Diário do Escritor
«A ideia doDiário do Escritor nasceu durante a estada de Dostoiévski no estrangeiro em 1867-1871. Sempre atento aos acontecimentos da vida corrente, o escritor sabia captar nos factos aparentemente insignificantes os indícios de fenómenos históricos globais, sabia discernir o lugar desses factos no processo histórico de desenvolvimento dos países, dos povos e das religiões. Os textos do seu “Diário”, enquanto análise e interpretação dos acontecimentos da sua época do ponto de vista da eternidade histórica, mantêm o seu carácter actual ainda hoje, passado quase um século e meio desde a sua criação.» [Da Nota Introdutória de Nina Guerra]
| Editora | Relógio d' Água |
|---|---|
| Coleção | Clássicos |
| Categorias | |
| Editora | Relógio d' Água |
| Negar Chronopost e Cobrança | Não |
| Autores | Fiódor Dostoiévski |
Fiódor Dostoiévski ( Moscovo, 30.10.1821 - S. Petersburgo, 28.01.1881) foi um dos grandes percursores, como Emily Brontë, da mais moderna forma do romance, exemplificada em Marcel Proust, James Joyce, Virgina Woolf entre outros. Filho de um médico militar, aos 15 anos é enviado para a Escola Militar de Engenharia. de S. Petersburgo. Aí lhe desperta a vocação literária, ao entrar em contacto com outros escritores russos e com a obra de Byron, Vítor Hugo e Shakespeare. Terminado o curso de engenharia, dedica-se a fazer traduções para ganhar a vida e estreia-se em 1846 com o seu primeiro romance, Gente Pobre. Após mais umas tentavivas literárias, foi condenado à morte em 1849, por implicação numa suspeita conjura revolucionária. No entanto, a pena foi-lhe comutada para trabalhos forçados na Sibéria. Durante os seus anos de degredo teve uma vida interior de caráter místico, por ter sido forçado a conviver com a dura realidade russa, o que também o levou a familiarizar-se com as profundezas insuspeitas da alma do povo russo. Amnistiado em 1855, reassumiu a atividade literária e em 1866, com Crime e Castigo, marca a ruptura com os liberais e radicais a que tinha sido conotado. As obras de Dostoiévski atingem um relevo máximo pela análise psicológica, sobretudo das condições mórbidas, e pela completa identificação imaginativa do autor com as degradadas personagens a que deu vida, não tendo, por esse prisma, rival na literatura mundial. A exatidão e valor científico dos seus retratos é atestada pelos grandes criminalistas russos. Neste grande novelista, o desejo de sofrer traz como consequência a busca e a aceitação do castigo e a conceção da pena como redentora por meio da dor.
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Crime e CastigoCom "Crime e Castigo", a Editorial Presença inaugura a publicação da obra de um dos maiores escritores de sempre, numa nova e criteriosa tradução, feita directamente a partir do russo. Datado de 1866, este é o primeiro dos grandes romances que Dostoiévski escreveu já em plena maturidade literária, sendo, provavelmente, a mais bem conhecida de todas as suas obras.Recriando um estranho e doloroso mundo em torno da figura do estudante Raskólnikov, perturbado pelas privações e duras condições de vida, é uma das obras por excelência fundadoras da modernidade. Pelo inexcedível alcance e profundidade psicológica, sobretudo no que implica a exploração das motivações não conscientes e a aparente irracionalidade nos comportamentos das personagens, este autor russo tornou-se uma referência universal na literatura, sem perda de continuidade até aos nossos dias. Esta nova versão em língua portuguesa das obras de Dostoiévski, cuja qualidade permite ao leitor usufruir plenamente da extraordinária riqueza dos textos originais, é da responsabilidade de Nina e Filipe Guerra. -
O IdiotaPublicado por volta de 1868-1869, O Idiota é, porventura, dos cinco grandes romances de Dostoiévski, o mais perfeito - na composição, no estilo, no aprofundamento dos carateres. Foi também de todos os romances do autor, o mais incompreendido na sua época. Dostoiévski pretende, segundo as suas próprias palavras, «criar a imagem do homem positivamente bom», uma encarnação da beleza, da bondade e da humildade, figura de herói entre Dom Quixote e Cristo, mostrando o que pode acontecer a um homem assim, em contacto com a realidade. protagonizado por Míchkin, o príncipe de cuja boa vontade todos procuram aproveitar-se, neste livro como em tantos outros romances do autor, são dramatizados os problemas sociais, filosóficos e morais da época. tratamento a que o génio de Dostoiévski confere uma força e uma amplitude que fazem de O Idiota uma obra intemporal. -
O AdolescenteO Adolescente (1874-1875) é o menos conhecido dos cinco longos romances produzidos por Dostoiévski entre 1866 e 1880, o seu período de plena maturidade literária. Escrito na primeira pessoa, é a história de um filho ilegítimo. Mais um herói humilhado e ofendido, que cresceu entre estranhos, sem quase ter visto a mãe nos seus primeiros anos de vida, e atormentado por uma existência parental «dupla» - o pai biológico e o marido de sua mãe, que lhe deu o nome divisão acentuada ainda pela diferença de estrato social entre essas figuras parentais. A história de Arkádi é assim uma espécie de «educação sentimental», extremamente complexa pela multiplicidade de contradições que dividem o jovem. Todos os grandes temas de Dostoiévski estão aqui presentes: a luta entre o Bem e o Mal, a Luz e as Trevas, a degradação moral inerente à condição humana e a possibilidade de redenção... Dostoiévski evidencia nesta obra os sinais terríveis que são o reflexo dessa dicotomia em todos os estratos da sociedade russa nos meados do século XIX. -
A Aldeia de Stepantchikovo e os Seus HabitantesA sensibilidade peculiar de Dostoiévski, o seu sentido do que há de trágico na vida dos seres comuns assim como das suas fraquezas, que lhe suscitam compaixão, fazem dele o retratista incomparável da época em que se inaugurava, sob o signo do progresso industrial, cultural e social, a modernidade de que ele é já um intérprete de pleno direito. A «actualidade» dessa época de transição, ao mesmo tempo cheia de promessas e de sinais de uma decadência gerada pelo apego às velhas mordomias do império, suscitou em Dostoiévski uma paixão que se traduziu na inesgotabilidade dos seus temas, centrados sempre na profundidade contraditória e caótica da subjectividade humana. Escrito ao mesmo tempo que os Cadernos da Casa Morta, o romance, A Aldeia de Stepantchikovo e os Seus Habitantes (1859) é considerado uma das obras-primas do cómico dostoievskiano. É notável pelo trabalho dos diálogos, que fazem deste romance uma obra particularmente adaptável ao teatro. A narração, ambientada numa propriedade rural do interior da Rússia, é ferozmente corrosiva em relação aos pequenos dramas em que se comprazem as personagens, sobretudo Fomá Opísskin, um homem medíocre e frustrado que alimenta sonhos de grandeza e se comporta como um verdadeiro tirano em relação ao seu benfeitor com quem mantém uma relação parasitária. A presente edição deste volume é, como habitualmente nesta colecção, uma tradução directa do russo, da autoria de Nina Guerra e Filipe Guerra, vencedores do Grande Prémio de tradução literária APT/Pen Clube Português. -
O Ladrão Honesto e Outras HistóriasEste décimo terceiro volume da colecção «Obras de Fiódor Dostoiévski» é uma colectânea de contos e novelas que reúne quatro obras escritas ou publicadas entre os anos de 1848 e 1849. São elas «O Ladrão Honesto», «Uma Festa com Árvore de Natal e Um Casamento», «O Pequeno Herói» e «Nétotchka Nezvánova». Os dois últimos títulos ficarão para sempre associados às circunstâncias conturbadas que envolveram a sua concepção «Nétotchka Nezvánova», originalmente projectado por Dostoiévski para ser um romance, foi abruptamente interrompido pela prisão do autor, que só anos mais tarde o viria a concluir, com grandes alterações, e optando por transformá-lo num conto; «O Pequeno Herói» foi escrito durante o encarceramento na cela solitária da Fortaleza de Pedro e Paulo. Não obstante as vicissitudes biográficas, o génio de Dostoiévski nunca deixou de se manifestar em todas as páginas da sua obra, e é com deleite que o reconhecemos, uma vez mais, nesta colectânea que espelha com nitidez o conhecimento profundo que o escritor tem da alma humana e a sensibilidade ímpar com que retrata as suas variegadas expressões e idiossincrasias. -
Um Sonho do Tio (das Crónicas de Mordássov)Um Sonho do Tio tem como tema principal a influência daninha do meio sobre o carácter do indivíduo. Mostra a vida das elites provincianas, vazia, amoral, hipócrita. Ridiculariza, em tom de perfeita comédia de costumes, a rotina, os boatos, as intrigas, as posturas baixas e sublimes das personagens. Encena um conflito da província russa, servindo-se do humor e sátira, na peugada de Gógol. Neste livro, Dostoiévski liberta-se mesmo de um certo sentimentalismo e moralismo que às vezes o persegue noutros livros: não pretende resolver o conflito como moralista, capta a força das circunstâncias e não espera vencê-las com discursos didácticos. Vladimir Nabókov, sem apreciar especialmente todo o trabalho de Dostoiévski, não hesitou em classificar Um Sonho do Tio como uma obra genial. -
Noites BrancasNoites Brancas (publicado pela primeira vez numa revista em 1848) esboça a figura de mais um herói proscrito da lista de Dostoiévski, desta feita o sonhador. Este sonhador de Noites Brancas não é só um romântico lamechas, mas uma “aberração” social, como o próprio autor (em Crónicas de Petersburgo, 1847) explica: não podendo o homem encontrar o seu lugar no mundo, “(...) nos caracteres ansiosos da actividade, mas fracos, femininos, ternos, nasce a pouco e pouco aquilo a que se chama ‘sonhadorismo’, e o homem deixa de ser homem, torna-se uma espécie esquisita... — o ‘sonhador’ (...). A realidade produz no coração do sonhador uma impressão grave, hostil, que então se apressa a meter no seu cantinho secreto e dourado, que na realidade é, não raro, poeirento, desmazelado, desarrumado e porco. A pouco e pouco, o nosso rebelde começa a alienar-se dos interesses comuns e, gradualmente, imperceptivelmente, começa a embotar-se nele o talento de viver na vida real.” É assim o herói de Noites Brancas, mergulhado na sua trágica solidão. A linguagem deste conto, fazendo jus ao eclectismo do autor neste particular, assume-se ironicamente e de raiz como melifluamente romântica. Noites Brancas refere-se às noites do início do Verão em que não escurece, fenómeno observado em ambos os hemisférios a partir dos 60 graus de latitude norte e sul (em Petersburgo vai de 11 de Junho a 2 de Julho). Estas noites de Petersburgo que imitam o dia são o símbolo que preside ao conto de Dostoiévski: o sonho imitando a vida, até se tornar nela, para sempre. -
O Jogador - Memórias de Um JovemO que pode acontecer quando a paixão pela roleta se cruza com a paixão pela mulher amada? É esse conflito que Dostoievski aborda neste romance, memórias de um jovem que faz parte do séquito de um general russo instalado em Roletenburgo, à espera de uma herança que nunca mais chega. Trata-se de um grupo de personagens ligadas pela cupidez, a ambição, o fracasso, o amor e a memória de faustos passados, vivendo um jogo de luz e sombra em que quase nada é o que parece. Dostoievski (1821-1881) é, com Tolstoi, Gogol e Turguéniev, um dos quatro grandes romancistas russos. -
O JogadorO Jogador foi publicado em 1866. Passado na Alemanha num ambiente de casinos, Aleksei Ivánovitch destaca-se como figura principal: um jovem com um forte sentido crítico em relação ao mundo que o rodeia, mas carente de objetivos, que descobre em si a paixão compulsiva pelo jogo. Dostoiévski expõe as personagens nas suas motivações mais íntimas, com humor e ironia, criando uma obra simultaneamente viva e profunda. O fascínio torturado dos jogadores, o descontrolo e o desespero, as paixões que raiam a loucura e a solidão sem perspetivas, além de uma análise social impiedosa, fazem desta uma das obras mais emblemáticas deste autor. -
Crime e CastigoTradutor (do russo): António Pescada Raskólnikov, um estudante pobre e desesperado, vagueia pelos bairros degradados de São Petersburgo e comete um assassínio. A vítima é uma velha usurária. Raskólnikov imagina-se um grande homem, agindo por uma causa que está para além das convenções da lei moral e o coloca acima do comum dos mortais. O seu acto é praticado com uma mistura de sangue frio e exaltado misticismo. Mas quando inicia um jogo do gato e do rato com um polícia, Raskólnikov é cada vez mais perseguido pela voz da sua consciência. Apenas Sónia, uma prostituta, lhe concede a possibilidade de redenção. O crime de Raskólnikov foi inspirado no assassínio de duas mulheres, com um machado, ocorrido em 1865. Mas, pela mão de Dostoievski, transforma-se numa intensa narrativa, um protagonista desenraizado em busca de afirmação, uma obra em que confluem elementos psicológicos, sociais, éticos e filosóficos. A obra foi inicialmente publicada por capítulos, em 1866, no 'Mensageiro Russo'.
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O Essencial Sobre José Saramago«Aquilo que neste livro se entende como essencial em José Saramago corresponde à sua específica identidade como escritor, com a singularidade e com as propriedades que o diferenciam, nos seus fundamentos e manifestações. Mas isso não é tudo. No autor de Memorial do Convento afirma-se também uma condição de cidadão e de homem político, pensando o seu tempo e os fenómenos sociais e culturais que o conformam. Para o que aqui importa, isso é igualmente essencial em Saramago, até porque aquela condição de cidadão não é estranha às obras literárias com as quais ela interage, em termos muito expressivos.» in Contracapa -
Confissões de um Jovem EscritorUmberto Eco publicou seu primeiro romance, O Nome da Rosa, em 1980, quando tinha quase 50 anos. Nestas suas Confissões, escritas cerca de trinta anos depois da sua estreia na ficção, o brilhante intelectual italiano percorre a sua longa carreira como ensaísta dedicando especial atenção ao labor criativo que consagrou aos romances que o aclamaram. De forma simultaneamente divertida e séria, com o brilhantismo de sempre, Umberto Eco explora temas como a fronteira entre a ficção e a não-ficção, a ambiguidade que o escritor mantém para que seus leitores se sintam livres para seguir o seu próprio caminho interpre tativo, bem como a capacidade de gerar neles emoções. Composto por quatro conferências integradas no âmbito das palestras Richard Ellmann sobre Literatura Moderna que Eco proferiu na Universidade Emory, em Atlanta, nos Estados Unidos, Confissões de um jovem escritor é uma viagem irresistível aos mundos imaginários do autor e ao modo como os transformou em histórias inesquecíveis para todos os leitores. O “jovem escritor” revela-se, afinal, um grande mestre e aqui partilha a sua sabedoria sobre a arte da imaginação e o poder das palavras. -
Sobre as MulheresSobre as Mulheres é uma amostra substancial da escrita de Susan Sontag em torno da questão da mulher. Ao longo dos sete ensaios e entrevistas (e de uma troca pública de argumentos), são abordados relevantes temas, como os desafios e a humilhação que as mulheres enfrentam à medida que envelhecem, a relação entre a luta pela libertação das mulheres e a luta de classes, a beleza, o feminismo, o fascismo, o cinema. Ao fim de cinquenta anos – datam dos primeiros anos da década de 1970 –, estes textos não envelheceram nem perderam pertinência. E, no seu conjunto, revelam a curiosidade incansável, a precisão histórica, a solidez política e o repúdio por categorizações fáceis – em suma, a inimitável inteligência de Sontag em pleno exercício.«É um deleite observar a agilidade da mente seccionando através da flacidez do pensamento preguiçoso.» The Washington Post«Uma nova compilação de primeiros textos de Sontag sobre género, sexualidade e feminismo.» Kirkus Reviews -
Para Tão Curtos Amores, Tão Longa VidaNuma época e num país como o nosso, em que se regista um número muito elevado de divórcios, e em que muitos casais preferem «viver juntos» a casar-se, dando origem nas estatísticas a muitas crianças nascidas «fora do casamento», nesta época e neste país a pergunta mais próxima da realidade não é por que duram tão pouco tantos casamentos, mas antes: Por que é que há casamentos que duram até à morte dos cônjuges? Qual é o segredo? Há um segredo nisso? Este novo livro de Daniel Sampaio, que traz o título tão evocativo: Para Tão Curtos Amores, Tão Longa Vida, discute as relações afetivas breves e as prolongadas, a monogamia e a infidelidade, a importância da relação precoce com os pais e as vicissitudes do amor. Combinando dois estilos, o ficcional e o ensaístico, que domina na perfeição, o autor traz perante os nossos olhos, de modo muito transparente e sem preconceitos, tão abundantes nestas matérias, os problemas e dificuldades dos casais no mundo de hoje, as suas vitórias e derrotas na luta permanente para manterem viva a sua união.Um livro para todos nós porque (quase) todos nós, mais tarde ou mais cedo, passamos por isso. -
A Vida na SelvaHá quem nasça para o romance ou para a poesia e se torne conhecido pelo seu trabalho literário; e quem chegue a esse ponto depois de percorrer um longo caminho de vida, atravessando os escolhos e a complexidade de uma profissão, ou de uma passagem pela política, ou de um reconhecimento público que não está ligado à literatura. Foi o caso de Álvaro Laborinho Lúcio, que publicou o seu primeiro e inesperado romance (O Chamador) em 2014.Desde então, em leituras públicas, festivais, conferências e textos com destinos vários, tem feito uma viagem de que guarda memórias, opiniões, interesses, perguntas e respostas, perplexidades e reconhecimentos. Estes textos são o primeiro resumo de uma vida com a literatura – e o testemunho de um homem comprometido com as suas paixões e o diálogo com os outros. O resultado é comovente e tão inesperado como foi a publicação do primeiro romance. -
Almoço de DomingoUm romance, uma biografia, uma leitura de Portugal e das várias gerações portuguesas entre 1931 e 2021. Tudo olhado a partir de uma geografia e de uma família.Com este novo romance de José Luís Peixoto acompanhamos, entre 1931 e 2021, a biografia de um homem famoso que o leitor há de identificar — em paralelo com história do país durante esses anos. No Alentejo da raia, o contrabando é a resistência perante a pobreza, tal como é a metáfora das múltiplas e imprecisas fronteiras que rodeiam a existência e a literatura. Através dessa entrada, chega-se muito longe, sem nunca esquecer as origens. Num percurso de várias gerações, tocado pela Guerra Civil de Espanha, pelo 25 de abril, por figuras como Marcelo Caetano ou Mário Soares e Felipe González, este é também um romance sobre a idade, sobre a vida contra a morte, sobre o amor profundo e ancestral de uma família reunida, em torno do patriarca, no seu almoço de domingo.«O passado tem de provar constantemente que existiu. Aquilo que foi esquecido e o que não existiu ocupam o mesmo lugar. Há muita realidade a passear-se por aí, frágil, transportada apenas por uma única pessoa. Se esse indivíduo desaparecer, toda essa realidade desaparece sem apelo, não existe meio de recuperá-la, é como se não tivesse existido.» «Os motoristas estão à espera, o brado da multidão mistura-se com o rugido dos motores. Antes de entrarmos, o Mário Soares aproxima-se de mim, correu tudo tão bem, e abraça-me com um par estrondosas palmadas no centro das costas. A coluna de carros avança devagar pelas ruas da vila. Tenho a garganta apertada, não consigo falar. Como me orgulha que Campo Maior seja a capital da península durante este momento.»«Autobiografia é um romance que desafia o leitor ao diluir fronteiras entre o real e o ficcional, entre espaços e tempos, entre duas personagens de nome José, um jovem escritor e José Saramago. Este é o melhor romance de José Luís Peixoto.»José Riço Direitinho, Público «O principal risco de Autobiografia era esgotar-se no plano da mera homenagem engenhosa, mas Peixoto evitou essa armadilha, ao construir uma narrativa que se expande em várias direções, acumulando camadas de complexidade.»José Mário Silva, Expresso -
Electra Nº 23A Atenção, tema de que se ocupa o dossier central do número 23 da revista Electra, é um recurso escasso e precioso e por isso objecto de uma guerra de concorrência sem tréguas para conseguir a sua captura. Nunca houve uma tão grande proliferação de informação, de produtos de consumo, de bens culturais, de acontecimentos que reclamam a atenção. Ela é a mercadoria da qual depende o valor de todas as mercadorias, sejam materiais ou imateriais, reais ou simbólicas. A Atenção é, pois, uma questão fundamental do nosso tempo e é um tópico crucial para o compreendermos. Sobre ela destacam-se neste dossier artigos e entrevistas de Yves Citton, Enrico Campo, Mark Wigley, Georg Franck e Claire Bishop. Nesta edição, na secção “Primeira Pessoa”, são publicadas entrevistas à escritora, professora e crítica norte-americana Svetlana Alpers (por Afonso Dias Ramos), cujo trabalho pioneiro redefiniu o campo da história da arte nas últimas décadas, e a Philippe Descola (por António Guerreiro), figura central da Antropologia, que nos fala de temas que vão desde a produção de imagens e das tradições e dos estilos iconográficos à questão da oposição entre natureza e cultura. A secção “Furo” apresenta um conjunto de desenhos e cartas inéditos da pintora Maria Helena Vieira da Silva. Em 1928, tinha vinte anos. Havia saído de Portugal para estudar arte em Paris e, de França, foi a Itália numa viagem de estudo. Durante esse percurso desenhou num caderno esboços rápidos do que via, e ao mesmo tempo, escrevia cartas à mãe para lhe contar as suas impressões e descobertas. Uma selecção destes desenhos e destas cartas, que estabelecem entre si um diálogo íntimo e consonante, é agora revelada. Na Electra 23, é publicada, na secção “Figura”, um retrato do grande poeta grego Konstandinos Kavafis, feito pelo professor e tradutor Nikos Pratsinis, a partir de oito perguntas capitais; é comentada, pelo escritor Christian Salmon, na secção “Passagens”, uma reflexão sobre a história trágica da Europa Central do consagrado romancista e ensaísta checo, Milan Kundera. Ainda neste número, o ensaísta e jornalista Sergio Molino dá-nos um mapa pessoal da cidade de Saragoça, em que a história e a geografia, a literatura e a arte se encontram; o jornalista e colunista brasileiro Marcelo Leite trata das investigações em curso desde os anos 90, com vista ao uso farmacológico e terapêutico dos psicadélicos; a escritora e veterinária María Sanchez constrói um diário que é atravessado por procuras e encontros, casas e viagens, livros e animais, terras e mulheres, amor e amizade; o arquitecto, investigador e curador chileno Francisco Díaz aborda a relação entre solo e terreno, a partir do projecto da Cidade da Cultura de Santiago de Compostela, da autoria de Peter Eisenman; o artista e ensaísta João Sousa Cardoso escreve sobre a obra do escultor Rui Chafes, revisitando três exposições e um livro apresentados durante o ano de 2023; e o dramaturgo Miguel Castro Caldas comenta a palavra “Confortável”.Vários -
Diário SelvagemEste «Diário Selvagem», «até aqui quase integralmente inédito, é um livro mítico, listado e discutido em inúmeras cartas e cronologias do autor, a que só alguns biógrafos e estudiosos foram tendo acesso».