Elogio do Teatro
O teatro foi sempre violentamente atacado: há milénios que o teatro está sob suspeita, é objecto de interdição pelas igrejas, atacado por filósofos célebres como Nietzsche ou Platão, considerado por autoridades diversas como susceptível de actividade subversiva ou crítica. Esteve ligado à maior parte dos grandes empreendimentos revolucionários, que muitas vezes criaram um teatro no decorrer da sua existência. Ele está instalado, mas de uma maneira que convém proteger e amplificar. […] Temos inevitavelmente de regressar à distinção […] entre o domínio da arte, invenção de formas novas adequadas a um distanciamento em relação àquilo que nos domina, e o domínio do divertimento, que é uma parte constitutiva da propaganda dominante. O teatro exige que se active fortemente esta distinção. Porque ele é, como proclama Mallarmé, uma ‘arte superior’.
Alain Badiou
| Editora | Húmus |
|---|---|
| Coleção | Empilhadora |
| Categorias | |
| Editora | Húmus |
| Negar Chronopost e Cobrança | Não |
| Autores | Alain Badiou |
Alain Badiou (Rabat, 17 de janeiro de 1937) licenciou-se em Filosofia na École Normale Supérieure e esteve na origem da criação da Faculdade de Filosofia da Universidade de Paris VIII com Gilles Deleuze, Michel Foucault e Jean François Lyotard. Escreveu uma vasta obra em torno dos conceitos de ser, verdade e sujeito, de um modo que não sendo pós-moderno também não se insere na tradição da modernidade. Badiou esteve envolvido em inúmeras organizações políticas comentando regularmente temas da atualidade nesta área. É conhecido pela sua militância maoísta, pela sua defesa do comunismo e dos trabalhadores estrangeiros em França.
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São Paulo. A Fundação do Universalismo«Porquê São Paulo? Porquê requerer este “apóstolo”, muito mais suspeito porque, com toda a evidência, se autoproclamou como tal, e porque o seu nome está normalmente associado às dimensões mais institucionais e menos abertas do cristianismo: a Igreja, a disciplina moral, o conservadorismo social, a suspeita contra os Judeus? […]«Que uso pretendemos fazer do dispositivo da fé cristã, do qual parece impossível dissociar a figura e os textos de Paulo? Porquê invocar e analisar esta fábula? […]«O essencial para nós é que esta conexão paradoxal entre um sujeito sem identidade e uma lei sem suporte funda na história a possibilidade de uma predicação universal. O gesto inaudito de Paulo é subtrair a verdade ao controlo comunitário, quer se trate de um povo, uma cidade, um império, um território, ou uma classe social. […]«Repensar esse gesto e a sua força constituinte, desdobrando as chicanas, é seguramente uma necessidade contemporânea. […] Quais são as condições de uma singularidade universal?» -
TrumpComo podem imaginar, a vitória de Trump foi para mim, como para quase todos os meus amigos americanos, uma espécie de surpresa, que provoca, irresistivelmente, sentimentos de depressão, de medo, até mesmo de pânico… Ora, a filosofia, pelo menos a minha filosofia, declara que, ainda que sejam inevitáveis, nenhum destes afectos poderia preparar uma autêntica resposta política ao desastre. Pois estes afectos depressivos são de algum modo a atestação negativa da vitória de Trump, quase uma maneira de lhe pagar um tributo. Devemos então ultrapassar o medo, o desapontamento e a depressão. Mais do que nunca, o nosso dever é meditar acerca da situação política que é a do nosso mundo, a fim de estar em condições de fornecer uma resposta racional à questão ao mesmo tempo urgente e obcecante: de que é feito o mundo contemporâneo para que a noite passada possa ter acabado num tal horror? Como é possível que alguém como Trump possa ser eleito presidente da maior potência imperial do mundo, os Estados Unidos da América? -
Metafísica da Verdadeira Felicidade«A felicidade é sempre fruição do impossível.» «Toda a felicidade é uma vitória contra a finitude.» «Uma certa dose de desespero é a condição da verdadeira felicidade.» Neste breve ensaio, Alain Badiou revisita os principais elementos da sua filosofia, apresentando-a segundo o prisma da busca da verdadeira felicidade (como efeito produzido pela verdade na experiência de um sujeito). Na primeira parte, o autor explica porque é que esta busca, que é o objetivo de toda a vida filosófica, é hoje mais desejável do que nunca. Ao analisar os constrangimentos contemporâneos, mostra que a situação da filosofia atual é defensiva, e que isso constitui uma razão adicional para sustentar esse desejo. Na segunda parte, confronta esta visão com a dos grandes «antifilósofos» (Pascal, Rousseau, Kierkegaard, Nietzsche, Wittgenstein, Lacan), junto dos quais a filosofia encontra a dose necessária de ceticismo e provocação para evitar afundar-se no academismo. Na terceira parte, confronta-se com outra forma de crítica, aquela que preconiza que a filosofia não tem utilidade quando o que está em causa é mudar o mundo (para que as condições da verdadeira felicidade sejam finalmente acessíveis a todos). No último capítulo, o autor retoma os elementos da sua resposta à questão da «verdadeira vida», aquela que a filosofia nos promete. -
Metafísica da Verdadeira Felicidade«A felicidade é sempre fruição do impossível.» «Toda a felicidade é uma vitória contra a finitude.» «Uma certa dose de desespero é a condição da verdadeira felicidade.» Neste breve ensaio, Alain Badiou revisita os principais elementos da sua filosofia, apresentando-a segundo o prisma da busca da verdadeira felicidade (como efeito produzido pela verdade na experiência de um sujeito). Na primeira parte, o autor explica porque é que esta busca, que é o objetivo de toda a vida filosófica, é hoje mais desejável do que nunca. Ao analisar os constrangimentos contemporâneos, mostra que a situação da filosofia atual é defensiva, e que isso constitui uma razão adicional para sustentar esse desejo. Na segunda parte, confronta esta visão com a dos grandes «antifilósofos» (Pascal, Rousseau, Kierkegaard, Nietzsche, Wittgenstein, Lacan), junto dos quais a filosofia encontra a dose necessária de ceticismo e provocação para evitar afundar-se no academismo. Na terceira parte, confronta-se com outra forma de crítica, aquela que preconiza que a filosofia não tem utilidade quando o que está em causa é mudar o mundo (para que as condições da verdadeira felicidade sejam finalmente acessíveis a todos). No último capítulo, o autor retoma os elementos da sua resposta à questão da «verdadeira vida», aquela que a filosofia nos promete.
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Os CavaleirosOs Cavaleiros foram apresentados nas Leneias de 424 por um Aristófanes ainda jovem. A peça foi aceite com entusiasmo e galardoada com o primeiro lugar. A comédia surgiu no prolongamento de uma divergência entre o autor e o político mais popular da época, Cléon, em quem Aristófanes encarna o símbolo da classe indesejável dos demagogos. Denunciar a corrupção que se instaurou na política ateniense, os seus segredos e o seu êxito, eis o que preocupava, acima de tudo, o autor. Discursos, mentiras, falsas promessas, corrupção e condenáveis ambições são apenas algumas das 'virtudes' denunciadas, numa peça vibrante de ritmo que cativou o público ateniense da época e que cativa o público do nosso tempo, talvez porque afinal não tenha havido grandes mudanças na vida da sociedade humana. -
Atriz e Ator Artistas - Vol. I - Representação e Consciência da ExpressãoNas origens do Teatro está a capacidade de inventar personagens materiais e imateriais, de arquitetar narrativas que lancem às personagens o desafio de se confrontarem com situações e dificuldades que terão de ultrapassar. As religiões roubaram ao Teatro as personagens imateriais. Reforçaram os arquétipos em que tinham de se basear para conseguirem inventariar normas de conduta partilháveis que apaziguassem as ansiedades das pessoas perante o mundo desconhecido e o medo da morte.O Teatro ficou com as personagens materiais, representantes não dos deuses na terra, mas de seres humanos pulsionais, contraditórios, vulneráveis, que, apesar de perdidos nos seus percursos existenciais, procuram dar sentido às suas escolhas.Aos artesãos pensadores do Teatro cabe o desígnio de ir compreendendo a sua função ao longo dos tempos, inventando as ferramentas, esclarecendo as noções que permitam executar a especificidade da sua Arte. Não se podem demitir da responsabilidade de serem capazes de transmitir as ideias, as experiências adquiridas, às gerações vindouras, dando continuidade à ancestralidade de uma profissão que perdura. -
As Mulheres que Celebram as TesmofóriasEsta comédia foi apresentada por Aristófanes em 411 a. C., no festival das Grandes Dionísias, em Atenas. É, antes de mais, de Eurípides e da sua tragédia que se trata em As Mulheres que celebram as Tesmofórias. Aristófanes, ao construir uma comédia em tudo semelhante ao estilo de Eurípides, procura caricaturá-lo. Aristófanes dedica, pela primeira vez, toda uma peça ao tema da crítica literária. Dois aspectos sobressaem na presente caricatura: o gosto obsessivo de Eurípides pela criação de personagens femininas, e a produção de intrigas complexas, guiadas por percalços imprevisíveis da sorte. A somar-se ao tema literário, um outro se perfila como igualmente relevante, e responsável por uma diversidade de tons cómicos que poderão constituir um dos argumentos em favor do muito provável sucesso desta produção. Trata-se do confronto de sexos e da própria ambiguidade nesta matéria. -
A Comédia da MarmitaO pobre Euclião encontra uma marmita cheia de ouro, esconde-a e aferra-se a ela; passa a desconfiar de tudo e de todos. Entretanto, não se apercebe que Fedra, a sua filha, está grávida de Licónides. Megadoro, vizinho rico, apaixonado, pede a mão de Fedra em casamento, e prontifica-se a pagar a boda, já que a moça não tem dote. Euclião aceita e prepara-se o casamento. Ora acontece que Megadouro é tio de Licónides. É assim que começa esta popular peça de Plauto, cheia de peripécias e de mal-entendidos, onde se destaca a personagem de Euclião com a sua desconfiança, e que prende o leitor até ao fim. «O dinheiro não dá felicidade mas uma marmita de ouro, ao canto da lareira, ajuda muito à festa» - poderá ser a espécie de moralidade desta comédia a Aulularia cujo modelo influenciou escritores famosos (Shakespeare e Molière, por exemplo) e que, a seguir ao Anfitrião, se situa entre as peças mais divulgadas de Plauto. -
O Teatro e o Seu Duplo«O Teatro e o Seu Duplo, publicado em 1938 e reunindo textos escritos entre 1931 e 1936, é um ataque indignado em relação ao teatro. Paisagem de combate, como a obra toda, e reafirmação, na esteira de Novalis, de que o homem existe poeticamente na terra.Uma noção angular é aí desenvolvida: a noção de atletismo afectivo.Quer dizer: a extensão da noção de atletismo físico e muscular à força e ao poder da alma. Poderá falar-se doravante de uma ginástica moral, de uma musculatura do inconsciente, repousando sobre o conhecimento das respirações e uma estrita aplicação dos princípios da acupunctura chinesa ao teatro.»Vasco Santos, Posfácio -
Menina JúliaJúlia é uma jovem aristocrata que, por detrás de uma inocência aparente esconde um lado provocador. Numa noite de S. João, Júlia seduz e é seduzida por João, criado do senhor Conde e noivo de Cristina, a cozinheira da casa. Desejo, conflitos de poder, o choque violento das classes sociais e dos sexos que povoam aquela que será uma noite trágica. -
Os HeraclidasHéracles é o nome do deus grego que passou para a mitologia romana com o nome de Hércules; e Heraclidas é o nome que designa todos os seus descendentes.Este drama relata uma parte da história dos Heraclidas, que é também um episódio da Mitologia Clássica: com a morte de Héracles, perseguido pelo ódio de Euristeu, os Heraclidas refugiam-se junto de Teseu, rei de Atenas, o que representa para eles uma ajuda eficaz. Teseu aceita entrar em guerra contra Euristeu, que perece na guerra, junto com os seus filhos. -
A Comédia dos BurrosA “Asinaria” é, no conjunto, uma comédia de enganos equilibrada e com cenas particularmente divertidas, bem ao estilo de Plauto. A intriga - na qual encontramos alguns dos tipos e situações características do teatro plautino (o jovem apaixonado desprovido de dinheiro; o pai rival do filho nos seus amores; a esposa colérica odiada pelo marido; a cínica, esperta e calculadora alcoviteira; e os escravos astutos, hábeis e mentirosos) - desenrola-se em dois tons - emoção e farsa - que, ao combinarem-se, comandam a intriga através de uma paródia crescente até ao triunfo decisivo do tom cómico.