Azuis Ultramarinos. Propaganda Colonial e Censura no Cinema do Estado Novo
Quando emergiu a geração do Cinema Novo, quais foram as evidências da (im)possibilidade de um outro olhar sobre as colónias portuguesas em obras de autor que foram censuradas e proibidas? Como é que a propaganda do Estado Novo filmou o «modo português» de estar no mundo»?
Este ensaio é um contributo decisivo para o estudo sobre a forma como Portugal «imaginou», durante a ditadura, o seu colonialismo através da sétima arte. «Em campo», é feita uma análise das representações coloniais impostas pelas actualidades cinematográficas de propaganda, nomeadamente, o Jornal Português (1938-1951) e Imagens de Portugal (1953-1970), publicações financiadas pelo Estado Novo. Em «contracampo», são recuperados três casos de filmes de autor proibidos: Catembe (1965) e Deixem-me ao menos subir às palmeiras... (1972), filmados em Moçambique por Manuel Faria de Almeida e Joaquim Lopes Barbosa, respectivamente, e ainda Esplendor selvagem (1972), rodado em Angola, por António de Sousa.
O vislumbre do «homem imaginado» pelo cinema colonial produzido durante o Estado Novo através deste dispositivo «campo/contracampo» faz emergir um imenso «fora de campo», mais amplo do que aqueles que o olhar da câmara permite captar, de acordo com um programa político ou uma sensibilidade de autor.
| Editora | Edições 70 |
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| Coleção | Extra Coleção |
| Categorias | |
| Editora | Edições 70 |
| Negar Chronopost e Cobrança | Não |
| Autores | Maria do Carmo Piçarra |
Maria do Carmo Piçarra é investigadora contratada no ICNOVA‑FCSH, professora na Universidade Autónoma de Lisboa e programadora de cinema. Doutorada em Ciências da Comunicação, os seus principais temas de investigação são as representações cinematográficas (pós)coloniais, a propaganda filmada e a censura durante a ditadura em Portugal, as mulheres nas descolonizações e os usos militantes da imagem. Publicou, entre outros títulos e artigos em revistas científicas, Olhar de Maldoror. Singularidade de um cinema político (2022), Projectar a Ordem. Cinema do Povo e propaganda salazarista (2020), Azuis Ultramarinos. Propaganda colonial e censura no cinema do Estado Novo (2015). Foi editora principal de (Re)Imagining African Independence. Film, Visual Arts and the Fall of the Portuguese Empire (2017) e, com o realizador Jorge António, da trilogia Angola, o Nascimento de Uma Nação (2013, 2014, 2015).
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Cinema Ideal e a Casa da ImprensaHá 110 anos a mostrar filmes, o Ideal tem uma história que se confunde, em Portugal, com a da exibição cinematográfica popular. Quando a Casa da Imprensa - Associação Mutualista se tornou, em 1926, proprietária do prédio onde funciona, o Ideal já não era um cinema de estreia. Antes, fez história com a invenção do «animatógrafo falado» e revelou António Silva. Foi o primeiro sonoro de René Clair a introduzir esta atracção no «Loreto» mas não travou a decadência da sala, gerida, desde a instauração da República, pela Costa & Carvalho e progressivamente preterida em favor dos salões luxuosos ou dos grandes cinemas das avenidas. A Casa da Imprensa assume agora, com a Midas, a aposta na requalificação do espaço e da programação da mais antiga sala de cinema do País. Honra o pioneirismo da associação na organização de festivais e ciclos de cinema, na divulgação do cinema de autor e no apoio ao novo cinema português. E reivindica uma acção que quis contrariar a censura do Estado Novo. É esta história que aqui se conta. É este passado - o do Ideal, sala de cinema popular, e o da associação de jorna¬listas que, desde 1962, assumiu a divulgação cinematográfica como missão - que converge num «acto de Primavera». O Cinema Ideal renasce como um espaço de exibição cinematográfica a pensar no futuro, assumindo-se cinema de bairro, como sempre foi, mas cinema do mundo e com mundo. -
Angola: O Nascimento de Uma NaçãoEste é um contributo para olhar como o cinema fixou o nascimento de uma nação, Angola. Esse olhar, que não podia fechar-se às visões do colonialismo português, faz-se panorâmica integradora de múltiplos pontos de vista: o da propaganda do Estado Novo; o da ficção portuguesa feita em Angola; o dos filmes sobre o progresso económico; o da Diamang; e, finalmente, o dos filmes científicos e etnográficos. No próximo volume desta obra, fixa-se o olhar corte-de-navalha nascido da militância, na luta pela independência, e de afirmação da identidade angolana. -
Angola: O Nascimento de uma NaçãoUm livro que nos mostra como o cinema fixou o nascimento de uma nação, Angola. Segundo volume de uma trilogia, O Cinema da Libertação desvenda o olhar corte-de-navalha surgido da luta pela independência de Angola. Cineclubismo, militância e vontade de cinema em textos que fazem história. -
Olhar de Maldoror - singularidades de um cinema políticoAnaliso a singularidade da obra de Maldoror procurando compreender como a invisibilidade e invisibilização a que foi remetida decorre do desalinhamento e insubmissão da autora sobreposta à intermedialidade dos seus filmes e à circunstância de ser mulher. Ao fazê-lo, procuro contribuir para o estudo da emergência de cinematografias nos países africanos de língua oficial portuguesa. Após a utilização do cinema como arma nas lutas de libertação, este foi usado tanto para forjar e cimentar identidades culturais nacionais como para projectar, interna e externamente, as novas nações. (Da introdução) -
Vento LesteO luso‑orientalismo na filmografia produzida durante o Estado Novo sobre a «Ásia portuguesa» A filmografia sobre a «Ásia portuguesa» realizada em Portugal durante o Estado Novo é limitada. Além disso, quase toda esta filmografia apareceu tardiamente e projectou uma retórica luso‑tropicalista que procurou propagandear a importância — mítica, porque já passada — de um império outrora vasto. Durante a ditadura, as colónias orientais mantinham sobretudo um valor simbólico. Analisando a filmografia existente, Vento Leste propõe que a escassez de filmes sobre o «Oriente português» decorre sobretudo do valor simbólico destas comunidades imaginadas, evocadas com certa indefinição porque há muito que a relação da metrópole com as mesmas estava em desagregação, assentando sobretudo em projecções e ruínas. Com o surgimento de tensões entre Portugal e a Índia quanto à autonomização da «Índia Portuguesa», a filmagem das colónias orientais surgiu sobretudo da necessidade de a ditadura sedimentar um discurso luso‑orientalista que, não obstante, ignorou as especificidades locais e a miríade de diferenças entre a África e a Ásia e entre os territórios colonizados nessas regiões.
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A Realização CinematográficaConcebido como manual para os estudantes das escolas de cinema, este livro responde também à curiosidade comum de saber como se faz um filme. É ainda uma introdução bastante acessível à linguagem do cinema, de grande utilidade para os técnicos e os profissionais pelo seu carácter acentuadamente prático. -
Dicionário do Cinema Português 1895-1961Livro de referência sobre o Cinema Português, aqui se encontra repertoriada, para o período 1895-1961, a totalidade dos filmes de longa-metragem de ficção, bem como as principais curtas e médias metragens. O Dicionário comporta ainda entradas traçando a carreira dos mais destacados realizadores, atores, diretores de fotografia, produtores, compositores musicais, argumentistas e outros técnicos. Num trabalho que se quer factual e rigoroso, o autor não esqueceu um olhar crítico sobre os objetos em análise. Um livro imprescindível a todos quantos se interessam pelo cinema ou pelas artes do espetáculo em geral. -
Janela Indiscreta - O que Dizem as Estrelas15 anos de conversas, 25 grandes entrevistados. Ao longo de 30 anos de carreira na televisão, Mário Augusto realizou mais de duas mil entrevistas de cinema, sendo o jornalista português que mais estrelas entrevistou. Com algumas, a convivência e os reencontros enriqueceram as conversas, que foram muito para além do mais recente filme ou escândalo de Hollywood. Nos 15 anos do Janela Indiscreta, Mário Augusto selecionou as suas melhores entrevistas a 25 dos maiores nomes da indústria cinematográfica. Ilustrado com caricaturas certeiras de André Carrilho. Tal e qual! Com prefácio de Daniela Ruah. -
Sinais de Vida. Werner Herzog e o CinemaA figura de Werner Herzog emerge em toda a sua complexidade num estudo aprofundado das suas obras, acompanhado por uma entrevista longa e inédita com o cineasta alemão. A aura de realizador de extremos e aventuroso, capaz de defrontar todo o tipo de perigos para levar até ao fim os seus filmes, faz parte de um mito fascinante mas redutor. O próprio Herzog afirma aqui ser sobretudo um "contador de histórias". O seu olhar inconfundível sobre os cantos mais remotos e inóspitos do nosso planeta definem-no como um pesquisador de histórias, um explorador de visões apaixonado, guiado pela câmara em busca do momento de "verdade extática" escondida nos rostos, nos lugares e nas paisagens. -
O Estilo Transcendental no Cinema - Ozu, Bresson, DreyerO aclamado realizador e argumentista Paul Schrader revisita e atualiza neste livro a sua abordagem ao «slow cinema» dos últimos cinquenta anos. Ao contrário do realismo psicológico que domina o cinema, o estilo transcendental expressa um estado espiritual por meio de um trabalho de câmara austero e de uma representação desprovida de autoconsciência.Este texto seminal analisa a obra de três grandes cineastas - Yasujiro Ozu, Robert Bresson e Carl Th. Dreyer - e propõe uma linguagem dramática comum usada por estes realizadores de culturas tão diversas.