O Oficial Prussiano
"O Oficial Prussiano, primeira novela curta escrita por D.H. Lawrence, apareceu ao público em 1914, na English Review de Ford Madox Hueffer, e pouco depois dava título a um volume de contos (contra a vontade do autor, que preferia Daughters of the Vicar). É obra de um jovem com 29 anos de idade; apesar disso autor já publicado de O Pavão Branco e The Trespasser, e prestes a terminar esse Filhos e Amantes que viria a ser uma das suas obras capitais.
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O oficial desta novela é emblematicamente prussiano e o ambiente militar significa, em Lawrence, terreno fértil para atrocidades de transposta e pervertida linguagem sexual; é lugar para um drama de sexo, mesmo que oblíquo, elegendo o servo que o não é, para além de uma imposta disciplina militar, e o senhor esgotado entre vocações de poder e um seu corolário de componente sexual; mesmo que se mostre tema por baixo do tema, a que só convêm insinuações.
Duas personagens vão medir-se num jogo de aparências, distrair com elas a torrente que mais abaixo e mais fundo leva a cabo uma devastação sangrenta. O servo que o não é ignora o corpo do senhor, e sabe reduzi-lo a um vulto com dois olhos que o gelam através de uma chama azul; quando o massaja, mal consente em reparar “na assombrosa musculatura dos rins”. O senhor, não: a pretexto de uma oposição que o incomoda porque levantada entre a vitalidade do corpo do servo e a esgotada disciplina do seu corpo de senhor, admira-lhe a juventude, “como se fosse uma confortável chama no seu corpo maduro”, não pode ignorá-lo nem ao “jogo de músculos dos ombros juvenis e fortes, sob o tecido azul, e na envergadura do seu pescoço”, fica arrepiado “com a grande liberdade dos membros formosos” e “louco de raiva” quando sabe que ele arranjou uma namorada. Uns dias de licença só lhe dão “um arremedo de prazer”, e com a mulher que levou por companhia “pura e simplesmente nada quis”."
Aníbal Fernandes, na apresentação deste livro.
| Editora | Assírio & Alvim |
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| Coleção | Gato Maltês |
| Categorias | |
| Editora | Assírio & Alvim |
| Negar Chronopost e Cobrança | Não |
| Autores | D. H. Lawrence |
D. H. Lawrence nasceu em Eastwood, na Inglaterra, a 11 de setembro de 1885. Foi um dos mais importantes escritores ingleses da primeira metade do século XX, autor de uma obra provocatória, que incidiu sobre temas como as relações humanas, a sexualidade e a complexidade da consciência, tendo como pano de fundo o crescimento do mundo industrial. Filhos e Amantes (1913), Mulheres Apaixonadas (1920) e O Amante de Lady Chatterley (1928) contam-se entre os seus títulos mais famosos, o último dos quais proibido no Reino Unido até aos anos 60, sob acusações de obscenidade. Lawrence escreveu romances, contos, poemas, ensaios, livros de viagens e peças de teatro. Morreu vítima de tuberculose, em França, a 2 de março 1930.
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John Thomas & Lady JaneContando as vinte mil palavras que foram cortadas no texto definitivo, John Thomas & Lady Jane (o título preferido de Lawrence, que tinha sido rejeitado pelos primiros editores de Lady Chatterley), mantém todas as passagens de natureza sexual explícitas e dá uma maior tónica à crítica social. Os leitores podem lê-lo como um novo romance de D. H. Lawrence. Os críticos e admiradores sentir-seão tentados a compará-lo com as outras versões. Mas será sobretudo um grande prazer ler (ou reler) esta versão do clássico do género erótico, acompanhado por 16 desenhos eróticos de José Rodrigues. -
Filhos e AmantesFilhos e Amantes é considerado o primeiro retrato moderno de um fenómeno que, graças a Freud, passou a ser facilmente reconhecido como Complexo de Édipo. Nunca um filho tinha tido um amor tão absoluto e incondicional pela sua mãe, identificando-se totalmente com ela na forma de pensar, e ao mesmo tempo um ódio tão grande pelo seu pai como Paul Morel, o protagonista mais novo deste romance. Nunca excepto, talvez, o próprio Lawrence. Revestido de um carácter autobiográfico, e dotado de uma profundidade psicológica nunca antes vista, Filhos e Amantes reproduz as divergências, os conflitos e as crises conjugais por que passaram os pais de Lawrence - um mineiro e uma mulher de grandes ambições -, retratando uma família que sofre os efeitos de um casamento disfuncional, e as consequentes repercussões no crescimento e desenvolvimento dos filhos. -
Amor no Feno e Outros ContosContam-se aqui histórias sobre o amor e o desejo. A escrita, como não podia deixar de ser, é violenta, apaixonada, voluptuosa. O homem é analisado nas suas fraquezas e pulsões por outros homens, também eles escravos das suas próprias fraquezas e pulsões. O resultado são puras histórias de amor e de relacionamentos, fortemente marcadas pelo desejo tão humano de amar tudo. -
A PrincesaA criança miúda, franzina, de olhos azuis muito grandes e espantados, passará, no dia da morte da sua mãe, a responder, não pelo nome de baptismo, Mary Henrietta, ou “Dollie”, cognome atribuído por sua mãe, mas por Princesa, pois assim lhe chamava seu pai. “Em Colin Urqhhart havia um grão de loucura” e a Princesa, por este educada e de quem se tornou inseparável, aprendeu a ser amável para os demais seres - “noblesse oblige” - que, contudo, considerava vulgares.Quando o seu avô materno faleceu, a Princesa passou a receber uma avolumada quantia por ano, podendo pai e filha passar verões nos Grandes Lagos, na Califórnia, ou no Sudoeste. Franzina, vai crescendo sempre com o pai ao lado, qual guardiã da sua loucura, passando os anos sem o notar, até ao momento em que a morte deste a impulsiona a “fazer qualquer coisa” para fugir à vulgaridade de pensar nos homens com “olhar de casamento”. No entanto, o futuro seguirá um rumo diferente do desejado pela autoritária Princesa, para quem a incapacidade de amar ou de lidar com a sensualidade e o desejo resulta, neste conto magnífico, numa imensa tragédia pessoal. -
O Homem que MorreuO Homem que Morreu é a última novela de D.H. Lawrence, publicada menos de um ano antes da sua morte. Nela, Lawrence redescreve o tema da ressureição de Cristo e dos seus dias finais na Terra quando, depois de terminada a sua missão espiritual, se encontra livre para viver como um homem comum. O autor narra a viagem de Cristo até ao sul do Egipto, onde este conhece uma sacerdotisa do templo de Ísis, caracterizando, com realismo profano, a relação sexual entre ambos. Como afirma Aníbal Fernandes, tradutor do livro,"Se houve acerto nesta associação malévola, verdade é que a novela se insiste como glosa de uma ideia central na sua obra (…): o sol perseguidor dos prazeres do corpo, o despertar dos sentidos a implicar aceitação de um paganismo atento ao ciclo das estações, amortecido no Inverno e triunfador com os anúncios da Primavera. É Cristo desviado da missão redemptora e conhecedor, através de Osíris, de uma experiência do sexo que o regenera". -
O Amante de Lady ChatterleyA história da relação entre Constance Chatterley e Mellors, o guarda de caça do seu marido inválido, é o romance mais controverso de Lawrence e talvez o seu texto mais comovente sobre o amor. -
Crepúsculo em ItáliaEm 1912, aos 27 anos, D.H. Lawrence viajou para o estrangeiro pela primeira vez e passou quase um ano imerso na vida rural italiana. Crepúsculo em Itália é um clássico da literatura de viagens, onde o autor utiliza a paisagem e as pessoas que conheceu como pano de fundo para reflexões mais profundas sobre a filosofia, a vida, a natureza, a religião e o destino dos homens. Nostálgico e premonitório, Lawrence anuncia aqui os acontecimentos que ameaçam este idílio campestre: o advento da era industrial e da Grande Guerra, que mudariam a vida na Europa para sempre. -
O Amante de Lady ChaterleyPlano Nacional de Leitura Livro recomendado para a Formação de Adultos como sugestão de leitura. Por causa das cenas de sexo explícito, por causa da relação adúltera e também por causa da diferente origem de classe dos dois amantes, um guarda caça e a mulher burguesa casada com um aristocrata. O traço essencial deste livro é a fusão plena do corpo e da mente. Em harmonia e em plenitude. -
Amor no Feno e Outros ContosRomancista, contista, poeta, ensaísta e pintor, David Herbert Lawrence é uma das grandes figuras literárias do século XX. Nascido em Eastwood, Nottinghamshire, em 1885, D.H. Lawrence estudou na Universidade de Nottingham, publicando em 1911 o seu primeiro romance, The White Peacock. Em 1915, The Rainbow, o seu quarto romance, é proibido por alegada obscenidade. Também os seus quadros são retirados de uma galeria de arte. Em 1926, já com vários romances publicados, D.H. Lawrence começa a trabalhar no que viria a ser o seu romance mais conhecido, O Amante de Lady Chatterley. Também este será proibido no Reino Unido e nos Estados Unidos, por pornografia. A partir de Junho de 1928, data em que abandonou Florença, e até à sua morte em 1930, por tuberculose, Lawrence vagueia de cidade em cidade. Trabalhará até ao fim, completando Apocalypse, livro que viria a ser publicado em 1931. Amor no Feno e Outros Contos reúne histórias sobre o amor e o desejo, num estilo de escrita característico de D.H. Lawrence: violento, apaixonado e voluptuoso. «Despontava a fria madrugada quando Geoffrey acordou. A mulher dormia ainda nos seus braços. O rosto adormecido despertou nele uma imensa onda de ternura: os lábios comprimidos, como que decididos a suportar o que custava muito a suportar, contrastavam tanto com o formato das feições, que metiam dó. Geoffrey apertou-a ao peito: por possuí-la, sentia que podia vingar-se dos sorrisos de escárnio, passar pelos outros de cabeça levantada, invencível. Com ela completando-o, constituindo o seu cerne, sentia-se firme e completo. Precisava tanto dela que a amava fervorosamente.» -
A Maçã de Cézanne... e EuQuando [Cézanne] dizia aos seus modelos: «Sejam uma maçã! Sejam uma maçã!», exprimia o que é prólogo da queda; não só a dos idealistas, tanto os jesuítas como os cristãos, mas a do colapso de toda a nossa forma de consciência substituindo-a por outra. Se o ser humano fosse essencialmente uma Maçã, como era para Cézanne, caminharíamos em direcção a um novo mundo de homens: um mundo com muito pouco para dizer, com homens que conseguiriam, apenas com o seu lado físico e uma verdadeira ausência de moral, manter-se tranquilos. Era o que Cézanne queria deles: «Sejam uma maçã!» A partir do momento em que o modelo começasse a impor a sua personalidade e a sua «mente» passasse a ser um lugar-comum, uma moral, ele sabia muito bem que iria ver-se obrigado a pintar um lugar-comum. A única parte da personalidade que não era banal, conhecida ad nauseame um vivo lugar-comum, era a sua maçãneidade. O corpo e até mesmo o sexo eram conhecidos até à náusea, eram o connu! connu!, a cadeia infindável da conhecida causa-efeito, a teia infinita dos odiosos lugares-comuns que a todos nos aprisionam num incomensurável tédio. D.H. Lawrence
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O Essencial Sobre José Saramago«Aquilo que neste livro se entende como essencial em José Saramago corresponde à sua específica identidade como escritor, com a singularidade e com as propriedades que o diferenciam, nos seus fundamentos e manifestações. Mas isso não é tudo. No autor de Memorial do Convento afirma-se também uma condição de cidadão e de homem político, pensando o seu tempo e os fenómenos sociais e culturais que o conformam. Para o que aqui importa, isso é igualmente essencial em Saramago, até porque aquela condição de cidadão não é estranha às obras literárias com as quais ela interage, em termos muito expressivos.» in Contracapa -
Confissões de um Jovem EscritorUmberto Eco publicou seu primeiro romance, O Nome da Rosa, em 1980, quando tinha quase 50 anos. Nestas suas Confissões, escritas cerca de trinta anos depois da sua estreia na ficção, o brilhante intelectual italiano percorre a sua longa carreira como ensaísta dedicando especial atenção ao labor criativo que consagrou aos romances que o aclamaram. De forma simultaneamente divertida e séria, com o brilhantismo de sempre, Umberto Eco explora temas como a fronteira entre a ficção e a não-ficção, a ambiguidade que o escritor mantém para que seus leitores se sintam livres para seguir o seu próprio caminho interpre tativo, bem como a capacidade de gerar neles emoções. Composto por quatro conferências integradas no âmbito das palestras Richard Ellmann sobre Literatura Moderna que Eco proferiu na Universidade Emory, em Atlanta, nos Estados Unidos, Confissões de um jovem escritor é uma viagem irresistível aos mundos imaginários do autor e ao modo como os transformou em histórias inesquecíveis para todos os leitores. O “jovem escritor” revela-se, afinal, um grande mestre e aqui partilha a sua sabedoria sobre a arte da imaginação e o poder das palavras. -
Sobre as MulheresSobre as Mulheres é uma amostra substancial da escrita de Susan Sontag em torno da questão da mulher. Ao longo dos sete ensaios e entrevistas (e de uma troca pública de argumentos), são abordados relevantes temas, como os desafios e a humilhação que as mulheres enfrentam à medida que envelhecem, a relação entre a luta pela libertação das mulheres e a luta de classes, a beleza, o feminismo, o fascismo, o cinema. Ao fim de cinquenta anos – datam dos primeiros anos da década de 1970 –, estes textos não envelheceram nem perderam pertinência. E, no seu conjunto, revelam a curiosidade incansável, a precisão histórica, a solidez política e o repúdio por categorizações fáceis – em suma, a inimitável inteligência de Sontag em pleno exercício.«É um deleite observar a agilidade da mente seccionando através da flacidez do pensamento preguiçoso.» The Washington Post«Uma nova compilação de primeiros textos de Sontag sobre género, sexualidade e feminismo.» Kirkus Reviews -
Para Tão Curtos Amores, Tão Longa VidaNuma época e num país como o nosso, em que se regista um número muito elevado de divórcios, e em que muitos casais preferem «viver juntos» a casar-se, dando origem nas estatísticas a muitas crianças nascidas «fora do casamento», nesta época e neste país a pergunta mais próxima da realidade não é por que duram tão pouco tantos casamentos, mas antes: Por que é que há casamentos que duram até à morte dos cônjuges? Qual é o segredo? Há um segredo nisso? Este novo livro de Daniel Sampaio, que traz o título tão evocativo: Para Tão Curtos Amores, Tão Longa Vida, discute as relações afetivas breves e as prolongadas, a monogamia e a infidelidade, a importância da relação precoce com os pais e as vicissitudes do amor. Combinando dois estilos, o ficcional e o ensaístico, que domina na perfeição, o autor traz perante os nossos olhos, de modo muito transparente e sem preconceitos, tão abundantes nestas matérias, os problemas e dificuldades dos casais no mundo de hoje, as suas vitórias e derrotas na luta permanente para manterem viva a sua união.Um livro para todos nós porque (quase) todos nós, mais tarde ou mais cedo, passamos por isso. -
A Vida na SelvaHá quem nasça para o romance ou para a poesia e se torne conhecido pelo seu trabalho literário; e quem chegue a esse ponto depois de percorrer um longo caminho de vida, atravessando os escolhos e a complexidade de uma profissão, ou de uma passagem pela política, ou de um reconhecimento público que não está ligado à literatura. Foi o caso de Álvaro Laborinho Lúcio, que publicou o seu primeiro e inesperado romance (O Chamador) em 2014.Desde então, em leituras públicas, festivais, conferências e textos com destinos vários, tem feito uma viagem de que guarda memórias, opiniões, interesses, perguntas e respostas, perplexidades e reconhecimentos. Estes textos são o primeiro resumo de uma vida com a literatura – e o testemunho de um homem comprometido com as suas paixões e o diálogo com os outros. O resultado é comovente e tão inesperado como foi a publicação do primeiro romance. -
Almoço de DomingoUm romance, uma biografia, uma leitura de Portugal e das várias gerações portuguesas entre 1931 e 2021. Tudo olhado a partir de uma geografia e de uma família.Com este novo romance de José Luís Peixoto acompanhamos, entre 1931 e 2021, a biografia de um homem famoso que o leitor há de identificar — em paralelo com história do país durante esses anos. No Alentejo da raia, o contrabando é a resistência perante a pobreza, tal como é a metáfora das múltiplas e imprecisas fronteiras que rodeiam a existência e a literatura. Através dessa entrada, chega-se muito longe, sem nunca esquecer as origens. Num percurso de várias gerações, tocado pela Guerra Civil de Espanha, pelo 25 de abril, por figuras como Marcelo Caetano ou Mário Soares e Felipe González, este é também um romance sobre a idade, sobre a vida contra a morte, sobre o amor profundo e ancestral de uma família reunida, em torno do patriarca, no seu almoço de domingo.«O passado tem de provar constantemente que existiu. Aquilo que foi esquecido e o que não existiu ocupam o mesmo lugar. Há muita realidade a passear-se por aí, frágil, transportada apenas por uma única pessoa. Se esse indivíduo desaparecer, toda essa realidade desaparece sem apelo, não existe meio de recuperá-la, é como se não tivesse existido.» «Os motoristas estão à espera, o brado da multidão mistura-se com o rugido dos motores. Antes de entrarmos, o Mário Soares aproxima-se de mim, correu tudo tão bem, e abraça-me com um par estrondosas palmadas no centro das costas. A coluna de carros avança devagar pelas ruas da vila. Tenho a garganta apertada, não consigo falar. Como me orgulha que Campo Maior seja a capital da península durante este momento.»«Autobiografia é um romance que desafia o leitor ao diluir fronteiras entre o real e o ficcional, entre espaços e tempos, entre duas personagens de nome José, um jovem escritor e José Saramago. Este é o melhor romance de José Luís Peixoto.»José Riço Direitinho, Público «O principal risco de Autobiografia era esgotar-se no plano da mera homenagem engenhosa, mas Peixoto evitou essa armadilha, ao construir uma narrativa que se expande em várias direções, acumulando camadas de complexidade.»José Mário Silva, Expresso -
Electra Nº 23A Atenção, tema de que se ocupa o dossier central do número 23 da revista Electra, é um recurso escasso e precioso e por isso objecto de uma guerra de concorrência sem tréguas para conseguir a sua captura. Nunca houve uma tão grande proliferação de informação, de produtos de consumo, de bens culturais, de acontecimentos que reclamam a atenção. Ela é a mercadoria da qual depende o valor de todas as mercadorias, sejam materiais ou imateriais, reais ou simbólicas. A Atenção é, pois, uma questão fundamental do nosso tempo e é um tópico crucial para o compreendermos. Sobre ela destacam-se neste dossier artigos e entrevistas de Yves Citton, Enrico Campo, Mark Wigley, Georg Franck e Claire Bishop. Nesta edição, na secção “Primeira Pessoa”, são publicadas entrevistas à escritora, professora e crítica norte-americana Svetlana Alpers (por Afonso Dias Ramos), cujo trabalho pioneiro redefiniu o campo da história da arte nas últimas décadas, e a Philippe Descola (por António Guerreiro), figura central da Antropologia, que nos fala de temas que vão desde a produção de imagens e das tradições e dos estilos iconográficos à questão da oposição entre natureza e cultura. A secção “Furo” apresenta um conjunto de desenhos e cartas inéditos da pintora Maria Helena Vieira da Silva. Em 1928, tinha vinte anos. Havia saído de Portugal para estudar arte em Paris e, de França, foi a Itália numa viagem de estudo. Durante esse percurso desenhou num caderno esboços rápidos do que via, e ao mesmo tempo, escrevia cartas à mãe para lhe contar as suas impressões e descobertas. Uma selecção destes desenhos e destas cartas, que estabelecem entre si um diálogo íntimo e consonante, é agora revelada. Na Electra 23, é publicada, na secção “Figura”, um retrato do grande poeta grego Konstandinos Kavafis, feito pelo professor e tradutor Nikos Pratsinis, a partir de oito perguntas capitais; é comentada, pelo escritor Christian Salmon, na secção “Passagens”, uma reflexão sobre a história trágica da Europa Central do consagrado romancista e ensaísta checo, Milan Kundera. Ainda neste número, o ensaísta e jornalista Sergio Molino dá-nos um mapa pessoal da cidade de Saragoça, em que a história e a geografia, a literatura e a arte se encontram; o jornalista e colunista brasileiro Marcelo Leite trata das investigações em curso desde os anos 90, com vista ao uso farmacológico e terapêutico dos psicadélicos; a escritora e veterinária María Sanchez constrói um diário que é atravessado por procuras e encontros, casas e viagens, livros e animais, terras e mulheres, amor e amizade; o arquitecto, investigador e curador chileno Francisco Díaz aborda a relação entre solo e terreno, a partir do projecto da Cidade da Cultura de Santiago de Compostela, da autoria de Peter Eisenman; o artista e ensaísta João Sousa Cardoso escreve sobre a obra do escultor Rui Chafes, revisitando três exposições e um livro apresentados durante o ano de 2023; e o dramaturgo Miguel Castro Caldas comenta a palavra “Confortável”.Vários -
Diário SelvagemEste «Diário Selvagem», «até aqui quase integralmente inédito, é um livro mítico, listado e discutido em inúmeras cartas e cronologias do autor, a que só alguns biógrafos e estudiosos foram tendo acesso».