Retratos de Sombra
Em dezanove textos biográficos, de Camilo a Mário Soares, de Churchill a Giorgio Armani, é construída uma galeria de personagens que fazem parte da experiência, jornalística e literária, do autor. São perfis, entrevistas, apontamentos, ou simples percepções da sombra que cada um deles projectou no seu ângulo de visão: Borges, Yourcenar e Chostakovitch, mas também Pessoa, Oscar Wilde, Stefan Zweig, Pascoaes.
| Editora | Assírio & Alvim |
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| Coleção | Peninsulares |
| Categorias | |
| Editora | Assírio & Alvim |
| Negar Chronopost e Cobrança | Não |
| Autores | António Mega Ferreira |
António Mega Ferreira, escritor, gestor e jornalista, nasceu em Lisboa em 1949. Estudou Direito e Comunicação Social, foi jornalista no Jornal Novo, no Expresso, em O Jornal e na RTP, onde chefiou a redacção da Informação do segundo canal. Foi chefe de redacção do JL — Jornal de Letras, Artes e Ideias. Fundou as revistas Ler e Oceanos. Chefiou a candidatura de Lisboa à Expo’98, de que foi comissário executivo. Foi presidente da Parque Expo, do Oceanário de Lisboa e da Atlântico, Pavilhão Multiusos de Lisboa. S.A. De 2006 a 2012, presidiu à Fundação Centro Cultural de Belém. De 2013 a 2019, desempenhou as funções de director executivo da AMEC/Metropolitana.
Tem cerca de 40 obras publicadas, entre ficção, ensaio, poesia e crónicas.
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O Essencial sobre Dante Alighieri«Se há, em qualquer literatura, uma obra que se aproxime da designação “poema nacional”, essa é certamente A Divina Comédia, composto por Dante Alighieri (1265-1321) nas duas primeiras décadas do século XIV, período durante o qual viveu continuadamente exilado da sua cidade de Florença, da qual fora expulso por razões políticas. Ao longo dos seus mais de catorze mil versos, agrupados em cem cantos, e escritos em língua vulgar, o poema de Dante («poema sacro... no qual puseram mão o céu e a terra») descreve as jornadas que conduzem o autor até à revelação divina, através das penas do Inferno, dos trabalhos do Purgatório e das beatitudes do Paraíso.»Dante expirou poucos meses após ter concluído a Commedia (mais tarde denominada Divina Comédia) e iniciou, como o próprio diz, a sua viagem para a revelação do amor divino, «o amor que move o Sol e as mais estrelas». -
A Expressão dos AfectosO que é que atrai as pessoas umas para as outras, o que é que as prende, o que é que, por fim, as afasta? É sobre as modulações desta química subtil que se arquitecta a maior parte dos textos ficcionais que integram A Expressão dos Afectos. Mas há mais: um exercício borgeano (ou menardiano?), uma evocação de Casablanca (ou de Casablanca?), a noite em que Júlio César soube que ia morrer. Cobrindo um leque temporal de dez anos, nem todas as ficções d'A Expressão dos Afectos são contos, no sentido mais convencional do termo. Mas em todos existe a mesma utilização da escrita ficcional para interrogar o mistério dos afectos, das fantasias e das emoções. -
AmorWinnie, personagem encantadora e de idade indeterminada, pertencia a esse conjunto de pessoas que “têm mundo”, “parecia saber tudo, ter estado em todos os sítios no exacto momento em que eles se tinham tornado interessantes”. Mas alguma coisa se passara na vida de Winnie no dia em fizera dezasseis anos. O quê, não se sabe ao certo. Vinte anos depois de a ter conhecido e amado, um homem parte à descoberta do segredo e, entre os papéis de Winnie, descobre uma carta: “Esta carta de amor é um excesso (e isso prova superiormente que é uma carta de amor): eu amo não a ideia de amar-te (durante muito tempo, eu julguei que era apenas isso), mas a ideia de perder-me no meu amor por ti. E mesmo amar-te é um excesso, porque tudo aconselharia que eu me limitasse a mistificar-te, que é a melhor forma de evitarmos enfrentar a realidade”. No final, espera-o a revelação de um vazio e uma pergunta: onde reside a essência do amor? -
As Caixas ChinesasA memória não é uma caixa de imagens. A memória é apenas uma moldura que delimita o espaço de um quadro, mas que lhe ignora o tempo, que mistura as cores e as formas numa espécie de cadinho adormecido sobre o aparador da infância. E depois, um dia, a necessidade ou a imaginação despertam-na, e ela transforma-se em fábrica de sonhos e de ilusões, um pouco mais de emoção aqui, um diálogo retocado acolá, bruscamente as imagens todas rodopiam sobre si próprias e, quando de novo se aquietam, quando se tornam suficientemente nítidas para poderem ser evocadas, quem pode dizer que foi esse o lugar que elas ocupavam quando tudo se passou, quem se atreve a garantir que tudo se passou assim mesmo, quem ousaria jurar que alguma coisa se passou? -
O Que Há-de Voltar a PassarEm O Que Há-de Voltar a Passar o leitor perde-se, como num livro de aventuras, no lugar e na memória do narrador e do seu Jano, a figura de duas faces que, ao olhar para trás, o faz seguir em frente. E assim surgem apetecíveis cerejas e begónias saídas de um recanto do jardim de Proust, um poema de William Carlos Williams, descrições do fracasso, da dor física, “coisa tão íntima, tão absurdamente vexatória”. Assim se percorre a geografia melancólica desta narrativa, encontrando-se “o que sabemos” e “o que há-de voltar a passar”. Neste livro sobre a escrita, sobre um escritor, edifica-se uma pequena teoria sobre o romance, tornando-se este, à semelhança do descrito no Quarteto de Alexandria de Durrell, em cidade transformada em mundo, quando nos apaixonamos por um dos seus habitantes. “Um dia perguntei a Jano quem era e ao que vinha. Jano, que é um animal político disfarçado de toutinegra, deu uma gargalhada: ‘Eu sou a tua mão direita, a que escreve. Já reparaste que tens a esquerda tolhida?’ Ou, então: ‘Eu sou a tua mão esquerda, a que te vê escrever. Já reparaste como a tua mão direita está tolhida de pensamento, absorta na acção?’ E, como a resposta não me satisfizesse, especificou, preocupado: ‘Eu sou o que olha para trás e te faz seguir em frente’. -
Fotobiografia de Teixeira de PascoaesNeste livro, seguindo as pistas que nos deixaram as fotografias, cartas e desenhos de Teixeira de Pascoaes, é ilustrado o seu percurso de vida. Em capítulos que recuperam o nome de algumas das obras e poemas que escreveu, conhecemos a sua meninice e o solar em Gatão, os tempos de estudante em Coimbra, as viagens, as amizades ibéricas e a velhice. “Não é uma biografia”, é antes um testemunho iconográfico, uma obra construída com o apaixonado e cuidado interesse de António Mega Ferreira, para que não esqueçamos um escritor e poeta cuja obra tem tanto para dar. -
O Tempo que Nos Cabe“O Tempo Que Nos Cabe (Ainda)É dentro da cabeça,lá dentro,que o tempo nos consomee nos faz falta.Não há chuva mornanem solque nos aqueça, quandonos falta o sopro,a luz, a cega fé que nos mantémdespertos, quandopor fora, o corpojá anuncia a noitemais profunda.Por isso,é dentro da cabeça,cá dentro,para lá dos céus,antes que o mar termine,nesta imensa confusãode meridianosque nos dói e nos deslumbra,que se aloja o segredoindecifrável:a cor, o som, a luzque nos conforta,neste intensamente breveinstanteque é o tempo que nos cabe.” -
Por D. Quixote - O literato, o justiceiro e o amoroso“Recolhem-se neste livro três ensaios suscitados pela minha longa e apaixonada convivência com El ingenioso hidalgo Don Quijote de la Mancha, de Miguel de Cervantes, livro de livros e bíblia de pobres e ricos, como convém a uma obra de devoção.O primeiro texto é uma versão muito desenvolvida da conferência que pronunciei no dia 26 de Abril de 2005, no Instituto Cervantes, em Lisboa, a propósito do quarto centenário da publicação da primeira parte do D. Quixote, que aconteceu em 1605. O segundo teve origem num convite para colaborar no número de Outono desse mesmo ano da revista Foro das Letras (números 11/12, Novembro de 2005), publicação da Associação Portuguesa de Escritores-Juristas dirigida por António Osório, e permitiu-me abordar algumas questões relativas ao estatuto social e político do fidalgo de La Mancha, que há muito trazia comigo. O terceiro é inédito e ensaia uma aproximação pouco ortodoxa ao lugar de Dulcineia — e de outras mulheres que povoam o texto de Cervantes — nas fantasias eróticas do Engenhoso Fidalgo.O leitor notará que, para lá de algumas fontes clássicas ou de referência obrigatória, bebi mais em textos ensaísticos de ficcionistas e poetas do que nas abordagens, certamente muito rigorosas e conhecedoras, mas talvez um pouco secantes, dos mais ilustres cervantistas. Interpelação constante de um escritor a todos os escritores, o D. Quixote é, para mim, sobretudo, um inesgotável manancial de descoberta e maravilha, de invenção e risco. É “uma passagem do milagre ao mistério com uma escala indefinida no assombro”, como escreveu, cintilantemente, Carlos Fuentes.”António Mega Ferreira -
O Deserto Ocidental“Uma noite, há muitos anos, passeando pelas ruas estreitas do Marais, em Paris, na companhia de Eduardo Prado Coelho, reconfortados com as energias desencadeadas por duas garrafas de um Brouilly légèrement frappé, deparámos, ao virar de uma esquina, com uma loja que exibia, com a insidiosa indiferença com que os anúncios inteligentes costumam oferecer-se à surpresa dos passeantes, um nome de irresistível sugestão poética: Le désert occidental. Devemos ter pensado ao mesmo tempo na mesma coisa. Um de nós, juro que não sei qual, disse: que excelente título para um livro.Mas sei que fui eu que me adiantei: este é para mim.Magnânimo, Eduardo concedeu: está bem, podes ficar com ele.”“Este não é um livro de ruínas nem de paisagens desoladas. Como atravessa lugares intensamente povoados, o título acaba por resultar quase ironia. O Deserto Ocidental era um título bonito, poético e melancólico. Tornou-se, ao fazer-se, um lugar de esperança e de alegrias várias, porque é maior o espaço sem fronteiras que se depara ao pensamento que os constrangimentos inexplicáveis em que, por vezes, se afoga o coração.”António Mega Ferreira -
Hotel LocarnoDa solidão sem esperança do xerife de Rio Bravo à busca sem horizonte num lugar qualquer do Alentejo, treze contos em que se contam desencontros e incompreensões, como os quartos fechados de um hotel romano, sem portas de comunicação uns com os outros. Um conferencista que se precipita na memória de um nome amado, um cadete da marinha que faz da dissimulação o seu livre-trânsito para a liberdade, um diplomata incapaz de resistir ao perfume de uma baiana e de tolerar o aroma de um fruto tropical, uma criança que nunca será capaz de perdoar ao pai uma recusa que lhe nega a possibilidade de ser sujeito da História, são outras tantas almas desiludidas e errantes que se acolhem à sombra protetora do Hotel.
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Para Tão Curtos Amores, Tão Longa VidaNuma época e num país como o nosso, em que se regista um número muito elevado de divórcios, e em que muitos casais preferem «viver juntos» a casar-se, dando origem nas estatísticas a muitas crianças nascidas «fora do casamento», nesta época e neste país a pergunta mais próxima da realidade não é por que duram tão pouco tantos casamentos, mas antes: Por que é que há casamentos que duram até à morte dos cônjuges? Qual é o segredo? Há um segredo nisso? Este novo livro de Daniel Sampaio, que traz o título tão evocativo: Para Tão Curtos Amores, Tão Longa Vida, discute as relações afetivas breves e as prolongadas, a monogamia e a infidelidade, a importância da relação precoce com os pais e as vicissitudes do amor. Combinando dois estilos, o ficcional e o ensaístico, que domina na perfeição, o autor traz perante os nossos olhos, de modo muito transparente e sem preconceitos, tão abundantes nestas matérias, os problemas e dificuldades dos casais no mundo de hoje, as suas vitórias e derrotas na luta permanente para manterem viva a sua união.Um livro para todos nós porque (quase) todos nós, mais tarde ou mais cedo, passamos por isso. -
Sobre as MulheresSobre as Mulheres é uma amostra substancial da escrita de Susan Sontag em torno da questão da mulher. Ao longo dos sete ensaios e entrevistas (e de uma troca pública de argumentos), são abordados relevantes temas, como os desafios e a humilhação que as mulheres enfrentam à medida que envelhecem, a relação entre a luta pela libertação das mulheres e a luta de classes, a beleza, o feminismo, o fascismo, o cinema. Ao fim de cinquenta anos – datam dos primeiros anos da década de 1970 –, estes textos não envelheceram nem perderam pertinência. E, no seu conjunto, revelam a curiosidade incansável, a precisão histórica, a solidez política e o repúdio por categorizações fáceis – em suma, a inimitável inteligência de Sontag em pleno exercício.«É um deleite observar a agilidade da mente seccionando através da flacidez do pensamento preguiçoso.» The Washington Post«Uma nova compilação de primeiros textos de Sontag sobre género, sexualidade e feminismo.» Kirkus Reviews -
A Vida na SelvaHá quem nasça para o romance ou para a poesia e se torne conhecido pelo seu trabalho literário; e quem chegue a esse ponto depois de percorrer um longo caminho de vida, atravessando os escolhos e a complexidade de uma profissão, ou de uma passagem pela política, ou de um reconhecimento público que não está ligado à literatura. Foi o caso de Álvaro Laborinho Lúcio, que publicou o seu primeiro e inesperado romance (O Chamador) em 2014.Desde então, em leituras públicas, festivais, conferências e textos com destinos vários, tem feito uma viagem de que guarda memórias, opiniões, interesses, perguntas e respostas, perplexidades e reconhecimentos. Estes textos são o primeiro resumo de uma vida com a literatura – e o testemunho de um homem comprometido com as suas paixões e o diálogo com os outros. O resultado é comovente e tão inesperado como foi a publicação do primeiro romance. -
O Infinito num JuncoA Invenção do livro na antiguidade e o nascer da sede dos livros.Este é um livro sobre a história dos livros. Uma narrativa desse artefacto fascinante que inventámos para que as palavras pudessem viajar no tempo e no espaço. É o relato do seu nascimento, da sua evolução e das suas muitas formas ao longo de mais de 30 séculos: livros de fumo, de pedra, de argila, de papiro, de seda, de pele, de árvore, de plástico e, agora, de plástico e luz.É também um livro de viagens, com escalas nos campos de batalha de Alexandre, o Grande, na Villa dos Papiros horas antes da erupção do Vesúvio, nos palácios de Cleópatra, na cena do homicídio de Hipátia, nas primeiras livrarias conhecidas, nas celas dos escribas, nas fogueiras onde arderam os livros proibidos, nos gulag, na biblioteca de Sarajevo e num labirinto subterrâneo em Oxford no ano 2000.Este livro é também uma história íntima entrelaçada com evocações literárias, experiências pessoais e histórias antigas que nunca perdem a relevância: Heródoto e os factos alternativos, Aristófanes e os processos judiciais contra humoristas, Tito Lívio e o fenómeno dos fãs, Sulpícia e a voz literária de mulheres.Mas acima de tudo, é uma entusiasmante aventura coletiva, protagonizada por milhares de personagens que, ao longo do tempo, tornaram o livro possível e o ajudaram a transformar-se e evoluir – contadores de histórias, escribas, ilustradores e iluminadores, tradutores, alfarrabistas, professores, sábios, espiões, freiras e monjes, rebeldes, escravos e aventureiros.É com fluência, curiosidade e um permanente sentido de assombro que Irene Vallejo relata as peripécias deste objeto inverosímil que mantém vivas as nossas ideias, descobertas e sonhos. E, ao fazê-lo, conta também a nossa história de leitores ávidos, de todo o mundo, que mantemos o livro vivo.Um dos melhores livros do ano segundo os jornais El Mundo,La Vanguardia e The New York Times(Espanha). -
O Anticrítico«O Anticrítico» é uma compilação dos ensaios de Diogo Vaz Pinto — textos de crítica literária, e não só —, escritos entre 2014 e 2023, incluindo alguns inéditos. «Não tenho conta para as vezes todas em que, para ir com a rábula insultuosa que me tecem, pegando uns onde outros deixaram, numa cooperativa de imbecis que, sinceramente, me comove, já me quiseram tirar a condição que vem de tudo o que faço. Mais difícil seria desmontar alguma coisa. Resta que, ou ignoram muito vermelhuscos, ou a ideia é revogar-me a carta, licença, prostrar-me na indigência de eu ser uma qualquer abominação, «Bicho», monstro que ligam com tudo o que é baixo, e mesmo assim paira sobre eles sem explicação. Um Chernobyl encarnado. Crítico não sou. Ou só pseudo. Videirinho e jornaleiro, pilha-galinhas e o mais que eu coso bem ao meu estuporado currículo. Pois seja, eu fico então gordo disso tudo. E viro-me do avesso. Sou o anticrítico, então! Roubando esta de Augusto de Campos sem pudor. Há muito que não me retiram do sentido a ideia de que o principal é cortar com a impostura disto tudo. A gloríola da mediocridade, o sentido gregário, essa ratada ficção ligando os «egozinhos de porta-aberta» do nosso meio literato.» -
Terra QueimadaEnsaio profético e demolidor, TERRA QUEIMADA (2022) expõe a forma como o complexo internético se tornou «motor implacável de vício, solidão, falsas esperanças, crueldade, psicose, endividamento, vida desbaratada, corrosão da memória e desintegração social». Nele, Jonathan Crary faz uma crítica radical da digitalização do mundo e denuncia realidades inegáveis: a incompatibilidade entre um planeta habitável e a economia consumista e técnica, a atomização provocada pelas redes sociais, a era digital como fase terminal do capitalismo planetário. «Se é possível um futuro habitável e comum no nosso planeta», conclui, «esse futuro será offline, dissociado dos sistemas e da actividade do capitalismo 24/7, que destroem o mundo». -
Mário Cesariny e Antonio Tabucchi - Cartas e outros TextosFernando Cabral Martins: «O surrealismo português já tinha atingido no final dos anos sessenta uma definição que tornava possível, de um ponto de vista exterior, descomprometido, fazer uma avaliação de conjunto.» Antonio Tabucchi veio a Portugal no rasto de um poeta: Fernando Pessoa, ou melhor Álvaro de Campos, de quem lera por acaso o poema «Tabacaria». Quis aprender a língua do autor do poema e para isso inscreveu-se na cadeira de Língua e Literatura Portuguesa na Universidade de Pisa, que então frequentava. O seu mestre foi uma professora especial, bela, inteligente e culta, Luciana Stegagno Picchio. Antonio quis conhecer o país onde se falava aquela língua e ao qual pertencia aquele poeta e, na Primavera de 1965, com o seu Fiat 500, chegou a Portugal. Aí conheceu uma portuguesa com quem falou de Pessoa, e com quem continuou a trocar correspondência até ao ano seguinte, quando se tornaram namorados, vindo depois a casar (1970). Mas até lá, veio amiúde a Portugal […] e começou a interessar-se pelo Surrealismo português, sobre o qual havia muito pouco material crítico, praticamente nada, em vista da sua futura tese de licenciatura. Conheceu então (1967) dois membros ilustres daquele movimento, dois grandes poetas, Alexandre O’Neill e Mário Cesariny de Vasconcelos, com quem passou muitas horas, primeiro para os entrevistar e depois, com sempre maior intimidade, já com laços de amizade, só pelo prazer de estarem juntos. [Maria José de Lancastre] Esta é a história de um desencontro. Cesariny, como o surrealismo, considerava a universidade um inimigo, e Tabucchi, para todos os efeitos, era em 1971 um universitário. Mesmo se, no caso dele, havia por parte do poeta o agrado de ver como a sua poesia e o seu lugar no surrealismo português eram reconhecidos — pela primeira vez — por um leitor com a distância crítica e a óbvia inteligência de Antonio Tabucchi. Aqui, nos textos que documentam o contacto directo entre ambos do final dos anos 60, pode ver-se uma ilustração do modo como a história do surrealismo foi sendo feita, com que ritmo e a partir de que posições. E que implica a consciência, por parte do poeta, da importância do sentido que a crítica atribui à História, capaz (ou não) de tornar o passado digno do presente, ou vice- -versa. E manifesta, por parte do jovem crítico italiano, a intuição da grandeza de um movimento que evoluía na sombra, num carceral jardim à beira-mar. [Fernando Cabral Martins]
