A Volta no Parafuso
É um pequeno conto maravilhoso, terrível e venenoso escreveu Oscar Wilde acerca de A Volta do Parafuso, a obra mais enigmática de James. Nesta história de uma preceptora encarregada de duas crianças e perseguida por fantasmas, a imaginação convoca horrores nunca nomeados ou explicados. Henry James nasceu em 1843, em Nova Iorque. As suas origens remontam à Escócia e à Irlanda. O seu pai era um teólogo proeminente, o seu irmão mais velho, William, um filósofo conhecido. Considerando que os Estados Unidos não ofereciam os temas adequados para o romance psicológico, Henry James decidiu partir para a Europa. Depois de viver um ano em Paris, mudou-se para Londres em 1876, onde viveu até se estabelecer definitivamente em Sussex. Naturalizou-se inglês em 1915 e morreu no ano seguinte. A maior parte dos personagens dos seus livros move-se num ambiente cosmopolita, e o seu tema preferido foi o dos americanos, sobretudo mulheres, que se sentem estrangeiras na velha Europa. Mas o sobrenatural também o atraiu.
| Editora | Relógio d' Água |
|---|---|
| Coleção | Crime Imperfeito |
| Categorias | |
| Editora | Relógio d' Água |
| Negar Chronopost e Cobrança | Não |
| Autores | Henry James |
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Os Amigos dos AmigosEm "A Vida Privada", surge-nos uma combinação do fantástico e do satírico, o tema, já em diversos momentos abordado, do duplo, querido a Stevenson e a Papini, e a troça às esplêndidas nulidades que atravessam os palcos deste mundo. Owen Wingrave pode parecer-nos à primeira vista um opúsculo pacifista; deparamo-nos em seguida com a presença do antigo e do espectral que não exclui o épico."Os Amigos dos Amigos" encerra uma profunda melancolia, e constitui em simultâneo uma exaltação do amor desenvolvido no mais secreto mistério. -
A Fera na SelvaO destino é uma fera na selva, que prepara o salto para nos atacar quando menos esperarmos. Pelo menos é isto que John Marcher acredita que o seu particularíssimo destino lhe reserva. Algo de avassalador, como um terramoto, algo que o distingue e que torna a sua vida - à espera do salto da fera - diferente da de todos os outros mortais Esta pequena novela de Henry James, justamente considerada um dos momentos mais altos da sua obra, trata os temas universais do amor, da solidão, da morte e do sentido da vida de uma forma surpreendente e inesquecível para qualquer leitor que se tenha alguma vez cruzado com ela. Tal como foi o caso de Patrícia Reis, que assina o prefácio em forma de carta ao autor desta e de muitas outras obras que a marcaram. Uma pérola, um clássico e uma meditação sobra a vida e a forma de a ganharmos ou perdermos nos gestos e nos sentimentos de cada dia. -
O que Maisie Sabia"Era suposto destino desta pequena e paciente rapariga ver bastante mais do que ao começo poderia entender. Mas era também parte do seu destino entender bastante mais do que qualquer pequena rapariga, por mais paciente que fosse, alguma vez tivesse entendido antes."Fruto de pais divorciados, para quem o seu valor não se estendia para além de uma mera ferramenta que utilizavam para se provocar um ao outro, Maisie cresceu num mundo de intriga e traição. Apesar disso, a sua essência permaneceu intocada.O maior feito de Henry James neste romance, fundamental e equilibrado, é o de projectar, através desta pequena heroína, uma luz que ela mesma é demasiado inocente para entender, mas que atribui uma subtil ironia às acções e motivos dos seus companheiros adultos corruptos.«Maisie encarna tudo de melhor que Henry James fez na literatura.»Paul Theroux -
Os Manuscritos de AspernHenry James [1843-1916] escreveu ao contrário dos êxitos literários do seu tempo. Numa época de leitores a preferirem histórias com surpresas de percurso, pôs um grande talento de escritor ao serviço de uma corrente calma, discreta e a espalhar-se num extenso número de páginas, entravada por análises psicológicas de personagens distanciadas, na cultura e nos confortos, do homem mais comum nesse final do século XIX. E se o século seguinte o compreendeu como bom exemplo do construtor da obra de arte literária no mais nobre sentido que a expressão pode sugerir, a solicitar do leitor uma sensibilidade idêntica à exigida na apreciação de uma sonata ou de um quadro, durante a sua vida só teve êxitos pouco generosos e reticentes. [ ] Dir-se-á, porém, que este Henry James sofredor recebia com desdém o entusiasmo alheio pelas suas ficções, e via-o como resultado da cedência do texto ao que era um mais trivial gosto do público. Sentimo-lo encolher os ombros aos elogios que valorizavam The Turn of the Screw, e bem podia Oscar Wilde designá-lo como surpresa «enorme». Numa carta a H.G. Wells acusou o seu texto de «irresponsável» e de apenas ser «um pedaço de engenhosidade pura e simples». E quando publicou Os Manuscritos de Aspern, uma das suas ficções curtas mais brilhantes (para o seu biógrafo Leon Edel, a melhor de quantas escreveu), aos acidentais entusiasmos contrapôs esta água fria: «não passa de uma anedota»; verdade apenas de fundo porque Os Manuscritos de Aspern repensam e dão dimensões nostálgicas, amargas e perversas ao caso verídico que determinou a sua génese e em conversas de salão pôde ser contado com os picantes de uma anedota. -
O MentirosoO escritor Henry James [1843-1916] prolongou-se numa obra literária de 135 títulos publicados entre 1864 e 1917 (na sua maior parte com o texto posteriormente revisto pelo autor) e coleccionados nos 24 volumes de The Novels and Tales of Henry James da New York Edition de 1917. Reconhecido com parcimónia pela crítica e pelo público do seu tempo, prejudicado pela fama de escritor difícil e com histórias de acção mínima espalhada por um grande número de páginas, depois da sua morte passou por um esquecimento quase absoluto até à «redescoberta» que o mantém hoje como grande referência na literatura em língua inglesa do final do século XIX. O reaparecimento deste gigante foi desde logo celebrado por T.S. Eliot e Ezra Pound; foi tema de um emocionado poema de W.H. Auden: «Oh, severo procônsul de indóceis províncias / Oh, poeta da dificuldade, querido artista consagrado», são dois dos seus versos; sugeriu ao narrador de «The Green Hills of Africa» (a conhecida novela de Ernest Hemingway) a sua inclusão entre os maiores escritores da América, ali associado a Stephen Crane e Mark Twain. [ ] Este «poet of the difficult» celebrado por Auden - o que afastava leitores das suas ficções mais extensas - fazia-se mais acessível quando o número de palavras aceite por jornais e revistas o constrangia à disciplina da história não diluída naquela onda larga, a que melhor servia e mais brilho dava, de resto, à sua experiência formal. James também sabia levar a bom termo um esforço de contenção que atingia com poucas páginas o que ele chamava «the real thing» (a coisa autêntica) - título, aliás, de um destes textos, e considerava objectivo central em toda a exposição literária. Cerca de 80 ficções dominadas por esta economia surgiram nas suas Obras Completas de Nova Iorque. Há nas ficções curtas de James bastantes surpresas ligadas à sua arte de saber insinuar conteúdos latentes sob outros explícitos, de ultrapassar as evidências do visível, de nos obrigar a descobrir qual é «the figure of the carpet» (o nunca descrito desenho do tapete).O Mentiroso é uma das suas pequenas novelas menos conhecidas e, apesar disso, dominada por uma cintilante singularidade. [Da Apresentação de Aníbal Fernandes] -
Preceptores - Gabrielle de Bergerac seguido de O DiscípuloEm tempos que não exigiam aos mundos do trabalho e do êxito social um certificado comprovador de estudos académicos, de bom-tom era mostrar que se dispensavam as más convivências do ensino público, fazendo tudo passar-se em ambientes domésticos e com mestres privativos. Nasceu assim o preceptor.O preceptor dos antigos gregos e latinos era em geral um escravo liberto com conhecimentos suficientes para aproximar os jovens das suas letras e da sua erudição. A Idade Média, cheia de homens religiosos, preferiu neste papel os capelães. Mas a Idade de Ouro do preceptor foi a época do Renascimento. Havia, quanto a artes e a ciências, uma vontade colectiva de chegar mais alto, dando a estes mestres de casa rica um imprescindível papel. Começam depois as opiniões a dividir-se. Rousseau, que se estendeu sobre este tema no seu Émile ou de l’éducation de 1762, preconizou que era preferível o mestre «de cabeça bem formada ao de cabeça bem cheia» e, a exigirem-se ambas as coisas, houvesse mais sobre costumes e entendimento do que ciência. Mas seria preferível tudo isto sem um preceptor.[…]«Gabrielle de Bergerac» conta uma história escrita por um Henry James com vinte e seis anos de idade; ou seja, da época em que ele se resolvia, perturbado por algumas hesitações, a dar à escrita um papel que a faria surgir como sua ocupação central. […] Não obstante este lugar muito do início da sua carreira literária, «Gabrielle de Bergerac» surge com uma característica que viria a tornar-se persistente ao longo de toda a sua obra, ou seja, a narrativa contada a partir de um ponto de vista associado a uma das suas personagens.[…]Esta história dos começos do autor Henry James também nos mostra a sua preferida criança complexa (muitas vezes mais complexa do que os adultos da sua convivência) a primeira entre as que ele viria a criar em The Turn of the Screw, What Maisie knew ou no conto «O Discípulo» que integra este volume; crianças abandonadas pela indiferença paterna e que a outros distribuem o papel de personagens centrais da sua vida — aquelas que muitos estudiosos da obra de James reconhecem como uma inequívoca referência autobiográfica. […][Aníbal Fernandes]Tradução e apresentação de Aníbal Fernandes. -
Calafrio - The Turn of The ScrewCALAFRIO: THE TURN OF THE SCREW, de Henry James, foi inicialmente publicado seriado em doze partes, em formato de folhetim em edições do jornal literário Collier’s Weekly: An Illustrated Journal entre 27 de janeiro e 16 de abril de 1898 e em formato de livro pela William Heinemann, casa editorial de Londres, em 13 de outubro de 1898. Enquadra-se bem no género em que Henry James foi particularmente bem-sucedido, constituindo um paradigma deste formato “curto demais para ser um romance e longo demais para ser um conto”. É considerado como um dos maiores triunfos literários do autor ao mesmo tempo em que foi tido como o seu trabalho mais enigmático e controvertido, ao provocar grande polémica em relação ao comportamento da personagem principal: uma preceptora que narra a história de um casal de crianças possuído pelos espíritos de um criado de quarto e de sua antecessora num casarão antigo na região de Bly, no interior inglês. Não fica claro se os acontecimentos eram de facto reais ou frutos de uma imaginação obsessiva, o que pelo viés da análise freudiana da reprimida sexualidade vitoriana, poderia ser visto e encarado como altamente suspeito. CALAFRIO: THE TURN OF THE SCREW é um dos grandes clássicos da literatura moderna, um portentoso retrato da luta entre a vida e a morte, entre a beleza e a fealdade, entre a sanidade e a loucura. Para quem busca um thriller psicológico de altíssima qualidade literária, CALAFRIO: THE TURN OF THE SCREW é uma obra primordial. -
Penguin English Library: The Portrait of a Lady'She knew of no wrong that he had done; he was not violent, he was not cruel; she simply believed that he hated her' When Isabel Archer, a beautiful, spirited American, is brought to Europe by her wealthy aunt Touchett, it is expected that she will soon marry. But Isabel, resolved to enjoy her freedom, does not hesitate to turn down two eligible suitors. Then she finds herself irresistibly drawn to Gilbert Osmond. Charming and cultivated, Osmond sees Isabel as a rich prize waiting to be taken. In this portrait of a 'young woman affronting her destiny', Henry James created one of his most magnificent heroines, and a story of intense poignancy. The Penguin English Library - 100 editions of the best fiction in English, from the eighteenth century and the very first novels to the beginning of the First World War. -
The Portrait of a LadyDesigned to appeal to the booklover, the Macmillan Collector's Library is a series of beautiful gift editions of much loved classic titles. Macmillan Collector's Library are books to love and treasure. Widely accepted as Henry James' great masterpiece, The Portrait of a Lady is a poignant and intense exploration of freedom and identity. This beautiful Macmillan Collector's Library edition features an introduction by Costa Award-winning author Colm Tóibín. Intelligent, beautiful and vivacious, Isabel Archer fascinates and intimidates the elite society of Albany, New York. Fiercely protective of her independence, she travels to England with her aunt to escape a persistent suitor but, upon inheriting a considerable fortune, falls into the sway of the devious Mrs Merle who whisks her off to Italy. There she is seduced by the narcissistic Gilbert Osmond, an art collector who will stop at nothing to possess her, and whose connection to Mrs Merle is shrouded in mystery. -
Turn of the Screw and Owen WingraveDesigned to appeal to the book lover, the Macmillan Collector's Library is a series of beautifully bound pocket-sized gift editions of much loved classic titles. Bound in real cloth, printed on high quality paper, and featuring ribbon markers and gilt edges, Macmillan Collector's Library are books to love and treasure. A young governess is employed to look after two orphaned children in a grand country house. Isolated and inexperienced, she is at first charmed by her young charges but gradually she suspects that they may not be as innocent as they seem. And do the sinister figures that she sees at the window exist only in her imagination or are they ghosts intent on a terrible and devastating task? The Turn of the Screw is one of the most famous and eerily equivocal ghost stories ever written. Owen Wingrave is the story of the son of a long line of military heroes who refuses to follow tradition, yet proves his bravery in a haunted room. This Macmillan Collector’s Library edition features an afterword by award winning novelist, Kate Mosse.
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O Essencial Sobre José Saramago«Aquilo que neste livro se entende como essencial em José Saramago corresponde à sua específica identidade como escritor, com a singularidade e com as propriedades que o diferenciam, nos seus fundamentos e manifestações. Mas isso não é tudo. No autor de Memorial do Convento afirma-se também uma condição de cidadão e de homem político, pensando o seu tempo e os fenómenos sociais e culturais que o conformam. Para o que aqui importa, isso é igualmente essencial em Saramago, até porque aquela condição de cidadão não é estranha às obras literárias com as quais ela interage, em termos muito expressivos.» in Contracapa -
Confissões de um Jovem EscritorUmberto Eco publicou seu primeiro romance, O Nome da Rosa, em 1980, quando tinha quase 50 anos. Nestas suas Confissões, escritas cerca de trinta anos depois da sua estreia na ficção, o brilhante intelectual italiano percorre a sua longa carreira como ensaísta dedicando especial atenção ao labor criativo que consagrou aos romances que o aclamaram. De forma simultaneamente divertida e séria, com o brilhantismo de sempre, Umberto Eco explora temas como a fronteira entre a ficção e a não-ficção, a ambiguidade que o escritor mantém para que seus leitores se sintam livres para seguir o seu próprio caminho interpre tativo, bem como a capacidade de gerar neles emoções. Composto por quatro conferências integradas no âmbito das palestras Richard Ellmann sobre Literatura Moderna que Eco proferiu na Universidade Emory, em Atlanta, nos Estados Unidos, Confissões de um jovem escritor é uma viagem irresistível aos mundos imaginários do autor e ao modo como os transformou em histórias inesquecíveis para todos os leitores. O “jovem escritor” revela-se, afinal, um grande mestre e aqui partilha a sua sabedoria sobre a arte da imaginação e o poder das palavras. -
Sobre as MulheresSobre as Mulheres é uma amostra substancial da escrita de Susan Sontag em torno da questão da mulher. Ao longo dos sete ensaios e entrevistas (e de uma troca pública de argumentos), são abordados relevantes temas, como os desafios e a humilhação que as mulheres enfrentam à medida que envelhecem, a relação entre a luta pela libertação das mulheres e a luta de classes, a beleza, o feminismo, o fascismo, o cinema. Ao fim de cinquenta anos – datam dos primeiros anos da década de 1970 –, estes textos não envelheceram nem perderam pertinência. E, no seu conjunto, revelam a curiosidade incansável, a precisão histórica, a solidez política e o repúdio por categorizações fáceis – em suma, a inimitável inteligência de Sontag em pleno exercício.«É um deleite observar a agilidade da mente seccionando através da flacidez do pensamento preguiçoso.» The Washington Post«Uma nova compilação de primeiros textos de Sontag sobre género, sexualidade e feminismo.» Kirkus Reviews -
Para Tão Curtos Amores, Tão Longa VidaNuma época e num país como o nosso, em que se regista um número muito elevado de divórcios, e em que muitos casais preferem «viver juntos» a casar-se, dando origem nas estatísticas a muitas crianças nascidas «fora do casamento», nesta época e neste país a pergunta mais próxima da realidade não é por que duram tão pouco tantos casamentos, mas antes: Por que é que há casamentos que duram até à morte dos cônjuges? Qual é o segredo? Há um segredo nisso? Este novo livro de Daniel Sampaio, que traz o título tão evocativo: Para Tão Curtos Amores, Tão Longa Vida, discute as relações afetivas breves e as prolongadas, a monogamia e a infidelidade, a importância da relação precoce com os pais e as vicissitudes do amor. Combinando dois estilos, o ficcional e o ensaístico, que domina na perfeição, o autor traz perante os nossos olhos, de modo muito transparente e sem preconceitos, tão abundantes nestas matérias, os problemas e dificuldades dos casais no mundo de hoje, as suas vitórias e derrotas na luta permanente para manterem viva a sua união.Um livro para todos nós porque (quase) todos nós, mais tarde ou mais cedo, passamos por isso. -
A Vida na SelvaHá quem nasça para o romance ou para a poesia e se torne conhecido pelo seu trabalho literário; e quem chegue a esse ponto depois de percorrer um longo caminho de vida, atravessando os escolhos e a complexidade de uma profissão, ou de uma passagem pela política, ou de um reconhecimento público que não está ligado à literatura. Foi o caso de Álvaro Laborinho Lúcio, que publicou o seu primeiro e inesperado romance (O Chamador) em 2014.Desde então, em leituras públicas, festivais, conferências e textos com destinos vários, tem feito uma viagem de que guarda memórias, opiniões, interesses, perguntas e respostas, perplexidades e reconhecimentos. Estes textos são o primeiro resumo de uma vida com a literatura – e o testemunho de um homem comprometido com as suas paixões e o diálogo com os outros. O resultado é comovente e tão inesperado como foi a publicação do primeiro romance. -
Almoço de DomingoUm romance, uma biografia, uma leitura de Portugal e das várias gerações portuguesas entre 1931 e 2021. Tudo olhado a partir de uma geografia e de uma família.Com este novo romance de José Luís Peixoto acompanhamos, entre 1931 e 2021, a biografia de um homem famoso que o leitor há de identificar — em paralelo com história do país durante esses anos. No Alentejo da raia, o contrabando é a resistência perante a pobreza, tal como é a metáfora das múltiplas e imprecisas fronteiras que rodeiam a existência e a literatura. Através dessa entrada, chega-se muito longe, sem nunca esquecer as origens. Num percurso de várias gerações, tocado pela Guerra Civil de Espanha, pelo 25 de abril, por figuras como Marcelo Caetano ou Mário Soares e Felipe González, este é também um romance sobre a idade, sobre a vida contra a morte, sobre o amor profundo e ancestral de uma família reunida, em torno do patriarca, no seu almoço de domingo.«O passado tem de provar constantemente que existiu. Aquilo que foi esquecido e o que não existiu ocupam o mesmo lugar. Há muita realidade a passear-se por aí, frágil, transportada apenas por uma única pessoa. Se esse indivíduo desaparecer, toda essa realidade desaparece sem apelo, não existe meio de recuperá-la, é como se não tivesse existido.» «Os motoristas estão à espera, o brado da multidão mistura-se com o rugido dos motores. Antes de entrarmos, o Mário Soares aproxima-se de mim, correu tudo tão bem, e abraça-me com um par estrondosas palmadas no centro das costas. A coluna de carros avança devagar pelas ruas da vila. Tenho a garganta apertada, não consigo falar. Como me orgulha que Campo Maior seja a capital da península durante este momento.»«Autobiografia é um romance que desafia o leitor ao diluir fronteiras entre o real e o ficcional, entre espaços e tempos, entre duas personagens de nome José, um jovem escritor e José Saramago. Este é o melhor romance de José Luís Peixoto.»José Riço Direitinho, Público «O principal risco de Autobiografia era esgotar-se no plano da mera homenagem engenhosa, mas Peixoto evitou essa armadilha, ao construir uma narrativa que se expande em várias direções, acumulando camadas de complexidade.»José Mário Silva, Expresso -
Electra Nº 23A Atenção, tema de que se ocupa o dossier central do número 23 da revista Electra, é um recurso escasso e precioso e por isso objecto de uma guerra de concorrência sem tréguas para conseguir a sua captura. Nunca houve uma tão grande proliferação de informação, de produtos de consumo, de bens culturais, de acontecimentos que reclamam a atenção. Ela é a mercadoria da qual depende o valor de todas as mercadorias, sejam materiais ou imateriais, reais ou simbólicas. A Atenção é, pois, uma questão fundamental do nosso tempo e é um tópico crucial para o compreendermos. Sobre ela destacam-se neste dossier artigos e entrevistas de Yves Citton, Enrico Campo, Mark Wigley, Georg Franck e Claire Bishop. Nesta edição, na secção “Primeira Pessoa”, são publicadas entrevistas à escritora, professora e crítica norte-americana Svetlana Alpers (por Afonso Dias Ramos), cujo trabalho pioneiro redefiniu o campo da história da arte nas últimas décadas, e a Philippe Descola (por António Guerreiro), figura central da Antropologia, que nos fala de temas que vão desde a produção de imagens e das tradições e dos estilos iconográficos à questão da oposição entre natureza e cultura. A secção “Furo” apresenta um conjunto de desenhos e cartas inéditos da pintora Maria Helena Vieira da Silva. Em 1928, tinha vinte anos. Havia saído de Portugal para estudar arte em Paris e, de França, foi a Itália numa viagem de estudo. Durante esse percurso desenhou num caderno esboços rápidos do que via, e ao mesmo tempo, escrevia cartas à mãe para lhe contar as suas impressões e descobertas. Uma selecção destes desenhos e destas cartas, que estabelecem entre si um diálogo íntimo e consonante, é agora revelada. Na Electra 23, é publicada, na secção “Figura”, um retrato do grande poeta grego Konstandinos Kavafis, feito pelo professor e tradutor Nikos Pratsinis, a partir de oito perguntas capitais; é comentada, pelo escritor Christian Salmon, na secção “Passagens”, uma reflexão sobre a história trágica da Europa Central do consagrado romancista e ensaísta checo, Milan Kundera. Ainda neste número, o ensaísta e jornalista Sergio Molino dá-nos um mapa pessoal da cidade de Saragoça, em que a história e a geografia, a literatura e a arte se encontram; o jornalista e colunista brasileiro Marcelo Leite trata das investigações em curso desde os anos 90, com vista ao uso farmacológico e terapêutico dos psicadélicos; a escritora e veterinária María Sanchez constrói um diário que é atravessado por procuras e encontros, casas e viagens, livros e animais, terras e mulheres, amor e amizade; o arquitecto, investigador e curador chileno Francisco Díaz aborda a relação entre solo e terreno, a partir do projecto da Cidade da Cultura de Santiago de Compostela, da autoria de Peter Eisenman; o artista e ensaísta João Sousa Cardoso escreve sobre a obra do escultor Rui Chafes, revisitando três exposições e um livro apresentados durante o ano de 2023; e o dramaturgo Miguel Castro Caldas comenta a palavra “Confortável”.Vários -
Diário SelvagemEste «Diário Selvagem», «até aqui quase integralmente inédito, é um livro mítico, listado e discutido em inúmeras cartas e cronologias do autor, a que só alguns biógrafos e estudiosos foram tendo acesso».