Antonio Gamoneda evoca nesta narrativa os seus primeiros anos de vida, marcados pela orfandade, pela pobreza, pela brutalidade da guerra e do pós-guerra civil de Espanha, mas também pela doçura. O mote é assumidamente proustiano: depois da morte da mãe, o poeta decidiu abrir o armário cujo conteúdo, que só ela conhecia, permanecia envolto na sombra: «Mergulhei a cabeça na escuridão do armário e então aconteceu algo que me envolveu na sua realidade física: senti o cheiro da minha mãe. Viva.» O inventário do recheio do armário desencadeia uma série de recordações que se convertem em história e narração. O relato cobre os primeiros 14 anos de vida do poeta, altura em que começa a trabalhar como recadeiro numa instituição bancária, e atravessa um período crucial da história da Espanha contemporânea. Órfão de pai, Antonio muda-se com a mãe para León em 1934, onde a família é acolhida por parentes. Com as escolas fechadas devido à guerra, Gamoneda aprende a ler pelo único livro que havia em casa, o livro de poemas que o pai, também poeta, publicara. Das humilhações que a indigência impunha, da sua passagem por um colégio de frades agostinianos - que não se distinguiam pela castidade -, da sangrenta repressão durante a guerra civil, da abnegação de uma mãe sem outro consolo além do filho, de tudo isto o leitor encontrará um vívido e desassombrado relato nas páginas deste livro.
“Em Livro do Frio escutámos um retrato pessoal, mas que traça metonimicamente o perfil do criador — do homem, em suma — vivendo neste tempo de indigência. Livro onde a consciência da morte e do passado conjuram uma reforçada consciência do homem como ser responsável no tecido social, como construtor de futuro. Livro que, procurando saber como uma palavra, uma casa, uma paisagem, até um país como Espanha vivem o envelhecimento do corpo, nos pode ajudar a edificar esse mesmo futuro, a demolir a indiferença”.Jorge Gomes Miranda, A Phala, n.º 75
Quis o destino que as vidas de Snu Abecassis e Sá Carneiro se cruzassem um dia, para nunca mais voltarem a ser iguais. A «Princesa que veio do frio», como se referiam a ela, era uma mulher obstinada, forte e cheia de vida. Fundadora das Publicações Dom Quixote, Snu criou uma linha editorial que não se cansava de enfrentar o regime. Ela era uma mulher que não tinha medo de nada. Assim foi Snu na vida profissional, mas também na pessoal, cuja grande paixão com Sá Carneiro desafiou todas as leis do Estado Novo. Por Sá Carneiro, Snu pediu o divórcio, o que era um escândalo na época. Por Snu, Sá Carneiro abandonou um casamento ultra conservador (não conseguindo, porém, de imediato o divórcio). Contra tudo e contra todos, assumiram uma união de facto, muito mal vista na época, e comportavam-se como marido e mulher. Mesmo sabendo que a sua carreira política poderia ficar ameaçada por esta união, Sá Carneiro não desarmou nunca, chegando a dizer inclusive em 1977 que «Se a situação for considerada incompatível com as minhas funções, escolherei a mulher que amo». Este livro vai fazê-lo reviver uma das mais emocionantes histórias de amor já vividas em Portugal, uma história inspiradora interrompida apenas pelo trágico acidente/atentado de Camarate, onde ambos ambos perderam a vida. Revivendo a história de Snu e Sá Carneiro o leitor terá ainda a oportunidade de viajar por alguns dos capítulos mais importantes da história da democracia em Portugal, nos quais Sá Carneiro era um dos protagonistas principais.Ver por dentro:
«As histórias que aqui se contam são reais. Nada do que aqui é posto na boca destas mulheres é inventado, nem mesmo as expressões ou os comentários. […] Por outro lado, todas as histórias estão relacionadas com a condição feminina, conduzindo muitas vezes a situações dramáticas na vida das mulheres, que são nossas contemporâneas.»
Quem quiser saber como é a vida em tempo de guerra, tem de perguntar a uma mulher. Com início a 20 de Abril de 1945, o dia em que Berlim viu pela primeira vez a face da guerra, a autora deste diário descreve o quotidiano de uma cidade em ruínas, saqueada pelo exército russo. Durante dois meses, afasta a angústia e as privações sofridas, e concentra-se no relato objectivo e racional das suas experiências, observações e reflexões. Apesar dos constantes bombardeamentos, de actos de violação, do racionamento alimentar e do profundo terror da morte, este diário traça- nos uma perspectiva única de uma mulher dotada de um optimismo notável, que não se deixa abater pelas agruras sofridas. Quem ler este diário, jamais o esquecerá.Ver por dentro: