O mundo está sempre por compreender: por construir ou reconstruir, todas as vezes que a agressão exterior destrói as suas evidências antigas. A ordem vivida ? a das práticas e das instituições ? é inseparável da ordem pensada ? a das teorias e das representações. A presente obra, pelo estudo sucessivo das cosmologias e das cosmogonias, das crenças na feitiçaria, dos movimentos religiosos sincréticos que existiram e ainda existem em África, procura abordar numa perspetiva frequentemente negligenciada sob este aspeto alguns problemas fundamentais: relação entre problemática individual e coação social, entre lógica social e ideologia, entre ideologia e violência.
MARC AUGÉ (n. 1935) é dos mais conceituados etnólogos e antropólogos franceses. Foi presidente da École des hautes études en sciences sociales e participou em diversas missões em África e na América Latina, tendo então cunhado conceitos fundamentais da sua disciplina. O mais célebre, no entanto, o conceito de «não-lugar», aplica-se sobretudo ao mundo ocidentalizado contemporâneo, referindo-se a lugares uniformizados e transitórios, como os quartos de hotéis ou os aeroportos
Os domínios do parentesco situam-se na confluência de duas linguagens: a da etnologia, que se esforça por situar as regiões, os contornos e as fronteiras desses domínios, e a das sociedades que a etnologia observa e a que vai buscar as terminologias, as classificações e as regras. Esclarecer estas duas linguagens e relacioná-las é um dos objectivos deste livro, que se pretende uma iniciação à chamada antropologia do parentesco.
Falar de parentesco é também e é já falar de outra coisa (numa e noutra linguagem); qual a natureza da relação entre o parentesco e os outros sectores de representação? Que significa a assimilação do parentesco a uma linguagem ou a sua definição como região dominante em certos tipos de sociedade? Que significam as regras de casamento? - são algumas das perguntas que esta obra tenta reformular e às quais procura por vezes responder.
Uma análise do vocabulário técnico, um glossário inglês/português, uma importante documentação bibliográfica, reflexões sobre os autores, análises de textos e o balanço de uma investigação pontual: tais são os elementos de informação e de reflexão que aqui se propõem.
O mundo está sempre por compreender: por construir ou reconstruir, todas as vezes que a agressão exterior destrói as suas evidências antigas. A ordem vivida ? a das práticas e das instituições ? é inseparável da ordem pensada ? a das teorias e das representações. A presente obra, pelo estudo sucessivo das cosmologias e das cosmogonias, das crenças na feitiçaria, dos movimentos religiosos sincréticos que existiram e ainda existem em África, procura abordar numa perspetiva frequentemente negligenciada sob este aspeto alguns problemas fundamentais: relação entre problemática individual e coação social, entre lógica social e ideologia, entre ideologia e violência.
«A primeira pedalada é a aquisição de uma nova autonomia, é a bela escapada, a liberdade palpável, o movimento na ponta dos pés, quando a máquina responde ao desejo do corpo e quase o antecipa. Em poucos segundos, o horizonte limitado abre-se, a paisagem move-se. Estou noutro lugar. Sou um outro e, no entanto, sou eu mesmo como nunca antes tinha sido; sou aquilo que descubro.»Este elogio da bicicleta de um dos mais destacados antropólogos mundiais passa por três momentos: o mito, a epopeia e a utopia. A bicicleta tem uma dimensão mítica que é, ao mesmo tempo, individual e coletiva. Hoje, o mito sofreu um revés. Mas a bicicleta regressa através das políticas urbanas, e a sua presença é hoje objeto de um renovado entusiasmo.Podemos imaginar os grandes traços da cidade utópica de amanhã, em que os transportes coletivos e a bicicleta seriam os únicos meios de deslocação na cidade e em que a paz, a igualdade e o ar fresco e limpo seriam a regra no mundo depois da queda dos magnatas do petróleo. Podemos imaginar um mundo em que as exigências dos ciclistas fizessem vergar os poderes políticos.Mas tudo isto não passa de um sonho. A bicicleta ensina-nos acima de tudo a conciliar-nos com o tempo e com o espaço. E leva-nos a descobrir o princípio de realidade num mundo invadido pela ficção e pelas imagens.Da primeira pedalada de uma criança de 5 anos aos feitos heróicos dos ciclistas da Volta à França, passando pelo urbanismo e pelas políticas ambientais, este breve ensaio de Marc Augé reflete sobre a maior invenção da humanidade para chegar à conclusão de que «o ciclismo é um humanismo».
«É bem certo que é hoje à escala do mundo que se manifesta a tensão entre pensamento do universal e pensamento da territorialidade. Abordámos aqui o estudo apenas sob um dos seus aspectos, a partir da constatação de que uma parte crescente da humanidade vive, pelo menos a tempo parcial, fora de território, e que, por conseguinte, as próprias condições de definição do empírico e do abstracto estão a ser abaladas sob o efeito da tripla aceleração característica da sobremodernidade.»