Livro dos Contrastes, Guerra e Política
Em Apocalise Now, o genial filme de guerra realizado por Francis Ford Coppola, inspirado, como e sabido, no livro de Joseph Conrad, o Coração das Trevas, ao protagonista, capitão Willard, e proposta a missão de terminar com o comando, a todos os títulos, extraviado, do coronel Kurtz.
Kurtz e acusado de ser um assassino, apesar de no seu sector o Vitecong ter sido reduzido a mínima expressão. Pois bem, interroga-se Willard se no meio de uma guerra completamente fora dos padrões clássicos, mal conduzida, exorbitada em termos militares, por parte dos norte-americanos, no âmbito do que deveria antes ser uma acção de contra-subversão judiciosa, faz algum sentido acusar alguém de assassínio.
A Willard parece-lhe ser a coisa mais louca alguma vez ouvida, porque e como querer multar os pilotos por excesso de velocidade nas 500 milhas de Indianapolis. Na verdade, tem Willard razão e não tem. Porque se na guerra nem tudo vale, sob pena de ascensão aos extremos, naquele caso particular, como quiçá em todos os demais, no meio da violência desatada, do homicídio generalizado que e a guerra, particularmente se pensarmos no empenhamento de meios possíveis e na ingente mobilização estratégica de recursos no século XX (superando em muito a dimensão tão só militar), as reflexões de Willard não são de todos descabidas.
Ainda hoje não há uma resposta cabal, se e que alguma vez haverá, para dar ao perplexo capitão da 173a Brigada Aerotransportada, apesar de já habituado a patrulhas de longo raio de acção, e sobretudo, a operações clandestinas com a CIA.
Está em causa, ao mesmo tempo a malignidade da guerra e a sua complexidade. Ou melhor, a complexidade por via da malignidade.
| Editora | Fronteira do Caos |
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| Editora | Fronteira do Caos |
| Negar Chronopost e Cobrança | Não |
| Autores | António Horta Fernandes |
António Horta Fernandes, Docente do Departamento de Estudos Políticos da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Investigador do Instituto Português de Relações Internacionais (IPRI). Estrategista e Polemologista, publicou Livro dos Contrastes - Guerra e Política (2017), Acolher ou Vencer? A guerra e a estratégia na actualidade (2011), Grandes Estrategistas Portugueses. Antologia (com António Paulo Duarte (2007), Entre a História e a Vida. A teoria da história em Ortega y Gasset (2006), Pensar a Estratégia (com Francisco Abreu) (2004), Portugal e o Equilíbrio Peninsular (com António Paulo Duarte) (2004) e O Homo Strategicus ou a Ilusão de uma Razão Estratégica (1998).
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Acolher ou Vencer?Neste livro, o autor mostra como a guerra e a estratégia têm sido mal compreendidas nos últimos trinta anos. Partindo de uma posição ética, critica por igual os pacifistas e os defensores da guerra justa e das operações de imposição da paz da ONU, defendendo que a assimilação dos conceitos das relações internacionais pelos militares e pelos decisores políticos tem levado à incapacidade ocidental para gerir as guerras e para as conter. -
Guerra Santa e Guerra Justa - Um Desígnio Medieval?Hoje, quando se fala em Guerra Santa e Guerra Justa, vem-nos quase sempre à memória a lembrança das cruzadas e com elas da Idade Média, essa época dita obscura onde os homens se matavam por causa da fé, ou onde havia sempre um pretexto reputado de justo para guerrear. Nada disso parece ser verdade e a presente obra visa mostrar que não o é, procurando desconstruir um conjunto de ideias arreigadas mesmo na mais recente historiografia medievalista. Na guerra santa, não é a guerra que é santa, antes a defesa da ordem que o homem medieval julga ser maculada pelo oponente. A guerra em si nunca deixa de ser condenada e denegrida ao longo de toda a Idade Média. Porém, muitas vezes os homens vêem-se na necessidade de combater e de justificar o combate, de apelar à defesa armada e à restauração da ordem querida por Deus, sendo essa defesa que valorizam enquanto forma de restabelecer a ordem, mas não por ser armada. O leitor perceberá que na Idade Média não se caracteriza pelo cultivo dos valores marciais nem as suas sociedades se revelam como organizadas para e pela guerra. Justamente o oposto. É que a ordem, incluindo a ordem política, querida por Deus assenta exclusivamente na paz. Paz e guerra configuravam dois mundos apartados. Como argumenta o autor, neste estudo também com pendor comparativo, apenas a partir da Idade Moderna, com o surgimento do Estado, depois Estado soberano, se vai muito paulatinamente pondo fim à dicotomia entre guerra e paz, procurando integrar a guerra no tecido político, como acção intrínseca à política. A relação entre a guerra e a paz toma cada vez mais a senda de um cálculo pragmático de poder, desde o equilíbrio de poder até à luta pelo poder na cena internacional contemporânea. Todavia, a guerra continua a ser um fenómeno ultimamente incontrolável e intratável, tendente a ir de si e a gerar os seus próprios objectivos. A humanidade desde que começou a fazer guerra cedo se apercebeu disso: no mundo medieval ainda de forma mais clara, até porque pressentia não dispor de estruturas institucionais de encaixe desenvolvidas que permitissem amortecer os efeitos bélicos, como mais tarde veio, em parte, a acontecer. Sim, a Idade Média, aquilo que convencionalmente designamos por Idade Média, no seu arco temporal de 1000 anos, é uma era convulsiva, de imensa violência intestina. Mas tal não significa que aprove e elogie a violência, nomeadamente a violência da guerra; ao contrário, na Idade Média as únicas acções justas são aquelas conforme à paz. No meio de guerras tidas por inevitáveis, porque o homem se desvia do bem, diz-se, justos são os campeões da paz só e somente enquanto restauram a paz e não pela guerra que necessariamente acometem.
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A Revolução e o PRECO discurso oficial sobre o 25 de Abril de 1974 tem apresentado esta data como o momento fundador da democracia em Portugal. No entanto, a democracia apenas se pode considerar verdadeiramente instituída em 25 de Abril de 1976, com a entrada em vigor da actual Constituição. Até lá o país viveu sob tutela militar, que se caracterizou pela violação constante dos direitos fundamentais dos cidadãos, com prisões sem culpa formada, ausência de «habeas corpus», saneamento de funcionários, sequestro de empresários, e contestação de decisões judiciais. Em 1975, Portugal esteve à beira da guerra civil, o que só viria a ser travado em 25 de Novembro desse ano, uma data que hoje muitos se recusam a comemorar. Nesta obra pretendemos dar a conhecer o que efectivamente se passou nos dois anos que durou o processo revolucionário no nosso país, no intuito de contribuir para um verdadeiro debate sobre um período histórico muito próximo, mas que não é detalhadamente conhecido pelas gerações mais novas. -
As Causas do Atraso Português«Porque é Portugal hoje um país rico a nível mundial, mas pobre no contexto europeu? Quais são as causas e o contexto histórico do nosso atraso? Como chegámos aqui, e o que pode ser feito para melhorarmos a nossa situação? São estas as perguntas a que procuro responder neste livro. Quase todas as análises ao estado do país feitas na praça pública pecam por miopia: como desconhecem a profundidade histórica do atraso, fazem erros sistemáticos e anunciam diagnósticos inúteis, quando não prejudiciais. Quem discursa tem também frequentemente um marcado enviesamento político e não declara os seus conflitos de interesse. […] Na verdade, para refletirmos bem sobre presente e os futuros possíveis, temos de começar por compreender o nosso passado. Para que um futuro melhor seja possível, temos de considerar de forma ponderada os fatores que explicam – e os que não explicam – o atraso do país. Este livro tem esse objetivo.» -
História dos GatosNuma série de cartas dirigidas à incógnita marquesa de B**, F.-A. Paradis e Moncrif (o espirituoso favorito da sociedade parisiense) faz uma defesa apaixonada dos amáveis felinos, munindo-se para isso de uma extrema erudição.Este divertido compêndio de anedotas, retratos, fábulas e mitos em torno dos gatos mostra que o nosso fascínio por estes animais tão dóceis quanto esquivos é uma constante ao longo da história da civilização e que não há, por isso, razão para a desconfiança que sobre eles recaía desde a Idade Média. Ou haverá? -
A Indústria do HolocaustoNesta obra iconoclasta e polémica, Norman G. Finkelstein analisa a exploração da memória do holocausto nazi como arma ideológica, ao serviço de interesses políticos e económicos, pelas elites judaicas norte-americanas. A INDÚSTRIA DO HOLOCAUSTO (2000) traça a génese de uma imunidade que exime o Estado de Israel – um trunfo estratégico dos EUA depois da Guerra dos Seis Dias – de qualquer censura e lhe permite justificar expedientes ofensivos como legítima defesa. Este ensaio essencial sobre a instrumentalização e monopolização de uma tragédia – eclipsando outras vítimas do genocídio nazi – denuncia ainda a perturbadora questão do aproveitamento das compensações financeiras devidas aos sobreviventes. -
Revolução Inacabada - O que Não Mudou com o 25 de AbrilO que não mudou com o 25 de Abril? Apesar de todas as conquistas de cinco décadas de democracia, há características na sociedade portuguesa que se mantêm quase inalteradas. Este livro investiga duas delas: o elitismo na política e o machismo na justiça. O recrutamento para a classe política dirigente praticamente não abrange pessoas não licenciadas e com contacto com a pobreza, e quase não há mobilidade do poder local para o poder nacional. No sistema judicial, a entrada das mulheres na magistratura e a mudança para leis mais progressistas não alteraram um padrão de baixas condenações por crimes sexuais, cometidos sobretudo contra mulheres. Cruzando factos e testemunhos, este é o retrato de um Portugal onde a revolução pela igualdade está ainda inacabada. -
PaxNo seu auge, o Império Romano era o Estado mais rico e formidável que o mundo já tinha visto. Estendendo-se da Escócia à Arábia, geria os destinos de cerca de um quarto da humanidade.Começando no ano em que quatro Césares governaram sucessivamente o Império, e terminando cerca de sete décadas depois, com a morte de Adriano, Pax: Guerra e Paz na Idade de Ouro de Roma revela-nos a história deslumbrante de Roma no apogeu do seu poder.Tom Holland, reconhecido historiador e autor, apresenta um retrato vivo e entusiasmante dessa era de desenvolvimento: a Pax Romana - da destruição de Jerusalém e Pompeia, passando pela construção do Coliseu e da Muralha de Adriano e pelas conquistas de Trajano. E demonstra, ao mesmo tempo, como a paz romana foi fruto de uma violência militar sem precedentes. -
Antes do 25 de Abril: Era ProibidoJá imaginou viver num país onde:tem de possuir uma licença do Estado para usar um isqueiro?uma mulher, para viajar, precisa de autorização escrita do marido?as enfermeiras estão proibidas de casar?as saias das raparigas são medidas à entrada da escola, pois não se podem ver os joelhos?não pode ler o que lhe apetece, ouvir a música que quer, ou até dormitar num banco de jardim?Já nos esquecemos, mas, há 50 anos, feitos agora em Abril de 2024, tudo isto era proibido em Portugal. Tudo isto e muito mais, como dar um beijo na boca em público, um acto exibicionista atentatório da moral, punido com coima e cabeça rapada. E para os namorados que, num banco de jardim, não tivessem as mãozinhas onde deviam, havia as seguintes multas:1.º – Mão na mão: 2$502.º – Mão naquilo: 15$003.º – Aquilo na mão: 30$004.º – Aquilo naquilo: 50$005.º – Aquilo atrás daquilo: 100$006.º – Parágrafo único – Com a língua naquilo: 150$00 de multa, preso e fotografado. -
Baviera TropicalCom o final da Segunda Guerra Mundial, o médico nazi Josef Mengele, conhecido mundialmente pelas suas cruéis experiências e por enviar milhares de pessoas para câmaras de gás nos campos de concentração em Auschwitz, foi fugitivo durante 34 anos, metade dos quais foram passados no Brasil. Mengele escapou à justiça, aos serviços secretos israelitas e aos caçadores de nazis até à sua morte, em 1979 na Bertioga. Foi no Brasil que Mengele criou a sua Baviera Tropical, um lugar onde podia falar alemão, manter as suas crenças, os seus amigos e uma conexão com a sua terra natal. Tudo isto foi apenas possível com a ajuda de um pequeno círculo de europeus expatriados, dispostos a ajudá-lo até ao fim. Baviera Tropical assenta numa investigação jornalística sobre o período de 18 anos em que o médico nazi se escondeu no Brasil. A partir de documentos com informação inédita do arquivo dos serviços secretos israelitas – a Mossad – e de diversas entrevistas com protagonistas da história, nomeadamente ao comandante da caça a Mengele no Brasil e à sua professora, Bettina Anton reconstitui o percurso de Mengele no Brasil, onde foi capaz de criar uma nova vida no país sob uma nova identidade, até à sua morte, sem ser descoberto. E a grande questão do livro: de que forma um criminoso de tamanha dimensão e os seus colaboradores conseguiram passar impunes?