A Experiência
Januário e Clarinda, personagens inesquecíveis deste romance, conhecem-se ainda crianças no asilo e dali sairão para o mundo. As suas vidas, porém, precocemente destinadas à clandestinidade, só aparentemente seguirão cursos separados, para logo se juntarem de novo na grande cidade, lugar de sonhos desfeitos e de inocência perdida, e depois, como num círculo vicioso, retornarem ao ponto de origem: esse mesmo asilo, outrora denominado «Experimental» por querer ministrar uma educação diferente, e agora tornado prisão.
Elogiado pela crítica como romance de grande intensidade psicológica e apontado como um dos textos mais subversivos do autor, A Experiência é um texto surpreendente que aqui conhece, pela primeira vez, numa versão inédita, a sua edição autónoma, que pretende finalmente trazê-lo à luz e resgatar a sua importância literária.
| Editora | Cavalo de Ferro |
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| Editora | Cavalo de Ferro |
| Negar Chronopost e Cobrança | Não |
| Autores | Ferreira de Castro |
José Maria Ferreira de Castro (Ossela, Oliveira de Azeméis, 1898 - Porto, 1974), oriundo de uma família de camponeses pobres, fica órfão de pai aos oito anos e emigra, em 1911, para o Brasil ,onde é expedido para o interior da selva amazónica. Regressa a Portugal em 1919. Vive períodos de absoluta miséria quando reinicia a sua dupla faina de repórter e escritor. Publica os romances Emigrantes(1928) e A Selva(1930), com grande êxito nacional e no estrangeiro. Seguir-se-á a publicação de Eternidade(1933), Terra Fria(1934) e A Lã e a Neve(1947).No período imediato ao pós-guerra, torna-se um dos autores mais lidos em Portugal e no estrangeiro. Nos anos 50 publica A Curva da Estrada e, entre outras obras, a novela A Missão. De 1968 data o romance O Instinto Supremo, no qua lo autor regressa ficcionalmente à selva amazónica. Ferreira de Castro foi proposto para o Prémio Nobel, mas recusou sê-lo em prol de outros escritores portugueses.
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A Curva da Estrada«... o directório é constituído por arrivistas ambiciosos, que não querem outra coisa senão trepar à custa dos velhos militantes. Não cessam de prometer às massas aquilo que eles sabem muito bem que não lhes podem dar e não hesitam em caluniar aqueles que lhes podem fazer sombra... Para eles, só eles próprios são socialistas verdadeiros; os outros são todos uns reaccionários....» Ferreira de Castro (1898-1974) é um dos mais significativos romancistas portugueses, traduzido e lido em todo o mundo e também dos mais apreciados em toda a vasta comunidade onde se fala a língua portuguesa. Alguns dos seus romances retratam um Brasil apaixonante, misterioso e revelador, outros penetram no húmus português e outros ainda ocupam-se dos problemas trágicos de um mundo dilacerado que procura descobrir a sua verdade. O que descobrimos, porém, em qualquer dos romances de Ferreira de Castro é a mesma profunda paixão pelo destino do homem, o seu apego a uma verdade fundamental que se alicerça na conquista de um ideal de liberdade humana. Não é possível pensar no romance português deste século sem, de imediato nos referirmos a Ferreira de Castro como precursor do neo-realismo, ao seu nome e à sua obra, de tal modo nos surgem como essenciais para a pesquisa do quotidiano. -
EmigrantesRegressa às livrarias uma das obras fundamentais da literatura portuguesa numa nova edição que inclui o texto autobiográfico «Pequena História de Emigrantes». -
A Missão e O Senhor dos NavegantesFrança, Segunda Guerra Mundial: o frade Georges Mounier informa o superior da congregação religiosa a que pertence que, ditado por um imperativo de consciência, tomara a iniciativa de suspender a ordem de pintar a palavra Missão no telhado do convento, que permitiria assinalar o edifício pelo ar aos bombardeiros alemães. Porém, tal iniciativa equivaleria igualmente a denunciar o edifício semelhante ao lado, antigo convento de freiras transformado em fábrica que contribuía para o esforço de guerra francês, pondo em risco a vida dos operários e das famílias que viviam nas habitações em torno deste. «As mesmas letras que nos protegem podem representar uma sentença de morte para os homens que ali trabalham», explica o frade ao superior, desencadeando um aceso debate sobre a decisão mais correcta: a de conservar a neutralidade da Missão ou de salvar vidas, colocando-se ao serviço de umas das partes do conflito. O desfecho será inesperado. O presente volume inclui ainda a novela O Senhor dos Navegantes, tornando novamente disponível aos leitores portugueses duas grandes obras da literatura nacional -
Terra FriaPublicado originalmente em 1934, Terra Fria suscita, desde logo, o entusiasmo da crítica («não se pode duvidar, cremos bem sinceramente, de que muitos portugueses o hão-de ler amanhã, e depois, e depois…»), vindo a ocupar um dos lugares cimeiros do universo ficcional de Ferreira de Castro e na literatura portuguesa do século xx. O enredo, que concilia o realismo da descrição das «gentes que vivem entre cadeias de montanhas (...) página viva da antropologia» com o tom da tragédia, localiza-se em Terras do Barroso, Trás-os-Montes. Na pequena aldeia de Padornelos, Leonardo procura com o pobre sustento do seu trabalho de jornaleiro, e sobretudo com o contrabando, prover a si e à sua família, enquanto sonha em se estabelecer por conta própria com uma venda. A ambição de uma vida independente parece-lhe finalmente poder concretizar-se com a chegada à aldeia de um homem há muito emigrado nos Estados Unidos. Porém, o «americano» rico e influente «se com uma mão lhe dá alguma coisa com a outra tudo tira, inclusive a paz e a mulher». -
A Selva«A Selva é um livro excecional que se escreve de uma só vez na existência de um romancista: a narrativa matricial, cântico, elegia, tragédia, diário de suplícios e deslumbramentos» ? Urbano Tavares Rodrigues «Evocado dali, Portugal era uma quimera, não existia talvez. Pequeno e lá longe, os que o levavam na memória não estavam certos se viviam em realidade ou se sonhavam com a narração dos que tinham voltado das descobertas.» Considerado um dos livros-monumento e de maior sucesso, dentro e fora de portas, da nossa literatura moderna, A Selva, notável epopeia sobre a vida dos seringueiros na selva amazónica durante os anos de declínio do ciclo da borracha, foi lida e amplamente elogiada por nomes que vão desde Jaime Brasil (Livro único na literatura de todo o mundo) a Agustina Bessa-Luís (obra-prima) e Jorge Amado (clássico do nosso tempo), não passando igualmente despercebida a grandes figuras da literatura internacional, como Albert Camus (estilo sinuoso e sugestivo, como uma vegetação exuberante de termos estranhos e maravilhosos. Livro inesquecível), Blaise Cendrars (brilhante e ardente estilista), seu tradutor francês, ou Stefan Zweig (admirável romance). -
A TempestadeAlbano, funcionário bancário, viúvo e com uma filha pequena, apaixona-se por Cecília e, apesar das diferenças de classe que existem entre os dois, casam. A suspeita de infidelidade, porém, evidenciará o seu verdadeiro carácter. O ciúme, a irracionalidade e um sentido de honra distorcido, precipitarão os acontecimentos à medida que Albano procura justificar os seus actos. Elogiado de imediato pela crítica como «empolgante romance psicológico», que conjuga «dramatismo equilibrado, concisão, rigor descritivo e aquele sentido trágico da vida, sem excluir a ironia e o sarcasmo», em A Tempestade, Ferreira de Castro transita com mestria das grandes paisagens de A Selva ou Terra Fria para a dimensão fechada do espaço doméstico citadino, denunciando, com «compreensão humanista», as suas fragilidades psicológicas e, sobretudo, a desolada condição da mulher e o mesquinho espartilho moral que a sociedade lhe impõe. -
O Instinto Supremo«Eram novos, magros e descascados, um ao lado do outro, os dois mastros. Unia-os, ao meio, uma tira de pano branco, com grandes letras negras, onde se lia: “Morrer se necessário for; matar, nunca!”» Curt Nimuendajú, etnólogo alemão naturalizado brasileiro, prepara-se para liderar uma missão cujo objetivo é pacificar os índios parintintins no interior da selva amazónica. A missão, orientada pela visão de Cândido Rondon, marechal e explorador sertanejo, republicano e abolicionista, segue o lema deste: «Morrer se necessário for; matar, nunca!». Os homens, enviados pelo Serviço de Proteção aos Índios, são obrigados a fazer uma jura antes de partirem: aconteça o que acontecer, nunca tirarão a vida de um índio. Ao longo do caminho, terão de enfrentar todo o tipo de desafios: a selva é impiedosa, os índios hostis e, talvez o mais difícil, deverão contrariar o seu próprio instinto de sobrevivência perante uma ameaça que não podem combater. Último livro publicado por Ferreira de Castro, O Instinto Supremo constitui um regresso do autor à Amazónia, cenário do seu livro-monumento A Selva. Ganha, com o tempo, estatuto de clássico e, a forma como a crueza do processo de pacificação dos índios convive nas suas páginas com o virtuosismo das descrições da floresta, torna-o um livro necessário e único. -
EternidadeJuvenal Gonçalves, após a morte por doença da sua esposa, Helena, regressa à ilha da Madeira, sua terra natal. Aqui, num cenário contrastante de natureza idílica e encantadora, atravessa os vários estádios do luto e da solidão, revoltando-se perante a fragilidade da condição humana e a sua capacidade de resignação, tomando consciência das injustiças sociais que o rodeiam, da chocante discrepância que opõe a vida dos burgueses ricos do Funchal, entre os quais se conta o seu irmão, Álvaro, e a dos camponeses e bordadeiras. A insurreição que encabeça é prontamente suprimida pelo governo nacional. Com a deportação para o inferno de Cabo Verde, virá também a notícia da gravidez fruto da sua relação com Elizabeth, e uma renovada esperança no futuro da humanidade.Romance publicado em 1933, após o êxito mundial obtido com A Selva, Eternidade, marcado pelo pendor autobiográfico da perda e do luto, ocupa um lugar particular na bibliografia e na vida de Ferreira de Castro, reavaliada hoje em dia pela crítica como uma das suas maiores obras ficcionais. «Assim são os livros de Ferreira de Castro: como uma árvore que amamos, de muito a ter absorvido na paisagem e no lugar da nossa vida.» - Agustina Bessa-Luís -
A Lã e a NeveHorácio, jovem pastor de Manteigas, volta à Serra depois da tropa em Lisboa decidido a mudar de vida. Deixar o pastoreio, fugir da miséria e empregar-se numa fábrica de tecelagem é o sonho que lhe permitirá ter uma vida digna junto de Idalina, e formar uma família só sua. Ascende à condição de operário e casa-se ,mas vê-se obrigado a viver num casebre. A lã é também um trabalho duro. O horizonte continua estreito. Entretanto, a guerra rebenta e outros operários nutrem a esperança de um mundo melhor para os deserdados da fortuna...Contando-se entre os livros de maior sucesso do autor, A Lã e a Neve é, indiscutivelmente, um dos grandes romances da literatura portuguesa do século XX, com o estatuto de clássico intemporal: ao mesmo tempo crónica de um regime político e social que marcou o nosso país, e romance de formação onde a paisagem se funde com o homem.
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O Essencial Sobre José Saramago«Aquilo que neste livro se entende como essencial em José Saramago corresponde à sua específica identidade como escritor, com a singularidade e com as propriedades que o diferenciam, nos seus fundamentos e manifestações. Mas isso não é tudo. No autor de Memorial do Convento afirma-se também uma condição de cidadão e de homem político, pensando o seu tempo e os fenómenos sociais e culturais que o conformam. Para o que aqui importa, isso é igualmente essencial em Saramago, até porque aquela condição de cidadão não é estranha às obras literárias com as quais ela interage, em termos muito expressivos.» in Contracapa -
Confissões de um Jovem EscritorUmberto Eco publicou seu primeiro romance, O Nome da Rosa, em 1980, quando tinha quase 50 anos. Nestas suas Confissões, escritas cerca de trinta anos depois da sua estreia na ficção, o brilhante intelectual italiano percorre a sua longa carreira como ensaísta dedicando especial atenção ao labor criativo que consagrou aos romances que o aclamaram. De forma simultaneamente divertida e séria, com o brilhantismo de sempre, Umberto Eco explora temas como a fronteira entre a ficção e a não-ficção, a ambiguidade que o escritor mantém para que seus leitores se sintam livres para seguir o seu próprio caminho interpre tativo, bem como a capacidade de gerar neles emoções. Composto por quatro conferências integradas no âmbito das palestras Richard Ellmann sobre Literatura Moderna que Eco proferiu na Universidade Emory, em Atlanta, nos Estados Unidos, Confissões de um jovem escritor é uma viagem irresistível aos mundos imaginários do autor e ao modo como os transformou em histórias inesquecíveis para todos os leitores. O “jovem escritor” revela-se, afinal, um grande mestre e aqui partilha a sua sabedoria sobre a arte da imaginação e o poder das palavras. -
Sobre as MulheresSobre as Mulheres é uma amostra substancial da escrita de Susan Sontag em torno da questão da mulher. Ao longo dos sete ensaios e entrevistas (e de uma troca pública de argumentos), são abordados relevantes temas, como os desafios e a humilhação que as mulheres enfrentam à medida que envelhecem, a relação entre a luta pela libertação das mulheres e a luta de classes, a beleza, o feminismo, o fascismo, o cinema. Ao fim de cinquenta anos – datam dos primeiros anos da década de 1970 –, estes textos não envelheceram nem perderam pertinência. E, no seu conjunto, revelam a curiosidade incansável, a precisão histórica, a solidez política e o repúdio por categorizações fáceis – em suma, a inimitável inteligência de Sontag em pleno exercício.«É um deleite observar a agilidade da mente seccionando através da flacidez do pensamento preguiçoso.» The Washington Post«Uma nova compilação de primeiros textos de Sontag sobre género, sexualidade e feminismo.» Kirkus Reviews -
Para Tão Curtos Amores, Tão Longa VidaNuma época e num país como o nosso, em que se regista um número muito elevado de divórcios, e em que muitos casais preferem «viver juntos» a casar-se, dando origem nas estatísticas a muitas crianças nascidas «fora do casamento», nesta época e neste país a pergunta mais próxima da realidade não é por que duram tão pouco tantos casamentos, mas antes: Por que é que há casamentos que duram até à morte dos cônjuges? Qual é o segredo? Há um segredo nisso? Este novo livro de Daniel Sampaio, que traz o título tão evocativo: Para Tão Curtos Amores, Tão Longa Vida, discute as relações afetivas breves e as prolongadas, a monogamia e a infidelidade, a importância da relação precoce com os pais e as vicissitudes do amor. Combinando dois estilos, o ficcional e o ensaístico, que domina na perfeição, o autor traz perante os nossos olhos, de modo muito transparente e sem preconceitos, tão abundantes nestas matérias, os problemas e dificuldades dos casais no mundo de hoje, as suas vitórias e derrotas na luta permanente para manterem viva a sua união.Um livro para todos nós porque (quase) todos nós, mais tarde ou mais cedo, passamos por isso. -
A Vida na SelvaHá quem nasça para o romance ou para a poesia e se torne conhecido pelo seu trabalho literário; e quem chegue a esse ponto depois de percorrer um longo caminho de vida, atravessando os escolhos e a complexidade de uma profissão, ou de uma passagem pela política, ou de um reconhecimento público que não está ligado à literatura. Foi o caso de Álvaro Laborinho Lúcio, que publicou o seu primeiro e inesperado romance (O Chamador) em 2014.Desde então, em leituras públicas, festivais, conferências e textos com destinos vários, tem feito uma viagem de que guarda memórias, opiniões, interesses, perguntas e respostas, perplexidades e reconhecimentos. Estes textos são o primeiro resumo de uma vida com a literatura – e o testemunho de um homem comprometido com as suas paixões e o diálogo com os outros. O resultado é comovente e tão inesperado como foi a publicação do primeiro romance. -
Almoço de DomingoUm romance, uma biografia, uma leitura de Portugal e das várias gerações portuguesas entre 1931 e 2021. Tudo olhado a partir de uma geografia e de uma família.Com este novo romance de José Luís Peixoto acompanhamos, entre 1931 e 2021, a biografia de um homem famoso que o leitor há de identificar — em paralelo com história do país durante esses anos. No Alentejo da raia, o contrabando é a resistência perante a pobreza, tal como é a metáfora das múltiplas e imprecisas fronteiras que rodeiam a existência e a literatura. Através dessa entrada, chega-se muito longe, sem nunca esquecer as origens. Num percurso de várias gerações, tocado pela Guerra Civil de Espanha, pelo 25 de abril, por figuras como Marcelo Caetano ou Mário Soares e Felipe González, este é também um romance sobre a idade, sobre a vida contra a morte, sobre o amor profundo e ancestral de uma família reunida, em torno do patriarca, no seu almoço de domingo.«O passado tem de provar constantemente que existiu. Aquilo que foi esquecido e o que não existiu ocupam o mesmo lugar. Há muita realidade a passear-se por aí, frágil, transportada apenas por uma única pessoa. Se esse indivíduo desaparecer, toda essa realidade desaparece sem apelo, não existe meio de recuperá-la, é como se não tivesse existido.» «Os motoristas estão à espera, o brado da multidão mistura-se com o rugido dos motores. Antes de entrarmos, o Mário Soares aproxima-se de mim, correu tudo tão bem, e abraça-me com um par estrondosas palmadas no centro das costas. A coluna de carros avança devagar pelas ruas da vila. Tenho a garganta apertada, não consigo falar. Como me orgulha que Campo Maior seja a capital da península durante este momento.»«Autobiografia é um romance que desafia o leitor ao diluir fronteiras entre o real e o ficcional, entre espaços e tempos, entre duas personagens de nome José, um jovem escritor e José Saramago. Este é o melhor romance de José Luís Peixoto.»José Riço Direitinho, Público «O principal risco de Autobiografia era esgotar-se no plano da mera homenagem engenhosa, mas Peixoto evitou essa armadilha, ao construir uma narrativa que se expande em várias direções, acumulando camadas de complexidade.»José Mário Silva, Expresso -
Electra Nº 23A Atenção, tema de que se ocupa o dossier central do número 23 da revista Electra, é um recurso escasso e precioso e por isso objecto de uma guerra de concorrência sem tréguas para conseguir a sua captura. Nunca houve uma tão grande proliferação de informação, de produtos de consumo, de bens culturais, de acontecimentos que reclamam a atenção. Ela é a mercadoria da qual depende o valor de todas as mercadorias, sejam materiais ou imateriais, reais ou simbólicas. A Atenção é, pois, uma questão fundamental do nosso tempo e é um tópico crucial para o compreendermos. Sobre ela destacam-se neste dossier artigos e entrevistas de Yves Citton, Enrico Campo, Mark Wigley, Georg Franck e Claire Bishop. Nesta edição, na secção “Primeira Pessoa”, são publicadas entrevistas à escritora, professora e crítica norte-americana Svetlana Alpers (por Afonso Dias Ramos), cujo trabalho pioneiro redefiniu o campo da história da arte nas últimas décadas, e a Philippe Descola (por António Guerreiro), figura central da Antropologia, que nos fala de temas que vão desde a produção de imagens e das tradições e dos estilos iconográficos à questão da oposição entre natureza e cultura. A secção “Furo” apresenta um conjunto de desenhos e cartas inéditos da pintora Maria Helena Vieira da Silva. Em 1928, tinha vinte anos. Havia saído de Portugal para estudar arte em Paris e, de França, foi a Itália numa viagem de estudo. Durante esse percurso desenhou num caderno esboços rápidos do que via, e ao mesmo tempo, escrevia cartas à mãe para lhe contar as suas impressões e descobertas. Uma selecção destes desenhos e destas cartas, que estabelecem entre si um diálogo íntimo e consonante, é agora revelada. Na Electra 23, é publicada, na secção “Figura”, um retrato do grande poeta grego Konstandinos Kavafis, feito pelo professor e tradutor Nikos Pratsinis, a partir de oito perguntas capitais; é comentada, pelo escritor Christian Salmon, na secção “Passagens”, uma reflexão sobre a história trágica da Europa Central do consagrado romancista e ensaísta checo, Milan Kundera. Ainda neste número, o ensaísta e jornalista Sergio Molino dá-nos um mapa pessoal da cidade de Saragoça, em que a história e a geografia, a literatura e a arte se encontram; o jornalista e colunista brasileiro Marcelo Leite trata das investigações em curso desde os anos 90, com vista ao uso farmacológico e terapêutico dos psicadélicos; a escritora e veterinária María Sanchez constrói um diário que é atravessado por procuras e encontros, casas e viagens, livros e animais, terras e mulheres, amor e amizade; o arquitecto, investigador e curador chileno Francisco Díaz aborda a relação entre solo e terreno, a partir do projecto da Cidade da Cultura de Santiago de Compostela, da autoria de Peter Eisenman; o artista e ensaísta João Sousa Cardoso escreve sobre a obra do escultor Rui Chafes, revisitando três exposições e um livro apresentados durante o ano de 2023; e o dramaturgo Miguel Castro Caldas comenta a palavra “Confortável”.Vários -
Diário SelvagemEste «Diário Selvagem», «até aqui quase integralmente inédito, é um livro mítico, listado e discutido em inúmeras cartas e cronologias do autor, a que só alguns biógrafos e estudiosos foram tendo acesso».