O vírus imprevisto suspendeu o inevitável do invariável, interrompendo um crescimento que, entretanto, se tornara uma excrescência incontrolável, desmesurada e sem fim. Toda a crise compromete a possibilidade de resgate. Saberemos compreender o sinal?
Um retrato sugestivo do evento epocal que já deixou a sua marca no século xxi. Da questão ecológica ao governo dos especialistas, do Estado de exceção à democracia imunitária, do domínio pelo medo ao contágio da conspiração, do distanciamento forçado ao controlo digital, a autora reconstrói, no seu estilo pessoal, as fases dramáticas daquilo a que ela chama «a catástrofe respiratória».
O coronavírus é um vírus soberano que contorna os muros do patriotismo e as fronteiras arrogantes dos soberanistas. E revela em toda a sua terrível crueza a lógica imunitária que exclui os mais pobres e os mais fracos. A disparidade entre os protegidos e os desamparados, que desafia qualquer ideia de justiça, nunca foi tão flagrante. O vírus pôs a descoberto a crueldade do capitalismo e mostrou que é impossível salvar-nos sem ajuda recíproca, obrigando-nos a conceber uma nova forma de coabitação. Já nem a respiração pode ser dada como adquirida.
Donatella Di Cesare ensina Filosofia Teórica na Universidade de Roma «La Sapienza». É uma das vozes italianas mais irreverentes e relevantes, com colaboração regular em inúmeros jornais e websites em Itália e no estrangeiro (Il Corriere della Sera, Repubblica, L’Espresso, il manifesto, Die Zeit). É autora, entre outros, de Stranieri residenti. Una filosofia della migrazione, Sulla vocazione politica della filosofia, Tortura e Terrore e modernità. Dela, as Edições 70 publicaram Vírus Soberano? A Asfixia Capitalista.
O vírus imprevisto suspendeu o inevitável do invariável, interrompendo um crescimento que, entretanto, se tornara uma excrescência incontrolável, desmesurada e sem fim. Toda a crise compromete a possibilidade de resgate. Saberemos compreender o sinal?
Um retrato sugestivo do evento epocal que já deixou a sua marca no século xxi. Da questão ecológica ao governo dos especialistas, do Estado de exceção à democracia imunitária, do domínio pelo medo ao contágio da conspiração, do distanciamento forçado ao controlo digital, a autora reconstrói, no seu estilo pessoal, as fases dramáticas daquilo a que ela chama «a catástrofe respiratória».
O coronavírus é um vírus soberano que contorna os muros do patriotismo e as fronteiras arrogantes dos soberanistas. E revela em toda a sua terrível crueza a lógica imunitária que exclui os mais pobres e os mais fracos. A disparidade entre os protegidos e os desamparados, que desafia qualquer ideia de justiça, nunca foi tão flagrante. O vírus pôs a descoberto a crueldade do capitalismo e mostrou que é impossível salvar-nos sem ajuda recíproca, obrigando-nos a conceber uma nova forma de coabitação. Já nem a respiração pode ser dada como adquirida.
Marginalizada pela reflexão, apresentada como um acontecimento caótico e sombrio pela narrativa mediática, a revolta é um tema incandescente no cenário global. Neste livro, Donatella Di Cesare aborda pela primeira vez o assunto do ponto de vista político e filosófico, oferecendo um quadro sugestivo e oportuno dos acontecimentos atuais.
Tal como a migração, a revolta permite-nos vislumbrar o que está a acontecer «do lado de fora», para lá da ordem estatocêntrica, nos limites da arquitetura política e em torno das fronteiras vigiadas do espaço público.
Num elogio à revolta e à sua ascensão ao poder, Di Cesare questiona-se ainda sobre os fenómenos contíguos, a revolução perdida ? nos muitos sentidos desta expressão ? e a resistência. Se os movimentos que ocupam as praças, evidenciando o declínio da representação, exigem o direito de aparecer e entrar no espaço público, a revolta vai mais longe: em vez de aceitar o conflito interno, questiona os próprios contornos desse espaço. Os protagonistas são muitos: dos novos desobedientes aos que praticam o anonimato na Internet, dos que denunciam infrações aos que se declaram «invisíveis». O Tempo da Revolta oferece uma interpretação política da máscara e fala de «zonas de irresponsabilidade»; esconder-se para se mostrar é um desafio ao Estado que condena qualquer máscara que não seja a sua, ao poder financeiro sem rosto, à economia descarnada, indiferente aos seus efeitos; revela-se, assim, a enorme dissimetria, expõe-se a disparidade de forças e denuncia-se a vigilância planetária.
A revolta não é um acontecimento efémero, mas uma transição anárquica que se processa através da desvinculação da arquitetura política.
«A revolta anarquista viola as fronteiras do Estado, desnacionaliza os presumíveis cidadãos, liberta-os e aliena-os, torna-os temporariamente apátridas, convida-os a proclamarem-se residentes estrangeiros.»
Marginalizada pela reflexão, apresentada como um acontecimento caótico e sombrio pela narrativa mediática, a revolta é um tema incandescente no cenário global. Neste livro, Donatella Di Cesare aborda pela primeira vez o assunto do ponto de vista político e filosófico, oferecendo um quadro sugestivo e oportuno dos acontecimentos atuais.
Tal como a migração, a revolta permite-nos vislumbrar o que está a acontecer «do lado de fora», para lá da ordem estatocêntrica, nos limites da arquitetura política e em torno das fronteiras vigiadas do espaço público.
Num elogio à revolta e à sua ascensão ao poder, Di Cesare questiona-se ainda sobre os fenómenos contíguos, a revolução perdida ? nos muitos sentidos desta expressão ? e a resistência. Se os movimentos que ocupam as praças, evidenciando o declínio da representação, exigem o direito de aparecer e entrar no espaço público, a revolta vai mais longe: em vez de aceitar o conflito interno, questiona os próprios contornos desse espaço. Os protagonistas são muitos: dos novos desobedientes aos que praticam o anonimato na Internet, dos que denunciam infrações aos que se declaram «invisíveis». O Tempo da Revolta oferece uma interpretação política da máscara e fala de «zonas de irresponsabilidade»; esconder-se para se mostrar é um desafio ao Estado que condena qualquer máscara que não seja a sua, ao poder financeiro sem rosto, à economia descarnada, indiferente aos seus efeitos; revela-se, assim, a enorme dissimetria, expõe-se a disparidade de forças e denuncia-se a vigilância planetária.
A revolta não é um acontecimento efémero, mas uma transição anárquica que se processa através da desvinculação da arquitetura política.
«A revolta anarquista viola as fronteiras do Estado, desnacionaliza os presumíveis cidadãos, liberta-os e aliena-os, torna-os temporariamente apátridas, convida-os a proclamarem-se residentes estrangeiros.»