Spielraum
«A obra é algo que está sempre em curso – refiro-me ao movimento enquanto desobediência, enquanto actualização.»
Miguel Ângelo Rocha, Trabalho, 2015
Este livro é publicado na sequência da exposição «Spielraum», de Miguel Ângelo Rocha, realizada na galeria águas-livres 8, em Lisboa, de 3 a 24 de Março de 2018 (momento 1) e de 29 de Março a 21 de Abril de 2018 (momento 2).
Spielraum é uma palavra alemã com diversos significados. Entre as traduções mais comuns estão «campo de acção», «campo de manobra» e «folga», mas facilmente esta lista é extensível a outras acepções como «margem», «latitude», «alcance», playground…
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Talvez pelas razões apontadas na abertura deste texto sobre os diferentes usos ou possibilidades da palavra Spielraum, o projecto expositivo rapidamente ganhou contornos amplos mas bem definidos: uma exposição que se desdobraria
em duas. Se, por um lado, seriam apresentadas obras que seriam pontos de comunicação e de ligação entre as duas exposições (que em rigor é uma só), por outro lado, a exposição abarcaria obras em diversos suportes, conectando pontos surpreendentes na prática de M.A.R.
A dois tempos, num mesmo espaço, a galeria águas-livres 8 localizada no Bloco das Águas Livres – um projecto de Nuno Teotónio Pereira e Bartolomeu Costa Cabral, e acrescente-se agora um terceiro momento expositivo e um segundo espaço: o deste livro – que entendemos como documento e extensão da exposição, em que se reúne um conjunto heteróclito de trabalhos nos diversos suportes da escultura, desenho e fotografia, passando também pelo som. Os trabalhos reunidos correspondem a um largo arco temporal na prática de M.A.R.: desde o desenho realizado (e posto de parte) no final dos anos 80, até obras concebidas especificamente para a exposição, passando por um mapeamento de outros trabalhos mais ou menos recentes. Não tendo uma direcção retrospectiva, a exposição adoptou antes a imagem do salto de tigre entre tempos díspares que se interconectam por acção de uma energia ou pela mão de quem desenha, conecta: pensa.
[Maria do Mar Fazenda]
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Quatro Ímpares“Nestes trabalhos, o artista dá continuidade a uma investigação e prática artísticas, desenvolvidas desde o início da década de 90 em ininterrupto diálogo crítico com artistas modernos e contemporâneos. Da integração, transformação ou transposição de referências múltiplas, nascem, nos diversos núcleos do trabalho, as suas próprias linguagens plásticas. Deste modo, o artista propõe uma reinvenção ou renovação das disciplinas do desenho e da escultura, esta última, nos objectos de parede expostos, como expansão do campo do desenho para o espaço real. A codificação apurada das linguagens escolhidas permite ao artista, por um lado, circunscrever as experiências estruturantes da sua sensibilidade e natureza, por outro, resguardar o âmago fundador do seu fazer. Na confluência energética de gestos ora poderosos ora mais discretos, ideia, “sensibilidade específica e linguagem plástica perdem a sua identidade separada”, articulando de modo único as suas preocupações em torno do corpo e das suas projecções.”Gisela Rosenthal -
Pedras e Batatas / O Ruído dos SonhosMiguel Ângelo Rocha: «Este livro apresenta um projecto em dois momentos (duas exposições): Pedras e Batatas, na Galeria 111, Lisboa, e O Ruído dos Sonhos, no CAPC (Sede e Sereia), Coimbra. Para a exposição no CAPC, convidei os artistas Isabel Madureira Andrade e Russell Floersch. O envolvimento destes artistas, assim como as suas obras, completam o projecto.» Na exacta irregularidade da forma que, recortada em papel branco, ocupa quase um terço da margem inferior do desenho/colagem, uma seta põe em contacto um título — Stones and Potatoes — e os registos sobrepostos em que, da leitura, julgamos reconhecer uma pedra e uma batata. Neste sentido, vinda das palavras, a seta aponta para as imagens sugerindo aos olhos a direcção que as concretiza como figuras prováveis da estabilidade semântica conferida por um título. Mas se ignorarmos essa direcção e começarmos por nos deter na improbabilidade das figuras, apenas duvidando das palavras — já não título mas legenda — nos podemos aproximar da observação do seu movimento, considerado por Miguel Ângelo Rocha um programa de desobediência. E se, à partida, o movimento resulta tanto da obra a fazer-se como do seu continuado devir, a desobediência é a condição que nela inscreve as múltiplas divergências que comprometem a imobilidade das palavras, das imagens e dos objectos, mantendo intacto o rigor da sua presença. [Maria João Gamito] Sem adoptar o plano de uma exposição colectiva, em O Ruído dos Sonhos, Miguel Ângelo Rocha, Isabel Madureira Andrade e Russell Floersch encontram-se, como se um mistério gravítico, algum ímpeto magnético que habite e agite o seu interior e, contudo, não dominam nem de que tomam posse, os atraia, e, enfim, revele o invariante que eclode do particular. […] O Ruído dos Sonhos é uma manifestação de Formas, contêm ideias, porém alheias à metafísica. São coisas, matérias e formas imediatas, sem idealismo ou intangibilidade. [Ricardo Escarduça]
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NovidadeArte, Religião e Imagens em Évora no tempo do Arcebispo D. Teodósio de Bragança, 1578-1601D. Teotónio de Bragança (1530-1602), Arcebispo de Évora entre 1578 e 1602, foi um grande mecenas das artes sob signo do Concílio de Trento. Fundou o Mosteiro de Scala Coeli da Cartuxa, custeou obras relevantes na Sé e em muitas paroquiais da Arquidiocese, e fez encomendas em Lisboa, Madrid, Roma e Florença para enriquecer esses espaços. Desenvolveu um novo tipo de arquitectura, ser- vindo-se de artistas de formação romana como Nicolau de Frias e Pero Vaz Pereira. Seguiu com inovação um modelo «reformado» de igrejas-auditório de novo tipo com decoração integral de interiores, espécie de ars senza tempo pensada para o caso alentejano, onde pintura a fresco, stucco, azulejo, talha, imaginária, esgrafito e outras artes se irmanam. Seguiu as orientações tridentinas de revitalização das sacrae imagines e enriqueceu-as com novos temas iconográficos. Recuperou lugares de culto matricial paleo-cristão como atestado de antiguidade legitimadora, seguindo os princípios de ‘restauro storico’ de Cesare Baronio; velhos cultos emergem então, caso de São Manços, São Jordão, São Brissos, Santa Comba, São Torpes e outros alegadamente eborenses. A arte que nasce em Évora no fim do século XVI, sob signo da Contra-Maniera, atinge assim um brilho que rivaliza com os anos do reinado de D. João III e do humanista André de Resende. O livro reflecte sobre o sentido profundo da sociedade de Évora do final de Quinhentos, nas suas misérias e grandezas. -
Cartoons - 1969-1992O REGRESSO DOS ICÓNICOS CARTOONS DE JOÃO ABEL MANTA Ao fim de 48 anos, esta é a primeira reedição do álbum Cartoons 1969‑1975, publicado em Dezembro de 1975, o que significa que levou quase tanto tempo a que estes desenhos regressassem ao convívio dos leitores portugueses como o que durou o regime derrubado pela Revolução de Abril de 1974.Mantém‑se a fidelidade do original aos cartoons, desenhos mais ou menos humorísticos de carácter essencialmente político, com possíveis derivações socioculturais, feitos para a imprensa generalista. Mas a nova edição, com alguns ajustes, acrescenta «todos os desenhos relevantes posteriores a essa data e todos os que, por razões que se desconhece (mas sobre as quais se poderá especular), foram omitidos dessa primeira edição», como explica o organizador, Pedro Piedade Marques, além de um aparato de notas explicativas e contextualizadoras. -
Constelações - Ensaios sobre Cultura e Técnica na ContemporaneidadeUm livro deve tudo aos que ajudaram a arrancá-lo ao grande exterior, seja ele o nada ou o real. Agora que o devolvo aos meandros de onde proveio, escavados por todos sobre a superfície da Terra, talvez mais um sulco, ou alguma água desviada, quero agradecer àqueles que me ajudaram a fazer este retraçamento do caminho feito nestes anos de crise, pouco propícios para a escrita. […] Dá-me alegria o número daqueles a que precisei de agradecer. Se morremos sozinhos, mesmo que sejam sempre os outros que morrem — é esse o epitáfio escolhido por Duchamp —, só vivemos bem em companhia. Estes ensaios foram escritos sob a imagem da constelação. Controlada pelo conceito, com as novas máquinas como a da fotografia, a imagem libertou-se, separou-se dos objectos que a aprisionavam, eles próprios prisioneiros da lógica da rendibilidade. Uma nova plasticidade é produzida pelas imagens, que na sua leveza e movimento arrastam, com leveza e sem violência, o real. O pensamento do século XX propôs uma outra configuração do pensar pela imagem, desenvolvendo métodos como os de mosaico, de caleidoscópio, de paradigma, de mapa, de atlas, de arquivo, de arquipélago, e até de floresta ou de montanha, como nos ensinou Aldo Leopoldo. Esta nova semântica da imagem, depois de milénios de destituição pelo platonismo, significa estar à escuta da máxima de Giordano Bruno de que «pensar é especular com imagens». Em suma, a constelação em acto neste livro é magnetizada por uma certa ideia da técnica enquanto acontecimento decisivo, e cada ensaio aqui reunido corresponde a uma refracção dessa ideia num problema por ela suscitado, passando pela arte, o corpo, a fotografia e a técnica propriamente dita. Tem como único objectivo que um certo pensar se materialize, que este livro o transporte consigo e, seguindo o seu curso, encontre os seus próximos ou não. [José Bragança de Miranda] -
NovidadeEsgotar a Dança - A Perfomance e a Política do MovimentoDezassete anos após sua publicação original em inglês, e após sua tradução em treze línguas, fica assim finalmente disponível aos leitores portugueses um livro fundamental para os estudos da dança e seminal no campo de uma teoria política do movimento.Nas palavras introdutórias à edição portuguesa, André Lepecki diz-nos: «espero que leitores desta edição portuguesa de Exhausting Dance possam encontrar neste livro não apenas retratos de algumas performances e obras coreográficas que, na sua singularidade afirmativa, complicaram (e ainda complicam, nas suas diferentes sobrevidas) certas noções pré-estabelecidas, certos mandamentos estéticos, do que a dança deve ser, do que a dança deve parecer, de como bailarines se devem mover e de como o movimento se deve manifestar quando apresentado no contexto do regime da 'arte' — mas espero que encontrem também, e ao mesmo tempo, um impulso crítico-teórico, ou seja, político, que, aliado que está às obras que compõem este livro, contribua para o pensar e o fazer da dança e da performance em Portugal hoje.» -
Siza DesignUma extensa e pormenorizada abordagem à obra de design do arquiteto Álvaro Siza Vieira, desde as peças de mobiliário, de cerâmica, de tapeçaria ou de ourivesaria, até às luminárias, ferragens e acessórios para equipamentos, apresentando para cada uma das cerca de 150 peças selecionadas uma detalhada ficha técnica com identificação, descrição, materiais, empresa distribuidora e fotografias, e integrando ainda um conjunto de esquissos originais nunca publicados e uma entrevista exclusiva ao arquiteto.CoediçãoArteBooks DesignCoordenação Científica + EntrevistaJosé Manuel PedreirinhoDesign GráficoJoão Machado, Marta Machado -
A Vida das Formas - Seguido de Elogio da MãoEste continua a ser o livro mais acessível e divulgado de Focillon. Nele o autor expõe em pormenor o seu método e a sua doutrina. Ao definir o carácter essencial da obra de arte como uma forma, Focillon procura sobretudo explicitar o carácter original e independente da representação artística recusando a interferência de condições exteriores ao acto criativo. Afastando-se simultaneamente do determinismo sociológico, do historicismo e da iconologia, procura demonstrar que a arte constitui um mundo coerente, estável e activo, animado por um movimento interno próprio, no fundo do qual a história política ou social apenas serve de quadro de referência. Para Focillon a arte é sempre o ponto de partida ou o ponto de chegada de experiências estéticas ligadas entre si, formando uma espécie de genealogias formais complexas que ele designa por metamorfoses. São estas metamorfoses que dão à obra de arte o seu carácter único e a fazem participar da evolução universal das formas.

