Com Linguistic Ground Zero, João Louro mergulha mais fundo nos seus temas preferidos – a «energia atómica» da palavra escrita, a construção literária enquanto arma capaz de criar uma rasura no campo visual – e confronta-os com um regresso ao instinto político das vanguardas artísticas. Abordando a ideia de destruição iminente sem nunca se referir a qualquer assunto atual, o artista limita-se a recordar-nos a universalidade inerente da arte, e o modo não normativo como essa imanência nos pode levar a agir e a estar criticamente atentos. A bomba atómica que João Louro reproduz com todo o pormenor é o primeiro artefacto histórico a demonstrar a possibilidade de erradicação em massa. Como um objeto escultórico gravado com a urgência das palavras, a sua suspensão a poucos centímetros do chão da Project Room do MAAT diz-nos, de forma muda, tudo o que tem de ser dito sobre a ansiedade do momento atual.
Peço Desculpa
é a comunicação de um pai ao filho que vai assaltar um banco. Os leitores são convidados
para uma viagem em torno de uma personagem que vai narrando através de um estilo
desconcertante e de uma irreverência jocosa os seus medos e as suas vilezas. Aos 58 anos,
desempregado e confrontado com a indigência é tempo de partilhar com o filho um ajuste de
contas com a sua existência. Uma vida diletante, boémia e pouco consentânea com o
imaginário que um filho deve ter de um pai que, normalmente, assume o arquétipo do
herói.Trata-se de um último adeus ao filho. Esta personagem repleta de contradições vai
descrevendo sem contemplações histórias das suas pequenas infâmias. Um autorretrato de uma
enorme lucidez e despojado de mentiras.Aqui, os leitores são confrontados com um final que
visa dar um sentido trágico e resgatá-lo de uma vida pautada por uma marginalidade que
escondera a sua mediocridade. Será este pai capaz de vencer a sua cobardia?