Baldios
Se me puderes ouvir
O poder ainda puro das tuas mãos
é mesmo agora o que mais me comove
descobrem devagar um destino que passa
e não passa por aqui
à mesa do café trocamos palavras
que trazem harmonias
tantas vezes negadas:
aquilo que nem ao vento sequer
segredamos
mas se hoje me puderes ouvir
recomeça, medita numa viagem longa
ou num amor
talvez o mais belo
| Editora | Assírio & Alvim |
|---|---|
| Coleção | Poesia Inédita Portuguesa |
| Categorias | |
| Editora | Assírio & Alvim |
| Negar Chronopost e Cobrança | Não |
| Autores | José Tolentino Mendonça |
José Tolentino Mendonça é poeta, sacerdote e professor. Nasceu na ilha da Madeira. Estudou Ciências Bíblicas em Roma e vive no Vaticano desde 2018, onde é responsável pela Biblioteca Apostólica e pelo Arquivo Secreto do Vaticano. Em 2019, foi elevado a Cardeal pelo Papa Francisco. Tem publicado a sua poesia na Assírio & Alvim e, desde 2017, a sua obra ensaística na Quetzal. Para José Tolentino Mendonça, «a poesia é a arte de resistir ao seu tempo». Os seus livros têm sido distinguidos com vários prémios, entre eles o Prémio Cidade de Lisboa de Poesia (1998), o Prémio Pen Club de Ensaio (2005), o italiano Res Magnae, para obras ensaísticas (2015), o Grande Prémio de Poesia Teixeira de Pascoaes APE (2016), o Grande Prémio APE de Crónica (2016) e, mais recentemente, o prestigiado Prémio Capri-San Michele (2017).
-
A Leitura InfinitaA Bíblia representa uma espécie de atlas. É um reservatório de histórias, um armário cheio de personagens, um teatro do natural e do sobrenatural, um fascinante laboratório de linguagens. Desconhecer a Bíblia não é apenas uma carência do ponto de vista religioso, mas é também uma forma de iliteracia cultural, pois significa perder de vista uma parte decisiva do horizonte onde historicamente nos inscrevemos. Compreender a Bíblia é compreender-se Depois de uma primeira edição pela Assírio & Alvim, já há algum tempo esgotada, e tendo em conta o entusiasmo com que a obra foi acolhida por leitores católicos e de várias Igrejas cristãs em Portugal, quisemos fazer esta nova edição, revista e aumentada, pois a Bíblia exerce uma atração inesgotável, que também exige uma iniciação ao mundo textual ali presente. Ora, é precisamente com esta exigência/necessidade que este trabalho dialoga. -
Hacia Una Espiritualidad de Los Sentidos· A recuperação do corpo (uma mística do corpo, dos sentidos, do instante) constitui um dos desafios da espiritualidade do nosso tempo. · José Tolentino Mendonça tem prestígio tanto no mundo cultural em geral (é um poeta e um intelectual reconhecido) como no especificamente eclesiástico (é vice-reitor da Universidade Católica de Lisboa e consultor do Conselho Pontifício da Cultura, no Vaticano). O corpo que somos é a gramática de Deus, a sua língua materna. Por isso, a mística dos sentidos ou do instante é uma espiritualidade que concebe os sentidos como caminho que conduz e porta que se abre ao encontro com Deus. O ponto místico de interseção da história divina com a história humana é o instante. Não um instante idealizado ou abstrato, senão este instante concreto. O instante é o único contacto entre as infinitas possibilidades do amor divino e a experiência mutante e progressiva do humano em nós. A mística do instante reenvia-nos, assim, ao interior de uma mística autêntica, ensina-nos a fazermo-nos realmente presentes: a ver em cada fragmento o infinito, a ouvir o marulho da eternidade em cada som, a tocar no impalpável com os gestos mais simples, a saborear o esplêndido banquete do fugaz e escasso, a embriagarmo-nos com o perfume da flor sempre nova do instante. -
Estação CentralReconhecido unanimente como um dos grandes poetas portugueses da atualidade, José Tolentino Mendonça regressa aos seus leitores com Estação Central, onde um dos poemas que o integram tem a seguinte epígrafe de Dietrich Bonhoeffer: «Deus é impotente e fraco no mundo, e somente assim está connosco e nos ajuda». Compreende-se por isso que «[...] Deus sendo puro deixa-se consumir / com a paixão insultuosa / dos devassos». Esta ambivalência entre a solidão da humanidade e o maravilhoso mistério que a acompanha perpassa as páginas deste livro. -
De Igual para Igual“O tempo, a sua irreversibilidade, a sua pavorosa infinitude, é a matéria de que se faz a nova recolha poética de José Tolentino Mendonça, De Igual para Igual. Talvez não a matéria, talvez apenas (e é imenso) o argumento sobre que se constrói esta breve mas intensa declinação da memória, ou dos seus filamentos suspensos do tempo. São como os fios de cabelo de um rapaz, mas estes não se perdem, reencontram-se no exercício necessário, porém insuficiente, das palavras ("um verso é sempre tão pouco / em redor do que se pode observar").O que diz então a poesia? Duas ou três coisas, a unanimidade do amor, a secreta imanência da verdade, a incomensurabilidade do tempo. E o lugar da poesia nisto tudo, e no mundo, forma frágil e célere (oposta a "essa forma de lentidão: a leitura"), ela própria prisioneira da desolada impotência do seu gesto ("Não uses palavras / se me segredas / aquilo que no fundo das nossas mentiras / se tornou uma verdade sublime"). Porque a poesia pode não ser mais que um exercício de nomeação, de convocação do que ficou, primeiro esquecido, depois recordado, da passagem do tempo, e nisso, ela é um instrumento da mesma contingência temporal que denuncia e combate. A poesia de José Tolentino Mendonça diz-se insuficiente, mas também necessária, quanto mais não seja para rasgar a via do reconhecimento das meras evidências: "a vida por si mesma não se pode escutar demasiado / a vida é uma questão de tempo", "o tempo era maior / do que se dizia", "tão absolutamente só / o nosso coração bate". Ela é, assim, um resíduo de pureza, de simples reminiscência, de evocação de "coisas que não precisam de nome», porventura porque são realmente inomináveis, meras cintilações alojadas no coração ("de que vale um coração / se não aspira à verdade / soberano").Há nesta poesia uma tal intensidade, um tal despojamento, que não poucas vezes ela se aventura pelos caminhos arriscados da inocência. Mas a sua força reside precisamente aí, nesse risco assumido de um dizer simples e sem artifício, sem sonoridade nem quase espessura, um grito disfarçado de murmúrio, a romper a noite em que se aventura o coração."A verdade que pertence aos gestos / ao menor dos nossos gestos / antes de chegarem palavras que nos socorram / às vezes é a verdade de um amor". Para o dizer, é preciso auscultar o mais fundo de nós mesmos, esse ponto, lá, a que só alguns chegam, por vezes em um só verso, outras vezes na sua obra inteira. É um privilégio, que é mais feito de sofrimento do que de glória – mas poucos o sabem. José Tolentino Mendonça pertence ao grupo dos que buscam, e quase sempre encontram, em cada um dos seus poemas, essa verdade secreta de si mesmo”.António Mega Ferreira -
Perdoar Helena“[…]RUÁ (GRANDE é a sua origem) dormia com a mulher, a terra tenebrosa, que deu à luz o seu rei, o solo, e depois o crepúsculo, e depois as trevas. Ruá repudiou então essa mulher. Ruá (grande é a sua origem) dormia com a mulher chamada Grande Reunião, e esta deu à luz as rainhas dos céus, as estrelas, e depois Faiti, estrela da tarde. O Rei dos céus dourados, rei único, dormia com a sua mulher Fanuí, e nasceu dela o astro Fouruá – Vénus (estrela da manhã) – o rei Fouruá que dá leis à noite e ao dia, às estrelas, à lua, ao sol, e serve de guia aos marinheiros. Fez-se à vela para a esquerda, Fouruá, e para o norte, e dormiu aí com sua mulher, guia dos marinheiros, que deu à luz a estrela vermelha, estrela vermelha que brilha à tarde com duas faces. Estrela vermelha, o deus que voa para oeste, prepara a piroga, a piroga do dia alto que singra em direcção aos céus. Faz-se à vela ao nascer do sol. Ruá caminha nos espaços. E dormia com sua mulher Urá-Tanaipá, nascendo dela os reis, os gémeos que estão à frente das Plêiades. Eram de Bora-Bora e ao ouvirem os pais dizer que iam separá-los, abandonaram a casa paterna e foram juntos para Raiatea, e depois para Uhamê, Eimeo e Otaiti. Mal partiram, a mãe inquieta começou a procurá-los mas chegava sempre tarde a todas as ilhas. Soube no entanto em Otaiti que eles ainda lá estavam e se escondiam nas montanhas. Acabou por descobri-los, mas fugiram à sua frente, até ao cume mais alto. Aí, lavada em lágrimas, no instante em que se julgava prestes a apanhá-los eles levantaram voo para os céus e ainda lá se encontram, no meio das constelações.[…]”Gauguin em Noa Noa -
A Estrada BrancaA ESTRADA BRANCA Atravessei contigo a minuciosa tarde deste-me a tua mão, a vida parecia difícil de estabelecer acima do muro alto folhas tremiam ao invisível peso mais forte Podia morrer por uma só dessas coisas que trazemos sem que possam ser ditas: astros cruzam-se numa velocidade que apavora inamovíveis glaciares por fim se deslocam e na única forma que tem de acompanhar-te o meu coração bate -
Histórias Escolhidas da BíbliaAtravés da rigorosa e certeira escolha de José Tolentino Mendonça os mais pequenos poderão agora passar horas de intenso divertimento e descoberta da Bíblia. Uma excelente iniciação à leitura da Bíblia, este é um livro apropriado para todas as idades, integralmente ilustrado pela pintora Ilda David?. A Bíblia é uma fascinante biblioteca de histórias. Algumas delas circularam, de boca em boca, durante séculos, antes de serem escritas. E as que primeiro surgiram num livro foram igualmente divulgadas com entusiasmo num passa-palavra contagiante, que não conhece fim. O mundo bíblico é, em grande medida, o dos contadores e ouvintes de histórias. Sempre que lemos e escutamos entramos na grande aventura que a Bíblia narra. Como verás, também aqui se fala da descoberta de um tesouro, um incalculável tesouro.Mas só o podemos procurar com o coração. -
O Hipopótamo de Deus e Outros TextosNeste livro reúnem-se textos de José Tolentino Mendonça que exploram a relação entre cristianismoe cultura, dos tempos bíblicos até aos mais recentes acontecimentos na sociedade portuguesa.Um livro notável para se ler de um fôlego, nestes tempos conturbados em que a sociedade vive a umritmo alucinante, quase sempre sem disponibilidade para olhar além do seu lado materialista.«Um dos passos mais intrigantes da Bíblia tem a ver com um hipopótamo. E não é propriamenteum divertimento teológico, pois surge numa obra que explora muito seriamente os limites daresponsabilidade humana perante a experiência devastadora do Mal. Falo do Livro de Job, claro. Oque primeiro nos surge ali é o protesto de Job contra o Mal que se abate inexplicavelmente sobre asua história, protesto que se estende até Deus, já que, afinal, Ele não isenta os justos das tribulações.Mas depois vem o momento em que Deus se propõe interrogá-lo. E nesse diálogo assombroso, desenvolve-se um raciocínio que não pode ser mais desconcertante. Job só consegue pensar nas suasaflições, nas razões e desrazões comas quais, inutilmente, esgrime.Deus, porém, desafia-o a olhar defrente para… um hipopótamo. “Vê o hipopótamo que criei como a ti… Ele levanta a sua caudacomo um cedro; os tendões das suas coxas estão entrelaçados. Os seus ossos são como tubos debronze, a sua estrutura é semelhante a pranchas de ferro. É a obra-prima de Deus…, ninguém seatreve a provocá-lo.”[…]» -
O Estado do BosqueApós Perdoar Helena José Tolentino Mendonça regressa ao teatro com uma nova peça onde interagem cinco personagens: 3 homens e 2 mulheres. John Wolf, o guia da floresta; 2 caminhantes: Peter Weil (meia idade) e Jacob (mais novo). E duas mulheres: a jovem Viviane Mars e o Destino.«Um dia os homens deixarão os aviões, os transatlânticos, os comboios de alta velocidade, os automóveis para regressar aos caminhos do bosque.» -
A Papoila e o MongeFruto de uma viagem ao Japão, a convite do Centro Nacional de Cultura, e devedor também do «Book of Haikus» de Jack Kerouac, «A Papoila e o Monge» é o novo e surpreendente livro de poesia de José Tolentino Mendonça.Silêncio:na ravina inacessívelo prado em flor
-
O Essencial Sobre José Saramago«Aquilo que neste livro se entende como essencial em José Saramago corresponde à sua específica identidade como escritor, com a singularidade e com as propriedades que o diferenciam, nos seus fundamentos e manifestações. Mas isso não é tudo. No autor de Memorial do Convento afirma-se também uma condição de cidadão e de homem político, pensando o seu tempo e os fenómenos sociais e culturais que o conformam. Para o que aqui importa, isso é igualmente essencial em Saramago, até porque aquela condição de cidadão não é estranha às obras literárias com as quais ela interage, em termos muito expressivos.» in Contracapa -
Confissões de um Jovem EscritorUmberto Eco publicou seu primeiro romance, O Nome da Rosa, em 1980, quando tinha quase 50 anos. Nestas suas Confissões, escritas cerca de trinta anos depois da sua estreia na ficção, o brilhante intelectual italiano percorre a sua longa carreira como ensaísta dedicando especial atenção ao labor criativo que consagrou aos romances que o aclamaram. De forma simultaneamente divertida e séria, com o brilhantismo de sempre, Umberto Eco explora temas como a fronteira entre a ficção e a não-ficção, a ambiguidade que o escritor mantém para que seus leitores se sintam livres para seguir o seu próprio caminho interpre tativo, bem como a capacidade de gerar neles emoções. Composto por quatro conferências integradas no âmbito das palestras Richard Ellmann sobre Literatura Moderna que Eco proferiu na Universidade Emory, em Atlanta, nos Estados Unidos, Confissões de um jovem escritor é uma viagem irresistível aos mundos imaginários do autor e ao modo como os transformou em histórias inesquecíveis para todos os leitores. O “jovem escritor” revela-se, afinal, um grande mestre e aqui partilha a sua sabedoria sobre a arte da imaginação e o poder das palavras. -
Sobre as MulheresSobre as Mulheres é uma amostra substancial da escrita de Susan Sontag em torno da questão da mulher. Ao longo dos sete ensaios e entrevistas (e de uma troca pública de argumentos), são abordados relevantes temas, como os desafios e a humilhação que as mulheres enfrentam à medida que envelhecem, a relação entre a luta pela libertação das mulheres e a luta de classes, a beleza, o feminismo, o fascismo, o cinema. Ao fim de cinquenta anos – datam dos primeiros anos da década de 1970 –, estes textos não envelheceram nem perderam pertinência. E, no seu conjunto, revelam a curiosidade incansável, a precisão histórica, a solidez política e o repúdio por categorizações fáceis – em suma, a inimitável inteligência de Sontag em pleno exercício.«É um deleite observar a agilidade da mente seccionando através da flacidez do pensamento preguiçoso.» The Washington Post«Uma nova compilação de primeiros textos de Sontag sobre género, sexualidade e feminismo.» Kirkus Reviews -
Para Tão Curtos Amores, Tão Longa VidaNuma época e num país como o nosso, em que se regista um número muito elevado de divórcios, e em que muitos casais preferem «viver juntos» a casar-se, dando origem nas estatísticas a muitas crianças nascidas «fora do casamento», nesta época e neste país a pergunta mais próxima da realidade não é por que duram tão pouco tantos casamentos, mas antes: Por que é que há casamentos que duram até à morte dos cônjuges? Qual é o segredo? Há um segredo nisso? Este novo livro de Daniel Sampaio, que traz o título tão evocativo: Para Tão Curtos Amores, Tão Longa Vida, discute as relações afetivas breves e as prolongadas, a monogamia e a infidelidade, a importância da relação precoce com os pais e as vicissitudes do amor. Combinando dois estilos, o ficcional e o ensaístico, que domina na perfeição, o autor traz perante os nossos olhos, de modo muito transparente e sem preconceitos, tão abundantes nestas matérias, os problemas e dificuldades dos casais no mundo de hoje, as suas vitórias e derrotas na luta permanente para manterem viva a sua união.Um livro para todos nós porque (quase) todos nós, mais tarde ou mais cedo, passamos por isso. -
A Vida na SelvaHá quem nasça para o romance ou para a poesia e se torne conhecido pelo seu trabalho literário; e quem chegue a esse ponto depois de percorrer um longo caminho de vida, atravessando os escolhos e a complexidade de uma profissão, ou de uma passagem pela política, ou de um reconhecimento público que não está ligado à literatura. Foi o caso de Álvaro Laborinho Lúcio, que publicou o seu primeiro e inesperado romance (O Chamador) em 2014.Desde então, em leituras públicas, festivais, conferências e textos com destinos vários, tem feito uma viagem de que guarda memórias, opiniões, interesses, perguntas e respostas, perplexidades e reconhecimentos. Estes textos são o primeiro resumo de uma vida com a literatura – e o testemunho de um homem comprometido com as suas paixões e o diálogo com os outros. O resultado é comovente e tão inesperado como foi a publicação do primeiro romance. -
Almoço de DomingoUm romance, uma biografia, uma leitura de Portugal e das várias gerações portuguesas entre 1931 e 2021. Tudo olhado a partir de uma geografia e de uma família.Com este novo romance de José Luís Peixoto acompanhamos, entre 1931 e 2021, a biografia de um homem famoso que o leitor há de identificar — em paralelo com história do país durante esses anos. No Alentejo da raia, o contrabando é a resistência perante a pobreza, tal como é a metáfora das múltiplas e imprecisas fronteiras que rodeiam a existência e a literatura. Através dessa entrada, chega-se muito longe, sem nunca esquecer as origens. Num percurso de várias gerações, tocado pela Guerra Civil de Espanha, pelo 25 de abril, por figuras como Marcelo Caetano ou Mário Soares e Felipe González, este é também um romance sobre a idade, sobre a vida contra a morte, sobre o amor profundo e ancestral de uma família reunida, em torno do patriarca, no seu almoço de domingo.«O passado tem de provar constantemente que existiu. Aquilo que foi esquecido e o que não existiu ocupam o mesmo lugar. Há muita realidade a passear-se por aí, frágil, transportada apenas por uma única pessoa. Se esse indivíduo desaparecer, toda essa realidade desaparece sem apelo, não existe meio de recuperá-la, é como se não tivesse existido.» «Os motoristas estão à espera, o brado da multidão mistura-se com o rugido dos motores. Antes de entrarmos, o Mário Soares aproxima-se de mim, correu tudo tão bem, e abraça-me com um par estrondosas palmadas no centro das costas. A coluna de carros avança devagar pelas ruas da vila. Tenho a garganta apertada, não consigo falar. Como me orgulha que Campo Maior seja a capital da península durante este momento.»«Autobiografia é um romance que desafia o leitor ao diluir fronteiras entre o real e o ficcional, entre espaços e tempos, entre duas personagens de nome José, um jovem escritor e José Saramago. Este é o melhor romance de José Luís Peixoto.»José Riço Direitinho, Público «O principal risco de Autobiografia era esgotar-se no plano da mera homenagem engenhosa, mas Peixoto evitou essa armadilha, ao construir uma narrativa que se expande em várias direções, acumulando camadas de complexidade.»José Mário Silva, Expresso -
Electra Nº 23A Atenção, tema de que se ocupa o dossier central do número 23 da revista Electra, é um recurso escasso e precioso e por isso objecto de uma guerra de concorrência sem tréguas para conseguir a sua captura. Nunca houve uma tão grande proliferação de informação, de produtos de consumo, de bens culturais, de acontecimentos que reclamam a atenção. Ela é a mercadoria da qual depende o valor de todas as mercadorias, sejam materiais ou imateriais, reais ou simbólicas. A Atenção é, pois, uma questão fundamental do nosso tempo e é um tópico crucial para o compreendermos. Sobre ela destacam-se neste dossier artigos e entrevistas de Yves Citton, Enrico Campo, Mark Wigley, Georg Franck e Claire Bishop. Nesta edição, na secção “Primeira Pessoa”, são publicadas entrevistas à escritora, professora e crítica norte-americana Svetlana Alpers (por Afonso Dias Ramos), cujo trabalho pioneiro redefiniu o campo da história da arte nas últimas décadas, e a Philippe Descola (por António Guerreiro), figura central da Antropologia, que nos fala de temas que vão desde a produção de imagens e das tradições e dos estilos iconográficos à questão da oposição entre natureza e cultura. A secção “Furo” apresenta um conjunto de desenhos e cartas inéditos da pintora Maria Helena Vieira da Silva. Em 1928, tinha vinte anos. Havia saído de Portugal para estudar arte em Paris e, de França, foi a Itália numa viagem de estudo. Durante esse percurso desenhou num caderno esboços rápidos do que via, e ao mesmo tempo, escrevia cartas à mãe para lhe contar as suas impressões e descobertas. Uma selecção destes desenhos e destas cartas, que estabelecem entre si um diálogo íntimo e consonante, é agora revelada. Na Electra 23, é publicada, na secção “Figura”, um retrato do grande poeta grego Konstandinos Kavafis, feito pelo professor e tradutor Nikos Pratsinis, a partir de oito perguntas capitais; é comentada, pelo escritor Christian Salmon, na secção “Passagens”, uma reflexão sobre a história trágica da Europa Central do consagrado romancista e ensaísta checo, Milan Kundera. Ainda neste número, o ensaísta e jornalista Sergio Molino dá-nos um mapa pessoal da cidade de Saragoça, em que a história e a geografia, a literatura e a arte se encontram; o jornalista e colunista brasileiro Marcelo Leite trata das investigações em curso desde os anos 90, com vista ao uso farmacológico e terapêutico dos psicadélicos; a escritora e veterinária María Sanchez constrói um diário que é atravessado por procuras e encontros, casas e viagens, livros e animais, terras e mulheres, amor e amizade; o arquitecto, investigador e curador chileno Francisco Díaz aborda a relação entre solo e terreno, a partir do projecto da Cidade da Cultura de Santiago de Compostela, da autoria de Peter Eisenman; o artista e ensaísta João Sousa Cardoso escreve sobre a obra do escultor Rui Chafes, revisitando três exposições e um livro apresentados durante o ano de 2023; e o dramaturgo Miguel Castro Caldas comenta a palavra “Confortável”.Vários -
Diário SelvagemEste «Diário Selvagem», «até aqui quase integralmente inédito, é um livro mítico, listado e discutido em inúmeras cartas e cronologias do autor, a que só alguns biógrafos e estudiosos foram tendo acesso».