Roland Barthes falava da «necessidade de uma teoria do fotograma». Mas, afinal, até onde foi a sua concretização? E de que forma podia e pode a fotografia iluminar significados ocultos nas imagens do cinema? A fotografia no cinema, o cinema na fotografia. As latências, as persistências e as intromissões são muitas, mas o que conta é o abraço fotofílmico, gesto animado pela teoria, ao mesmo tempo que revelado na prática da análise justa e justamente de uma só imagem. O diálogo entre a fotografia e o cinema é inesgotável. De qualquer das formas, falta passar de lá para cá, de cá para lá, intensamente, até ser possível dizer: sim, cumpriu-se uma teoria do fotograma.
Luís Mendonça, nascido em Lisboa em 1986, licenciou-se em Comunicação Social (curso pré-Bolonha) pelo Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade Técnica de Lisboa. Realizou o mestrado em Ciências da Comunicação pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (NOVA FCSH), na especialidade de Cinema e Televisão, tendo como orientador o Professor João Mário Grilo. E doutorou-se na mesma área e pela mesma faculdade sob orientação da Professora Margarida Medeiros e com bolsa da Fundação para a Ciência e Tecnologia. Em 2017, publicou "Fotografia e Cinema Moderno: Os Cineastas Amadores do Pós-Guerra" (Edições Colibri), obra baseada na sua investigação doutoral. Em 2019, publicou "História da Fotografia" (Edições Colibri). Em 2023, publicou "Majestosa Imobilidade" (Edições 70). Atualmente, leciona a unidade curricular "O Ensaio Audiovisual – Teoria e Prática" na Pós-graduação de Estudos Visuais: Fotografia e (Pós) Cinema da NOVA FCSH e a disciplina de História da Fotografia do Curso Profissional do Instituto Português de Fotografia. Deu aulas no âmbito de Cursos Livres concebidos por si em colaboração com colegas da área do cinema e da fotografia. Escreveu vários artigos e participou em inúmeros colóquios sobre cinema, fotografia e filosofia da imagem. Organizou ciclos de cinema e debates. Realizou vídeos, ensaios audiovisuais e a curta-metragem "Lugar /Vazio" (2010), filme mostrado no festival Panorama e exibido na Cinemateca Portuguesa – Museu do Cinema. Foi um dos fundadores e é coeditor do website de reflexão e comunhão cinéfila "À pala de Walsh".
Na transição da fotografia para o cinema, um grupo de nova-iorquinos operou uma revolução silenciosa no coração da linguagem do cinema. Sustenta-se nestas páginas a ideia de que não podemos pensar o cinema moderno ignorando a especificidade estética e as circunstâncias sociais e políticas da fotografia de rua nova-iorquina do pós-guerra. Por trás de Jean-Luc Godard, François Truffaut, Jean Rouch, Jonas Mekas ou John Cassavetes existe uma história clandestina de fotógrafos que se aventuraram no cinema e aí convocaram a liberdade da fotografia. Produziram, com isso, antes de toda a gente, um verdadeiro “cinema de rua” saído do contexto do pós-guerra e que, nalguns casos, realizou de facto alguns dos preceitos realistas de André Bazin e Siegfried Kracauer. Entre um cinema ainda feito sob o signo da Hollywood clássica, o impacto do neo-realismo italiano, a Nouvelle Vague, o cinema directo e o New American Cinema, os outsiders e “amadores” Morris Engel, Ruth Orkin, Helen Levitt, James Agee, Lionel Rogosin, Weegee e Rudy Burckhardt encontraram nas ruas as coordenadas de um cinema livre que pensa em fotografias. É a partir deste “lugar sinóptico” que se propõe a modernidade cinematográfica como (est)ética fotográfica. Este livro guarda ainda uma inesperada dedicatória a um homem de todos os tempos que mais do que ter sido do cinema se confundiu (ainda se confunde) com o cinema ele mesmo: Charles Spencer Chaplin
Roland Barthes falava da «necessidade de uma teoria do fotograma». Mas, afinal, até onde foi a sua concretização? E de que forma podia e pode a fotografia iluminar significados ocultos nas imagens do cinema? À pergunta «o que é o cinema?», André Bazin começou por responder com outra questão: «o que é a fotografia ou a sua ontologia?». A fotografia no cinema, o cinema na fotografia. As latências, as persistências e as intromissões são muitas, mas o que conta é o abraço fotofílmico, gesto animado pela teoria, ao mesmo tempo que revelado na prática da análise justa e justamente de uma só imagem. O diálogo entre a fotografia e o cinema é inesgotável. De qualquer das formas, falta passar de lá para cá, de cá para lá, intensamente, até ser possível dizer: sim, cumpriu-se uma teoria do fotograma.