Entre o Céu e a Terra
Rui Chafes nasceu em Lisboa (1966) e licenciou-se em escultura pela ESBAL. Na Assírio & Alvim publicou vários livros com as suas esculturas («Würzburg Bolton Landing», «Durante o Fim», «O Silêncio de
»), escolheu e traduziu «Fragmentos» de Novalis.
Reunindo a autobiografia do escultor (tão exacta quanto a memória o permite) e o registo de uma sua conferência, «Entre o Céu e a Terra» testemunha uma posição no mundo e, ao mesmo tempo, a dificuldade de resistir, sem nunca desistir.
Também a resistência poética que uma obra oferece, inclusivamente ao seu próprio autor, é a medida da sua qualidade. Uma obra de arte exige trabalho e esforço do público, não pode ser apenas mais um sedutor espectáculo para preguiçosos. Ela não deve menosprezar o espectador, tem de o ajudar a defender a sua dignidade nesta era de massificação, banalização, frivolidade, superficialidade, efemeridade mediática, consumismo desenfreado e sensacionalismo que espelham a vacuidade dos desígnios desta civilização do espectáculo que nos habituámos a aceitar com passiva indiferença.
Na esterilidade deste vazio, não se pode desistir de procurar a beleza e a verdade. Há que densificar o trabalho, para que possa existir espírito e pensamento. Será necessário instaurar pontos ásperos, baços, rugosos, e foscos num mundo escorregadio, brilhante e digital. «Luz e trevas são a mesma coisa, em ambas reside a mesma energia.
Quem possui ouro no seu âmago tem de aprender a trabalhar com ele, para que as outras pessoas consigam ver que, por trás da aparente escuridão, existe um ser de luz, um ser luminoso. A luz vem das trevas, pois é aí que nasce a luz.» ["O perfume das buganvílias", «Entre o Céu e a Terra»]
| Editora | Documenta |
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| Categorias | |
| Editora | Documenta |
| Negar Chronopost e Cobrança | Não |
| Autores | Rui Chafes |
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Würzburg Bolton LandingRui Chafes gosta de estabelecer relações entre a sua arte e as palavras dos outros. Foi assim no livro Fragmentos de Novalis e é agora neste novo livro Für alle meine Eltern, sob os nomes de cidades ou escrevendo o triplo nome de Cidade. As suas esculturas encontram-se ao lado das palavras de Rilke, Georg Trakl, Büchner, Nietzsche, Kleist ou Marco Aurélio, Beckett e Novalis, ou daquele extraordinário texto de abertura de Andrei Tarkovski, tão demolidor de gostos e de ideias correntes acerca de arte: “O conceito de vanguarda, na arte, não tem qualquer sentido. Aceitar a vanguarda significa aceitar o progresso na arte! Na técnica, compreendo o progresso para que as máquinas, cada vez mais perfeitas, desempenhem cada vez melhor e com maior precisão as funções que lhe estão destinadas. Mas como poderá alguém, na arte, estar mais evoluído do que o outro? Seria, porventura, Thomas Mann melhor do que Shakespeare?” Por isso Rui Chafes recusa a “procura” ou a experiência de vanguarda. E então? Então, há que encontrar “os laços invisíveis”. -
Durante o FimDe tempos a tempos, o escultor Rui Chafes visita a Assírio & Alvim com projectos, sob diversos aspectos, excepcionais. Primeiro foi a exposição de Fragmentos de Novalis, com tradução e desenhos da sua autoria. Depois foi a antologia de textos e imagens sob o título Würzburg, Bolton, Landing. Não perca agora esta preciosa edição que acompanhou a “alargada” e intrometida exposição no parque de Sintra, a começar no Museu / Fundação Berardo. Durante o Fim é um livro de rara afirmação e beleza. -
O Silêncio de...“Começada já há alguns anos, O silêncio de… é uma escultura em evolução, permanentemente a crescer. Escrevo à mão, o tempo é meu amigo. Mas, cansado das palavras, queimo quase tudo o que escrevo e encerro algumas das cinzas em caixas de aço, seladas. O fogo purifica e protege a vida, permite trabalhar o ferro e reduzir a cinzas os corpos e as palavras inúteis. Se escrever pode ser um acto de libertação, queimar as palavras também o é. Talvez nunca decifremos o segredo do tempo que passa, nunca encontremos uma resposta. Também um dia a pele quente, percorrida pela discreta e enigmática palpitação das veias, a pele onde repousa suavemente o medo de ter medo, se converterá numa belíssima teia de linhas que contarão a longa história de uma vida: a história de todos os caminhos, desvios e interrupções, a memória da dor mas também a memória da paz e do regresso, da descoberta e do espanto. Depois ela virá a transformar-se em pólen que, levado pelo vento, espalhará a floração das memórias e dos segredos.Este livro regista a evolução de um caminho, da forma que julgo ser a mais certa, a mais ajustada, a única que me é possível, em todo o caso. Para o fazer com clareza, localizámos e datámos cada texto, assumindo todos os defeitos e todos os excessos próprios e insubstituíveis. Estes textos não possuem outra importância para além da esperança de que possam servir a quem por eles se interesse ou até aproximar alguém do meu trabalho de escultura, completando alguns dos seus aspectos. Mas a verdade é que espero que as minhas obras sejam melhores do que as minhas palavras e que delas não precisem. Cada obra é sempre mais complicada do que as nossas pobres teorias. A rigor, a única contribuição que um artista deveria trazer a um debate é a sua obra. As palavras poderão orientar, mas nunca deverão servir de desculpa nem de justificação. De resto, tudo é possível: há artistas que gostam de falar e há os que detestam; alguns querem dialogar, outros não conseguem, mesmo querendo; uns gostam de escrever e outros exprimem-se pelo silêncio.”Rui Chafes -
Tudo É Outra CoisaNa sala de exposições, o Verão e o Inverno dialogam frontalmente, materializando-se (ou desafiando-se?) em duas estruturas ondulantes que se completam e que têm a nobreza firme de armaduras medievais. Este livro foi publicado por ocasião da exposição «Tudo é Outra Coisa» de Rui Chafes, com curadoria de Filipa Oliveira, encomendada e produzida pela Câmara Municipal de Almada, a qual teve lugar no Convento dos Capuchos, entre 16 de Março a 19 de Outubro 2019. […] O que esta exposição me ensinou passa, seguramente, por uma funda noção de humildade e por um extremo respeito pelo espaço sagrado ou natural em que acontecem as esculturas de Rui Chafes. Senti-o noutras exposições, noutros espaços, por exemplo na igreja de São Cristóvão ou no Jardim da Sereia (onde o meu nome e o do Rui por acaso se cruzaram, muito antes de nos conhecermos). Mas eu não acredito em acasos, para ser franco. Há cerca de dez anos, um amigo meu perguntou-me se queria ficar com o número de telemóvel do Rui. Disse-lhe que não; caso tivéssemos de nos conhecer, isso aconteceria naturalmente, sem que nenhum de nós procurasse o outro. Assim foi. Assim, creio, terá acontecido sempre nesta terra gasta, onde tantas vezes os nossos verdadeiros contemporâneos morreram há muito — mas revivem em nós através de gestos, palavras, sílabas de metal, silêncios. Temos pouco tempo, como é sabido. O mais provável é que eu nunca mais regresse ao Convento dos Capuchos da Caparica. Foi um dia de sol. E seria uma redundância dizer que foi um dia irrepetível ou inolvidável, embora isso em nada faltasse à verdade. Também a verdade é uma coisa extremamente frágil. Vê-se, mas talvez não se possa provar. Tal como não se pode cientificamente demonstrar que a luz atravessa o ferro (mas atravessa) ou que só havia mar e árvores à espera do nosso olhar, enquanto o ferro cantava. Mas foi assim, este dia. [Manuel de Freitas] -
Durante o FimMaria Nobre Franco: Durante o Fim é uma viagem interior feita de inquietações e ousadias. A travessia de um espaço mental acossado pelo mistério, pela perturbação e por uma estranha magia que envolve a condição humana, o destino. Não é isso determinante em Rui Chafes?» Este livro foi publicado pela primeira vez (Assírio & Alvim, Outubro 2000) por ocasião da exposição Durante o Fim, de Rui Chafes, com curadoria de Maria Nobre Franco, de 15 de Outubro de 2000 a 15 de Janeiro de 2001, em três espaços de Sintra: Palácio Nacional da Pena, Parque Histórico da Pena / Parque Natural de Sintra-Cascais e Sintra Museu de Arte Moderna. Esta edição (Documenta, Outubro 2021) foi publicada como homenagem a Maria Nobre Franco (Messejana, 1938 – Cascais, 2015), durante a exposição No Reino das Nuvens: os Artistas e a Invenção de Sintra, realizada entre Maio e Outubro de 2021, no Museu de Artes de Sintra (MU.SA). E já então eu sabia que vivemos porque outros vivem, só por isso. Porque o que me mostram passa a ser meu: é essa a crua generosidade desta vida desamparada. Um minúsculo olho gigantesco que tudo vê e no qual tudo se reflecte: quartos, portas, retratos pendurados na parede, janelas. Tudo reflectido na esfera de vidro desse olho que um dia me ofereceste, embrulhado em papel claro. Por sermos como pedras lançadas no ar que, eventualmente, um dia se encontrarão, sempre a tua voz me foi uma indizível dádiva. Contigo, por ti, por existires, o Mundo tornou-se maior, enorme. E quando morrermos, se morrermos, Deus não saberá o que fazer. Muito mais do que isto não temos. Mas é tanto. «Não, não chores, tu não», disseste, «tens os olhos claros e quem tem os olhos claros não pode chorar nunca». Todos acreditam que através dos olhos claros tudo se vê de forma mais clara. E era sobretudo quando não havia sol e a névoa cobria a floresta da montanha, que subias os penedos para chegar à estátua do Guerreiro, que também teria os olhos claros. É curioso que lhe chamem a Estátua do Gigante, ou do Parsifal, ou do Arquitecto, do Construtor. Aliás, que outra coisa se pode fazer neste mundo a não ser construir? Dizem-me. Construir como quem tenta dar um sentido à sua efémera passagem. Tão evidente, não é? [Rui Chafes]
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Esquerda e Direita: guia histórico para o século XXIO que são, afinal, a esquerda e a direita políticas? Trata-se de conceitos estanques, flutuantes, ou relativos? Quando foi que começámos a usar estes termos para designar enquadramentos políticos? Esquerda e Direita: guia histórico para o século XXI é um ensaio historiográfico, político e filosófico no qual Rui Tavares responde a estas questões e explica por que razão a terminologia «esquerda / direita» não só continua a ser relevante, como poderá fazer hoje mais sentido do que nunca. -
O PríncipeUm tratado clássico sobre a política ou a arte de bem governar que, embora tenha sido escrito no século XVI, mantém toda a sua atualidade, podendo facilmente transpor-se para os dias de hoje. Inspirado na figura de César Bórgia e na admiração desmedida que manifestava por ele, Maquiavel faz uma abordagem racional para aconselhar os aspirantes a líderes, desenvolvendo argumentos lógicos e alternativas para uma série de potenciais problemas, a forma de lidar com os domínios adquiridos e o tratamento a dar aos povos conquistados, de modo consolidar o poder. Obra de referência e de um pragmatismo radical e implacável. -
Obras Completas de Maria Judite de Carvalho - vol. I - Tanta Gente, Mariana - As Palavras PoupadasA presente coleção reúne a obra completa de Maria Judite de Carvalho, considerada uma das escritoras mais marcantes da literatura portuguesa do século XX. Herdeira do existencialismo e do nouveau roman, a sua voz é intemporal, tratando com mestria e um sentido de humor único temas fundamentais, como a solidão da vida na cidade e a angústia e o desespero espelhados no seu quotidiano anónimo.Observadora exímia, as suas personagens convivem com o ritmo fervilhante de uma vida avassalada por multidões, permanecendo reclusas em si mesmas, separadas por um monólogo da alma infinito.Este primeiro volume inclui as duas primeiras coletâneas de contos de Maria Judite de Carvalho: Tanta Gente, Mariana (1959) e As Palavras Poupadas (1961), Prémio Camilo Castelo Branco. Tanta Gente, Mariana «E a esperança a subsistir apesar de tudo, a gritar-me que não é possível. Talvez ele se tenha enganado, quem sabe? Todos erram, mesmo os professores de Faculdade de Medicina. Que ideia, como havia ela de se enganar se os números ali estavam, bem nítidos, nas análises. E no laboratório? Não era o primeiro caso? Lembro-me de em tempos ter lido num jornal? Qual troca! Tudo está certo, o que o médico disse e aquilo que está escrito.» As Palavras Poupadas (Prémio Camilo Castelo Branco) «- Vá descendo a avenida - limita-se a dizer. - Se pudesse descer sempre - ou subir - sem se deter, seguir adiante sem olhar para os lados, sem lados para olhar. Sem nada ao fim do caminho a não ser o próprio fim do caminho. Mas não. Em dado momento, dentro de cinco, de dez minutos, quando muito, terá de se materializar de novo, de abrir a boca, de dizer «vou descer aqui» ou «pare no fim desta rua» ou «dê a volta ao largo». Não poderá deixar de o fazer. Mas por enquanto vai simplesmente a descer a avenida e pode por isso fechar os olhos. É um doce momento de repouso.» Por «As Palavras Poupadas» vai passando, devagar, o quotidiano anónimo de uma cidade, Lisboa, e dos que nela vivem. type="application/pdf" width="600" height="500"> -
Memorial do Convento«Um romance histórico inovador. Personagem principal, o Convento de Mafra. O escritor aparta-se da descrição engessada, privilegiando a caracterização de uma época. Segue o estilo: "Era uma vez um rei que fez promessas de levantar um convento em Mafra... Era uma vez a gente que construiu esse convento... Era uma vez um soldado maneta e uma mulher que tinha poderes... Era uma vez um padre que queria voar e morreu doido". Tudo, "era uma vez...". Logo a começar por "D. João, quinto do nome na tabela real, irá esta noite ao quarto de sua mulher, D. Maria Ana Josefa, que chegou há mais de dois anos da Áustria para dar infantes à coroa portuguesa a até hoje ainda não emprenhou (...). Depois, a sobressair, essa espantosa personagem, Blimunda, ao encontro de Baltasar. Milhares de léguas andou Blimundo, e o romance correu mundo, na escrita e na ópera (numa adaptação do compositor italiano Azio Corghi). Para a nossa memória ficam essas duas personagens inesquecíveis, um Sete Sóis e o outro Sete Luas, a passearem o seu amor pelo Portugal violento e inquisitorial dos tristes tempos do rei D. João V.»(Diário de Notícias, 9 de outubro de 1998) -
NovidadeArte, Religião e Imagens em Évora no tempo do Arcebispo D. Teodósio de Bragança, 1578-1601D. Teotónio de Bragança (1530-1602), Arcebispo de Évora entre 1578 e 1602, foi um grande mecenas das artes sob signo do Concílio de Trento. Fundou o Mosteiro de Scala Coeli da Cartuxa, custeou obras relevantes na Sé e em muitas paroquiais da Arquidiocese, e fez encomendas em Lisboa, Madrid, Roma e Florença para enriquecer esses espaços. Desenvolveu um novo tipo de arquitectura, ser- vindo-se de artistas de formação romana como Nicolau de Frias e Pero Vaz Pereira. Seguiu com inovação um modelo «reformado» de igrejas-auditório de novo tipo com decoração integral de interiores, espécie de ars senza tempo pensada para o caso alentejano, onde pintura a fresco, stucco, azulejo, talha, imaginária, esgrafito e outras artes se irmanam. Seguiu as orientações tridentinas de revitalização das sacrae imagines e enriqueceu-as com novos temas iconográficos. Recuperou lugares de culto matricial paleo-cristão como atestado de antiguidade legitimadora, seguindo os princípios de ‘restauro storico’ de Cesare Baronio; velhos cultos emergem então, caso de São Manços, São Jordão, São Brissos, Santa Comba, São Torpes e outros alegadamente eborenses. A arte que nasce em Évora no fim do século XVI, sob signo da Contra-Maniera, atinge assim um brilho que rivaliza com os anos do reinado de D. João III e do humanista André de Resende. O livro reflecte sobre o sentido profundo da sociedade de Évora do final de Quinhentos, nas suas misérias e grandezas. -
Se Isto é Um HomemNa noite de 13 de Dezembro de 1943, Primo Levi, um jovem químico membro da resistência, é detido pelas forças alemãs. Tendo confessado a sua ascendência judaica, é deportado para Auschwitz em Fevereiro do ano seguinte; aí permanecerá até finais de Janeiro de 1945, quando o campo é finalmente libertado. Da experiência no campo nasce o escritor que neste livro relata, sem nunca ceder à tentação do melodrama e mantendo-se sempre dentro dos limites da mais rigorosa objectividade, a vida no Lager e a luta pela sobrevivência num meio em que o homem já nada conta. Se Isto é um Homem tornou-se rapidamente um clássico da literatura italiana e é, sem qualquer dúvida, um dos livros mais importantes da vastíssima produção literária sobre as perseguições nazis aos judeus. -
Minha Senhora de MimMinha Senhora de Mim , o nono livro de poesia de Maria Teresa Horta, foi editado em Abril de 1971 pela Dom Quixote, na colecção «Cadernos de Poesia». Em 3 de Junho seguinte, a editora foi objecto de um auto de busca e apreensão da obra por parte da PIDE/DGS, operação que foi extensiva a todas as livrarias do país. A proprietária da editora, Snu Abecassis, foi advertida por César Moreira Baptista, subsecretário de Estado da Presidência do Conselho, então ocupada por Marcello Caetano, de que a Dom Quixote seria encerrada caso voltasse a publicar qualquer obra de Maria Teresa Horta.
