Tentar perceber hoje a origem do RAP enquanto género musical é uma tarefa que me parece pouco interessante, dado o carácter inconclusivo e a profusão ensaística da responsabilidade de agentes culturais que emergem em torno do mesmo, alguns deles demonstrando um enorme conhecimento do seu repertório, das suas convenções performativas ou do universo biográfico dos protagonistas mais relevantes. Este trabalho pretendeu que memória e história oral assegurassem outros questionamentos e outra preocupação, que ainda não tinham sido levantados nem, por isso, aflorados em trabalhos actuais. Sobretudo que a abordagem, o plano da investigação e a leitura daí resultante, se cruzasse não só com várias disciplinas como com o contributo inestimável de experiências e de testemunhos dos que viveram esse primeiro momento, que de modo inortodoxo se pudesse falar de história da música cruzando em tempo real os dados da minha investigação, observação e análise com os das experiências vividas, que isso aproximasse leitores e ouvintes do impacto desta história local num determinado contexto histórico. Bastou-me um trabalho de frequente partilha e interacção com os seus protagonistas para perceber que aspectos como a oralidade africana, a experiência da diáspora dos seus progenitores, o abraçar de outras tipologias musicais, a poesia dita de modo espontâneo na rua se misturaram com esperanças de afirmação nas indústrias discográfica e recreativa de espectáculos, os primeiros passos na música de um modo autodidacta, os sonhos e as discussões que foram sendo proteladas, as ambições, as desilusões e a necessidade da sua afirmação individual e colectiva com olhos postos numa prática autónoma, que se poderá abordar a partir de Portugal, logo após as suas primeiras edições discográficas, sem uma necessidade, como sucedeu, permanente de comparação com o exterior.
Nataniel Ngomane: «Um trabalho pioneiro e, desde logo, importantíssima ferramenta referencial para trabalhos futuros não somente na área musical e sonora…»
O que nos é apresentado neste livro de Marco Roque de Freitas é, efetivamente, uma abordagem teórica sistematizada da experiência musical de Moçambique, abordagem assente na base sólida que cobre o período de transição, sobretudo política — de 1974 a 1994 —, e «identificando os principais processos que levaram à sua relação com a construção social». Essa experiência musical é acrescida da experiência sonora, no sentido já descrito, como elemento com função central na construção da nação moçambicana. Desse ponto de vista, mesmo considerando a existência de alguns trabalhos de natureza similar em Moçambique, não temos nenhuma dificuldade em considerar este, na sua profundidade e intensidade, como um trabalho pioneiro e, desde logo, importantíssima ferramenta referencial para trabalhos futuros não somente na área musical e sonora, mas também noutras áreas das artes e outras, como da história de Moçambique, da antropologia, ciências políticas, entre muitas outras.
[Nataniel Ngomane]
Nesta obra é robusta a evidência da importância dos media para a análise etnomusicológica. Os processos da radiodifusão e da produção discográfica fazem parte de uma narrativa que sublinha o papel da tecnologia e dos procedimentos industriais e comerciais na configuração da música — e não apenas na sua reprodução, bem como a sua relação com os territórios e as populações de Moçambique. De facto, a extensão e diversidade cultural e territorial de Moçambique coloca à investigação desafios de enorme dimensão. O presente trabalho, fruto de uma investigação etnomusicológica extensa, aprofundada e centrada em Maputo e na sua área de influência mais próxima, constitui um importante testemunho daquilo que falta compreender, e das limitações com que ainda nos deparamos no projeto de conhecer a música em Moçambique.
[João Soeiro de Carvalho]
"Jazz - Escute e Olhe" ou 150 fotografias de 12 profissionais
portugueses reunidas num livro de referência. Henrique
Calvet, Nuno Calvet, Elsa Úria Duarte, João Freire, Eduardo
Gageiro, Carlos Gil, Jorge Jacinto, José Manuel, José Paulo
Barrilaro Ruas, Rosa Reis, Guilherme Silva e Anabela Trindade
registaram os melhores momentos do jazz tocado em Portugal,
entre 1971 e 2001. A selecção é do "mestre" JOSÉ DUARTE, a
edição ALMEDINA. O "jazz não se ensina, aprende-se, como se
aprende a falar. Depois é soltar a língua, tentar a
originalidade, perseguir o Belo. Jazz é música que nunca está
pronta, que nunca acaba enquanto jazz, que admite citações,
que não esquece disciplina. À solta!", explica José Duarte no
prefácio que intitula "É impossível fotografar jazz". A
edição é bilingue.
Um… dois … um, dois, três, quatro, Cinco Minutos de Jazz...
Emitido de segunda a sexta desde 21 de fevereiro de 1966, Cinco Minutos de Jazz é o programa de rádio há mais tempo no ar em Portugal — e não só, pois até já se fala, para breve, de um Guinness World Record. Ao longo de mais de meio século, José Duarte tem divulgado incansavelmente um género musical que, apesar dos passos seguros que foi dando, tem demorado a fazer o seu caminho entre nós. Por ondas hertzianas, em papel, no ciberespaço ou de viva voz em qualquer tribuna onde o chamem a intervir, Jazzé continua, militante, a espalhar a palavra jazz. Neste livro coligem-se textos das últimas três décadas de divulgação.