Jorge de Sena, 939 Randolph Road: Exílio, Erotismo, Escatologia
A posteridade de Jorge de Sena está nas mãos de cada um de nós. É responsabilidade de todos e de cada um. A posteridade de um autor é uma questão literária, mas é também uma questão política, de cidadania.
É a partir da última morada de Jorge de Sena que este livro procura abrir vistas sobre os seus longos anos de exílio, com relevo para o período norte-americano. Um exílio feito de múltiplos exílios: exílio político; exílio existencial e interior, físico e metafísico; exílio ansioso de um tempo alhures de amor, justiça e liberdade. Um exílio testemunhado, e transfigurado na demanda espiritual de uma peregrinação de mundo, o que levanta questões teológicas e escatológicas, associadas ao erotismo, princípio criador da obra de Jorge de Sena. [Jorge Fazenda Lourenço]
Não tendo embora conhecido Jorge de Sena, acabou por manter com ele um trato próximo, íntimo. Quando é que se iniciou esta convivência? Como é que tudo começou?
Jorge de Sena era para mim um poeta de que já tinha ouvido falar. Até que, no final dos anos 70, saiu uma sucessão fabulosa de obras suas: Os Grão-Capitães, em 1976; a edição isolada de O Físico Prodigioso, a sequência Sobre Esta Praia…, e a reedição de Poesia-I, em 1977; as duas Dialécticas da Literatura, em 77 e 78; Antigas e Novas Andanças do Demónio, Poesia-II e Poesia-III, em 1978; e, finalmente, Sinais de Fogo, em 1979. Fiquei completamente varado pelo poeta; e digo poeta, porque em tudo o que ele escreveu é sempre legível o trabalho de um poeta. E em 1982 comecei a escrever sobre «o meu poeta». Precisava de extravasar toda aquela admiração. [De uma entrevista a Teresa Carvalho, jornal i, 4/6/2018]
Outras obras do autor sobre Jorge de Sena: O Essencial sobre Jorge de Sena (1987; nova edição, 2019), Uma Bibliografia Cronológica de Jorge de Sena (1939-1994), com Frederick G. Williams e Mécia de Sena (1994), A Poesia de Jorge de Sena: Testemunho, Metamorfose, Peregrinação (1998; edição revista, 2021), O Brilho dos Sinais. Estudos sobre Jorge de Sena (2002), A Arte de Jorge de Sena: Uma Antologia (2004), Corpo Arquitectura Poema. Leituras Inter-Artes na Poesia de Jorge de Sena, com João Borges da Cunha (2011), Matéria Cúmplice. Para Jorge de Sena (2012).
| Editora | Documenta |
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| Editora | Documenta |
| Negar Chronopost e Cobrança | Não |
| Autores | Jorge Fazenda Lourenço |
Jorge Fazenda Lourenço (Covilhã, 1955), poeta, é professor na Universidade Católica Portuguesa, em Lisboa. Obteve, em 1993, o Ph.D. em Hispanic Languages and Literatures, na Universidade da Califórnia, em Santa Barbara, com uma dissertação sobre a poesia de Jorge de Sena, de cuja obra é coeditor literário. Para além dos estudos senianos, a sua atividade como investigador tem-se centrado na literatura dos séculos XIX e XX, no estudo do Bildungsroman e nas questões da modernidade estética, tendo traduzido poesia de E. E. Cummings, Wallace Stevens, Giuseppe Ungaretti, Salvatore Quasimodo, Eugenio Montale, Mario Luzi e Charles Baudelaire, de quem organizou uma antologia de crítica e ensaio.
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O Essencial sobre Jorge de Sena«Poeta, ficcionista, dramaturgo, ensaísta, tradutor, crítico literário, teatral e de cinema, interventor político e cidadão do mundo, Jorge de Sena é uma das figuras centrais da nossa cultura e da literatura do século XX. A sua obra pode ser entendida como uma forma de dar testemunho de si mesmo e da sua circunstância, marcada por uma sobreposição de exílios e ancorada na observação, meditação e rememoração de uma experiência de mundo onde as diversas artes representam as metamorfoses, no plano da história humana, de uma peregrinação secular em que a sua vida se inscreve.» Jorge Fazenda Lourenço -
A Poesia de Jorge de Sena. Testemunho, Metamorfose, PeregrinaçãoEste trabalho foi pensado como uma contribuição para o estudo da poesia e da poética de Jorge de Sena e constitui uma primeira tentativa de visão integrada da sua obra de poeta, ficcionista e crítico. Partindo de um largo comentário ao prefácio da primeira edição de Poesia — I (1961), este estudo faz um enquadramento da totalidade da sua obra a partir dos três vetores que dinamizam a sua poética: testemunho, metamorfose e peregrinação. Uma poética da temporalidade, do devir e da errância que tem por base o tenso sistema de relações que se estabelece entre o poeta, o mundo e a linguagem. Sem esquecer que a poesia de Jorge de Sena tem no erotismo o seu princípio criativo e no exílio a sua máxima circunstância. (JFL) da contracapa.Observações: Edição revista e aumentada. -
O Essencial sobre Charles Baudelaire«Em apenas duas décadas, de 1845 a 1865, Baudelaire renovou o modo de fazer e entender a poesia e a crítica de arte do seu tempo, propondo uma nova ideia de modernidade contra a ideia positivista de progresso. Parte desse renovo radicou na intensificação do paradoxo como método de erosão do lirismo sentimental e na consideração da vida urbana como objeto de meditação poética. Tido por alguns como o Dante dos tempos modernos, o poeta fez deParis a capital da melancolia, com as suas dores e fantasmagorias, os seus aspetos grotescos, e uma beleza efémera que édesejo de transcendência.» In contracapa -
Fim de Boca e mais poemas (1981-2023)FIM DE BOCA reúne a maior parte dos poemas escritos por Jorge Fazenda Lourenço desde 1981: as séries ou colectâneas publicadas entre 1983 e 2009, em itálico no índice geral, a que se juntam quatro conjuntos de poemas inéditos ou dispersos em revistas, antologias e livros de ensaio. Veredas, Península e Gávea integravam Uma surda cegueira. Alguns poemas, muito poucos, foram deslocalizados. Alguns inéditos, também em pequeno número, foram integrados em séries anteriormente publicadas. -
Azares da PoesiaOs poemas, os ensaios, podem ser actos críticos, complementares? Eis a pergunta que este livro deseja, ao configurar-se como um auto-retrato, provisório e fragmentário, que explora a possibilidade de composição de um rosto no espelho-azar de outros rostos: Almeida Garrett, António Nobre, Cesário Verde, Vergílio Ferreira, Ruy Cinatti, E. E. Cummings, Armando Freitas Filho, Adélia Prado, e mais: pai, Maria do Carmo, Elvira, eros. O livro fala do modo de escrever poemas e de ler poetas, e do desejo de mundo, que é um desejo de poesia, que neles habita. Linhas e planos, traços e incisões, lugares ínfimos de uma voz que faz do acaso a sua necessidade.
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Para Tão Curtos Amores, Tão Longa VidaNuma época e num país como o nosso, em que se regista um número muito elevado de divórcios, e em que muitos casais preferem «viver juntos» a casar-se, dando origem nas estatísticas a muitas crianças nascidas «fora do casamento», nesta época e neste país a pergunta mais próxima da realidade não é por que duram tão pouco tantos casamentos, mas antes: Por que é que há casamentos que duram até à morte dos cônjuges? Qual é o segredo? Há um segredo nisso? Este novo livro de Daniel Sampaio, que traz o título tão evocativo: Para Tão Curtos Amores, Tão Longa Vida, discute as relações afetivas breves e as prolongadas, a monogamia e a infidelidade, a importância da relação precoce com os pais e as vicissitudes do amor. Combinando dois estilos, o ficcional e o ensaístico, que domina na perfeição, o autor traz perante os nossos olhos, de modo muito transparente e sem preconceitos, tão abundantes nestas matérias, os problemas e dificuldades dos casais no mundo de hoje, as suas vitórias e derrotas na luta permanente para manterem viva a sua união.Um livro para todos nós porque (quase) todos nós, mais tarde ou mais cedo, passamos por isso. -
Sobre as MulheresSobre as Mulheres é uma amostra substancial da escrita de Susan Sontag em torno da questão da mulher. Ao longo dos sete ensaios e entrevistas (e de uma troca pública de argumentos), são abordados relevantes temas, como os desafios e a humilhação que as mulheres enfrentam à medida que envelhecem, a relação entre a luta pela libertação das mulheres e a luta de classes, a beleza, o feminismo, o fascismo, o cinema. Ao fim de cinquenta anos – datam dos primeiros anos da década de 1970 –, estes textos não envelheceram nem perderam pertinência. E, no seu conjunto, revelam a curiosidade incansável, a precisão histórica, a solidez política e o repúdio por categorizações fáceis – em suma, a inimitável inteligência de Sontag em pleno exercício.«É um deleite observar a agilidade da mente seccionando através da flacidez do pensamento preguiçoso.» The Washington Post«Uma nova compilação de primeiros textos de Sontag sobre género, sexualidade e feminismo.» Kirkus Reviews -
A Vida na SelvaHá quem nasça para o romance ou para a poesia e se torne conhecido pelo seu trabalho literário; e quem chegue a esse ponto depois de percorrer um longo caminho de vida, atravessando os escolhos e a complexidade de uma profissão, ou de uma passagem pela política, ou de um reconhecimento público que não está ligado à literatura. Foi o caso de Álvaro Laborinho Lúcio, que publicou o seu primeiro e inesperado romance (O Chamador) em 2014.Desde então, em leituras públicas, festivais, conferências e textos com destinos vários, tem feito uma viagem de que guarda memórias, opiniões, interesses, perguntas e respostas, perplexidades e reconhecimentos. Estes textos são o primeiro resumo de uma vida com a literatura – e o testemunho de um homem comprometido com as suas paixões e o diálogo com os outros. O resultado é comovente e tão inesperado como foi a publicação do primeiro romance. -
O Infinito num JuncoA Invenção do livro na antiguidade e o nascer da sede dos livros.Este é um livro sobre a história dos livros. Uma narrativa desse artefacto fascinante que inventámos para que as palavras pudessem viajar no tempo e no espaço. É o relato do seu nascimento, da sua evolução e das suas muitas formas ao longo de mais de 30 séculos: livros de fumo, de pedra, de argila, de papiro, de seda, de pele, de árvore, de plástico e, agora, de plástico e luz.É também um livro de viagens, com escalas nos campos de batalha de Alexandre, o Grande, na Villa dos Papiros horas antes da erupção do Vesúvio, nos palácios de Cleópatra, na cena do homicídio de Hipátia, nas primeiras livrarias conhecidas, nas celas dos escribas, nas fogueiras onde arderam os livros proibidos, nos gulag, na biblioteca de Sarajevo e num labirinto subterrâneo em Oxford no ano 2000.Este livro é também uma história íntima entrelaçada com evocações literárias, experiências pessoais e histórias antigas que nunca perdem a relevância: Heródoto e os factos alternativos, Aristófanes e os processos judiciais contra humoristas, Tito Lívio e o fenómeno dos fãs, Sulpícia e a voz literária de mulheres.Mas acima de tudo, é uma entusiasmante aventura coletiva, protagonizada por milhares de personagens que, ao longo do tempo, tornaram o livro possível e o ajudaram a transformar-se e evoluir – contadores de histórias, escribas, ilustradores e iluminadores, tradutores, alfarrabistas, professores, sábios, espiões, freiras e monjes, rebeldes, escravos e aventureiros.É com fluência, curiosidade e um permanente sentido de assombro que Irene Vallejo relata as peripécias deste objeto inverosímil que mantém vivas as nossas ideias, descobertas e sonhos. E, ao fazê-lo, conta também a nossa história de leitores ávidos, de todo o mundo, que mantemos o livro vivo.Um dos melhores livros do ano segundo os jornais El Mundo,La Vanguardia e The New York Times(Espanha). -
O Anticrítico«O Anticrítico» é uma compilação dos ensaios de Diogo Vaz Pinto — textos de crítica literária, e não só —, escritos entre 2014 e 2023, incluindo alguns inéditos. «Não tenho conta para as vezes todas em que, para ir com a rábula insultuosa que me tecem, pegando uns onde outros deixaram, numa cooperativa de imbecis que, sinceramente, me comove, já me quiseram tirar a condição que vem de tudo o que faço. Mais difícil seria desmontar alguma coisa. Resta que, ou ignoram muito vermelhuscos, ou a ideia é revogar-me a carta, licença, prostrar-me na indigência de eu ser uma qualquer abominação, «Bicho», monstro que ligam com tudo o que é baixo, e mesmo assim paira sobre eles sem explicação. Um Chernobyl encarnado. Crítico não sou. Ou só pseudo. Videirinho e jornaleiro, pilha-galinhas e o mais que eu coso bem ao meu estuporado currículo. Pois seja, eu fico então gordo disso tudo. E viro-me do avesso. Sou o anticrítico, então! Roubando esta de Augusto de Campos sem pudor. Há muito que não me retiram do sentido a ideia de que o principal é cortar com a impostura disto tudo. A gloríola da mediocridade, o sentido gregário, essa ratada ficção ligando os «egozinhos de porta-aberta» do nosso meio literato.» -
Terra QueimadaEnsaio profético e demolidor, TERRA QUEIMADA (2022) expõe a forma como o complexo internético se tornou «motor implacável de vício, solidão, falsas esperanças, crueldade, psicose, endividamento, vida desbaratada, corrosão da memória e desintegração social». Nele, Jonathan Crary faz uma crítica radical da digitalização do mundo e denuncia realidades inegáveis: a incompatibilidade entre um planeta habitável e a economia consumista e técnica, a atomização provocada pelas redes sociais, a era digital como fase terminal do capitalismo planetário. «Se é possível um futuro habitável e comum no nosso planeta», conclui, «esse futuro será offline, dissociado dos sistemas e da actividade do capitalismo 24/7, que destroem o mundo». -
Mário Cesariny e Antonio Tabucchi - Cartas e outros TextosFernando Cabral Martins: «O surrealismo português já tinha atingido no final dos anos sessenta uma definição que tornava possível, de um ponto de vista exterior, descomprometido, fazer uma avaliação de conjunto.» Antonio Tabucchi veio a Portugal no rasto de um poeta: Fernando Pessoa, ou melhor Álvaro de Campos, de quem lera por acaso o poema «Tabacaria». Quis aprender a língua do autor do poema e para isso inscreveu-se na cadeira de Língua e Literatura Portuguesa na Universidade de Pisa, que então frequentava. O seu mestre foi uma professora especial, bela, inteligente e culta, Luciana Stegagno Picchio. Antonio quis conhecer o país onde se falava aquela língua e ao qual pertencia aquele poeta e, na Primavera de 1965, com o seu Fiat 500, chegou a Portugal. Aí conheceu uma portuguesa com quem falou de Pessoa, e com quem continuou a trocar correspondência até ao ano seguinte, quando se tornaram namorados, vindo depois a casar (1970). Mas até lá, veio amiúde a Portugal […] e começou a interessar-se pelo Surrealismo português, sobre o qual havia muito pouco material crítico, praticamente nada, em vista da sua futura tese de licenciatura. Conheceu então (1967) dois membros ilustres daquele movimento, dois grandes poetas, Alexandre O’Neill e Mário Cesariny de Vasconcelos, com quem passou muitas horas, primeiro para os entrevistar e depois, com sempre maior intimidade, já com laços de amizade, só pelo prazer de estarem juntos. [Maria José de Lancastre] Esta é a história de um desencontro. Cesariny, como o surrealismo, considerava a universidade um inimigo, e Tabucchi, para todos os efeitos, era em 1971 um universitário. Mesmo se, no caso dele, havia por parte do poeta o agrado de ver como a sua poesia e o seu lugar no surrealismo português eram reconhecidos — pela primeira vez — por um leitor com a distância crítica e a óbvia inteligência de Antonio Tabucchi. Aqui, nos textos que documentam o contacto directo entre ambos do final dos anos 60, pode ver-se uma ilustração do modo como a história do surrealismo foi sendo feita, com que ritmo e a partir de que posições. E que implica a consciência, por parte do poeta, da importância do sentido que a crítica atribui à História, capaz (ou não) de tornar o passado digno do presente, ou vice- -versa. E manifesta, por parte do jovem crítico italiano, a intuição da grandeza de um movimento que evoluía na sombra, num carceral jardim à beira-mar. [Fernando Cabral Martins]
