Mário Vieira de Carvalho revisita o pensamento e a obra de Fernando Lopes-Graça (1906-1994) num conjunto de quatro ensaios, que procedem a uma revisão crítica de um dos momentos mais polémicos da «competição» pela modernidade musical em Portugal.
A modernidade de Lopes-Graça - a verbalizada como projeto estético e a que se manifesta na sua música, na sua visão do mundo e na sua ação cultural e política (o próprio estabelece um paralelo entre modernidade em arte e modernidade na ciência e na política) - é um processo emergente a partir da constelação de possibilidades que a ancoragem num certo e determinado aqui e agora lhe podia oferecer.
Esse processo desenvolve-se no confronto com algumas das questões mais cruciais e controversas que marcam a modernidade em arte e, em particular, na música, que são aqui passadas em revista: as tensões entre autonomia da arte e militância política; a dicotomia forma/conteúdo; o conceito de música nacional e a dialética local/universal; a abertura à contingência contraposta à crença num progresso linear. Revisitados a esta luz, o pensamento e a obra de Lopes-Graça não perdem, antes ganham em atualidade.
Este livro é sobre a cultura da escuto na literatura portuguesa. Objeto de análise são não
só as relações de intertextualidade entre música e literatura, mas também a relevância do
universo sonoro em sentido lato na escrita literária. A cultura da escuta implica ainda o
que está para além do som: os contextos de interação para os quais ele nos remete, as
interpelações que nos faz, a atenção que nos suscita, ou até a aparente indiferença com
que o percecionamos. Tornar audível ou inaudível não é socialmente menos relevante do que
tornar visível ou invisível. Pelo contrário: nas relações intersubjetivas, bem como entre
ser humano e natureza, ou do sujeito consigo próprio, a escuta teve sempre um papel
determinante.
«A noção de património musical, a sua relevância histórico-social e o seu entrecruzamento com as ideologias, a religião e a política atravessam os ensaios reunidos neste volume. O património musical é discutido como produto de conflitos e contradições, ora ocultos, ora abertamente assumidos; ora resultantes do (des)encontro de culturas, designadamente em contextos coloniais, ora de ruturas históricas, como foi o caso das revoluções francesa e soviética, ora ainda de mudanças tecnológicas como a da emergência das esferas públicas digitais. Simultaneamente, ele apresenta-se-nos também como um medium privilegiado do diálogo intercultural. Num mundo tão conturbado pela intolerância e pelo fanatismo, importa mais do que nunca sublinhar essa dimensão, que valoriza a diversidade das expressões culturais e o entendimento entre os povos.» In contracapa
Nataniel Ngomane: «Um trabalho pioneiro e, desde logo, importantíssima ferramenta referencial para trabalhos futuros não somente na área musical e sonora…»
O que nos é apresentado neste livro de Marco Roque de Freitas é, efetivamente, uma abordagem teórica sistematizada da experiência musical de Moçambique, abordagem assente na base sólida que cobre o período de transição, sobretudo política — de 1974 a 1994 —, e «identificando os principais processos que levaram à sua relação com a construção social». Essa experiência musical é acrescida da experiência sonora, no sentido já descrito, como elemento com função central na construção da nação moçambicana. Desse ponto de vista, mesmo considerando a existência de alguns trabalhos de natureza similar em Moçambique, não temos nenhuma dificuldade em considerar este, na sua profundidade e intensidade, como um trabalho pioneiro e, desde logo, importantíssima ferramenta referencial para trabalhos futuros não somente na área musical e sonora, mas também noutras áreas das artes e outras, como da história de Moçambique, da antropologia, ciências políticas, entre muitas outras.
[Nataniel Ngomane]
Nesta obra é robusta a evidência da importância dos media para a análise etnomusicológica. Os processos da radiodifusão e da produção discográfica fazem parte de uma narrativa que sublinha o papel da tecnologia e dos procedimentos industriais e comerciais na configuração da música — e não apenas na sua reprodução, bem como a sua relação com os territórios e as populações de Moçambique. De facto, a extensão e diversidade cultural e territorial de Moçambique coloca à investigação desafios de enorme dimensão. O presente trabalho, fruto de uma investigação etnomusicológica extensa, aprofundada e centrada em Maputo e na sua área de influência mais próxima, constitui um importante testemunho daquilo que falta compreender, e das limitações com que ainda nos deparamos no projeto de conhecer a música em Moçambique.
[João Soeiro de Carvalho]
"Jazz - Escute e Olhe" ou 150 fotografias de 12 profissionais
portugueses reunidas num livro de referência. Henrique
Calvet, Nuno Calvet, Elsa Úria Duarte, João Freire, Eduardo
Gageiro, Carlos Gil, Jorge Jacinto, José Manuel, José Paulo
Barrilaro Ruas, Rosa Reis, Guilherme Silva e Anabela Trindade
registaram os melhores momentos do jazz tocado em Portugal,
entre 1971 e 2001. A selecção é do "mestre" JOSÉ DUARTE, a
edição ALMEDINA. O "jazz não se ensina, aprende-se, como se
aprende a falar. Depois é soltar a língua, tentar a
originalidade, perseguir o Belo. Jazz é música que nunca está
pronta, que nunca acaba enquanto jazz, que admite citações,
que não esquece disciplina. À solta!", explica José Duarte no
prefácio que intitula "É impossível fotografar jazz". A
edição é bilingue.
Um… dois … um, dois, três, quatro, Cinco Minutos de Jazz...
Emitido de segunda a sexta desde 21 de fevereiro de 1966, Cinco Minutos de Jazz é o programa de rádio há mais tempo no ar em Portugal — e não só, pois até já se fala, para breve, de um Guinness World Record. Ao longo de mais de meio século, José Duarte tem divulgado incansavelmente um género musical que, apesar dos passos seguros que foi dando, tem demorado a fazer o seu caminho entre nós. Por ondas hertzianas, em papel, no ciberespaço ou de viva voz em qualquer tribuna onde o chamem a intervir, Jazzé continua, militante, a espalhar a palavra jazz. Neste livro coligem-se textos das últimas três décadas de divulgação.