A Gaveta do Fundo
A gaveta do fundo: onde guardava
brasas e jóias de família
ou seja, reservas de calor
para os dias do frio que aí vêm.
A gaveta do fundo:
forçada a fechadura, saqueada,
desmantelada em tábuas e ferragens.
Dada a beber às altas labaredas
que, bebendo, multiplicam a sede,
em vez de a extinguir
| Editora | Tinta da China |
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| Categorias | |
| Editora | Tinta da China |
| Negar Chronopost e Cobrança | Não |
| Autores | A. M. Pires Cabral |
Nasceu no concelho de Macedo de Cavaleiros em 1941. É licenciado em Folologia Germânica pela Universidade de Coimbra. A sua actividade literária estende-se pelas áreas da poesia, ficção, teatro, crónica e organização de antologias. Estreou-se em 1974 com Algures a Nordeste, poesia, e tem publicadas para cima de 50 obras. Recebeu os seguintes prémios literários: Círculo de Leitores 1983, com Sancirilo; Prémio D. Dinis 2006, com Douro: Pizzicato e chula e Que Comboio é Este; Grande Prémio de Literatura DST 2008, com O Cónego; Prémio de Poesia Luís Miguel Nava 2009, com As Têmporas da Cinza; Prémio de Poesia do Pen Clube 2009, com Arado; Grande Prémio do Conto Camilo Castelo Branco APE/C. M. de Vila Nova de Famalicão 2010, com O Porco de Erimanto; e Prémio Autores SPA 2014 (Melhor livro de Poesia), com Gaveta do Fundo.
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Antes que o Rio Seque - Poesia ReunidaÉ como um longo canto à natureza. Percorremos as paisagens idílicas pela mão da voz poética, que nos pede para contemplar tudo o que de belo o mundo onde habitamos tem: os bichos, as planícies, o orvalho matinal... E respondemos ao irresistível chamamento, pois queremos abraçar toda essa torrente, todo esse mundo, antes que o rio seque. -
A Loba e o RouxinolO romance "A Loba e o Rouxinol" tem por cenário o mundo fechado de uma pequena vila transmontana, nos anos 60 do século passado. A história é contada na primeira pessoa por um filho da personagem central, após a morte deste. Trata-se de um comerciante À moda antiga, hirto numa certa concepção de dignidade profissional e incapaz de se modernizar, o que leva a loja a uma progressiva decadência. Para além disso, desenvolveu um processo psicopático de identificação com a casa onde vivia com a família e da qual foi forçado a mudar-se. Repercutem, nesta história e neste cenário, diversas referências fundamentais que fizeram a história dos anos 60 em Portugal, como a emigração, a guerra colonial, a ditadura e a consequente dialéctica situação/oposição, filtrado tudo pela visão conservadora e provinciana da vilória, que o narrador, que fez estudos universitários em Coimbra, em plena crise académica de 62, procura pôr a nu. -
O Diabo Veio ao EnterroEsta obra não é de fácil catalogação. Por um lado, é inegavelmente um livro de contos - uns tirados da imaginação do autor, outros recolhidos da tradição popular nordestina. Por outro lado, pode ver-se também como uma colectânea de crónicas do quotidiano de uma aldeia do concelho de Macedo de Cavaleiros (Grijó, mais precisamente) em pleno Verão. -
Por Esta Terra Adentro: páginas transmontanasColectânea de textos sobre temas transmontanos, no campo da paisagem física e humana, da história e da etnografia, incluindo ainda uma secção dedicada à literatura de Trás-os-Montes e Alto Douro. -
O Porco de ErimantoUm coração doente é o melhor tesouro que um homem pode ambicionar. Bem sei que eles acham que não. Ainda ontem esteve um deles a falar na televisão: que estamos em Maio, que Maio é o mês do coração, que é preciso olharmos pelo coração, vigiar o peso, fazer exercício, não fumar Tretas! O que eles querem dessa forma é despojar-nos de uma das nossas maiores riquezas, que é a morte rápida, oportuna e inopinada, provocada por um enfarte, para nos entregar de mão beijada à morte lenta, preenchida de dores, provocada por algum cancro ou coisa assim. Ou, se calhar ainda pior, à vida puramente vegetativa do mal de Alzheimer. Achas que ganhamos com a troca? Hã? Quem aceitará morrer às dentadas de um cão rafeiro, podendo morrer arrebatado por uma águia-real? -
Cobra-d´ÁguaA.M. Pires Cabral apresenta ao público o seu quinto livro de poesia moderna na medida exacta em que, dialogando com a tradição lírica, assume toda a tragédia que é tanto mais portuguesa quanto universal. -
Os Anjos Nus"SEI QUE NÃO VAI ACREDITAR numa só palavra do que lhe vou contar. Mas não se inquiete por causa disso: eu também não acredito. Somos dois a não acreditar. Mas esta história contou-ma um velhote, da última vez que estive na aldeia, em Trás-os-Montes, no Natal passado, e conto-lha agora a si porque sei que acha piada a estas coisas. Acha-lhes piada, mas no fundo essas mesmas coisas a que acha piada fazem-no pensar. O meu amigo é como eu: só somos cartesianos até certo ponto. Desse ponto em diante, temos na cabeça as mesmas minhocas que outro homem qualquer. Uns levam o fardo da razão mais perto, outros mais longe; mas acaba sempre por chegar um momento em que a razão vacila, a dúvida se instala e a irracionalidade toma conta de nós. Comigo assim é, e consigo também. Acertei? Claro que acertei. Mesmo que diga que não. Somos todos muito racionais, a razão é a única soberana a quem prestamos vassalagem, etc. e tal, mas todos temos uma porta das traseiras por onde entram coisas irracionais como a fé, a crendice, o palpite. Não a ponto de acreditarmos nelas, claro; mas a ponto de lhes acharmos piada que se calhar é o primeiro passo para as legitimar, o diabo seja surdo." -
A Noite em que a Noite Ardeu«Epígrafe Se algum dia alguém chegar a ler este dizer agreste, provavelmente pensará: que pálida lanterna; não é deste metal que a luz é feita. Calma. Pois não. Mas quem assiduamente visita os desvãos onde a noite se acoita não precisa de mais que o clarão desta treva, desta cegueira sem cão e sem bengala, para no escuro rasgar o seu caminho e nele ir progredindo às arrecuas.» -
Singularidades«Singularidades», o novo livro do conhecido prosador e poeta A. M. Pires Cabral, cuja obra se encontra em grande parte publicada na Livros Cotovia, reúne oito contos, oito histórias singulares de personagens com nomes tão curiosos como Hipólito Clemente ou Basileu Simões, onde se retrata encontros entre o moderno e o antigo, ou entre a ironia e a seriedade, com desfechos que não raras vezes surpreendem.«Não te abracei, pronto. Fiquei a ver-te seguir, arrastando ligeiramente a perna esquerda (sequela de algum AVC?), em direcção ao teu novo ofício - e a pensar em como esse ofício era coisa tão contrária a tudo o que apetecêramos para nós quando tínhamos vinte e dois anos, "for we were young and sure to have our way", e em como os sonhos são, tal como os corpos em que se alojam, matéria altamente biodegradável.»A. M. Pires Cabral
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Tal como És- Versos e Reversos do RyokanAntologia poética do monge budista Ryokan, com tradução a partir do original japonês. -
Novas Cartas Portuguesas«Reescrevendo, pois, as conhecidas cartas seiscentistas da freira portuguesa, Novas Cartas Portuguesas afirma-se como um libelo contra a ideologia vigente no período pré-25 de Abril (denunciando a guerra colonial, o sistema judicial, a emigração, a violência, a situação das mulheres), revestindo-se de uma invulgar originalidade e actualidade, do ponto de vista literário e social. Comprova-o o facto de poder ser hoje lido à luz das mais recentes teorias feministas (ou emergentes dos Estudos Feministas, como a teoria queer), uma vez que resiste à catalogação ao desmantelar as fronteiras entre os géneros narrativo, poético e epistolar, empurrando os limites até pontos de fusão.»Ana Luísa Amaral in «Breve Introdução» -
TisanasReedição das Tisanas de Ana Hatherly, poemas em prosa que ocuparam grande parte da vida da poeta e artista. -
Primeiros Trabalhos - 1970-19791970-1979 é uma selecção feita pela autora, da sua escrita durante esse mesmo período. Uma parte deste livro são trabalhos nunca publicados, onde constam excertos do seu diário, performances e notas pessoais. A maioria dos textos foram publicados ao longo da década de setenta, em livros que há muito se encontram esgotados, mesmo na língua original.“Éramos tão inocentes e perigosos como crianças a correr por um campo de minas.Alguns não conseguiram. A alguns apareceram-lhes mais campos traiçoeiros. E algunsparece que se saíram bem e viveram para recordar e celebrar os outros.Uma artista enverga o seu trabalho em vez das feridas. Aqui está então um vislumbredas dores da minha geração. Frequentemente bruto, irreverente—mas concretizado,posso assegurar, com um coração destemido.”-Patti SmithPrefácio de Rafaela JacintoTradução de cobramor -
NocturamaOs poemas são a exasperação sonhada As palavras são animais esquivos, imprecisos e noturnos. É desse pressuposto que Nocturama lança mão para descobrir de que sombras se densifica a linguagem: poemas que se desdobram num acordeão impressionante, para nos trazerem de forma bastante escura e às vezes irónica a suprema dúvida do real. -
Obras Completas de Maria Judite de Carvalho - vol. I - Tanta Gente, Mariana - As Palavras PoupadasA presente coleção reúne a obra completa de Maria Judite de Carvalho, considerada uma das escritoras mais marcantes da literatura portuguesa do século XX. Herdeira do existencialismo e do nouveau roman, a sua voz é intemporal, tratando com mestria e um sentido de humor único temas fundamentais, como a solidão da vida na cidade e a angústia e o desespero espelhados no seu quotidiano anónimo.Observadora exímia, as suas personagens convivem com o ritmo fervilhante de uma vida avassalada por multidões, permanecendo reclusas em si mesmas, separadas por um monólogo da alma infinito.Este primeiro volume inclui as duas primeiras coletâneas de contos de Maria Judite de Carvalho: Tanta Gente, Mariana (1959) e As Palavras Poupadas (1961), Prémio Camilo Castelo Branco. Tanta Gente, Mariana «E a esperança a subsistir apesar de tudo, a gritar-me que não é possível. Talvez ele se tenha enganado, quem sabe? Todos erram, mesmo os professores de Faculdade de Medicina. Que ideia, como havia ela de se enganar se os números ali estavam, bem nítidos, nas análises. E no laboratório? Não era o primeiro caso? Lembro-me de em tempos ter lido num jornal? Qual troca! Tudo está certo, o que o médico disse e aquilo que está escrito.» As Palavras Poupadas (Prémio Camilo Castelo Branco) «- Vá descendo a avenida - limita-se a dizer. - Se pudesse descer sempre - ou subir - sem se deter, seguir adiante sem olhar para os lados, sem lados para olhar. Sem nada ao fim do caminho a não ser o próprio fim do caminho. Mas não. Em dado momento, dentro de cinco, de dez minutos, quando muito, terá de se materializar de novo, de abrir a boca, de dizer «vou descer aqui» ou «pare no fim desta rua» ou «dê a volta ao largo». Não poderá deixar de o fazer. Mas por enquanto vai simplesmente a descer a avenida e pode por isso fechar os olhos. É um doce momento de repouso.» Por «As Palavras Poupadas» vai passando, devagar, o quotidiano anónimo de uma cidade, Lisboa, e dos que nela vivem. type="application/pdf" width="600" height="500"> -
Um Inconcebível AcasoNo ano em que se celebra o centenário de Wisława Szymborska, e coincidindo com a data do 23º aniversário da atribuição do prémio Nobel à autora, as Edições do Saguão e a tradutora Teresa Fernandes Swiatkiewicz apresentam uma antologia dos seus poemas autobiográficos. Para esta edição foram escolhidos vinte e seis poemas, divididos em três partes. Entre «o nada virado do avesso» e «o ser virado do avesso», a existência e a inexistência, nesta selecção são apresentados os elementos do que constituiu o trajecto e a oficina poética de Szymborska. Neles sobressai a importância do acaso na vida, o impacto da experiência da segunda grande guerra, e a condição do ofício do poeta do pós-guerra, que já não é um demiurgo e, sim, um operário da palavra que a custo trilha caminho. Nos poemas de Wisława Szymborska esse trajecto encontra sempre um destino realizado de forma desarmante entre contrastes de humor e tristeza, de dúvida e do meter à prova, de inteligência e da ingenuidade de uma criança, configurados num território poético de achados entregues ao leitor como uma notícia, por vezes um postal ilustrado, que nos chega de um lugar que sabemos existir, mas que muito poucos visitam e, menos ainda, nos podem dele dar conta. -
Horácio - Poesia CompletaA obra de Horácio é uma das mais influentes na história da literatura e da cultura ocidentais. Esta é a sua versão definitiva em português.Horácio (65-8 a.C.) é, juntamente com Vergílio, o maior poeta da literatura latina. Pela variedade de vozes poéticas que ouvimos na sua obra, estamos perante um autor com muitos rostos: o Fernando Pessoa romano. Tanto a famosa Arte Poética como as diferentes coletâneas que Horácio compôs veiculam profundidade filosófica, mas também ironia, desprendimento e ambivalência. Seja na sexualidade franca (censurada em muitas edições anteriores) ou no lirismo requintado, este poeta lúcido e complexo deslumbra em todos os registos. A presente tradução anotada de Frederico Lourenço (com texto latino) é a primeira edição completa de Horácio a ser publicada em Portugal desde o século XVII. As anotações do professor da Universidade de Coimbra exploram as nuances, os intertextos e as entrelinhas da poética de Horácio, aduzindo sempre que possível paralelo de autores portugueses (com destaque natural para Luís de Camões e Ricardo Reis).
