A Confissão de Lúcio
“Ricardo de Loureiro dá um tiro na sua mulher. Ao matá-la, é ele próprio quem morre, caindo aos pés do amigo Lúcio. Este será acusado de um crime que afinal nem sequer existiu... Narrativa absurda, em que o puro desejo de ficção cria personagens e as destrói, A Confissão de Lúcio aborda uma obsessão cara ao autor: a condição de duplo e o assassínio-suicídio. Numa linguagem viva, impregnada de poesia, a obra tem tanto de autobiográfica (os anos de Paris, a atracção pela morte) como de testemunho dos tempos – na sua urgência, na sua decadência, no seu frenesim sensacionista, é uma obra-prima do modernismo português.”
Semanário, 22.01.1999
| Editora | Assírio & Alvim |
|---|---|
| Coleção | Obras de Mário de Sá-Carneiro |
| Editora | Assírio & Alvim |
| Negar Chronopost e Cobrança | Não |
| Autores | Mário de Sá-Carneiro |
Poeta e ficcionista, com Fernando Pessoa e Almada Negreiros, Mário de Sá-Carneiro constitui um dos principais representantes do Modernismo português. Partindo para Paris, em 1912, para cursar Direito, estudos que abandonaria pouco depois, a figura de Mário de Sá-Carneiro assume uma importância basilar para a compreensão do modo como o Modernismo português se foi formando com caracteres próprios na recepção das correntes de vanguarda europeias, processo de que a correspondência que estabeleceu com Fernando Pessoa dá um testemunho documental precioso e que culminaria com a publicação de Orpheu, em 1915. Os poemas que edita no primeiro número de Orpheu, destinados a Indícios de Oiro, são, a este título, significativos da sua adesão às estéticas paúlica e sensacionista, que na correspondência entre os dois grandes poetas fora gerada, glosando, então, em moldes muito devedores do simbolismo-decandentismo, a abjecção de um eu em conflito com um outro, reverso da sua frustração e insatisfação ("Eu não sou eu nem o outro, / Sou qualquer coisa de intermédio: / Pilar da ponte de tédio / Que vai de mim para o Outro", "7"), ao mesmo tempo que a publicação de "Manucure", no segundo número de Orpheu , revela uma incursão por uma forma poética mais próxima da escrita da vanguarda futurista, no que contém de autonomização do significante. Já antes de Orpheu, a colaboração de Mário de Sá-Carneiro na revista Renascença (1914) - onde Fernando Pessoa publica Impressões de Crepúsculo -, com a publicação de Além (apresentado como uma tradução portuguesa de certo Petrus Ivanovitch Zagoriansky), instituíra a sua experiência poética na charneira entre a herança simbolista e as tentativas paúlicas e interseccionistas. Mário de Sá-Carneiro constitui ainda um paradigma da prosa modernista portuguesa pela publicação das narrativas Céu em Fogo e A Confissão de Lúcio, construídas frequentemente a partir do estranhamento de um narrador insolitamente introduzido em situações onde o erotismo, o onirismo, o fantástico, se associam aos temas obsessivos do desdobramento e autodestruição do eu. O seu suicídio, com 26 anos, parecendo vir selar aquele sentimento de inadaptação à vida, de permanente incompletude, de narcísico auto-aviltamento e, sobretudo, de consciência dolorosa da irremediável cisão do eu, consubstanciada na dramática tensão entre um eu, vil e prosaico, e um outro, seu duplo ideal, que alimentaram tematicamente a obra, nimbou-o para a posteridade de uma aura de poeta maldito, que deixaria um forte ascendente sobre a poesia contemporânea de gerações posteriores à sua. Com efeito, a mensagem poética do autor de Indícios de Oiro ecoa postumamente na literatura presencista da geração de 50 e até surrealista, passando por nomes absolutamente diversos como Sebastião da Gama, Mário de Cesariny ou Alexandre O'Neill, entre muitos outros.
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Antologia Poética de Sá-CarneiroUma antologia da poesia de um dos mais importantes nomes da literatura portuguesa. Uma compilação fundamental organizada e prefaciada pelo poeta e professor universitário Fernando Pinto do Amaral. Inclui-se a quase totalidade da Obra Poética de Mário de Sá-Carneiro, excluindo apenas a grande maioria das composições juvenis, considerados os menos relevantes no percurso do autor. Organização, prefácio e cronologia biográfica de Fernando Pinto do Amaral. -
Mário de Sá-Carneiro - Prosa CompletaAqui se reúne o essencial da prosa de Mário de Sá-Carneiro, autor maior do Modernismo português a par do seu amigo Fernando Pessoa. Incluem-se neste volume os contos de juventude publicados na revista Azulejo, o seu primeiro livro de contos Princípio, e as suas narrativas maiores A Confissão de Lúcio e Céu em Fogo, excluindo-se apenas alguns textos dispersos que não assumem grande relevância no conjunto da obra do autor. Esta obra tem ainda uma cronologia biográfica da autoria de Fernando Pinto do Amaral. A Confissão de Lúcio, provavelmente a sua narrativa mais conhecida e emblemática, foi considerada por José Régio uma obra-prima, onde estão presentes três das suas obsessões: o suicídio, o amor e o anormal avançando até à loucura. Foi publicada pelo poeta em 1914. -
Primeiros ContosPrimeiros Contos, semi-esquecidos ou dispersos, laboratório de alquimia negra e esfuziante que Mário de Sá-Carneiro havia de desenvolver, nos anos de Orpheu, com as suas narrativas maiores A Confissão de Lúcio e Céu em Fogo. -
Céu em Fogo“São múltiplas as edições de Céu em Fogo, de Mário de Sá-Carneiro, mas esta, dado ser da responsabilidade de Fernando Cabral Martins, assume-se, desde logo, como referencial [...]. Sem ser uma edição crítica (utiliza como base a primeira, preparada em 1915, um ano antes do autor morrer), actualiza a ortografia e contém breves notas sobre cada uma das oito novelas que constituem o livro. O organizador da edição, e posfácio, afirma que Céu em Fogo “pode ser algo como o resgate de Orfeu e Narciso do inferno da culpa. Uma inesperada eclosão de sentimentos fortes e felizes no sumptuoso negrume do mistério sem limite.””Jornal de Letras, Artes e Ideias, 08.03.2000 -
PoemasPrimeiro, Sá-Carneiro teve sobretudo o génio de querer ter génio, pois a sua ânsia de Novo apenas encontrou formas recolhidas da tradição, de Nobre a Pessanha, tornadas mais intensas pelo luxo das imagens e pelo desfazer anti-romântico do Eu sentimental — no que acompanhou o seu grande amigo Pessoa. Desse caos decadente emergiu um último Sá-Carneiro, que desde Orpheu 2 escreve alguns dos poemas mais dilacerantes da língua, num tom de singularidade radical, fulgurante e excessivo. -
Verso e Prosa«Neste volume se reúnem os livros deMário de Sá-Carneiro, por ele publicados, Princípio, de 1912, Dispersão e A Confissão de Lúcio, ambos de 1913, e ainda Céu em Fogo, de 1915. Acrescenta- se o livro Indícios de Oiro, datado de 1915 e publicado postumamente em 1937 pela editora da revista presença, e juntam-se ainda vários poemas e textos soltos, publicados dispersamente ou enviados em cartas a Fernando Pessoatal como em notas finais se esclarece. Fica, assim, composto um conjunto coerente de textos que integra o que demais marcante escreve, em verso e prosa, um autor capital da nossa modernidade. Não se inclui a escrita anterior a 1910, sobretudo a juvenília poética e os primeiros contos, e que representa a fase de construção de uma voz que só a partir de Princípio se constitui em toda a singularidade. Também não se incluem as peças de teatro que escreveu e chegaram até nós, e cujo interesse é apenas acessório relativamente à sua obra poética e narrativa.br> E, finalmente, também ficam de fora as cartas, que têm, sobretudo as que enviou de Paris a Fernando Pessoa, uma enorme importância literária e testemunhal, mas que formam um vasto conjunto à parte.» -
Céu Em Fogo"Oscilando entre a angústia da fugacidade do tempo e a tragédia da repetição, as personagens de Céu em Fogo abismam-se fatalmente no tédio e, numa luta penosa — que é também um confronto fascinado com a morte —, tentam inventar maneiras de o vencer. É esta a tarefa fantástica que vai empreender o Fixador de Instantes. Tomado por um «tédio mortal» no momento em que constata a inevitabilidade da sua morte, acaba por realizar no crime a sua obsessão de posse total." Do Prefácio de Maria Antónia Oliveira -
A Confissão de LúcioEsta obra foi considerada por José Régio como a obra-prima de entre as novelas de Sá Carneiro, onde estão presentes três de suas obsessões dominantes: o suicídio, o amor pervertido e o anormal avançando até a loucura. Nesta obra, ao incitar seus personagens na busca de uma transcendência distorcida, Sá-Carneiro cria uma atmosfera de exacerbado lirismo. Capaz de acrescentar um prazeroso sabor ao narrar o inarrável, mesmo no leitor que possui poucas fibras de sensibilidade ele é capaz de produzir um turbilhão interior próximo ao palpitar acelerado do coração quando em êxtase. -
Céu em Fogo«Oscilando entre a angústia da fugacidade do tempo e a tragédia da repetição, as personagens de Céu em Fogo abismam-se fatalmente no tédio e, numa luta penosa - que é também um confronto fascinado com a morte -, tentam inventar maneiras de o vencer.»Do Prefácio de Maria Antónia Oliveira
