Mário de Carvalho: Nem um Dia sem uma Linha
Mário de Carvalho segue a máxima atribuída a Plínio, o Velho, «nem um dia sem uma linha». É o rigor a que se impõe um dos mais importantes escritores das últimas décadas, reconhecido pelo público e pela crítica e várias vezes premiado. Mas nem sempre foi assim. Numa conversa com José Jorge Letria, o escritor revela como surgiu a escrita na sua vida e como se tem modificado ao longo dos anos.
Do rigor da clandestinidade, herdou a pontualidade e o compromisso. Do exercício da advocacia, ficaram a exposição do raciocínio, as pessoas, as histórias e os locais que conheceu - e que tiveram um importante papel na sua construção literária. Mário de Carvalho sente que a sua vida se desenvolveu em resposta a solicitações: primeiro a política e a advocacia, depois os livros, mais tarde as aulas de escrita. Das brincadeiras com soldadinhos de chumbo à aterragem da sonda InSight em Marte, revisita os momentos marcantes da sua vida e do mundo.
| Editora | Guerra & Paz |
|---|---|
| Coleção | O Fio da Memória |
| Categorias | |
| Editora | Guerra & Paz |
| Negar Chronopost e Cobrança | Não |
| Autores | Mário de Carvalho, José Jorge Letria |
Mário de Carvalho nasceu em Lisboa em 1944. Licenciou-se em Direito e viu o serviço militar interrompido pela prisão. Desde muito cedo ligado aos meios da resistência contra o salazarismo, foi condenado a dois anos de cadeia, tendo de se exilar após cumprir a maior parte da pena. Depois da Revolução dos Cravos, em que se envolveu intensamente, exerceu advocacia em Lisboa. O seu primeiro livro, Contos da Sétima Esfera, causou surpresa pelo inesperado da abordagem ficcional e pela peculiar atmosfera, entre o maravilhoso e o fantástico.
Desde então, tem praticado diversos géneros literários – Romance, Novela, Conto, Ensaio, Crónica e Teatro –, percorrendo várias épocas e ambientes, sempre em edições sucessivas. Utiliza uma multiforme mudança de registos, que tanto pode moldar uma narrativa histórica como um romance de atualidade; um tema dolente e sombrio como uma sátira viva e certeira; uma escrita cadenciada e medida como a pulsão de uma prosa endiabrada e surpreendente.
Nas diversas modalidades de Romance, Conto, Crónica e Teatro, foram atribuídos a Mário de Carvalho os prémios literários mais prestigiados (designadamente os Grandes Prémios de Romance e Novela, Conto e Teatro da APE, prémios do Pen Clube Português e o prémio internacional Pégaso de Literatura). Os seus livros encontram-se traduzidos em várias línguas.
Obras como Os Alferes, A Inaudita Guerra da Avenida Gago Coutinho, Um Deus Passeando pela Brisa da Tarde, O Varandim seguido de Ocaso em Carvangel, A Liberdade de Pátio ou Ronda das Mil Belas em Frol são a comprovação dessa extrema versatilidade.
É ficcionista, jornalista, poeta e dramaturgo. Nasceu em Cascais, em 1951, onde foi vereador da Cultura de 1994 a 2002. Traduzido em mais de dez idiomas, foi premiado em Portugal e no estrangeiro: destacam-se dois Grandes Prémios da APE, o Prémio Aula de Poesia de Barcelona, o Prémio Internacional UNESCO, o Prémio Eça de Queiroz – Município de Lisboa, o Prémio da Associação Paulista de Críticos de Arte e o Prémio de Poesia Guerra Junqueiro. As antologias O Fantasma da Obra, O Livro Branco da Melancolia e Poesia Escolhida condensam o essencial da sua poesia. Foi, ao lado de José Afonso e Adriano Correia de Oliveira, um destacado cantor político, tendo sido agraciado, em 1997, com a Ordem da Liberdade. É mestre em Estudos da Paz e da Guerra nas Novas Relações Internacionais pela Universidade Autónoma de Lisboa e pós-graduado em Jornalismo Internacional. Doutorou-se com distinção em Ciências da Comunicação no ISCTE. É presidente da Sociedade Portuguesa de Autores e presidiu ao Grupo Europeu de Sociedades de Autores e Compositores (GESAC), com sede em Bruxelas, e ao Comité Europeu de Sociedades de Autores da Confederação Internacional de Sociedades de Autores e Compositores (CISAC), com sede em Paris.
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CronovelemasCronovelema: primeiro, o tempo, chronos, os dias de hoje, mais coisa,menos coisa. Depois, tudo o que se acarta para a construção destas ficções e também se encontra ao escandir o vocábulo. Lá ressalta o novo e, logo, a novela. De um lado, um jovem casal desavindo, a viver para as bandas do Lumiar e frequentador de certa Avenida de Roma, pondera sobre qual o destino a dar à tartaruga doméstica. O animal, sem nome, preguiça num aquário e a solução tarda, bem como o desenlace da dupla, a braços com o final iminente da relação. Do outro lado, dois gandulos planeiam, estendem a rede e montam a urdidura. Mas eis que o destino se intromete, hábil a turvar os planos e rasteirar os desígnios… e, claro, convém não esquecer o diabo, sempre atrás da porta, vigilante, dizem que até a rezar. -
Burgueses Somos Nós Todos ou Ainda MenosUm marido recalcitrante ludibriado pela mulher defunta; um casal num jantar de amigos, elas amigas íntimas dele; um recém viúvo percorrendo a lista das suas conquistas mais assíduas, dois homens de meia-idade rememorando no luxo das suas casas os tempos de jovens revolucionários; doutores, engenheiros, administradores em tensão, todos em certa vivenda às Avenidas Novas, banco de grandes investimentos; uma enfermaria de hospital; cortejo e exéquias; engates de esquina; os filhos dos outros; traições e uma vingança sórdida; retalhos de vida, de uma sociedade, de um Portugal desencantado, sob o olhar sempre irónico de Mário de Carvalho. -
O Que Eu Ouvi na Barrica das MaçãsReconhecido como um dos mais importantes escritores portugueses da actualidade, a sua faceta de cronista passou despercebida à maior parte dos leitores; daí esta selecção das suas melhores crónicas publicadas nas décadas de oitenta e noventa do século passado no Público e no Jornal de Letras. Delas emergem o ficcionista, o cidadão, o comunicador e o memorialista, em textos que alguns diriam proféticos e, nas palavras de Francisco Belard: «testemunhos de um largo campo de assuntos, abordagens, dimensões e estilos, através de eras e lugares, sinais de um escritor que declaradamente prefere viajar no discurso e decurso do tempo e do espaço doméstico a fazê-lo em itinerários geográficos, programados e turísticos. Por tudo isto […], os leitores dos romances o vão reencontrar em mudáveis cenários e perspectivas, de outros pontos de vista, na familiaridade e na estranheza diante do seu mundo, que faz nosso.» -
O Varandim seguido de Ocaso em CarvangelUm canhão assombrando uma cidade. Um patíbulo armado de noite. Um istmo que conduz a uma cratera. Uma diligência cercada por cães selvagens. Nuvens de grifos imundos sobre o mar. A batalha sangrenta dos pescadores. Uma galeria de anarquistas, mais nobres que plebeus. A casa de Madame Ricciarda. A casa de Madame Musette. Dois jesuítas. Um padre que toca violoncelo. Um navio que não chega mais. Uma opereta com ecos de tragédia. Sol, luz, névoa e lua. Oito mulheres, amores duplos, triplos e quádruplos. De como a vida engana a morte. Ou o inverso. Porque há em gente pacata uma apetência de morte tão grande? Porque é que nunca se regressa daquela viagem? Porque é que aquele navio não chega? Porque é que aquele canhão jamais dispara? -
Os AlferesNuma distante picada de África, um jovem alferes vê-se confrontado com um dilema de vida ou de morte e com o absurdo da própria guerra.No Leste de Angola, urde-se uma trama de sedução, ciúme, traição e morte.Num Timor mítico, ecoam os feitos e os sofrimentos da saga universal dos portugueses.Três histórias onde um fio de humor, não raro amargo, percorre todas as cenas, mesmo as mais violentas ou sombrias.Três narrativas, três sobressaltos, três momentos ímpares da literatura portuguesa. -
Um deus passeando pela brisa da tardeLúcio Valério Quíncio é o magistrado de Tarcisis, cidade romana da Lusitânia no século II d. C. Como dirigente máximo, cabe-lhe tomar todas as decisões, enquanto tumultuosos acontecimentos conduzem a pequena cidade ao descontentamento geral. No exterior, notícias de uma invasão bárbara iminente, proveniente do Norte de África, obrigam-no a drásticas medidas, enquanto, no interior das muralhas, uma nova seita, a Congregação do Peixe, põe em causa os valores da romanidade, evocando os ensinamentos de um obscuro crucificado. No plano íntimo, a paixão devastadora por uma mulher, Iunia, perturba-o e confunde-o, mas sem o afastar do cumprimento do dever. Neste romance em que a ficção se sobrepõe à História, traduzido em nove línguas e galardoado com o Prémio de Romance e Novela da APE, o Prémio Fernando Namora, o Prémio Pégaso de Literatura e o Prémio Literário Giuseppe Acerbi, Mário de Carvalho reconstitui as características culturais, políticas e quotidianas do Império Romano, sem nunca esquecer a »intercessão de certo deus que, nos primórdios, ao que parece, passeava num jardim pela brisa da tarde...» -
A Inaudita Guerra da Avenida gago CoutinhoUma horda de cavaleiros berberes do século XII vê-se subitamente em plena Avenida Gago Coutinho por incúria da deusa Clio, que se deixa adormecer, enredando na sua tapeçaria milenar os acontecimentos de 4 de Junho de 1148 e 29 de Setembro de 1984. Um elevador não pára de subir. Um frade no seu convento resiste ao Dia do Juízo Final. Um homem simples vive um quotidiano dantesco. Um chimpanzé é capaz de reescrever a obra Menina e Moça. Um navio negro, desarvorado, muito maltratado pelo mar, dá à costa, trazendo consigo a pestilência. Um padre exorcista tem uma estranha particularidade anatómica. Integrada no Plano Nacional de Leitura, A Inaudita Guerra da Avenida Gago Coutinho é uma das obras mais emblemáticas de Mário de Carvalho. -
A Sala MagentaPaixão, luxúria e erotismo. Raiva, crueldade e regelo. Dois tempos. O presente, numa casa na floresta, perto da Lagoa Moura, onde pena Gustavo Miguel Dias, um cineasta em fim de carreira, lambendo as suas feridas e rememorando tempos gloriosos. O passado, impante na capital. As festas. O álcool. Os quartos de hotel. O rol interminável de mulheres e amantes. E aquela sala magenta, duma tal Maria Alfreda, antecâmara da felicidade, conchego alcatifado, jogo perverso entre o desdém, o apaziguamento e a ameaça. -
A Liberdade de PátioUm homem é incumbido de transportar uma estranha caixa contendo uma cabeça. Um excelso professor vê-se condenado a passar o resto dos seus dias numa prisão deveras invulgar. A história por detrás da internacionalização de uma das maravilhas culinárias de Portugal. Quatro professores reformados que o destino uniu num jardim municipal decidem aliar as suas bibliotecas. Um frequentador assíduo do metro calha em faltar com a sua palavra, despertando a indignação de um dos funcionários. Um comandante da Marinha incapaz de aceitar um não. As memórias da iniciação sexual de um jovem, num tempo em que os tios tomavam a seu cargo essa tarefa. Sete contos. Sete histórias que representam a multiplicidade de registos na escrita inigualável de Mário de Carvalho. -
Era Bom que Trocássemos umas Ideias sobre o AssuntoMário de Carvalho convoca-nos a todos. A nós e aos nossos conhecidos. Faz humor com ilusões e desilusões, amores e desamores, graças e desgraças. O Partido Comunista não escapa à ironia. Brilha a deslumbrante Lisboa, mas também outros locais e endereços. Eduarda Galvão é o protótipo da jovem jornalista. Jorge de Matos o professor cansado. Joel Strosse o pairar da esperança enquanto há vida. Entram outros burgueses, mais tímidos, mais atrevidos, mais abertos, mais recolhidos. O leitor reconhece-os facilmente, olhando em volta. Políticas também há algumas, bandeiras rubras, livros nas bibliotecas, uma revolução que entardeceu. Comparece o rio magnífico que Lisboa tem. E, já agora, que tal trocarmos umas ideias sobre o assunto?
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O Príncipe da Democracia - Uma Biografia de Francisco Lucas PiresNenhuma outra figura foi intelectualmente tão relevante para a afirmação da direita liberal em Portugal como Francisco Lucas Pires. Forjado numa família que reunia formação clássica e espírito de liberdade, tornou-se um constitucionalista inovador, um jurista criativo, um político de dimensão intelectual rara à escala nacional e europeia – e, acima de tudo, um cidadão inconformado com o destino de Portugal.Em O Príncipe da Democracia, Nuno Gonçalo Poças reconstitui o percurso e as ideias deste homem invulgar, cujo legado permanece em grande parte por cumprir, e passa em revista os seus sucessos e fracassos. O resultado é um livro que, graças à absoluta contemporaneidade do pensamento do biografado, nos ajuda a compreender as grandes questões que o país e a Europa continuam a enfrentar, mostrando-nos, ao mesmo tempo, uma elegância política difícil de conceber quando olhamos hoje à nossa volta.Mais do que um retrato elucidativo de Lucas Pires, que partiu precocemente aos 53 anos, este é um documento fundamental para responder aos desafios do futuro, numa altura em que o 25 de Abril completa meio século. -
A DesobedienteA dor e o abandono chegaram cedo à vida de Teresinha, a filha mais velha de um dos mais prestigiados médicos da capital e de uma mulher livre e corajosa, descendente dos marqueses de Alorna, que nas ruas e nos melhores salões de Lisboa rivalizava em encanto com Natália Correia. A menina que haveria de ser poetisa vê a morte de perto quando ainda mal sabe andar, sobrevive às depressões da mãe, chegando mesmo a comer uma carta para a proteger. É dura e injustamente castigada e as cicatrizes hão de ficar visíveis toda a vida, de tal modo que a infância e a adolescência de Maria Teresa Horta explicam quase todas as opções que tomou. Sobreviver ao difícil divórcio dos pais, duas figuras incomuns, com as quais estabeleceu relações impressionantes de tão complexas, foi apenas uma etapa.Mas quanto deste sofrimento a leva à descoberta da poesia? E quanto está na origem da voz ativista de uma jovem que há de ser uma d’As Três Marias, as autoras das famosas «Novas Cartas Portuguesas», e protagonistas do último caso de perseguição a escritores em Portugal, que recebeu apoio internacional de mulheres como Simone de Beauvoir e Marguerite Duras? A insubmissa, que se envolve por acaso com o PCP e mantém intensa atividade política no pré e no pós-25 de Abril; a poetisa, a mãe, a mulher que constrói um amor desmedido por Luís de Barros; a grande escritora a quem os prémios e condecorações chegaram já tarde (ainda que, em alguns casos, a tempo de serem recusados), entre outras facetas, é a Maria Teresa Horta que Patrícia Reis, romancista e biógrafa experimentada, soube escrever e dar a conhecer, nesta biografia, com a destreza e a sensibilidade que a distinguem. -
Emílio Rui VilarMemórias do país da ditadura e do alvor da democracia em Portugal. A vida de Emílio Rui Vilar atravessou as principais mudanças da segunda metade do século XX. Contado na primeira pessoa, um percurso fascinante pelo fim do regime de Salazar e Caetano e pela revolução de Abril.Transcrevendo entrevistas realizadas ao longo de vários meses, este livro recolhe o relato na primeira pessoa de uma trajetória que percorreu o início da contestação ao Estado Novo no meio universitário, a Guerra Colonial, a criação da SEDES, o fracasso da “primavera marcelista” e os primeiros anos do novo regime democrático saído do 25 de Abril, onde Emílio Rui Vilar desempenhou funções governativas nos primeiros três Governos Provisórios e no Primeiro Governo Constitucional. No ano em que se celebram cinco décadas de democracia em Portugal, este livro é um importante testemunho sobre dois regimes, sobre o fim de um e o nascimento de outro. -
Oriente PróximoCom a atual guerra em Gaza, este livro, Oriente Próximo ganhou uma premente atualidade. A autora, a maior especialista portuguesa sobre o assunto, aborda o problema não do ponto de vista geral, mas a partir da vida concreta das pessoas judeus, árabes e outras nacionalidades que habitam o território da Palestina. Daí decorre que o livro se torna de leitura fascinante, como quem lê um romance.Nunca se publicou nada em Portugal com tão grande qualidade. -
Savimbi - Um homem no Seu MartírioSavimbi foi alvo de uma longa e destrutiva campanha de propaganda, desinformação e acções encobertas de segurança com o objectivo de o desacreditar e isolar. Se não aceitasse o exílio ou a sujeição, como foi o objectivo falhado dessa campanha, o fim último era matá-lo, como aconteceu: premeditadamente! Para que a sua «morte em combate» não suscitasse empatia, foi como um chefe terrorista da laia de Bin Laden que a sua morte foi apresentada – artifício da propaganda que tirou partido da memória emocional recente dos atentados da Al Qaeda, na América. Julgado com honestidade, Savimbi nunca foi o «bandido» por que o fizeram passar. O manifesto apreço que personalidades de indiscutível clareza moral, como Mandela, tiveram por ele prova-o. O MPLA elegeu-o como adversário temido e quis apagá-lo do seu caminho! Não pelos crimes a que o associaram. O que o MPLA e o seu regime temiam eram as suas qualidades e carisma, a sua representatividade política e o prestígio externo que granjeara. Como outros grandes da História, Savimbi também tinha defeitos e cometia erros. Mas no deve e haver as suas qualidades eram preponderantes." -
Na Cabeça de MontenegroLuís Montenegro, o persistente.O cargo de líder parlamentar, no período da troika, deu-lhe o estatuto de herdeiro do passismo. Mas as relações com Passos Coelho arrefeceram e o legado que agora persegue é outro e mais antigo. Quem o conhece bem diz que Montenegro é um fiel intérprete da velha tradição do PPD, o partido dos baronatos do Norte. Recusou por três vezes ser governante e por duas vezes foi derrotado em autárquicas. Já fez e desfez alianças, esteve politicamente morto e ressuscitou. Depois de algumas falsas partidas chegou à liderança. Mas tudo tem um preço e é o próprio a admitir que se questiona com frequência: será que vale a pena? -
Na Cabeça de VenturaAndré Ventura, o fura-vidas.Esta é a história de uma espécie de Fausto português, que foi trocando aquilo em que acreditava por tudo o que satisfizesse a sua ambição. André Ventura foi um fura-vidas. A persona mediática que criou nasceu na CMTV como comentador de futebol. Na adolescência convertera-se ao catolicismo, a ponto de se tornar um fundamentalista religioso. Depois de ganhar visibilidade televisiva soube pô-la ao serviço da sua ambição de notoriedade. Passou pelo PSD e foi como candidato do PSD que descobriu que havia um mercado eleitoral populista e xenófobo à espera de alguém que viesse representá-lo em voz alta. Assim nasceu o Chega. -
Contra toda a Esperança - MemóriasO livro de memórias de Nadejda Mandelstam começa, ao jeito das narrativas épicas, in media res, com a frase: «Depois de dar uma bofetada a Aleksei Tolstói, O. M. regressou imediatamente a Moscovo.» Os 84 capítulos que se seguem são uma tentativa de responder a uma das perguntas mais pertinentes da história da literatura russa do século XX: por que razão foi preso Ossip Mandelstam na fatídica noite de 1 de Maio de 1934, pouco depois do seu regresso de Moscovo? O presente volume de memórias de Nadejda Mandelstam cobre, assim, um arco temporal que medeia entre a primeira detenção do marido e a sua morte, ou os rumores sobre ela, num campo de trânsito próximo de Vladivostok, algures no Inverno de 1938. Contra toda a Esperançaoferece um roteiro literário e biográfico dos últimos quatro anos de vida de um dos maiores poetas do século XX. Contudo, é mais do que uma narrativa memorialística ou biográfica, e a sua autora é mais do que a viúva mítica, que memorizou a obra proibida do poeta perseguido, conseguindo dessa forma preservar toda uma tradição literária. Na sua acusação devastadora ao sistema político soviético, a obra de Nadejda Mandelstam é apenas igualada por O Arquipélago Gulag. O seu método de composição singular, e a prosa desapaixonada com que a autora sonda o absurdo da existência humana, na esteira de Dostoievski ou de Platónov, fazem de Contra toda a Esperança uma das obras maiores da literatura russa do século XX.