O Legado de Nobel - Perfis na Ciência do Século XX (1900-1959)
"Todos os cientistas, sem excepção, nada mais fazem do que continuar uma grande tradição histórica, levando tão longe quanto o seu engenho o permita o grande empreendimento científico dos seus predecessores. Mesmo as descobertas que representam uma revolução na história do pensamento do homem são, simplesmente, um passo natural em Ciência. Confirme-se ou negue-se o passado, a Ciência é sempre um feito cumulativo. O acontecido não tem direito ao esquecimento; tomar dele consciência, relembrar e compreender as vidas e os talentos dos cientistas que nos legaram o saber é uma forma de registar a importância do seu contributo intelectual, social e mesmo político, de lhes rendermos a nossa homenagem, de melhor compreendermos o Mundo e a nós próprios. O universo do homem, externo e interno, muito tem sido alterado com as descobertas da Ciência. Divulgar estas descobertas e o seu significado impõe-se-nos como um dever.
Antes, O Legado de Prometeu - Uma Viagem na História da Ciência; agora O Legado de Nobel - Perfis na Ciência do Século XX (1900-1959). Ambos, Prometeu e Nobel, doaram o Fogo ao Homem. E, com o Fogo, criou o velho titã grego a aventura sem fim do engenho e da humanidade. E, com o Fogo, deu Alfred Nobel o mote do seu incentivo e estruturação.
Listámos uma cronologia de eventos de grande relevo. Desenrolamos alguns deles. A nossa escolha recaiu sobre personalidades fascinantes. A Física, a Química, a Biologia, a Geologia ou a Astronomia estão presentes. E também a Bioquímica e a Computação. E a Medicina. E, acima de tudo, uma permanente interdisciplinaridade que caracterizou avanços significativos da Ciência do século XX. Começámos em 1900 e parámos em 1959. Em 1901, foram entregues os primeiros prémios Nobel; em 1959, reflectia-se sobre a natureza da cultura científica."
| Editora | Escolar Editora |
|---|---|
| Categorias | |
| Editora | Escolar Editora |
| Negar Chronopost e Cobrança | Não |
| Autores | Raquel Gonçalves-Maia |
-
Marie Sktodowska CurieMarie Skłodowska Curie foi uma pioneira na Ciên-cia, uma vida repartida entre a angústia, a glória e a tragédia. O Rádio e o Polónio saíram das suas mãos. À radioactividade devotou a vida. Depois de Marie Curie foi mesmo preciso olhar a integração da mulher na sociedade sob um desígnio completa-mente inovador. Marie Curie, de origem polaca, estudou na Sorbon-ne (Paris), Física e Matemática. E na Sorbonne se doutorou. E nela foi professora. Recebeu dois Prémios Nobel, da Física em 1903 e da Química em 1911. A primeira mulher. Mas, quer na sua vida, quer na sua obra existe um lado oculto e ocultado. Imagens de outra face... Saberemos nós que Marie nem nomeada fora para o primeiro Prémio Nobel? E teria sido o segundo Prémio Nobel atribuído em virtude de uma investiga-ção inovadora? Não terá esta mulher, que tantos estudos empreendeu sobre a radioactividade, mal interpretado os perigos da sua utilização? Conhe-ceremos a sua generosa e activa participação na Grande Guerra? Seria esta femme en noir, um coração fechado para o amor? Marie Curie foi filha, irmã, mãe, esposa, amante, venceu preconceitos e transcendeu convenções. Não foi uma mulher perfeita; nem, porventura, uma cientista perfeita. Mas estava muito próximo de o ser e era notável. -
Desmond Bernal - Ciência na HistóriaJohn Desmond Bernal gostava de dizer que a sua biografia devia ser escrita em quatro cores, em páginas intercaladas, para mostrar as suas diferentes atividades, encaixadas. A tradição oral difere quanto à cor das páginas; preto e branco, certamente para a ciência, vermelho para a política, azul para as artes, roxo ou amarelo para a sua vida pessoal. […] "No seu trabalho científico foi um grande pioneiro, cujas ideias e experiências iniciais tornaram possível muitos dos maiores avanços do nosso tempo na compreensão da estrutura e função em física, química e biologia." Dorothy Hodgkin (1980) "Neste laboratório sempre o vimos como o pai científico do nosso tema. Se não fosse a sua imaginação na forma de pensar sobre o que parecia ser problemas extremamente difíceis, e o encorajamento que deu a Max [Perutz] e Dorothy [Hodgkin] e a outros, pessoas como eu nunca teriam tido a oportunidade de trabalhar em biologia molecular, e teriam sido demasiado tímidos para enfrentarem as questões verdadeiramente interessantes." Francis Crick (carta dirigida a Bernal; 1969) -
Gilbert Lewis: o átomo e a moléculaDurante cinco anos, começando na primavera de 1929, passei um ou dois meses por ano em Berkeley como professor visitante em física e em química. Nestas prolongadas visitas a Berkeley tive o prazer de conversar com Lewis durante muitas horas, no seu escritório, na sua casa e na sua casa de campo em Marin County. […] Gilbert Newton Lewis mostrou ele próprio ser um dos maiores químicos do século XX através do seu trabalho em termodinâmica química e noutros domínios, assim como através da sua formulação do princípio básico da ligação química – a ideia de que a ligação química consiste num par de eletrões mantidos juntos por dois átomos. Linus Pauling (1984) Fiquei imediatamente impressionado com a combinação de simplicidade e poder no estilo de pesquisa de Lewis e essa impressão cresceu durante todo o período de tempo em que trabalhei com ele. Ele desprezava aparelhos e medições complexos. Adorava experiências simples, mas altamente significativas. E tinha a capacidade de deduzir o máximo de informação, incluindo dados de equilíbrio e energia de ativação, a partir das nossas experiências elementares. Eu nunca deixei de me maravilhar com o seu poder de raciocínio e a capacidade de planeamento do próximo passo lógico para o nosso objetivo. Glenn Seaborg (1984) -
Linus Pauling - A Natureza da Ligação QuímicaPode dizer-se que, de modo geral, a ideia de Pauling desempenhou um papel essencial no desvendar da estrutura das proteínas. Mas foi mais longe. Rompeu com a limitação imposta pelo cristalógrafos sobre a natureza integral das espiras de uma hélice. Isto levou a uma nova generalização da cristalografia que teria de ter imensas repercussões. Poder-se-á dizer, “Apenas um cristalógrafo poderia ter previsto este desenvolvimento, mas se eles fossem bons cristalógrafos, teriam sido obrigados a rejeitá-la.” Na verdade, a generalização de Pauling abriu caminho para um novo e muito mais vasto reconhecimento de estruturas semi-regulares que são semelhantes à helicoidal. Desmond Bernal (1968) "A abordagem imaginativa de Pauling, a sua síntese de química estrutural, teórica e prática, a sua capacidade de elaborar uma ampla variedade de observações para comprovar as suas generalizações, e a sua escrita viva juntou os factos soltos da química num tecido intelectual coerente para mim e para milhares de outros alunos pela primeira vez." Max Perutz (1994) -
Max Perutz - Lord HemoglobinaMax Perutz era um cientista de grande distinção, reconhecido internacionalmente como o pai fundador da moderna cristalografia de raios X de proteínas, através da sua demonstração de que a introdução de um átomo pesado numa molécula de proteína leva à determinação da sua estrutura tridimensional (3D): de hemoglobina por ele próprio, e da mioglobina por John Kendrew. Perutz é comumente visto como um cristalógrafo, mas, para ele, resolver a estrutura da molécula era a forma de entender o mecanismo que está por detrás da função. Ele era, acima de tudo, um químico. Liderava pelo exemplo, e as pessoas mais jovens viam-no “de pé junto da bancada do laboratório ou de um tubo de raios X, ao invés de sentado à sua secretária”. Morreu cheio de anos e de honras, e um homem feliz... Nunca foi um homem para descansar sobre os louros, trabalhando até ao fim, não para outras honrarias, mas simplesmente porque investigação era o que ele gostava de fazer. [Aaron Klug, 2002] Max Perutz trouxe uma visão química que foi notável, juntamente com uma versatilidade na sua aspiração de atrair mais técnicas para aplicar ao problema da estrutura e dinâmica da hemoglobina. Sempre tentou entender, em pleno, a interpretação dos resultados, mesmo que tivesse de confiar nas medições de outros, por espectroscopia de Raman por exemplo. Compreendeu que seria necessária uma abordagem multitécnica para demonstrar as suas teses. Max provou a si próprio ser um finalizador disposto a lutar pelas suas teorias. [Robin Perutz, 2016] -
Francis Crick - DNA, o puzzle 3DFui a Cambridge e vi o modelo e conheci Francis [Crick] e Jim [Watson]. Foi o dia mais emocionante da minha vida. A dupla hélice do DNA foi uma experiência reveladora; para mim, tudo encaixava e a minha futura vida científica foi decidida ali, naquele momento. Quando o artigo apareceu, algumas semanas depois, não foi bem recebido pelo sistema instituído, composto basicamente por bioquímicos profissionais. Eles não podiam ver, na época, quão profundamente isso mudaria o seu tema, ao oferecer-nos um enquadramento para estudar a química da informação biológica. [Sydney Brenner, 1953] Aos sessenta anos, meu avô, Francis Crick, foi para os EUA e dirigiu a sua atenção para a neurobiologia teórica. Durante os 28 anos seguintes, trabalhou no avanço do estudo sobre a consciência humana. Foi quando eu o conheci melhor. Tinha sobrancelhas brancas, uma risada retumbante e uma cintilação sorridente nos seus olhos. Quando eu estava no início da adolescência, levava-me para o seu escritório no Instituto Salk na Califórnia. Durante a faculdade, ajudou-me a encontrar um estágio trabalhando lá, num laboratório. As paredes do seu escritório tinham um quadro-preto muito usado e retratos de Charles Darwin e Einstein. Numa mesa lateral exibia um modelo do DNA e outro do cérebro. Não sei o que esperava ver, mas este não era um laboratório com tubos de ensaio e microscópios; esses, ele deixou-os em Cambridge, Inglaterra. Quando lhe pedi para explicar o que fazia no Instituto Salk, disse-me: “Eu penso”. [Kindra Crick, 2017]
-
As Lições dos MestresO encontro pessoal entre mestre e discípulo é o tema de George Steiner neste livro absolutamente fascinante, uma sólida reflexão sobre a interacção infinitamente complexa e subtil de poder, confiança e paixão que marca as formas mais profundas de pedagogia. Baseado em conferências que o autor proferiu na Universidade de Harvard, As Lições dos Mestres evoca um grande número de figuras exemplares, nomeadamente, Sócrates e Platão, Jesus e os seus discípulos, Virgílio e Dante, Heloísa e Abelardo, Tycho Brahe e Johann Kepler, o Baal Shem Tov, sábios confucionistas e budistas, Edmund Husserl e Martin Heidegger, Nadia Boulanger e Knute Rockne. Escrito com erudição e paixão, o presente livro é em si mesmo uma lição magistral sobre a elevada vocação e os sérios riscos que o verdadeiro professor e o verdadeiro aluno assumem e partilham. -
Novo Iluminismo RadicalNovo Iluminismo Radical propõe um olhar crítico e uma atitude combativa face à credulidade do nosso tempo. Perante os discursos catastrofistas e solucionistas que dominam as narrativas e uniformizam as linguagens, Marina Garcés interpela-nos: «E se nos atrevêssemos a pensar, novamente, na relação entre saber e emancipação?» Ao defender a capacidade de nos auto‑educarmos, relança a confiança na natureza humana para afirmar a sua liberdade e construir, em conjunto, um mundo mais habitável e mais justo. Uma aposta crítica na emancipação, que precisa de ser novamente explorada. -
Um Dedo Borrado de Tinta - Histórias de Quem Não Pôde Aprender a LerCasteleiro, no distrito da Guarda, é uma das freguesias nacionais com maior taxa de analfabetismo. Este livro retrata a vida e o quotidiano de habitantes desta aldeia que não tiveram oportunidade de aprender a ler e a escrever. É o caso de Horácio: sabe como se chama cada uma das letras do alfabeto, até é capaz de as escrever uma a uma, mas, na sua cabeça, elas estão como que desligadas; quando recebe uma carta tem de «ir à Beatriz», funcionária do posto dos correios e juntadora de letras. Na sua ronda, o carteiro Rui nunca se pode esquecer da almofada de tinta, para os que só conseguem «assinar» com o indicador direito. Em Portugal, onde, em 2021, persistiam 3,1% de analfabetos, estas histórias são quase arqueologia social, testemunhos de um mundo prestes a desaparecer. -
Sobre a Ganância, o Amor e Outros Materiais de ConstruçãoTextos de Francisco Keil do Amaral sobre o problema da habitação 1945-1973. Francisco Keil do Amaral (1910-1975), arquitecto português, com obra construída em Portugal e no estrangeiro, destacou-se com os grandes projectos para a cidade de Lisboa de parques e equipamentos públicos, dos quais se destacam o Parque de Monsanto e o Parque Eduardo VII. Foi também autor de diversos artigos que escreveu para a imprensa, obras de divulgação sobre a Arquitectura e o Urbanismo - "A arquitectura e a vida" (1942), "A moderna arquitectura holandesa" (1943) ou "Lisboa, uma cidade em transformação" (1969) - e livros de opinião e memórias - "Histórias à margem de um século de história" (1970) e "Quero entender o mundo" (1974). Apesar da obra pública projectada e construída durante o Estado Novo, Keil do Amaral foi um crítico do regime. Alguns dos textos mais críticos que escreveu e proferiu em público foram dedicados ao Problema da Habitação, título do opúsculo publicado em 1945 que reproduz o texto de uma palestra dada em 1943, e que surge novamente no título da comunicação que faz no 3º Congresso da Oposição Democrática em 1973. São dois dos textos reproduzidos nesta pequena publicação que reúne textos (e uma entrevista) de diferentes períodos da vida de Keil do Amaral. Apesar da distância que medeia os vários textos e aquela que os separa do presente, o problema da habitação de que fala Keil do Amaral parece ser constante, e visível não apenas em Lisboa, seu principal objecto de estudo, como noutras zonas do país e globalmente. -
Problemas de GéneroVinte e sete anos após a sua publicação original, Gender Trouble está finalmente disponível em Portugal. Trata-se de um dos textos mais importantes da teoria feminista, dos estudos de género e da teoria queer. Ao definir o conceito de género como performatividade – isto é, como algo que se constrói e que é, em última análise uma performance – Problemas de Género repensou conceitos do feminismo e lançou os alicerces para a teoria queer, revolucionando a linguagem dos activismos. -
Redes Sociais - Ilusão, Obsessão e ManipulaçãoAs redes sociais tornaram-se salas de convívio global. A amizade subjugou-se a relações algorítmicas e a vida em sociedade passou a ser mediada pela tecnologia. O corpo mercantilizou-se. O Instagram é uma montra de corpos perfeitos e esculpidos, sem espaço para rugas ou estrias. Os influencers tornaram-se arautos da propagação do consumo e da felicidade. Nas redes sociais, não há espaço para a tristeza. Os bancos do jardim, outrora espaços privilegiados para as relações amorosas, foram substituídos pelo Tinder. Os sites de encontros são o expoente de uma banalização e superficialidade de valores essenciais às relações humanas. As nudes são um sinal da promoção do corpo e da vulgarização do espaço privado. Este livro convida o leitor para uma viagem pelas transformações nas relações de sociabilidade provocadas pela penetração das redes sociais nas nossas vidas. O autor analisa e foca-se nos novos padrões de comportamento que daí emergem: a ilusão da felicidade, a obsessão por estar ligado e a ligeireza como somos manipulados pelos gigantes tecnológicos. Nas páginas do livro que tem nas mãos é-lhe apresentada uma visão crítica sobre a ilusão, obsessão e manipulação que ocorre no mundo das redes sociais. -
Manual de Investigação em Ciências SociaisApós quase trinta anos de sucesso, muitas traduções e centenas de milhares de utilizadores em todo o mundo, a presente edição foi profundamente reformulada e complementada para responder ainda melhor às necessidades dos estudantes e professores de hoje.• Como começar uma investigação em ciências sociais de forma eficiente e formular o seu projecto? • Como proceder durante o trabalho exploratório para se pôr no bom caminho?• Quais os princípios metodológicos essenciais que deve respeitar?• Que métodos de investigação escolher para recolher e analisar as informações úteis e como aplicá-las?• Como progredir passo a passo sem se perder pelo caminho?• Por fim, como concluir uma investigação e apresentar os contributos para o conhecimento que esta originou?Estas são perguntas feitas por todos os estudantes de ciências sociais, ciências políticas, comunicação e serviço social que se iniciam na metodologia da investigação e que nela têm de se lançar sozinhos.Esta edição ampliada responde ainda melhor às actuais necessidades académicas: • Os exemplos e as aplicações concretas incidem sobre questões relacionadas com os problemas da actualidade.• A recolha e a análise das informações abrangem tanto os métodos quantitativos como os métodos qualitativos.• São expostos procedimentos indutivos e dedutivos. -
Gramsci - A Cultura, os Subalternos e a EducaçãoGramsci, já universalmente considerado como um autor clássico, foi um homem e um pensador livre. Livre e lúcido, conduzido por uma racionalidade fria e implacável, por um rigor e uma disciplina intelectual verdadeiramente extraordinários. Toda a história da sua vida, a sua prisão nos cárceres fascistas, onde ficou por mais de dez anos, as terríveis provações físicas e morais que suportou até à morte, os confrontos duríssimos com os companheiros de partido, na Itália e na Rússia, o cruel afastamento da mulher e dos filhos, tudo isso é um testemunho da sua extraordinária personalidade e, ao mesmo tempo, da agitada e dramática página da história italiana, que vai do primeiro pós-guerra até à consolidação do fascismo de Mussolini. Gramsci foi libertado em 1937, após um calvário de prisões e graves doenças, que o levaram a morrer em Roma, no dia seguinte ao da sua libertação. Só anos mais tarde, no fim da segunda guerra e com o regresso da Itália à democracia, a sua obra começou a ser trabalhada e publicada.