Pathosformel
Nuno Crespo: «O trabalho de Vasco Araújo é um desafio. E é-o na forma como permanentemente interpela as nossas concepções acerca do que é um sentimento, uma emoção e como as suas obras interrogam os mecanismos com que construímos a nossa persona.»
Textos: Livro — Daniel Ribas, Maria João Madeira, Nuno Crespo, Pedro Faro, e Vasco Araújo; Caderno — Vasco Araújo a partir de Cesare Pavese, Douglas Sirk, Grada Kilomba, José Pedro Serra, Luís Miguel Nava; e textos originais de Diogo Bento, José Maria Vieira Mendes, Rafael Esteves Martins.
Pathosformel é o título de um projecto complexo que Vasco Araújo desenvolveu na Escola das Artes da Universidade Católica Portuguesa. Dele fazem parte um filme, uma instalação e este caderno de pesquisa [reproduzido no livro] criado pelo artista durante a preparação das obras e seu desenvolvimento.
Podemos pensar nesta publicação como uma espécie de guião ou, se se preferir, um caderno de campo. Nele o artista ensaia não questões técnicas relativas a posição de câmara, indicações sobre representação ou luz, mas materializa uma disposição poética que, subterraneamente, alimentou as obras que desenvolveu. Disposição essa que se prolonga e se expressa em todas as peças da ficção sentimental proposta por este artista, mas que igualmente cria um possível enquadramento para a compreensão de uma parte significativa do trabalho que tem vindo a desenvolver ao longo da sua carreira.
Um agradecimento especial ao Vasco Araújo. Ao longo dos quase dois anos em que conviveu na EA contagiou-nos com a sua intensidade e com um rigoroso e muito inspirador método de trabalho. Entre pandemia, confinamento e recolher obrigatório, concretizou uma obra complexa que nos interpela de modos inesperados. A intensidade da experiência que nos propõe é fruto da inquietação que este artista transporta para as suas obras e que toma o espectador por inteiro. Não podemos senão estar gratos a este artista pelo modo como, ao longe, questiona a textura emocional humana e nos lança a todos numa viagem emocional interna.
[Nuno Crespo]
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Para Grandes Solidões Magníficos EspelhosDurante vários meses, Carmo Sousa Lima (psicanalista) e Vasco Araújo (artista plástico) conversaram sobre a infância e os mistérios que a tecem sem se deixarem ler; sobre a delicadeza; sobre o enigma que parece estar no coração de tudo; sobre a virtude da incerteza, a coragem, o fascínio da fragilidade; sobre os medos que cruzam a vida em todas as direcções. A obra em vídeo de Vasco Araújo hoje uma referência central no panorama da arte contemporânea inspirou muitas destas conversas. Sem que tivesse sido planeado, o livro revelou-se um surpreendente statement sobre a experiência criativa de Vasco Araújo. Longos anos de experiência clínica, e um olhar de autora de poesia, atravessam cada linha deste lvro. Olhada em conjunto, a conversa com as suas hesitações, inseguranças, mudanças bruscas de direcção reflecte sem o quererem, a experiência da vulnerabilidade com que os dois interlocutores vêem, de dentro, a vida. João Sousa Monteiro (psicanalista) colaborou na última, e mais extensa, conversa deste livro. -
Botânica«Publicado por ocasião da exposição Botânica, concebida por Vasco Araújo para o Museu Nacional de Arte Contemporânea - Museu do Chiado, este livro procura reflectir sobre os interesses e as motivações de um acto criativo de grande profundidade, orientado para uma revisão crítica sobre a nossa memória colectiva, seus mitos e sedimentações mais nefastas. O conceito e a imagem perene de um «exótico» polémico, que nos aprisiona ainda, de alguma maneira, o sentido e o prisma, são elementos trabalhados pelo artista em direcção a uma arqueologia dos significados, revelando simultaneamente uma extraordinária convicção imagética, social e política.» David Santos «Botânica é uma série incómoda, desafiante da nossa habitual modorra perante um passado comprometedor. As imagens com que o artista nos confronta são, ainda hoje, polémicas, muitas foram resguardadas do olhar das gerações que se seguiram ao império e à guerra colonial, como forma de desresponsabilizar consciências e introduzir semânticas opacas de luso-tropicalismo e lusofonia. Existe, na obra de Vasco Araújo, um permanente esforço de conhecimento do Outro, afirmando-se como um dos raros artistas, no panorama contemporâneo nacional, com importantes contributos para a cultura de pensamento sobre o mesmo. [ ] O tema da discriminação está presente em grande parte do trabalho de Vasco Araújo, nas suas mais variadas facetas e contextos [ ]. A violência, a sexualidade, o género, a educação, a violação de direitos humanos, as estratégias de submissão, a anulação de culturas e pensamentos, de estruturas políticas, sociais e económicas, bem como a construção de estereótipos na premissa do «exótico» são os temas desta nova série.» Emília Tavares -
Todas as Histórias/All the StoriesO melhor que podemos fazer, enquanto não temos um conhecimento perfeito do nosso ser, e do nosso ser em confronto com os outros, é conceber um princípio de perplexidade, viver em perplexidade, obrigando-nos a escolher sempre o caminho do conhecimento e não da ignorância.[Vasco Araújo]Este livro foi publicado por ocasião da exposição «Vasco Araújo: Todas as Histórias», realizada na Fundação Carmona e Costa, em Lisboa, com curadoria de Pedro Faro, entre 3 de Fevereiro e 17 de Março de 2018.[...] esta exposição, em forma de instalação, pretende mostrar as várias séries de obras – alguns exemplares de cada uma das várias séries – desenvolvidas pelo artista, em que o desenho aparece como dispositivo central na criação de discurso. [...]As obras de Vasco Araújo apresentadas nesta exposição são sobre a forma como nos relacionamos com a memória, com a história e com as estórias, com os objectos, com os seus indícios narrativos; são sobre os fragmentos, sobre as suas permanências, sobre o que fica, como fica e sobre como mostramos e valorizamos certos aspectos do que fica. São construções, ficções impossíveis. São sobre o amor, sobre a vida e a sua ausência.[Pedro Faro]Cada peça desta exposição fala de uma forma de conhecer no centro da qual parece estar a interrogação e a incerteza. Cada afirmação vive, em todas estas peças, como vozes da incerteza. «Todas as Histórias»; a série das Family; a filmagem dos vasos gregos. A melhor forma de conhecer é aqui talvez sugerida como a melhor forma de interrogar – de se interrogar.Esta exposição pode também ser vista como um ensaio acerca da inutilidade da afirmação – acerca da indelicadeza da afirmação.[João Sousa Monteiro]É aquilo a que somos instigados aqui, em todas estas histórias onde a voz que diz «em voz alta» não vem só temperar o primado da imagem; vem também enriquecê-lo com dimensões inconfortáveis e embaraçosas que são tão cuidadosamente dissimuladas ao olhar.A escolha da via do conhecimento acarreta sofrimento, mas o saber infértil e a ignorância não só não resolvem nada, como condenam à escuridão, ao eterno retorno do mesmo ou a uma espectralidade sem fim.[Katherine Sirois] -
Notebook - La Morte del Desiderio(Texto baseado em poemas de Kavafis e Al Berto) Este livro foi publicado por ocasião da exposição «Vasco Araújo», realizada no M-Museum Leuven, com curadoria de Eva Wittocx, entre 28 de Setembro de 2018 e 17 de Março de 2019. 1.Estive alguns momentos a observar um grupo de rostos impressos por fisionomias fortes. Rostos e faces encaixadas em cabelos bem desenhados que suspendiam homens/cabeças que anunciavam figuras e tempos ilustres de um passado na história mas presente na memória. As faces eram austeras. Os olhos sem cor na cor em que a pedra nos olha. Por entre os membros deste grupo silencioso estava um que se distinguia pelo olhar incisivo pela expressão mais intensa. Era um homem/cabeça sem título, sem nome. Um leve movimento a moldar o rosto distinguia nos seus olhos um momento agora inexpugnável. InconnuO carácter afirmado da fisionomia convida-nos a ver este homem comum em primeiro plano. […] 40.O seu conhecimento, a ninguém o deu, mas a possibilidade dele, a todos. O mundo pertenceu-lhe, a memória revela-me essa herança, esse bem. Hoje, fica tudo por fazer. Faça-se o que se fizer, reconstrói-se sempre o monumento à nossa maneira. É uma infelicidade este conhecimento… -
Momento à Parte/A Moment ApartAna Cristina Cachola: «Na exposição Momento à Parte, como em grande parte da obra de Vasco Araújo, a textualidade, a visualidade e a sonoridade sobrepõem-se para que as múltiplas instâncias discursivas que concorrerem para a criação de um sistema intersígnico revelem a complexidade do mundo.»Tetxos de Ana Cristina Cachola, Inês Grosso, Ivo Mesquita, Alexandre Melo, André Tecedeiro, André e. Teodósio, Chantal Pontbriand, Colin Perry, Joacine Katar Moreira, João Pinharanda, Josué Mattos, Luísa Duarte, Rafael Esteves Martins, Rosa Lleó.«No seguimento de uma carreira internacional de vinte anos, marcada numa fase inicial pelo Prémio Novos Artistas Fundação EDP em 2002, a exposição de Vasco Araújo reúne muitas das peças que o artista produziu em torno dos temas da voz, do corpo e da performance - grande parte das quais raramente vistas em Portugal, ou mesmo aqui apresentadas pela primeira vez ao público português. Deste modo, a exposição antológica constitui, a um tempo, um estimulante veículo de rememoração da coesão da totalidade da sua obra, e uma avaliação crítica da sua evolução artística, desde o primeiro vídeo realizado em 2000, O Carteiro Toca Sempre Duas Vezes, até uma performance especialmente produzida para a exposição, Libertas - a qual fez a extraordinária abertura da exposição, com mais de duzentos voluntários a cantarem publicamente o «Coro dos Escravos Hebreus», extraído da ópera Nabucco, de Giuseppe Verdi.»Pedro Gadanho«Estes trabalhos não alinham no «novo» enquanto ideia comum. Vasco Araújo colecciona princípios dúplices de construção e destruição: o adorável enquanto terror, o velado enquanto estratégia emancipatória. Evitando apropriação e representação dos outros, evidenciam-se procedimentos culturais, geológicos, dispositivos e performances sociais, etc. intrínsecos a ontologias e comportamentos preponderantes que se tentaram naturalizar como sendo únicos. Diferindo de procedimentos museológicos conservadores, este «projecto expositivo» contínuo não é de afirmação mas de abandono; não um abandono pela demissão de tomada de posição ou neutralização mas pela intensificação da negatividade do projecto identitário.»André e. Teodósio
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Arte, Religião e Imagens em Évora no tempo do Arcebispo D. Teodósio de Bragança, 1578-1601D. Teotónio de Bragança (1530-1602), Arcebispo de Évora entre 1578 e 1602, foi um grande mecenas das artes sob signo do Concílio de Trento. Fundou o Mosteiro de Scala Coeli da Cartuxa, custeou obras relevantes na Sé e em muitas paroquiais da Arquidiocese, e fez encomendas em Lisboa, Madrid, Roma e Florença para enriquecer esses espaços. Desenvolveu um novo tipo de arquitectura, ser- vindo-se de artistas de formação romana como Nicolau de Frias e Pero Vaz Pereira. Seguiu com inovação um modelo «reformado» de igrejas-auditório de novo tipo com decoração integral de interiores, espécie de ars senza tempo pensada para o caso alentejano, onde pintura a fresco, stucco, azulejo, talha, imaginária, esgrafito e outras artes se irmanam. Seguiu as orientações tridentinas de revitalização das sacrae imagines e enriqueceu-as com novos temas iconográficos. Recuperou lugares de culto matricial paleo-cristão como atestado de antiguidade legitimadora, seguindo os princípios de ‘restauro storico’ de Cesare Baronio; velhos cultos emergem então, caso de São Manços, São Jordão, São Brissos, Santa Comba, São Torpes e outros alegadamente eborenses. A arte que nasce em Évora no fim do século XVI, sob signo da Contra-Maniera, atinge assim um brilho que rivaliza com os anos do reinado de D. João III e do humanista André de Resende. O livro reflecte sobre o sentido profundo da sociedade de Évora do final de Quinhentos, nas suas misérias e grandezas. -
Cartoons - 1969-1992O REGRESSO DOS ICÓNICOS CARTOONS DE JOÃO ABEL MANTA Ao fim de 48 anos, esta é a primeira reedição do álbum Cartoons 1969‑1975, publicado em Dezembro de 1975, o que significa que levou quase tanto tempo a que estes desenhos regressassem ao convívio dos leitores portugueses como o que durou o regime derrubado pela Revolução de Abril de 1974.Mantém‑se a fidelidade do original aos cartoons, desenhos mais ou menos humorísticos de carácter essencialmente político, com possíveis derivações socioculturais, feitos para a imprensa generalista. Mas a nova edição, com alguns ajustes, acrescenta «todos os desenhos relevantes posteriores a essa data e todos os que, por razões que se desconhece (mas sobre as quais se poderá especular), foram omitidos dessa primeira edição», como explica o organizador, Pedro Piedade Marques, além de um aparato de notas explicativas e contextualizadoras. -
Constelações - Ensaios sobre Cultura e Técnica na ContemporaneidadeUm livro deve tudo aos que ajudaram a arrancá-lo ao grande exterior, seja ele o nada ou o real. Agora que o devolvo aos meandros de onde proveio, escavados por todos sobre a superfície da Terra, talvez mais um sulco, ou alguma água desviada, quero agradecer àqueles que me ajudaram a fazer este retraçamento do caminho feito nestes anos de crise, pouco propícios para a escrita. […] Dá-me alegria o número daqueles a que precisei de agradecer. Se morremos sozinhos, mesmo que sejam sempre os outros que morrem — é esse o epitáfio escolhido por Duchamp —, só vivemos bem em companhia. Estes ensaios foram escritos sob a imagem da constelação. Controlada pelo conceito, com as novas máquinas como a da fotografia, a imagem libertou-se, separou-se dos objectos que a aprisionavam, eles próprios prisioneiros da lógica da rendibilidade. Uma nova plasticidade é produzida pelas imagens, que na sua leveza e movimento arrastam, com leveza e sem violência, o real. O pensamento do século XX propôs uma outra configuração do pensar pela imagem, desenvolvendo métodos como os de mosaico, de caleidoscópio, de paradigma, de mapa, de atlas, de arquivo, de arquipélago, e até de floresta ou de montanha, como nos ensinou Aldo Leopoldo. Esta nova semântica da imagem, depois de milénios de destituição pelo platonismo, significa estar à escuta da máxima de Giordano Bruno de que «pensar é especular com imagens». Em suma, a constelação em acto neste livro é magnetizada por uma certa ideia da técnica enquanto acontecimento decisivo, e cada ensaio aqui reunido corresponde a uma refracção dessa ideia num problema por ela suscitado, passando pela arte, o corpo, a fotografia e a técnica propriamente dita. Tem como único objectivo que um certo pensar se materialize, que este livro o transporte consigo e, seguindo o seu curso, encontre os seus próximos ou não. [José Bragança de Miranda] -
Esgotar a Dança - A Perfomance e a Política do MovimentoDezassete anos após sua publicação original em inglês, e após sua tradução em treze línguas, fica assim finalmente disponível aos leitores portugueses um livro fundamental para os estudos da dança e seminal no campo de uma teoria política do movimento.Nas palavras introdutórias à edição portuguesa, André Lepecki diz-nos: «espero que leitores desta edição portuguesa de Exhausting Dance possam encontrar neste livro não apenas retratos de algumas performances e obras coreográficas que, na sua singularidade afirmativa, complicaram (e ainda complicam, nas suas diferentes sobrevidas) certas noções pré-estabelecidas, certos mandamentos estéticos, do que a dança deve ser, do que a dança deve parecer, de como bailarines se devem mover e de como o movimento se deve manifestar quando apresentado no contexto do regime da 'arte' — mas espero que encontrem também, e ao mesmo tempo, um impulso crítico-teórico, ou seja, político, que, aliado que está às obras que compõem este livro, contribua para o pensar e o fazer da dança e da performance em Portugal hoje.» -
Siza DesignUma extensa e pormenorizada abordagem à obra de design do arquiteto Álvaro Siza Vieira, desde as peças de mobiliário, de cerâmica, de tapeçaria ou de ourivesaria, até às luminárias, ferragens e acessórios para equipamentos, apresentando para cada uma das cerca de 150 peças selecionadas uma detalhada ficha técnica com identificação, descrição, materiais, empresa distribuidora e fotografias, e integrando ainda um conjunto de esquissos originais nunca publicados e uma entrevista exclusiva ao arquiteto.CoediçãoArteBooks DesignCoordenação Científica + EntrevistaJosé Manuel PedreirinhoDesign GráficoJoão Machado, Marta Machado -
A Vida das Formas - Seguido de Elogio da MãoEste continua a ser o livro mais acessível e divulgado de Focillon. Nele o autor expõe em pormenor o seu método e a sua doutrina. Ao definir o carácter essencial da obra de arte como uma forma, Focillon procura sobretudo explicitar o carácter original e independente da representação artística recusando a interferência de condições exteriores ao acto criativo. Afastando-se simultaneamente do determinismo sociológico, do historicismo e da iconologia, procura demonstrar que a arte constitui um mundo coerente, estável e activo, animado por um movimento interno próprio, no fundo do qual a história política ou social apenas serve de quadro de referência. Para Focillon a arte é sempre o ponto de partida ou o ponto de chegada de experiências estéticas ligadas entre si, formando uma espécie de genealogias formais complexas que ele designa por metamorfoses. São estas metamorfoses que dão à obra de arte o seu carácter único e a fazem participar da evolução universal das formas.

