal, um grande mestre e aqui partilha a sua sabedoria sobre a arte da imaginação e o poder das palavras. -
Sobre as MulheresSobre as Mulheres é uma amostra substancial da escrita de Susan Sontag em torno da questão da mulher. Ao longo dos sete ensaios e entrevistas (e de uma troca pública de argumentos), são abordados relevantes temas, como os desafios e a humilhação que as mulheres enfrentam à medida que envelhecem, a relação entre a luta pela libertação das mulheres e a luta de classes, a beleza, o feminismo, o fascismo, o cinema. Ao fim de cinquenta anos – datam dos primeiros anos da década de 1970 –, estes textos não envelheceram nem perderam pertinência. E, no seu conjunto, revelam a curiosidade incansável, a precisão histórica, a solidez política e o repúdio por categorizações fáceis – em suma, a inimitável inteligência de Sontag em pleno exercício.«É um deleite observar a agilidade da mente seccionando através da flacidez do pensamento preguiçoso.» The Washington Post«Uma nova compilação de primeiros textos de Sontag sobre género, sexualidade e feminismo.» Kirkus Reviews -
Para Tão Curtos Amores, Tão Longa VidaNuma época e num país como o nosso, em que se regista um número muito elevado de divórcios, e em que muitos casais preferem «viver juntos» a casar-se, dando origem nas estatísticas a muitas crianças nascidas «fora do casamento», nesta época e neste país a pergunta mais próxima da realidade não é por que duram tão pouco tantos casamentos, mas antes: Por que é que há casamentos que duram até à morte dos cônjuges? Qual é o segredo? Há um segredo nisso? Este novo livro de Daniel Sampaio, que traz o título tão evocativo: Para Tão Curtos Amores, Tão Longa Vida, discute as relações afetivas breves e as prolongadas, a monogamia e a infidelidade, a importância da relação precoce com os pais e as vicissitudes do amor. Combinando dois estilos, o ficcional e o ensaístico, que domina na perfeição, o autor traz perante os nossos olhos, de modo muito transparente e sem preconceitos, tão abundantes nestas matérias, os problemas e dificuldades dos casais no mundo de hoje, as suas vitórias e derrotas na luta permanente para manterem viva a sua união.Um livro para todos nós porque (quase) todos nós, mais tarde ou mais cedo, passamos por isso. -
A Vida na SelvaHá quem nasça para o romance ou para a poesia e se torne conhecido pelo seu trabalho literário; e quem chegue a esse ponto depois de percorrer um longo caminho de vida, atravessando os escolhos e a complexidade de uma profissão, ou de uma passagem pela política, ou de um reconhecimento público que não está ligado à literatura. Foi o caso de Álvaro Laborinho Lúcio, que publicou o seu primeiro e inesperado romance (O Chamador) em 2014.Desde então, em leituras públicas, festivais, conferências e textos com destinos vários, tem feito uma viagem de que guarda memórias, opiniões, interesses, perguntas e respostas, perplexidades e reconhecimentos. Estes textos são o primeiro resumo de uma vida com a literatura – e o testemunho de um homem comprometido com as suas paixões e o diálogo com os outros. O resultado é comovente e tão inesperado como foi a publicação do primeiro romance. -
Almoço de DomingoUm romance, uma biografia, uma leitura de Portugal e das várias gerações portuguesas entre 1931 e 2021. Tudo olhado a partir de uma geografia e de uma família.Com este novo romance de José Luís Peixoto acompanhamos, entre 1931 e 2021, a biografia de um homem famoso que o leitor há de identificar — em paralelo com história do país durante esses anos. No Alentejo da raia, o contrabando é a resistência perante a pobreza, tal como é a metáfora das múltiplas e imprecisas fronteiras que rodeiam a existência e a literatura. Através dessa entrada, chega-se muito longe, sem nunca esquecer as origens. Num percurso de várias gerações, tocado pela Guerra Civil de Espanha, pelo 25 de abril, por figuras como Marcelo Caetano ou Mário Soares e Felipe González, este é também um romance sobre a idade, sobre a vida contra a morte, sobre o amor profundo e ancestral de uma família reunida, em torno do patriarca, no seu almoço de domingo.«O passado tem de provar constantemente que existiu. Aquilo que foi esquecido e o que não existiu ocupam o mesmo lugar. Há muita realidade a passear-se por aí, frágil, transportada apenas por uma única pessoa. Se esse indivíduo desaparecer, toda essa realidade desaparece sem apelo, não existe meio de recuperá-la, é como se não tivesse existido.» «Os motoristas estão à espera, o brado da multidão mistura-se com o rugido dos motores. Antes de entrarmos, o Mário Soares aproxima-se de mim, correu tudo tão bem, e abraça-me com um par estrondosas palmadas no centro das costas. A coluna de carros avança devagar pelas ruas da vila. Tenho a garganta apertada, não consigo falar. Como me orgulha que Campo Maior seja a capital da península durante este momento.»«Autobiografia é um romance que desafia o leitor ao diluir fronteiras entre o real e o ficcional, entre espaços e tempos, entre duas personagens de nome José, um jovem escritor e José Saramago. Este é o melhor romance de José Luís Peixoto.»José Riço Direitinho, Público «O principal risco de Autobiografia era esgotar-se no plano da mera homenagem engenhosa, mas Peixoto evitou essa armadilha, ao construir uma narrativa que se expande em várias direções, acumulando camadas de complexidade.»José Mário Silva, Expresso -
Electra Nº 23A Atenção, tema de que se ocupa o dossier central do número 23 da revista Electra, é um recurso escasso e precioso e por isso objecto de uma guerra de concorrência sem tréguas para conseguir a sua captura. Nunca houve uma tão grande proliferação de informação, de produtos de consumo, de bens culturais, de acontecimentos que reclamam a atenção. Ela é a mercadoria da qual depende o valor de todas as mercadorias, sejam materiais ou imateriais, reais ou simbólicas. A Atenção é, pois, uma questão fundamental do nosso tempo e é um tópico crucial para o compreendermos. Sobre ela destacam-se neste dossier artigos e entrevistas de Yves Citton, Enrico Campo, Mark Wigley, Georg Franck e Claire Bishop. Nesta edição, na secção “Primeira Pessoa”, são publicadas entrevistas à escritora, professora e crítica norte-americana Svetlana Alpers (por Afonso Dias Ramos), cujo trabalho pioneiro redefiniu o campo da história da arte nas últimas décadas, e a Philippe Descola (por António Guerreiro), figura central da Antropologia, que nos fala de temas que vão desde a produção de imagens e das tradições e dos estilos iconográficos à questão da oposição entre natureza e cultura. A secção “Furo” apresenta um conjunto de desenhos e cartas inéditos da pintora Maria Helena Vieira da Silva. Em 1928, tinha vinte anos. Havia saído de Portugal para estudar arte em Paris e, de França, foi a Itália numa viagem de estudo. Durante esse percurso desenhou num caderno esboços rápidos do que via, e ao mesmo tempo, escrevia cartas à mãe para lhe contar as suas impressões e descobertas. Uma selecção destes desenhos e destas cartas, que estabelecem entre si um diálogo íntimo e consonante, é agora revelada. Na Electra 23, é publicada, na secção “Figura”, um retrato do grande poeta grego Konstandinos Kavafis, feito pelo professor e tradutor Nikos Pratsinis, a partir de oito perguntas capitais; é comentada, pelo escritor Christian Salmon, na secção “Passagens”, uma reflexão sobre a história trágica da Europa Central do consagrado romancista e ensaísta checo, Milan Kundera. Ainda neste número, o ensaísta e jornalista Sergio Molino dá-nos um mapa pessoal da cidade de Saragoça, em que a história e a geografia, a literatura e a arte se encontram; o jornalista e colunista brasileiro Marcelo Leite trata das investigações em curso desde os anos 90, com vista ao uso farmacológico e terapêutico dos psicadélicos; a escritora e veterinária María Sanchez constrói um diário que é atravessado por procuras e encontros, casas e viagens, livros e animais, terras e mulheres, amor e amizade; o arquitecto, investigador e curador chileno Francisco Díaz aborda a relação entre solo e terreno, a partir do projecto da Cidade da Cultura de Santiago de Compostela, da autoria de Peter Eisenman; o artista e ensaísta João Sousa Cardoso escreve sobre a obra do escultor Rui Chafes, revisitando três exposições e um livro apresentados durante o ano de 2023; e o dramaturgo Miguel Castro Caldas comenta a palavra “Confortável”.Vários -
Diário SelvagemEste «Diário Selvagem», «até aqui quase integralmente inédito, é um livro mítico, listado e discutido em inúmeras cartas e cronologias do autor, a que só alguns biógrafos e estudiosos foram tendo acesso».