A Arqueologia do Saber
«A geração de Foucault (1926-1984) é aquela que, no imediato pós-guerra, assiste à proeminência da fenomenologia e do existencialismo nos meios filosóficos e culturais franceses, mas também à omnipresente influência da geração anterior que viveu a resistência, com Jean-Paul Sartre à cabeça. Com os da idade de Foucault, a época é já a da transição entre os últimos anos da reconstrução e os anos brilhantes de quantos, discípulos desobedientes daqueles mestres, lhes escapam rumo a um mundo de que o Maio de 68 constituía a grande promessa. Sem esta alusão, sumaríssima, não poderíamos começar a compreender como foi possível à geração de Foucault o desassombro, a obstinação, a alegre ferocidade com que ela dá os primeiros passos na senda de vários “pós”: pós-estruturalismo, pós-marxismo, pós-modernidade.»
António Fernando Cascais, Nota de Apresentação
| Editora | Edições 70 |
|---|---|
| Coleção | Biblioteca de Filosofia Contemporânea |
| Categorias | |
| Editora | Edições 70 |
| Negar Chronopost e Cobrança | Não |
| Autores | Michel Foucault |
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Nascimento da BiopolíticaEste curso de Michel Foucault no Collège de France, de Janeiro a Abril de 1979, inscreve-se na sequência do que ele havia proferido no ano anterior, Securité, Territoire, Population. Depois de ter mostrado como a economia política no século XVIII assinala o nascimento de uma nova razão governamental – governar menos, para uma eficácia máxima –, Michel Foucault passa à análise das formas deste governo liberal. Trata-se agora de descrever a racionalidade política no seio da qual se colocaram os problemas específicos da vida e da população: «Estudar o liberalismo como quadro geral da biopolítica».Esta análise realça o papel paradoxal que a «sociedade» desempenha em relação ao governo, princípio em nome do qual este tende a autolimitar-se, mas objecto, também, de uma intervenção governamental permanente, para produzir, multiplicar e garantir as liberdades necessárias ao liberalismo económico. A sociedade civil, longe de se opor ao Estado, é o correlativo da tecnologia liberal do governo. -
Vigiar e Punir«Hoje, talvez tenhamos vergonha das nossas prisões. No entanto, o século XIX tinha orgulho nas fortalezas que construía nos limites e, por vezes, no centro das cidades. Esses muros, esses ferrolhos, essas células representavam todo um trabalho de ortopedia social. Quem rouba vai para a prisão; quem viola vai para a prisão; quem mata, a mesma coisa. De onde vem esta estranha prática e o curioso projeto de encarcerar para adestrar, que estão incluídos nos Códigos Penais da época moderna? Uma velha herança das masmorras da Idade Média? Ao invés, uma nova tecnologia: o aperfeiçoamento, do século XVI ao século XIX, de todo um conjunto de processos para policiar, controlar, avaliar, adestrar os indivíduos, torná-los “dóceis e úteis”. Vigilância, exercícios, manobras, notas, níveis e lugares, classificações, exames, registos, toda uma forma de submeter os corpos, de dominar as multiplicidades humanas e de manipular as suas forças se desenvolveu durante os séculos clássicos, nos hospitais, no exército, nas escolas, nos colégios ou nas oficinas: a disciplina. A prisão deve ser substituída na formação desta sociedade de vigilância. O sistema penal moderno já não ousa dizer que pune crimes; pretende readaptar delinquentes. Será possível fazer a genealogia da moral moderna a partir de uma história política dos corpos?» -
Vigiar e PunirÉ um estudo científico, fartamente documentado, sobre a evolução histórica da legislação penal e respectivos métodos coercitivos e punitivos adotados pelo poder público na repressão da delinqüência. Métodos que vão da violência física até instituições correcionais. -
História da Sexualidade: a vontade de saber - Vol. I«Trata-se, em suma, de interrogar o caso de uma sociedade que há mais de um século se fustiga ruidosamente pela sua hipocrisia, fala prolixamente do seu próprio silêncio, se obstina em pormenorizar o que não diz, denuncia os poderes que exerce e promete libertar-se das leis que a fizeram funcionar. Gostaria de inventariar não apenas esses discursos mas a vontade que os impele e a intenção estratégica que os sustenta. A questão que gostaria de pôr não é a de saber porque é que somos reprimidos, mas porque é que dizemos, com tanta paixão, com tanto rancor contra o nosso passado mais próximo, contra o nosso presente e contra nós próprios, que somos reprimidos. Por que espiral chegámos ao ponto de afirmar que o sexo é negado, de mostrar ostensivamente que o escondemos, de dizer que o calamos – e isto formulando-o em palavras explícitas, procurando mostrá-lo na sua realidade mais nua, afirmando-o na positividade do seu poder e dos seus efeitos?» -
História da Sexualidade: o uso dos prazeres - Vol. IIAtravés do estudo da moral sexual da Grécia Antiga e da Roma dos séculos I e II, Foucault acrescenta à sua obra, até então principalmente epistemológica e política, uma dimensão ética. A liberdade do sujeito afirma-se.«Que fique bem claro que não faço uma história dos costumes, dos comportamentos, uma história social da prática sexual, mas uma história do modo como o prazer, os desejos, os comportamentos sexuais foram problematizados, reflectidos e pensados na Antiguidade em relação com uma certa arte de viver.»(Foucault, em entrevista a François Ewald). -
História da Sexualidade: o cuidado de si - Vol. III«Está-se ainda longe de uma experiência dos prazeres sexuais em que estes serão associados ao mal, onde o comportamento deverá submeter-se à forma universal da lei e onde a decifração do desejo será condição indispensável de acesso a uma existência purificada. Contudo, pode já ver-se como a questão do mal começa a influenciar o antigo tema da força, como a questão da lei começa a inflectir o tema da arte e da techne, como a questão da verdade e o princípio do conhecimento de si se desenvolvem nas práticas de ascese. Mas convém, previamente, procurar saber qual o contexto e porque razões a cultura de si se desenvolveu desse modo, e precisamente na forma que acabámos de ver.» -
História da Sexualidade: as confissões da carne - Vol. IVO volume completa os três livros da História da Sexualidade. É uma obra redigida entre 1981 e 1982, que permaneceu inédita até há pouco. Os temas vão de "A formação de uma experiência nova" até "A libidinização do sexo", passando pelo que é "Ser virgem". -
O que é a Crítica? Seguido de A Cultura de SiEm 27 de Maio de 1978 Michel Foucault proferiu na Société française de Philosophie uma conferência em que, na perspetiva aberta pelo artigo de Kant O que é o Iluminismo? (1784), define a crítica como uma atitude ético-política que consiste na arte de não se ser governado de determinada maneira. O presente volume oferece pela primeira vez a edição crítica dessa conferência. Apresenta ainda outra conferência: A Cultura de si, proferida na Universidade da Califórnia, em Berkeley, a 12 de abril de 1983. Na vasta obra de Foucault, é o único momento em que estabelece a ligação entre as suas reflexões sobre o Iluminismo e análises sobre a Antiguidade greco-romana. Durante a mesma passagem pela Califórnia, Foucault participa em três debates públicos em que é levado a evocar vários aspetos do seu percurso filosófico; os textos desses debates encontram-se a seguir aos das conferências. -
Doença Mental e PsicologiaPublicado em 1954, este ensaio de Michel Foucault tem sido lido desde então por sucessivas gerações em todo o mundo. Revolucionário, este texto fundador, prenúncio da genialidade que caracteriza a obra do Autor, observa, com espantosa argúcia, que a «psicologia só foi possível quando se aprendeu a dominar a loucura». Esta obra destina-se a todos os que estão envolvidos com as matérias da Psicologia, Psiquiatria, Filosofia, e a todos o que se interessam por estes temas e apreciam a obra de Michel Foucault. -
Vigiar e PunirÍndice NOTA DE APRESENTAÇÃO SUPLÍCIO Capítulo 1. O Corpo dos Condenados Capítulo 2. O Espetáculo dos Suplícios II. PUNIÇÃO Capítulo 3. A Punição Generalizada Capítulo 4. A Brandura das Penas III. DISCIPLINA Capítulo 5. Os Corpos Dóceis A Arte das Distribuições O Controlo da Atividade A Organização das Géneses A Composição das Forças Capítulo 6. Os Meios do Bom Adestramento A Vigilância Hierárquica A Sanção Normalizadora O Exame Capítulo 7. O Panoptismo IV. PRISÃO Capítulo 8. Sobre as Instituições Completas e Austeras Capítulo 9. Ilegalidades e Delinquência Capítulo 10. O Sistema Prisional VER POR DENTRO Ver página inteira
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A Crise da Narração«Qualquer ação transformadora do mundo pressupõe uma narrativa. O storytelling, por seu lado, conhece uma única forma de vida, a consumista.» É a partir das narrativas que se estabelecem laços, se formam comunidades e se transformam sociedades. Mas, hoje, o storytelling tende a converter-se numa ferramenta de promoção de valores consumistas, insinuando-se por todo o lado devido à falta de sentido característica da atual sociedade de informação. Com ela, os valores da narração diluem-se numa corrente de informações que poucas vezes formam conhecimento e confirmam a existência de indivíduos isolados que, como Byung-Chul Han já mostrou em A Sociedade do Cansaço, têm como objetivo principal aumentar o seu rendimento e a autoexploração. E, no entanto, certas formas de narração continuam a permitir-nos partilhar experiências significativas, contribuindo para a transformação da sociedade. -
Inglaterra - Uma ElegiaNeste tributo pungente e pessoal, o filósofo Roger Scruton tece uma elegia à sua pátria, a Inglaterra, que é, ao mesmo tempo, uma esclarecedora e exaltante análise das suas instituições e cultura e uma celebração das suas virtudes.Abrangendo todos os aspectos da herança inglesa e informado por uma visão filosófica única, Inglaterra – Uma Elegia mostra como o seu país possui uma personalidade distinta e como dota os seus nacionais de um ideário moral também ele distinto.Inglaterra – Uma Elegia é uma defesa apaixonada, mas é também um lamento profundamente pessoal pelo perda e desvanecimento dessa Inglaterra da sua infância, da sua complexa relação com o seu pai e uma ampla meditação histórica e filosófica sobre o carácter, a comunidade, a religião, a lei, a sociedade, o governo, a cultura e o campo ingleses. -
Textos Políticos - Antologia«É aos escritos mais evidentemente políticos que é dedicada a escolha que se segue. É uma escolha pessoal – não há maneira menos redundante de dizer o óbvio. A minha intenção é pôr em destaque a dedicação de Gramsci a um projecto revolucionário muito claro: a assunção do poder por qualquer meio adequado para chegar a uma “ditadura do proletariado” que – ai de nós!, como diria Gramsci – terá de ser encarnada inicialmente pelo domínio do Partido e dos seus “melhores”, da sua aristocracia. Gramsci não tem medo das palavras – mas conhece o seu poder. Daí a sua popularidade entre uma extrema-esquerda como a do defunto Podemos, por exemplo, cujo ex-chefe carismático disse, numa entrevista aos Financial Times: “A realidade é definida pelas palavras. De modo que quem é dono das palavras tem o poder de moldar a realidade”. Essa ditadura não é o que nós julgamos ver: quer dizer, dizem-nos, liberdade.» da Introdução. -
As Fronteiras do ConhecimentoEm tempos muito recentes, a humanidade aprendeu muito sobre o universo, o passado e sobre si mesma. E, através dos nossos notáveis sucessos na aquisição de conhecimento, aprendemos o quanto ainda temos para aprender: a ciência que temos, por exemplo, abrange apenas 5% do universo; a pré-história ainda está a ser estudada, com muito por revelar, milhares de locais históricos ainda a serem explorados; e as novas neurociências da mente e do cérebro estão ainda a dará os primeiros passos. O que sabemos e como o sabemos? O que sabemos agora que não sabemos? E o que aprendemos sobre os obstáculos para saber mais? Numa época de batalhas cada vez mais profundas sobre o significado do conhecimento e da verdade, estas questões são mais importantes o que nunca. As Fronteiras do Conhecimento dá resposta a estas questões através de três campos cruciais de investigação: ciência, história e psicologia. Uma história notável da ciência, da vida na Terra e da própria mente humana, este é um tour de force convincente e fascinante, escrito com verve, clareza e uma amplitude deslumbrante de conhecimento. -
A Religião WokeUma onda de loucura e intolerância está a varrer o mundo ocidental. Com origem nas universidades americanas, a religião woke está a varrer tudo à sua passagem: universidades, escolas, empresas, meios de comunicação social e cultura.Esta religião, propagandeia, em nome da luta contra a discriminação, dogmas no mínimo inauditos:A «teoria de género» professa que o sexo e o corpo não existem e que a consciência é que importa.A «teoria crítica da raça» afirma que todos os brancos são racistas, mas que nenhuma pessoa «racializada» o é.A «epistemologia do ponto de vista» defende que todo o conhecimento é «situado» e que não existe ciência objectiva, nem mesmo as ciências exactas.O objectivo dos wokes é «desconstruir» todo o património cultural e científico e pôr-se a postos para a instauração de uma ditadura em nome do «bem» e da «justiça social».É tudo isto e muito mais que Braunstein explica e contextualiza neste A Religião Woke, apoiado por textos, teses, conferências e ensaios, que cita e explica longamente, para denunciar esta nova religião que destrói a liberdade.Um ensaio chocante e salutar. -
O que é a Filosofia?A VERSÃO EM LIVRO DO «CONTAGIANTE» PODCAST DE FILOSOFIA, COM PROTAGONISTAS COMO PLATÃO, ARISTÓTELES, AGOSTINHO, KANT, WITTGENSTEIN E HEIDEGGER. A PARTIR DO CICLO GRAVADO PELO CCB. Não há ninguém que não tenha uma «filosofia», achando-a tão pessoal que passa a ser «a minha filosofia». Há também quem despreze a filosofia e diga que é coisa de «líricos» — as pessoas de acção que acham que a filosofia nada tem que ver com a vida. Há ainda a definição mais romântica: a filosofia é a amizade pelo saber. E para todo este conjunto de opiniões há já teses filosóficas, interpretações, atitudes, mentalidades, modos de ser. Mas então afinal: O que é a filosofia? É essa a pergunta que aqui se faz a alguns protagonistas da sua história, sem pretender fazer história. A filosofia é uma actividade que procura descobrir a verdade sobre «as coisas», «o mundo», os «outros», o «eu». Não se tem uma filosofia. Faz-se filosofia. A filosofia é uma possibilidade. E aqui começa já um problema antigo. Não é a possibilidade menos do que a realidade? Não é o possível só uma ilusão? Mas não é o sonho, como dizia Valéry, que nos distingue dos animais? Aqui fica já uma pista: uma boa pergunta põe-nos na direcção de uma boa resposta, e uma não existe sem a outra, como se verá. «Se, por um lado, a erudição do professor António de Castro Caeiro é esmagadora, o entusiasmo dele pela filosofia e por estes temas em geral é bastante contagiante.» Recomendação de Ricardo Araújo Pereira no Governo Sombra -
Caminhar - Uma FilosofiaExperiência física e simultaneamente mental, para Frédéric Gros, caminhar não é um desporto, mas uma fuga, uma deriva ao acaso, um exercício espiritual. Exaltada e praticada por Thoreau, Rimbaud, Nietzsche e Gandhi, revestiu-se, desde a Antiguidade até aos dias de hoje, de muitas formas: errância melancólica ou marcha de protesto, imersão na natureza ou pura evasão. Do Tibete ao México, de Jerusalém às florestas de Walden, CAMINHAR (2008) inspira-nos a sair de casa e mostra como, pelo mundo inteiro, esta arte aparentemente simples de «pôr um pé à frente do outro» tem muito a oferecer e a revelar sobre o ser humano. -
Sobre a Brevidade da Vida - Edição EspecialAgora numa edição especial em capa dura.Um livro sobre o desperdício da própria existência. Escrito há dois mil anos para ser entendido agora.Com data de escrita normalmente situada no ano 49, Sobre a Brevidade da Vida, do filósofo romano Séneca, versa sobre a natureza do tempo, sobre a forma como é desaproveitado com pensamentos e tarefas que se afastam de princípios éticos de verdadeiro significado.Ainda que anotado no dealbar da era cristã, este tratado reinventa a sua própria atualidade e parece aplicável com clareza aos tempos de hoje, vividos numa pressa informativa, no contacto exagerado, tantas vezes a respeito de nada que importe, proporcionado pelas redes sociais.Sobre a Brevidade da Vida está longe de ser um livro dentro dos conceitos atuais de autoajuda. É, talvez bem pelo contrário, um texto duro, arrojado, incomodativo, como que escrito por um amigo que nos diz o que não queremos ouvir, por o saber necessário.Chegar ao fim do nosso tempo e senti-lo desperdiçado, eis a grande tragédia, segundo Séneca.