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Slamizando nas Periferias

Fernanda Vilar

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Sinopse

As expressões artísticas das periferias são parte importante do cenário cultural das grandes capitais europeias, sendo o HIP-HOP UM DOS MOVIMENTOS FUNDAMENTAIS QUE DAÍ EMERGIRAM. A competição de POESIA SLAM faz parte desse panorama e oferece aos artistas a possibilidade de «subir ao palco» e de se expressarem.

A COLEÇÃO

É uma parceria entre as Edições Afrontamento e o projeto de investigação «Memoirs: Filhos de Império e Pós-memórias europeias», do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, com financiamento do Conselho Europeu de Investigação (ERC, Consolidator Grant 648624) no âmbito do Programa-Quadro Comunitário de Investigação & Inovação Horizonte 2020 da União Europeia.

abro mais uma gaveta

abro mais uma gaveta

à procura de respostas ocultas

sobre a minha existência incompleta

e na árdua tarefa de juntar peças

de um puzzle fragmentado

estilhaçado por água fria

em diferentes cantos do mundo

e não tenho um sentido como guia

não vejo

não toco

não oiço

não cheiro

nem saboreio a verdade que me falta

então abro mais uma gaveta

à procura de um sentido

no formato circular da oratura

porque a tradição não é só feita de livros

fotos e palavras por traduzir

línguas que desconheço

lutas por persistir

vitórias que não sonhei

fracassos e demência

tenho presente a ausência

no fundo da mesma gaveta

o outro lado do oceano

feridas em carnes vivas

força e medo à flor de peles fundidas

então abro mais uma gaveta

e tenho sementes com cicatrizes

já não basta ter asas que voam

Escrevo para 47

Chamo-me Lisette. Lisette Lombe. Lombé a Lombé

Filha de Claire Monique Dejehet e de Jean-Marie Lombe Yangongo. Concebida em Kinshasa. Nascida em Namur. 30 de agosto de 1978

No meu sangue corre o Kasai e também o Meuse

Há o 504 rua Kindu e o 88 avenida de la Pairelle

Há a cidade congolesa com a espuma do detergente da roupa a sair das sarjetas.

E há a cidade belga, com os seus relvados em torno dos prédios de cimento.

No meu sangue, cavalgam cores e cheiros,

mikate, batatas fritas caseiras, lingala, valão de Namur

e a elegância dos leopardos.

No meu sangue, dois corpos, dois corações que mandaram a norma à 

merda!

Primeiro negro. Primeira branca. Estremecimento dos avós.

Encontro do terceiro mundo e do quarto mundo que se torna um novo

mundo.

Eu! Barqueira de fogo, semeadora de sementes, voz dos sem voz.

Escrevo para que os meus filhos não se esqueçam do ventre do qual

nasceram.

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Autor

Fernanda Vilar

É consultora para a UNESCO. Foi investigadora do projeto «MEMOIRS – Filhos de Impérios e Pós-Memórias Europeias» (ERC), interessando-se pelos impactos da pós-colonialidade nas sociedades europeias e nas expressões artísticas das periferias. Em 2015 ganhou o prémio de impacto académico das Nações Unidas e defendeu o seu doutoramento em literaturas africanas na Universidade de Paris Nanterre. Lecionou na Ecole Normale Supérieure de Lyon, onde também fez o seu mestrado.

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