Macedo de Cavaleiros: Folheando o Tempo
Não é de Macedo cidade que se fala neste livro. Este é um livro de memórias pessoais que não ultrapassam o ano de 1968 – ano em que parti para a diáspora com a família a reboque: primeiro Bragança, depois Porto, depois Torre de Moncorvo, por fim Vila Real. Ora, nesse ano de 1968, a promoção de Macedo a cidade ainda vinha a trinta anos de distância. Mas as memórias têm de ter um cenário, e esse cenário é uma vila sem arranha-céus, nem semáforos, nem grandes superfícies comerciais. Uma vila com cérceas razoáveis, tráfego regulado apenas pelo Código da Estrada, comércio tradicional com balcão a separar a área do lojista da área do freguês e, sobre o balcão, o tradicional livro de fiados. É esse o meu Macedo, a vila que gosto de encontrar por trás da cidade em que se transformou, quando calha lá ir. Dizendo as coisas um pouco mais cruamente: gosto de ver no seu lugar casas e coisas que têm resistido à renovação um tanto selvagem que se tem vindo a operar aos nossos olhos.
| Editora | Lema d’Origem |
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| Editora | Lema d’Origem |
| Negar Chronopost e Cobrança | Não |
| Autores | A. M. Pires Cabral |
Nasceu no concelho de Macedo de Cavaleiros em 1941. É licenciado em Folologia Germânica pela Universidade de Coimbra. A sua actividade literária estende-se pelas áreas da poesia, ficção, teatro, crónica e organização de antologias. Estreou-se em 1974 com Algures a Nordeste, poesia, e tem publicadas para cima de 50 obras. Recebeu os seguintes prémios literários: Círculo de Leitores 1983, com Sancirilo; Prémio D. Dinis 2006, com Douro: Pizzicato e chula e Que Comboio é Este; Grande Prémio de Literatura DST 2008, com O Cónego; Prémio de Poesia Luís Miguel Nava 2009, com As Têmporas da Cinza; Prémio de Poesia do Pen Clube 2009, com Arado; Grande Prémio do Conto Camilo Castelo Branco APE/C. M. de Vila Nova de Famalicão 2010, com O Porco de Erimanto; e Prémio Autores SPA 2014 (Melhor livro de Poesia), com Gaveta do Fundo.
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Antes que o Rio Seque - Poesia ReunidaÉ como um longo canto à natureza. Percorremos as paisagens idílicas pela mão da voz poética, que nos pede para contemplar tudo o que de belo o mundo onde habitamos tem: os bichos, as planícies, o orvalho matinal... E respondemos ao irresistível chamamento, pois queremos abraçar toda essa torrente, todo esse mundo, antes que o rio seque. -
A Loba e o RouxinolO romance "A Loba e o Rouxinol" tem por cenário o mundo fechado de uma pequena vila transmontana, nos anos 60 do século passado. A história é contada na primeira pessoa por um filho da personagem central, após a morte deste. Trata-se de um comerciante À moda antiga, hirto numa certa concepção de dignidade profissional e incapaz de se modernizar, o que leva a loja a uma progressiva decadência. Para além disso, desenvolveu um processo psicopático de identificação com a casa onde vivia com a família e da qual foi forçado a mudar-se. Repercutem, nesta história e neste cenário, diversas referências fundamentais que fizeram a história dos anos 60 em Portugal, como a emigração, a guerra colonial, a ditadura e a consequente dialéctica situação/oposição, filtrado tudo pela visão conservadora e provinciana da vilória, que o narrador, que fez estudos universitários em Coimbra, em plena crise académica de 62, procura pôr a nu. -
O Diabo Veio ao EnterroEsta obra não é de fácil catalogação. Por um lado, é inegavelmente um livro de contos - uns tirados da imaginação do autor, outros recolhidos da tradição popular nordestina. Por outro lado, pode ver-se também como uma colectânea de crónicas do quotidiano de uma aldeia do concelho de Macedo de Cavaleiros (Grijó, mais precisamente) em pleno Verão. -
Por Esta Terra Adentro: páginas transmontanasColectânea de textos sobre temas transmontanos, no campo da paisagem física e humana, da história e da etnografia, incluindo ainda uma secção dedicada à literatura de Trás-os-Montes e Alto Douro. -
O Porco de ErimantoUm coração doente é o melhor tesouro que um homem pode ambicionar. Bem sei que eles acham que não. Ainda ontem esteve um deles a falar na televisão: que estamos em Maio, que Maio é o mês do coração, que é preciso olharmos pelo coração, vigiar o peso, fazer exercício, não fumar Tretas! O que eles querem dessa forma é despojar-nos de uma das nossas maiores riquezas, que é a morte rápida, oportuna e inopinada, provocada por um enfarte, para nos entregar de mão beijada à morte lenta, preenchida de dores, provocada por algum cancro ou coisa assim. Ou, se calhar ainda pior, à vida puramente vegetativa do mal de Alzheimer. Achas que ganhamos com a troca? Hã? Quem aceitará morrer às dentadas de um cão rafeiro, podendo morrer arrebatado por uma águia-real? -
Cobra-d´ÁguaA.M. Pires Cabral apresenta ao público o seu quinto livro de poesia moderna na medida exacta em que, dialogando com a tradição lírica, assume toda a tragédia que é tanto mais portuguesa quanto universal. -
Os Anjos Nus"SEI QUE NÃO VAI ACREDITAR numa só palavra do que lhe vou contar. Mas não se inquiete por causa disso: eu também não acredito. Somos dois a não acreditar. Mas esta história contou-ma um velhote, da última vez que estive na aldeia, em Trás-os-Montes, no Natal passado, e conto-lha agora a si porque sei que acha piada a estas coisas. Acha-lhes piada, mas no fundo essas mesmas coisas a que acha piada fazem-no pensar. O meu amigo é como eu: só somos cartesianos até certo ponto. Desse ponto em diante, temos na cabeça as mesmas minhocas que outro homem qualquer. Uns levam o fardo da razão mais perto, outros mais longe; mas acaba sempre por chegar um momento em que a razão vacila, a dúvida se instala e a irracionalidade toma conta de nós. Comigo assim é, e consigo também. Acertei? Claro que acertei. Mesmo que diga que não. Somos todos muito racionais, a razão é a única soberana a quem prestamos vassalagem, etc. e tal, mas todos temos uma porta das traseiras por onde entram coisas irracionais como a fé, a crendice, o palpite. Não a ponto de acreditarmos nelas, claro; mas a ponto de lhes acharmos piada que se calhar é o primeiro passo para as legitimar, o diabo seja surdo." -
A Noite em que a Noite Ardeu«Epígrafe Se algum dia alguém chegar a ler este dizer agreste, provavelmente pensará: que pálida lanterna; não é deste metal que a luz é feita. Calma. Pois não. Mas quem assiduamente visita os desvãos onde a noite se acoita não precisa de mais que o clarão desta treva, desta cegueira sem cão e sem bengala, para no escuro rasgar o seu caminho e nele ir progredindo às arrecuas.» -
Singularidades«Singularidades», o novo livro do conhecido prosador e poeta A. M. Pires Cabral, cuja obra se encontra em grande parte publicada na Livros Cotovia, reúne oito contos, oito histórias singulares de personagens com nomes tão curiosos como Hipólito Clemente ou Basileu Simões, onde se retrata encontros entre o moderno e o antigo, ou entre a ironia e a seriedade, com desfechos que não raras vezes surpreendem.«Não te abracei, pronto. Fiquei a ver-te seguir, arrastando ligeiramente a perna esquerda (sequela de algum AVC?), em direcção ao teu novo ofício - e a pensar em como esse ofício era coisa tão contrária a tudo o que apetecêramos para nós quando tínhamos vinte e dois anos, "for we were young and sure to have our way", e em como os sonhos são, tal como os corpos em que se alojam, matéria altamente biodegradável.»A. M. Pires Cabral
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O Príncipe da Democracia - Uma Biografia de Francisco Lucas PiresNenhuma outra figura foi intelectualmente tão relevante para a afirmação da direita liberal em Portugal como Francisco Lucas Pires. Forjado numa família que reunia formação clássica e espírito de liberdade, tornou-se um constitucionalista inovador, um jurista criativo, um político de dimensão intelectual rara à escala nacional e europeia – e, acima de tudo, um cidadão inconformado com o destino de Portugal.Em O Príncipe da Democracia, Nuno Gonçalo Poças reconstitui o percurso e as ideias deste homem invulgar, cujo legado permanece em grande parte por cumprir, e passa em revista os seus sucessos e fracassos. O resultado é um livro que, graças à absoluta contemporaneidade do pensamento do biografado, nos ajuda a compreender as grandes questões que o país e a Europa continuam a enfrentar, mostrando-nos, ao mesmo tempo, uma elegância política difícil de conceber quando olhamos hoje à nossa volta.Mais do que um retrato elucidativo de Lucas Pires, que partiu precocemente aos 53 anos, este é um documento fundamental para responder aos desafios do futuro, numa altura em que o 25 de Abril completa meio século. -
A DesobedienteA dor e o abandono chegaram cedo à vida de Teresinha, a filha mais velha de um dos mais prestigiados médicos da capital e de uma mulher livre e corajosa, descendente dos marqueses de Alorna, que nas ruas e nos melhores salões de Lisboa rivalizava em encanto com Natália Correia. A menina que haveria de ser poetisa vê a morte de perto quando ainda mal sabe andar, sobrevive às depressões da mãe, chegando mesmo a comer uma carta para a proteger. É dura e injustamente castigada e as cicatrizes hão de ficar visíveis toda a vida, de tal modo que a infância e a adolescência de Maria Teresa Horta explicam quase todas as opções que tomou. Sobreviver ao difícil divórcio dos pais, duas figuras incomuns, com as quais estabeleceu relações impressionantes de tão complexas, foi apenas uma etapa.Mas quanto deste sofrimento a leva à descoberta da poesia? E quanto está na origem da voz ativista de uma jovem que há de ser uma d’As Três Marias, as autoras das famosas «Novas Cartas Portuguesas», e protagonistas do último caso de perseguição a escritores em Portugal, que recebeu apoio internacional de mulheres como Simone de Beauvoir e Marguerite Duras? A insubmissa, que se envolve por acaso com o PCP e mantém intensa atividade política no pré e no pós-25 de Abril; a poetisa, a mãe, a mulher que constrói um amor desmedido por Luís de Barros; a grande escritora a quem os prémios e condecorações chegaram já tarde (ainda que, em alguns casos, a tempo de serem recusados), entre outras facetas, é a Maria Teresa Horta que Patrícia Reis, romancista e biógrafa experimentada, soube escrever e dar a conhecer, nesta biografia, com a destreza e a sensibilidade que a distinguem. -
Emílio Rui VilarMemórias do país da ditadura e do alvor da democracia em Portugal. A vida de Emílio Rui Vilar atravessou as principais mudanças da segunda metade do século XX. Contado na primeira pessoa, um percurso fascinante pelo fim do regime de Salazar e Caetano e pela revolução de Abril.Transcrevendo entrevistas realizadas ao longo de vários meses, este livro recolhe o relato na primeira pessoa de uma trajetória que percorreu o início da contestação ao Estado Novo no meio universitário, a Guerra Colonial, a criação da SEDES, o fracasso da “primavera marcelista” e os primeiros anos do novo regime democrático saído do 25 de Abril, onde Emílio Rui Vilar desempenhou funções governativas nos primeiros três Governos Provisórios e no Primeiro Governo Constitucional. No ano em que se celebram cinco décadas de democracia em Portugal, este livro é um importante testemunho sobre dois regimes, sobre o fim de um e o nascimento de outro. -
Oriente PróximoCom a atual guerra em Gaza, este livro, Oriente Próximo ganhou uma premente atualidade. A autora, a maior especialista portuguesa sobre o assunto, aborda o problema não do ponto de vista geral, mas a partir da vida concreta das pessoas judeus, árabes e outras nacionalidades que habitam o território da Palestina. Daí decorre que o livro se torna de leitura fascinante, como quem lê um romance.Nunca se publicou nada em Portugal com tão grande qualidade. -
Savimbi - Um homem no Seu MartírioSavimbi foi alvo de uma longa e destrutiva campanha de propaganda, desinformação e acções encobertas de segurança com o objectivo de o desacreditar e isolar. Se não aceitasse o exílio ou a sujeição, como foi o objectivo falhado dessa campanha, o fim último era matá-lo, como aconteceu: premeditadamente! Para que a sua «morte em combate» não suscitasse empatia, foi como um chefe terrorista da laia de Bin Laden que a sua morte foi apresentada – artifício da propaganda que tirou partido da memória emocional recente dos atentados da Al Qaeda, na América. Julgado com honestidade, Savimbi nunca foi o «bandido» por que o fizeram passar. O manifesto apreço que personalidades de indiscutível clareza moral, como Mandela, tiveram por ele prova-o. O MPLA elegeu-o como adversário temido e quis apagá-lo do seu caminho! Não pelos crimes a que o associaram. O que o MPLA e o seu regime temiam eram as suas qualidades e carisma, a sua representatividade política e o prestígio externo que granjeara. Como outros grandes da História, Savimbi também tinha defeitos e cometia erros. Mas no deve e haver as suas qualidades eram preponderantes." -
Na Cabeça de MontenegroLuís Montenegro, o persistente.O cargo de líder parlamentar, no período da troika, deu-lhe o estatuto de herdeiro do passismo. Mas as relações com Passos Coelho arrefeceram e o legado que agora persegue é outro e mais antigo. Quem o conhece bem diz que Montenegro é um fiel intérprete da velha tradição do PPD, o partido dos baronatos do Norte. Recusou por três vezes ser governante e por duas vezes foi derrotado em autárquicas. Já fez e desfez alianças, esteve politicamente morto e ressuscitou. Depois de algumas falsas partidas chegou à liderança. Mas tudo tem um preço e é o próprio a admitir que se questiona com frequência: será que vale a pena? -
Na Cabeça de VenturaAndré Ventura, o fura-vidas.Esta é a história de uma espécie de Fausto português, que foi trocando aquilo em que acreditava por tudo o que satisfizesse a sua ambição. André Ventura foi um fura-vidas. A persona mediática que criou nasceu na CMTV como comentador de futebol. Na adolescência convertera-se ao catolicismo, a ponto de se tornar um fundamentalista religioso. Depois de ganhar visibilidade televisiva soube pô-la ao serviço da sua ambição de notoriedade. Passou pelo PSD e foi como candidato do PSD que descobriu que havia um mercado eleitoral populista e xenófobo à espera de alguém que viesse representá-lo em voz alta. Assim nasceu o Chega. -
Contra toda a Esperança - MemóriasO livro de memórias de Nadejda Mandelstam começa, ao jeito das narrativas épicas, in media res, com a frase: «Depois de dar uma bofetada a Aleksei Tolstói, O. M. regressou imediatamente a Moscovo.» Os 84 capítulos que se seguem são uma tentativa de responder a uma das perguntas mais pertinentes da história da literatura russa do século XX: por que razão foi preso Ossip Mandelstam na fatídica noite de 1 de Maio de 1934, pouco depois do seu regresso de Moscovo? O presente volume de memórias de Nadejda Mandelstam cobre, assim, um arco temporal que medeia entre a primeira detenção do marido e a sua morte, ou os rumores sobre ela, num campo de trânsito próximo de Vladivostok, algures no Inverno de 1938. Contra toda a Esperançaoferece um roteiro literário e biográfico dos últimos quatro anos de vida de um dos maiores poetas do século XX. Contudo, é mais do que uma narrativa memorialística ou biográfica, e a sua autora é mais do que a viúva mítica, que memorizou a obra proibida do poeta perseguido, conseguindo dessa forma preservar toda uma tradição literária. Na sua acusação devastadora ao sistema político soviético, a obra de Nadejda Mandelstam é apenas igualada por O Arquipélago Gulag. O seu método de composição singular, e a prosa desapaixonada com que a autora sonda o absurdo da existência humana, na esteira de Dostoievski ou de Platónov, fazem de Contra toda a Esperança uma das obras maiores da literatura russa do século XX.
