O Tempo dos Assassinos: um estudo sobre Rimbaud
Em 1927, na cave de um sórdido prédio de Brooklyn, Henry Miller ouvia pela primeira vez o nome de Rimbaud. Anos depois, em Los Angeles, escrevia febrilmente versos do poeta nas paredes da casa que habitava, e, em 1945, surgiam as primeiras linhas d O Tempo dos Assassinos (1946), um dos mais apaixonantes estudos sobre o poète maudit . Em plena era atómica, no precipício da aniquilação, a identificação entre os dois gigantes da literatura subversiva foi fulminante, e Miller ouvira em Rimbaud o apelo de um profeta do colapso da civilização, de um pária como ele, revendo-se na revolta contra o mundo, nas adversidades e na itinerância do seu escritor predilecto. Fundindo biografia e reflexão, O Tempo dos Assassinos , a pretexto da vida de Rimbaud, explora a função social e os dilemas do artista de génio que se recusa a ceder a uma era em que a sociedade sufoca o vital instinto criador.
| Editora | Antígona |
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| Editora | Antígona |
| Negar Chronopost e Cobrança | Não |
| Autores | Henry Miller |
Henry Miller nasceu em Brooklyn, nos Estados Unidos da América, a 26 de dezembro de 1891. Em 1930, respondendo a um espírito aventureiro e ao desejo de se dedicar à escrita, partiu para a Europa e fixou-se em Paris. Foi aí que, em 1934, publicou o seu primeiro romance autobiográfico, Trópico de Câncer, a que se seguiu, em 1939, Trópico de Capricórnio, ambos banidos durante quase três décadas nos Estados Unidos. Em 1942, pouco depois de se instalar definitivamente na Califórnia, iniciou a redação da trilogia Rosa-Crucificação, Sexus, Plexus, Nexus, considerada uma das suas obras maiores, onde conjuga reflexão metafísica com um erotismo explícito. Miller foi um dos mais marcantes autores americanos do século xx, cuja insubmissão, quer na vida, quer na literatura, viria a influenciar fortemente a chamada beat generation. Faleceu em casa a 7 de junho de 1980.
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Trópico de CâncerProibido durante cerca de 30 anos nos Estados Unidos e no Reino Unido, Trópico de Câncer foi publicado originalmente em 1934. Eleito um clássico de literatura erótica desconstruiu tabus e desmistificou convenções no seu pouco apologético caminho em busca do desejo. Muitas vezes considerado pornográfico e obsceno, Trópico de Câncer evidencia uma sexualidade despojada, longe de amarras e preconceitos, sendo auto-designado pelo escritor como «um insulto prolongado, um escarro no rosto da Arte». Não somente a Arte se pode ter sentido beliscada como a generalidade dos homens do seu tempo, presos às regras ditadas pela sociedade e que viam em Trópico de Câncer um desafiar dos valores impostos e aceites pela sociedade. A linguagem sem freio, os temas invariavelmente de cama e o retrato das personagens pouco ortodoxo, muitas vezes ridicularizadas por uma crítica contundente e sem moral, projectaram Miller como alguém à frente do seu tempo, porventura um pouco desajustado, facto esse que o levou a viver em Paris, ex-libris das capitais, que considerava um local onde se mesclam as cidades da Europa e da América Central, e onde o escritor vivia sem recursos ou dinheiro. Miller auto-designava-se um artista que se deixava conduzir à mercê das contrariedades e das alegrias da vida. A primeira impressão de Trópico de Câncer foi aliás financiada por Anaïs Nin, sua amante, que acreditava nos seus desígnios. Narrado na primeira pessoa, o livro relata ficticiamente as aventuras de Miller entre prostitutas, proxenetas, pintores sem dinheiro e escritores do submundo parisiense. Controverso e muito peculiar, Henry Miller ergue um hino ao mundo da sexualidade e da liberdade nas suas formas extremas e garante incondicionalmente um lugar no panteão dos maiores escritores mundiais do século XX. -
Trópico de CapricórnioA última vez que em Portugal se editou Trópico de Capricórnio data de 1980. Passados largos anos, a Editorial Presença inaugurou, em 2008, a colecção «Obras Literárias Escolhidas», que integra obras de grande qualidade do século XX, que se tornaram clássicos recentes e que se destacaram tanto pela novidade dos temas como por constituírem momentos de ruptura, acompanhando novas formas de pensar o mundo. Nesta colecção, onde constam Trópico de Câncer, de Henry Miller e Os Anos, de Virginia Woolf, a Editora considerou inevitável publicar igualmente Trópico de Capricórnio. Escrito em 1939, Trópico de Capricórnio assume-se como a sequela de Trópico de Câncer, o primeiro livro de Miller, publicado em 1934. É um romance semi--autobiográfico que foi proibido nos Estados Unidos até que, em 1961, o Ministério da Justiça o autorizou, levantando a ideia de que era um livro obsceno. Ambientado em Nova Iorque, na década de 20 do século XX, revisita uma cidade onde o narrador, cuja vida é em quase tudo paralela à do próprio Henry Miller, se sente claustrofóbico, preso às expectativas superficiais da sociedade e condenado a tornar-se mais uma peça do sistema. Apesar das experiências vividas pelo narrador e pelo autor serem semelhantes, a obra é considerada ficcional. -
O Big Sur e as Laranjas de Jerónimo BoschHenry Miller regressou aos Estados Unidos no início dos anos 40, fixando-se no paradisíaco Big Sur, na costa da Califórnia. O Big Sur e as Laranjas de Jerónimo Bosch é a primeira obra que Miller escreve depois de se ter fixado naquela região. Embora composta de textos distintos retrata na sua maior parte a vida do autor, as suas relações familiares, amizades, e as pessoas que procuravam aquela região paradisíaca. Um dos capítulos daria origem à obra Um Diabo no Paraíso. O livro é, acima de tudo, uma obra de maturidade, que reflecte uma plena liberdade interior. -
SexusTerá sido numa quinta-feira à noite. Ele, a caminho dos trinta e três anos, funcionário numa empresa telegráfica e friamente casado, conheceu-a no salão de baile. De um momento para o outro, estava arrebatado de paixão e com a certeza de que uma nova vida se abria à sua frente: bastava que tivesse coragem para arriscar tudo. Sexus é com efeito uma história de risco, de provocação, uma prosa vibrante, plena de carne e espírito, um relato de aventuras sexuais e literárias que se estenderão de Brooklyn até à boémia Paris dos anos de 1930. Primeiro volume da trilogia Rosa-Crucificação, autobiografia ficcionada cuja escrita Henry Miller manteve ao longo de mais de uma década, este título foi publicado em França em 1949 e durante anos circulou clandestinamente por grande parte do mundo, onde foi proibido por imoralidade. Nas palavras de João Palma-Ferreira, prefaciador da edição portuguesa, estamos perante «uma obra-prima de todas as épocas».Um texto magistral de um autor que é um agitador de consciências, «um indisciplinador desejoso de que o homem se descubra finalmente, sem reticências e sem pactuações com o indiferentismo meramente formal». -
Os Livros da Minha VidaO principal objectivo da publicação desta obra é prestar homenagem a um autor que viveu mais do que leu e que classifica como inimigos da humanidade aqueles que enchem a pança de clássicos, ou seja, os homens-burros carregados de livros e fiéis agentes dos produtores de lixo. Henry Miller insere-se numa estirpe de homens que nunca se extingue. Neles mora a reserva oculta que faz de certos livros a mais potente via de comunicação entre os seres humanos, libertando-os da ignorância. Escrito em 1952, Os Livros da minha Vida, agora editado pela primeira vez em Portugal, ainda nos surpreende pela defesa actual da urgência de viver. -
PlexusPLEXUS é o romance central da trilogia Rosa-Crucificação, iniciada com SEXUS. Relato ficcionado da frenética e extraordinária vida de Henry Miller com a sua sensual segunda mulher, Mona, em Nova Iorque, é um testemunho da caótica metamorfose do autor e do seu absoluto amor pela vida. Encorajado por Mona e ansioso por se dedicar à escrita, Henry Miller abandona o seu emprego estável na Companhia Telegráfica Cosmodemónica. O quotidiano transforma-se então numa inglória mas sempre criativa luta pela sobrevivência, em que ambos são desesperadamente pobres e absurdamente felizes. Nos seus relatos de uma vida simultaneamente sublime e miserável, PLEXUS é, acima de tudo, uma história de amor o amor incondicional e obsessivo que Miller sente por Mona, apesar dos seus defeitos; pela vida, apesar dos seus muitos reveses; e pela língua inglesa. Publicado originalmente em Paris em 1953 e proibido nos Estados Unidos e na Grã-Bretanha durante quase quinze anos, PLEXUS é uma erótica celebração de uma vida dissoluta. -
O Colosso de MaroussiEste é aquele que Henry Miller considerava como o seu melhor livro. Aqui, quase tudo é hiperbólico. Entre dias ao relento na praia, aldeias com um único forno para toda a população e peregrinações à Acrópole de Atenas, Miller descobriu na Grécia o sentido da civilização. -
O Sorriso ao Pé das EscadasEmbora inconscientemente, nem sempre o tenha sabido, o palhaço exerce sobre mim uma atracção profunda, justamente porque está separado do mundo pelo riso. O seu riso nada tem de fantástico, é apenas um riso silencioso, o que nós chamamos um riso sem alegria. O palhaço espantosamente ensina-nos a rir de nós próprios. [ ] O circo não passa de uma arena pequena fechada e um lugar de esquecimento.Durante alguns instantes permite que nos abandonemos, que nos desfaçamos em maravilha e felicidade, transportados pelo mistério. Saímos de lá como que envolvidos numa neblina, entristecidos e horrorizados pela face quotidiana do mundo. Mas este velho mundo quotidiano, este mundo com o qual julgamos estar por de mais familiarizados, é o único que existe e é um mundo de magia, de magia inesgotável. Como o palhaço, vamos fazendo as nossas piruetas, aparentando sempre, adiando sempre o grande acontecimento. Morremos a lutar para nascer, pois nunca fomos e nunca somos. Estamos sempre na relatividade de vir a ser, separados, desligados sempre. Sempre do lado de fora da vida. [ ] Eu desejava que o meu herói deixasse este mundo como o fenecer da luz. Mas não para a morte.Gostaria que a sua morte iluminasse o caminho. Não a via como o fim de tudo, mas como o princípio. Quando Augusto se torna ele próprio, a vida começa e não só para Augusto: para toda a humanidade.(Do Epílogo) -
Viragem aos Oitenta - Seguida de Viagem a uma Terra AntigaSão as pequenas coisas que contam, não a fama, o êxito ou a riqueza. No topo, há muito pouco espaço enquanto em baixo há muitos como você, não há enchentes nem ninguém para o provocar. Não pense , nem por um momento , que a vida de um génio é feliz. Longe disso. Seja grato por ser ninguém. -
PlexusRadiantes num novo ninho de amor numa aristocrática zona de Brooklyn, Henry Miller e Mona vivem apenas um para o outro, dedicados ao prazer e ao sonho, com os olhos postos no futuro e pouco mais que nada nos bolsos. A estabilidade do emprego na Companhia Telegráfica Cosmodemónica perde de vez qualquer atrativo e, encorajado por Mona, Miller entrega-se então de corpo e alma à sua paixão maior, a escrita. Romance central da escandalosa e semi-autobiográfica trilogia Rosa-Crucificação, Plexus aponta o foco aos primeiros anos do segundo casamento do autor, anos de equilíbrio periclitante entre o amor e a obsessão, entre a indigência e a grandiosidade, entre o desespero e a celebração da existência, anos que são também os primeiros da sua admirável carreira literária. Este texto, publicado pela primeira vez em França em 1953 e proibido durante mais de uma década nos Estados Unidos da América e na Grã-Bretanha, abre uma janela privilegiada para os valores, as crenças e as opiniões de um dos mais irreverentes autores do século XX e é um apaixonante retrato do seu tempo.
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O Essencial Sobre José Saramago«Aquilo que neste livro se entende como essencial em José Saramago corresponde à sua específica identidade como escritor, com a singularidade e com as propriedades que o diferenciam, nos seus fundamentos e manifestações. Mas isso não é tudo. No autor de Memorial do Convento afirma-se também uma condição de cidadão e de homem político, pensando o seu tempo e os fenómenos sociais e culturais que o conformam. Para o que aqui importa, isso é igualmente essencial em Saramago, até porque aquela condição de cidadão não é estranha às obras literárias com as quais ela interage, em termos muito expressivos.» in Contracapa -
Confissões de um Jovem EscritorUmberto Eco publicou seu primeiro romance, O Nome da Rosa, em 1980, quando tinha quase 50 anos. Nestas suas Confissões, escritas cerca de trinta anos depois da sua estreia na ficção, o brilhante intelectual italiano percorre a sua longa carreira como ensaísta dedicando especial atenção ao labor criativo que consagrou aos romances que o aclamaram. De forma simultaneamente divertida e séria, com o brilhantismo de sempre, Umberto Eco explora temas como a fronteira entre a ficção e a não-ficção, a ambiguidade que o escritor mantém para que seus leitores se sintam livres para seguir o seu próprio caminho interpre tativo, bem como a capacidade de gerar neles emoções. Composto por quatro conferências integradas no âmbito das palestras Richard Ellmann sobre Literatura Moderna que Eco proferiu na Universidade Emory, em Atlanta, nos Estados Unidos, Confissões de um jovem escritor é uma viagem irresistível aos mundos imaginários do autor e ao modo como os transformou em histórias inesquecíveis para todos os leitores. O “jovem escritor” revela-se, afinal, um grande mestre e aqui partilha a sua sabedoria sobre a arte da imaginação e o poder das palavras. -
Sobre as MulheresSobre as Mulheres é uma amostra substancial da escrita de Susan Sontag em torno da questão da mulher. Ao longo dos sete ensaios e entrevistas (e de uma troca pública de argumentos), são abordados relevantes temas, como os desafios e a humilhação que as mulheres enfrentam à medida que envelhecem, a relação entre a luta pela libertação das mulheres e a luta de classes, a beleza, o feminismo, o fascismo, o cinema. Ao fim de cinquenta anos – datam dos primeiros anos da década de 1970 –, estes textos não envelheceram nem perderam pertinência. E, no seu conjunto, revelam a curiosidade incansável, a precisão histórica, a solidez política e o repúdio por categorizações fáceis – em suma, a inimitável inteligência de Sontag em pleno exercício.«É um deleite observar a agilidade da mente seccionando através da flacidez do pensamento preguiçoso.» The Washington Post«Uma nova compilação de primeiros textos de Sontag sobre género, sexualidade e feminismo.» Kirkus Reviews -
Para Tão Curtos Amores, Tão Longa VidaNuma época e num país como o nosso, em que se regista um número muito elevado de divórcios, e em que muitos casais preferem «viver juntos» a casar-se, dando origem nas estatísticas a muitas crianças nascidas «fora do casamento», nesta época e neste país a pergunta mais próxima da realidade não é por que duram tão pouco tantos casamentos, mas antes: Por que é que há casamentos que duram até à morte dos cônjuges? Qual é o segredo? Há um segredo nisso? Este novo livro de Daniel Sampaio, que traz o título tão evocativo: Para Tão Curtos Amores, Tão Longa Vida, discute as relações afetivas breves e as prolongadas, a monogamia e a infidelidade, a importância da relação precoce com os pais e as vicissitudes do amor. Combinando dois estilos, o ficcional e o ensaístico, que domina na perfeição, o autor traz perante os nossos olhos, de modo muito transparente e sem preconceitos, tão abundantes nestas matérias, os problemas e dificuldades dos casais no mundo de hoje, as suas vitórias e derrotas na luta permanente para manterem viva a sua união.Um livro para todos nós porque (quase) todos nós, mais tarde ou mais cedo, passamos por isso. -
A Vida na SelvaHá quem nasça para o romance ou para a poesia e se torne conhecido pelo seu trabalho literário; e quem chegue a esse ponto depois de percorrer um longo caminho de vida, atravessando os escolhos e a complexidade de uma profissão, ou de uma passagem pela política, ou de um reconhecimento público que não está ligado à literatura. Foi o caso de Álvaro Laborinho Lúcio, que publicou o seu primeiro e inesperado romance (O Chamador) em 2014.Desde então, em leituras públicas, festivais, conferências e textos com destinos vários, tem feito uma viagem de que guarda memórias, opiniões, interesses, perguntas e respostas, perplexidades e reconhecimentos. Estes textos são o primeiro resumo de uma vida com a literatura – e o testemunho de um homem comprometido com as suas paixões e o diálogo com os outros. O resultado é comovente e tão inesperado como foi a publicação do primeiro romance. -
Almoço de DomingoUm romance, uma biografia, uma leitura de Portugal e das várias gerações portuguesas entre 1931 e 2021. Tudo olhado a partir de uma geografia e de uma família.Com este novo romance de José Luís Peixoto acompanhamos, entre 1931 e 2021, a biografia de um homem famoso que o leitor há de identificar — em paralelo com história do país durante esses anos. No Alentejo da raia, o contrabando é a resistência perante a pobreza, tal como é a metáfora das múltiplas e imprecisas fronteiras que rodeiam a existência e a literatura. Através dessa entrada, chega-se muito longe, sem nunca esquecer as origens. Num percurso de várias gerações, tocado pela Guerra Civil de Espanha, pelo 25 de abril, por figuras como Marcelo Caetano ou Mário Soares e Felipe González, este é também um romance sobre a idade, sobre a vida contra a morte, sobre o amor profundo e ancestral de uma família reunida, em torno do patriarca, no seu almoço de domingo.«O passado tem de provar constantemente que existiu. Aquilo que foi esquecido e o que não existiu ocupam o mesmo lugar. Há muita realidade a passear-se por aí, frágil, transportada apenas por uma única pessoa. Se esse indivíduo desaparecer, toda essa realidade desaparece sem apelo, não existe meio de recuperá-la, é como se não tivesse existido.» «Os motoristas estão à espera, o brado da multidão mistura-se com o rugido dos motores. Antes de entrarmos, o Mário Soares aproxima-se de mim, correu tudo tão bem, e abraça-me com um par estrondosas palmadas no centro das costas. A coluna de carros avança devagar pelas ruas da vila. Tenho a garganta apertada, não consigo falar. Como me orgulha que Campo Maior seja a capital da península durante este momento.»«Autobiografia é um romance que desafia o leitor ao diluir fronteiras entre o real e o ficcional, entre espaços e tempos, entre duas personagens de nome José, um jovem escritor e José Saramago. Este é o melhor romance de José Luís Peixoto.»José Riço Direitinho, Público «O principal risco de Autobiografia era esgotar-se no plano da mera homenagem engenhosa, mas Peixoto evitou essa armadilha, ao construir uma narrativa que se expande em várias direções, acumulando camadas de complexidade.»José Mário Silva, Expresso -
Electra Nº 23A Atenção, tema de que se ocupa o dossier central do número 23 da revista Electra, é um recurso escasso e precioso e por isso objecto de uma guerra de concorrência sem tréguas para conseguir a sua captura. Nunca houve uma tão grande proliferação de informação, de produtos de consumo, de bens culturais, de acontecimentos que reclamam a atenção. Ela é a mercadoria da qual depende o valor de todas as mercadorias, sejam materiais ou imateriais, reais ou simbólicas. A Atenção é, pois, uma questão fundamental do nosso tempo e é um tópico crucial para o compreendermos. Sobre ela destacam-se neste dossier artigos e entrevistas de Yves Citton, Enrico Campo, Mark Wigley, Georg Franck e Claire Bishop. Nesta edição, na secção “Primeira Pessoa”, são publicadas entrevistas à escritora, professora e crítica norte-americana Svetlana Alpers (por Afonso Dias Ramos), cujo trabalho pioneiro redefiniu o campo da história da arte nas últimas décadas, e a Philippe Descola (por António Guerreiro), figura central da Antropologia, que nos fala de temas que vão desde a produção de imagens e das tradições e dos estilos iconográficos à questão da oposição entre natureza e cultura. A secção “Furo” apresenta um conjunto de desenhos e cartas inéditos da pintora Maria Helena Vieira da Silva. Em 1928, tinha vinte anos. Havia saído de Portugal para estudar arte em Paris e, de França, foi a Itália numa viagem de estudo. Durante esse percurso desenhou num caderno esboços rápidos do que via, e ao mesmo tempo, escrevia cartas à mãe para lhe contar as suas impressões e descobertas. Uma selecção destes desenhos e destas cartas, que estabelecem entre si um diálogo íntimo e consonante, é agora revelada. Na Electra 23, é publicada, na secção “Figura”, um retrato do grande poeta grego Konstandinos Kavafis, feito pelo professor e tradutor Nikos Pratsinis, a partir de oito perguntas capitais; é comentada, pelo escritor Christian Salmon, na secção “Passagens”, uma reflexão sobre a história trágica da Europa Central do consagrado romancista e ensaísta checo, Milan Kundera. Ainda neste número, o ensaísta e jornalista Sergio Molino dá-nos um mapa pessoal da cidade de Saragoça, em que a história e a geografia, a literatura e a arte se encontram; o jornalista e colunista brasileiro Marcelo Leite trata das investigações em curso desde os anos 90, com vista ao uso farmacológico e terapêutico dos psicadélicos; a escritora e veterinária María Sanchez constrói um diário que é atravessado por procuras e encontros, casas e viagens, livros e animais, terras e mulheres, amor e amizade; o arquitecto, investigador e curador chileno Francisco Díaz aborda a relação entre solo e terreno, a partir do projecto da Cidade da Cultura de Santiago de Compostela, da autoria de Peter Eisenman; o artista e ensaísta João Sousa Cardoso escreve sobre a obra do escultor Rui Chafes, revisitando três exposições e um livro apresentados durante o ano de 2023; e o dramaturgo Miguel Castro Caldas comenta a palavra “Confortável”.Vários -
Diário SelvagemEste «Diário Selvagem», «até aqui quase integralmente inédito, é um livro mítico, listado e discutido em inúmeras cartas e cronologias do autor, a que só alguns biógrafos e estudiosos foram tendo acesso».