Institucionalizada em 1880 pelo historiador Herbert Baxter Adams, o termo ciência política designa um campo de estudo dedicado ao entendimento rigoroso dos mecanismos de progressão social na esfera da vida política. Dedicada a tentar entender as formações políticas estruturais que o ser humano criou para garantir o convívio pacífico em grandes sociedades, a ciência política é um campo amplo e multifacetado que envolve a tomada de decisões e a gestão de questões relacionadas com o governo, a sociedade e os indivíduos.
A evolução de Portugal desde a década de 70 do século passado, a sua integração na União Europeia e no primeiro mundo, o torvelinho tecnológico, político, social e noticioso em que nos movimentamos diariamente parecem remeter para um plano muito afastado um conjunto de fenómenos sociais, ambientais e económicos do nosso país que este livro repõe no nosso radar.Num trabalho de recolha sociológica e económica, esta investigação coordenada por Catarina Martins e João Teixeira Lopes dá a conhecer um conjunto de realidades presentes em Portugal e de que poucas vezes se fala, talvez com exceção dos períodos de debates eleitorais.Socorrendo-se de testemunhos pessoais e de dados estatísticos, os autores salientam, assim, alguns dos mais profundos problemas da sociedade portuguesa, em áreas como a saúde, a habitação, o trabalho, as minorias, a desertificação e o ambiente. Num balanço no contexto das comemorações dos 50 anos do 25 de Abril, estas páginas apresentam propostas de transformação social para o futuro do país em que «a paz, o pão, habitação, saúde, educação» da canção de Sérgio Godinho ainda não estão ao alcance de todos.
Em Lívio, Maquiavel encontrou não apenas um conjunto de exemplos que lhe permitiam desenvolver uma teoria política consentânea com a abordagem realista — isto é, que visava primeiramente descrever (as práticas políticas reais), e depois prescrever (as práticas mais eficazes, a partir do objetivo da conquista e da conservação do poder) —, mas também a história de uma república cujo desenvolvimento e poder dependiam da possibilidade de gerir os conflitos internos inevitáveis em qualquer contexto social. Os Discursos são, por isso, um livro de teoria política em geral, que vai além da análise de um conjunto de exemplos (não só, mas sobretudo) republicanos, e que desenvolve na forma mais completa todos os aspetos cruciais da teoria política maquiaveliana. Não é, portanto, exagero afirmar que os Discursos são o livro mais importante de Maquiavel, a verdadeira summa do seu pensamento.
Se somos de esquerda, somos woke. Se somos woke, somos de esquerda.Não, não é assim. E este erro é extremamente perigoso.Na sua génese e nas suas pedras basilares, o wokismo entra em conflito com as ideias que guiam a esquerda há mais de duzentos anos: um compromisso com o universalismo, uma distinção objetiva entre justiça e poder, e a crença na possibilidade de progresso. Sem estas ideias, afirma a filósofa Susan Neiman, os wokistas continuarão a minar o caminho até aos seus objetivos e derivarão, sem intenção mas inexoravelmente, rumo à direita. Em suma: o wokismo arrisca tornar-se aquilo que despreza.Neste livro, a autora, um dos nomes mais importantes da filosofia, demonstra que a sua tese tem origem na influência negativa de dois titãs do pensamento do século XXI, Michel Foucault e Carl Schmitt, cuja obra menosprezava as ideias de justiça e progresso e retratava a vida em sociedade como uma constante e eterna luta de «nós contra eles». Agora, há uma geração que foi educada com essa noção, que cresceu rodeada por uma cultura bem mais vasta, modelada pelas ideias implacáveis do neoliberalismo e da psicologia evolutiva, e quer mudar o mundo. Bem, talvez seja tempo de esta geração parar para pensar outra vez.
Governação, política e quotidiano Entre 2010 e 2020, Portugal teve cinco governos com orientações políticas e propostas legislativas muito díspares. Cada um reivindicou para si o início de um processo de implementação de políticas transformadoras que, por seu turno, teriam um impacto positivo na sociedade portuguesa. Nesse sentido, as políticas sociais e a legislação sobre trabalho, saúde, educação, habitação e segurança sofreram alterações profundas a cada mudança legislativa, com diferentes repercussões tanto nas instituições que as implementaram como nas vidas das pessoas e nos processos de reprodução social. Neste livro analisamos o impacto dessas mudanças governativas nos processos de tomada de decisão e de funcionamento quotidiano das instituições, bem como as experiências pessoais e sociais dos cidadãos e os seus planos para o futuro, focando nos mecanismos de implementação no dia-a-dia.
Considerada como uma das primeiras obras protofeministas, é um manifesto que apela à mudança, instando os leitores a questionarem e a confrontarem as estruturas que perpetuavam a desigualdade. Passados mais de 200 anos, a discussão ainda prevalece e, por isso, é essencial não esquecer as muitas mulheres que lutaram - e continuam a lutar - por uma sociedade efetivamente mais justa e igualitária.
Nas últimas décadas, têm sido identificados e analisados diversos fenómenos populistas no mundo. O populismo desses fenómenos manifesta-se em atores políticos, partidos políticos e movimentos políticos da esquerda à direita, que têm sido objeto de investigação considerando a especificidade de cada local em que os fenómenos surgem e o contexto histórico dessas manifestações.
Contudo, até agora, nenhum estudo procurou identificar o populismo de Jair Bolsonaro de forma mais detalhada, e muito menos sistematizar a associação do populismo enquanto ideologia de baixa densidade às ideologias clássicas e mais densas do espectro linear das ideologias políticas.
É esse o contributo que os autores pretendem dar com este estudo, que é simultaneamente teórico e prático. Teórico, porque oferece um quadro de análise que possibilita a generalização da compreensão do populismo mediante a criação de uma tipologia assente nas ideologias clássicas. Empírico, porque procede à recolha de dados primários para uma observação empírica do objeto de estudo: as manifestações de populismo durante a pré-campanha e a campanha do candidato Jair Bolsonaro às eleições de 2018 no Brasil.
A guerra na Ucrânia expôs o desinteresse da política europeia pela integração dos refugiados do Médio Oriente e de África, deixando à vista um sistema de dois pesos e duas medidas que discrimina e mata.Para esses refugiados, a travessia do Mediterrâneo é apenas o princípio da jornada mais dolorosa da sua longa marcha. Isto para os que sobrevivem, porque há aqueles que ficam pelo caminho – alguns estão enterrados em solo europeu, sem que as famílias se consigam despedir deles, outros jazem em parte incerta, com os seus corpos por encontrar. Este livro é o resultado de uma investigação de oito anos levada a cabo por ANDRÉ CARVALHO RAMOS, jornalista da TVI e da CNN Portugal, em várias rotas migratórias e numa dezena de países, de Portugal à Palestina, da Grécia à Ucrânia, passando pela Alemanha, Polónia ou Roménia.Um testemunho completo e desconcertante, onde se escuta a voz de quem mais sofre, e se pressente que uma Europa‑fortaleza jamais conseguirá travar as migrações – apenas as tornará mais perigosas e mortíferas.
Em Como vencer uma eleição, Quinto oferece lições práticas sobre como conquistar o fervor dos eleitores, destacando a eficácia de estratégias como a propaganda, a difamação dos rivais e a criação de uma imagem carismática – recomendações que parecem talhadas para a era digital do século XXI. Um manual perspicaz, que ecoa uma notável atualidade passados mais de dois mil anos.
Uma abordagem arrojada ao conceito de Ocidente e de como moldou a nossa História.O Ocidente não é uma coisa ou um lugar, mas uma ideia. Uma ideia que é excecionalmente poderosa — o conceito de uma herança cultural única que se estende da Grécia antiga até aos tempos modernos, tendo moldado as vidas de milhões de pessoas e transformado o curso da História.Nesta arrojada abordagem à história do Ocidente como conceito, a premiada historiadora Naoíse Mac Sweeney desconstrói os mitos que sustentam as origens e desenvolvimento da História como a conhecemos. Narrado através das vidas de catorze fi guras extraordinárias, que representam diferentes milénios e religiões, níveis de riqueza e educação, tradições e nacionalidades distintas, este é um relato da história do Ocidente, através de heróis esquecidos e faces familiares.Uma abordagem verdadeiramente global da História, que vai redefinir a forma como vemos o mundo. Neste momento notável, temos a oportunidade de repensar radicalmente o Ocidente e reconstruí-lo para um futuro melhor. Mas só respondendo à questão de onde vem o Ocidente, poderemos responder à questão sobre o que o Ocidente poderia e deveria ser.
Mário Soares é muitas vezes descrito como o «pai» da democracia. Partindo de anteriores estudos do autor, este livro procura descrever e analisar de forma sucinta e acessível o papel desempenhado pelo líder do Partido Socialista nos momentos-chave da transição democrática e compreender de que forma as suas ações influenciaram o rumo dos acontecimentos político-militares nesses meses decisivos para a definição do novo regime.
O livro que o leitor tem nas suas mãos é um contributo para o estudo científico da guerra entendida como arte – a arte da guerra - objecto da Polemologia.Por a guerra envolver o ser humano, como militar ou como civil, no seu estudo convoca a natureza humana com os seus instintos inatos, a sua agressividade, o medo, a violência, a psicologia de massa e os efeitos intersubjectivos deles decorrentes ou por eles provocados, logo, a dimensão psicanalítica do Ser que vivencia a guerra e as pulsões da vida e da morte – Eros e Tanatos – por ela geradas.Esta dimensão, embora decisiva para a compreensão da guerra e dos seus horrorosos efeitos, deve ser constituída em objecto inaugural da Polemologia, o que fazemos neste livro.Mas, para além dela, neste livro tratamos ainda com algum desenvolvimento a ideação filosófica e política da guerra através dos tempos e a teoria da guerra justa.
No momento contemporâneo, diferentes discursos ou projetos políticos, com distintas configurações, têm sido designados como «populistas». Tal não torna o fenómeno correspondente menos esquivo em termos teóricos, bem pelo contrário. Desde logo, cumpre saber se estamos perante um verdadeiro conceito ou, pelo contrário, apenas perante um nome, recorrentemente utilizado como arma de desqualificação de adversários.
A Grande Escolha é um livro para as gerações que, nos últimos vinte anos, viveram quase sempre em crise. As mesmas que têm dificuldade em se emancipar e questionam se a culpa desse estagnação não é, afinal, da globalização.Numa altura em que os populistas exploram a falta de esperança e se vive uma crise internacional sem precedentes, Adolfo Mesquita Nunes faz uma defesa apaixonada do Mundo global e diz-nos como podemos melhorar e aperfeiçoar a globalização.Apontando os erros e as consequências de os países se fecharem sobre si próprios, o autor mostra como a abertura do Mundo é o maior instrumento de progresso de toda a História e enumera sete grandes desafios da actualidade - desigualdade, emprego, salários, habitação, dependência externa, monopólios digitais e fiscalidade internacional -, traçando linhas de acção para os resolvermos quanto antes.Um livro de perguntas e respostas para quem têm dúvidas sobre o caminho que o Mundo está a tomar e desconfia de soluções fáceis para problemas complexos.
Nas páginas de «Manual de Geopolítica e Geoestratégia», agora numa nova edição revista e melhorada, a geopolítica é estudada numa perspetiva de inovação discursiva e analítica. À geopolítica clássica - assente em doutrinas sobre o poder nacional, sobre o poder mundial ou sobre a especificidade do poder nuclear - Pezarat Correia contrapõe a nova geopolítica com abordagens desafiantes, como as da ecopolítica, da demopolítica, da geoeconomia ou da biopolítica. E, muito significativamente, debruça-se sobre aquela que é afinal a única razão de ser da disciplina de Relações Internacionais: a Paz. Por outro lado, Pezarat Correia deixa também um desafio à sociedade portuguesa ao constituir um manual no qual se veiculam conceitos e formas de pensar que têm sido frequentemente ignorados pela generalidade das instituições.
«Este livro pretende contribuir para que entendamos melhor a política, porque só assim podemos julgá-la com a seriedade que merece. Numa época de indignação que questiona e critica muitas coisas que dávamos por adquiridas, Daniel Innerarity avalia a nossa ideia de política, questionando se não chegou a hora de reequacionar a sua natureza, a quem compete fazê-la, quais as suas possibilidades e limites, se continuam válidos alguns dos habituais lugares-comuns e o que podemos esperar dela.»
Hayek completou o manuscrito em língua inglesa de «A Constituição da Liberdade» no dia do seu sexagésimo aniversário, 8 de Maio de 1959. O livro foi publicado oficialmente a 9 de Fevereiro de 1960, na América. Com um impacto menor do que o do seu best-seller de 1944, «O Caminho para a Servidão» (Edições 70, 2008), «A Constituição da Liberdade» adquiriu hoje o estatuto de clássico da Filosofia Política do século XX, e tem um mérito absolutamente reconhecido pelos estudiosos de Hayek, tanto por aqueles que são críticos do seu pensamento como pelos admiradores da sua obra. «Hayek sustenta que a liberdade é não só o primeiro valor como a fonte e a condição dos outros valores morais. A liberdade é o primeiro valor, antes de mais, pela razão Kantiana de que ela é a condição para que cada indivíduo possa assumir a sua capacidade humana de pensar e avaliar, de escolher os seus próprios fins, em vez de ser apenas um meio para outros atingirem os seus fins. Em segundo lugar, pelo argumento popperiano de que sabemos muito pouco: só um amplo campo de experimentação - aberto a iniciativas pacíficas individuais que devem, em princípio, ser autorizadas, independentemente da concordância da maioria - permite explorar o desconhecido e reduzir a nossa ignorância. Finalmente, a liberdade tem também um valor instrumental. Talvez pelas duas razões anteriores, só ela permite a criação da riqueza material que se tornou distintiva das civilizações que souberam preservá-la. Este último aspecto constitui aliás a base da defesa inovadora do mercado livre que celebrizou Hayek. Em vez de se limitar ao tradicional argumento da concorrência, Hayek defendeu o mercado como mecanismo de descoberta e inovação, pela sua capacidade única de tratamento de informação descentralizada e dispersa entre milhões de indivíduos que utilizam o melhor dos seus conhecimentos para perseguir os seus próprios propósitos.» (Excerto do prefácio de João Carlos Espada)
O liberalismo – o irmão de modos mais suaves em comparação com os mais ardentes nacionalismo e socialismo – nunca foi tão divisivo quanto hoje. No populismo de Putin, na administração Trump e nos governantes progressistas um pouco por todo o mundo, por vezes tem prosperado, outras vezes sucumbido, às políticas de identidade, ao autoritarismo, às redes sociais e a uma comunicação social cada vez mais fragilizada. Desde que surgiu após as guerras religiosas na Europa, que o liberalismo é atacado tanto por conservadores como por progressistas, tendo sido recentemente considerado uma doutrina «obsoleta». Nesta brilhante e concisa exposição, Francis Fukuyama define os casos a favor e contra as premissas clássicas do liberalismo: o primado da lei, a independência do poder judicial, a prevalência dos meios em relação aos fins e, acima de tudo, a tolerância. Conciso, objectivo e sempre pertinente, esta é reflexão política no seu melhor.
A morte anunciada do nacionalismo, sob a nova ordem moral do comunismo e do internacionalismo, revelou-se ilusória. No século XX, talvez mais do que em qualquer outro, o nacionalismo foi a força dominante. Por que razão a identidade nacional continua a ser a aspiração de quase todos os povos que não a têm, e, ao mesmo tempo, a justificação para pôr de lado todos os sinais e tradições de civilidade? Nesta obra, Gellner procura responder a estas questões, começando por analisar as ideias dos principias pensadores modernos sobre este assunto, desde Marx, List, Malinowski e Carr até Masaryk, Heidegger, Patocka, Hroch, Havel e Said. Passa em revista a origem, os temas e o contexto dos seus escritos, a sua interação com a cultura e a política, bem como a sua influência na teoria e na prática. Gellner estuda o fenómeno exaustivamente, abrangendo as sociedades orientais, ocidentais e islâmicas e aborda os temas da sociedade civil, da teocracia, do comunismo, do imperialismo, do capitalismo e do liberalismo. Sem se limitar a procurar compreender, Gellner critica e discute, concisa mas profundamente, o relativismo, o pluralismo, a objetividade e a possibilidade da existência de valores universais.
O sistema eleitoral que Cícero (106 a. C.-43 a. C.) conheceu nas últimas décadas da República romana é bastante diferente do nosso, mas os princípios que regem uma campanha eleitoral permanecem os mesmos: assegurar o sustento das pessoas influentes e conciliar a massa dos eleitores, manipulando-os com subtileza e de forma ardilosa. No Pequeno Manual de Candidatura Política, obra redigida em 64-65 a.C., aquando da disputa do irmão, Marco Cícero, por um lugar no Senado, Quinto Cícero indica o caminho que qualquer candidato deve seguir de forma a atingir o seu objetivo e fornece para tal conselhos precisos e metódicos. Este pequeno tratado chegou até nós como sendo um esboço das linhas fundamentais de uma campanha eleitoral perfeita.
Será a política uma guerra ou a guerra uma derrota da política? Apesar de a política ter uma dimensão de luta e combate, não é uma guerra de onde resultariam apenas mortos, feridos e alguns sobreviventes. Tinha razão Aristóteles, que, ao contrário de Platão, excluiu os guerreiros do governo da Cidade: a cidade apenas pode ser governada pelos cidadãos e cidadãs. A política não aspira também a edificar o seu reino no Céu, mas a construir a cidade terrena, pois a sua dimensão é radicalmente mundana. Outra dimensão da política é a participação de todos e todas no governo da Cidade, condição da democracia que apenas no século XX se concretizou com a conquista do direito de voto pelas mulheres. A política entra, no entanto, em crise com o aumento das fracturas e polarizações sociais que está na origem da ascensão dos autoritarismos, para os quais o oponente não é o adversário, mas o inimigo a descredibilizar e a abater. Por isso, a guerra é uma ameaça periodicamente ressurgente.
Mas, afinal, de que estamos a falar quando falamos de política? Para Joaquim Jorge Veiguinha, a política é a tentativa de construir uma ordem imanente e inclusiva em que, apesar dos nossos conflitos e divergências, possamos tolerar-nos reciprocamente, pois não é possível que neste mundo todos nos amemos uns aos outros. Da Grécia Antiga a Habermas, esta monumental História Crítica do Pensamento Político em dois volumes tem como cenário não um pretenso fim da História, mas um estado de livre interacção dos indivíduos em que cada um contribui para o aperfeiçoamento dos outros e recebe destes também o contributo para o seu próprio aperfeiçoamento. Só neste contexto em que o Estado como monopólio legítimo do uso da força entra em declínio se poderá cumprir a profecia do filósofo alemão Fichte: «O fim de todo o governo é tornar supérfluo o governo.»
Será a política uma guerra ou a guerra uma derrota da política? Apesar de a política ter uma dimensão de luta e combate, não é uma guerra de onde resultariam apenas mortos, feridos e alguns sobreviventes. Tinha razão Aristóteles, que, ao contrário de Platão, excluiu os guerreiros do governo da Cidade: a cidade apenas pode ser governada pelos cidadãos e cidadãs. A política não aspira também a edificar o seu reino no Céu, mas a construir a cidade terrena, pois a sua dimensão é radicalmente mundana. Outra dimensão da política é a participação de todos e todas no governo da Cidade, condição da democracia que apenas no século XX se concretizou com a conquista do direito de voto pelas mulheres. A política entra, no entanto, em crise com o aumento das fracturas e polarizações sociais que está na origem da ascensão dos autoritarismos, para os quais o oponente não é o adversário, mas o inimigo a descredibilizar e a abater. Por isso, a guerra é uma ameaça periodicamente ressurgente.
Mas, afinal, de que estamos a falar quando falamos de política? Para Joaquim Jorge Veiguinha, a política é a tentativa de construir uma ordem imanente e inclusiva em que, apesar dos nossos conflitos e divergências, possamos tolerar-nos reciprocamente, pois não é possível que neste mundo todos nos amemos uns aos outros. Da Grécia Antiga a Habermas, esta monumental História Crítica do Pensamento Político em dois volumes tem como cenário não um pretenso fim da História, mas um estado de livre interacção dos indivíduos em que cada um contribui para o aperfeiçoamento dos outros e recebe destes também o contributo para o seu próprio aperfeiçoamento. Só neste contexto em que o Estado como monopólio legítimo do uso da força entra em declínio se poderá cumprir a profecia do filósofo alemão Fichte: «O fim de todo o governo é tornar supérfluo o governo.»