A Minha Gata (Aforismos Poéticos)
Reimpressão
Não por acaso, o livro de João Paulo Cotrim vem dedicado a Manuel António Pina, o poeta falecido no mês passado e cujos gatos se tornaram emblemáticos de uma iconografia pessoal, quase tendendo por vezes, no espaço e no discurso públicos, a sobrepor-se à figura e à actividade do poeta e do cronista. (…) No seu andamento narrativo e descritivo, os poemas de João Paulo Cotrim compõem a figura deste animal simultaneamente íntimo e esquivo, e ao mesmo tempo dão conta do exercício de convivialidade doméstica entre poeta e bicho: a leitura e a interpretação de alguns sinais, a anotação dos pequenos gestos e comportamentos, em fragmentos muitos breves, por vezes de natureza aforística mesmo, perfazem uma espécie de jogo do gato e do… poeta, num relacionamento ora próximo e chegado, ora distanciado por via do registo irónico que, amiúde, assinala a perspectiva sobre os acontecimentos (por exemplo, pp. 23 ou 25). E estes são ainda os de um quotidiano ameno, sem grandes atritos, embora com a perplexidade ocasional do poeta perante certos comportamentos próprios de um animal que tem duas patas na sala e duas ainda na selva, como todo o gato ou gata que se preza. E é disso tudo que nos fala este livro de João Paulo Cotrim.
Urbano Bettencourt
| Editora | Companhia das Ilhas |
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| Coleção | azulcobalto |
| Categorias | |
| Editora | Companhia das Ilhas |
| Negar Chronopost e Cobrança | Não |
| Autores | João Paulo Cotrim |
João Paulo Cotrim (Lisboa, 13 de março de 1965 - 26 de dezembro de 2021) foi um jornalista, escritor e editor português. Foi o fundador da Abysmo.
A escrita estava-lhe no sangue: guionista para filmes de animação (Fado do Homem Crescido, com Pedro Brito, ou Sem Querer, com João Fazenda, entre outros), escreveu também novelas gráficas (Salazar – Agora, na Hora da Sua Morte), ficção (O Branco das Sombras Chinesas, com António Cabrita), ensaios (Stuart – A Rua e o Riso ou El Alma de Almada El Ímpar – Obra Gráfica 1926-1931), aforismos (A Minha Gata) e poesia (Má Raça, com Alex Gozblau), além de histórias para as mais disparatadas infâncias (por exemplo, Querer Muito, com André da Loba).
Dirigiu desde a sua abertura, em 1996, e até 2002, a Bedeteca de Lisboa, tendo organizado um sem-número de edições, iniciativas e exposições (por exemplo, Jogo da Glória – O Século XX Malvisto pelo Desenho de Humor). Assinava, no Hoje Macau, a crónica semanal Diário de um Editor.
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Antónia Ferreira - A Desenhadora de Paisagens«Dona Antónia é um nome importante, ou não se escrevia dona assim por extenso, tantos anos depois.»Dona Antónia? Antónia Ferreira? A Ferreirinha?Ai, que confusão! São três senhoras ou uma grande senhora?Foi uma grande senhora. Tal como os vinhos, que «não são todos iguais», as histórias de vida são todas diferentes. Através das páginas de Antónia Ferreira - A Desenhadora de Paisagens descobre a vida desta gestora de sucesso, e também a história do Douro e das suas paisagens.«Naquele tempo, costumava dizer-se que a mulher era a senhora da casa. Dona Antónia foi a senhora de um mundo.»Edição especialmente dedicada ao público infanto-juvenil. -
Stuart - A Rua e o RisoPara alguém nascido em época e classe onde a fotografia explodia em sensação e se tornava costume, José Herculano Stuart Torrie d’Almeida Carvalhais, que viu a luz a 7 de Março de 1887, em Vila Real, Trás-os-Montes, não foi amado pelas câmaras. Ou então os acasos do destino contribuem assim para uma aura de mistério ainda não desfeita. Por falta de memória, sentido de humor ou vontade de mistificar, o próprio chegou a confundir datas de nascimento, inícios de percurso, episódios e explicações. Nem mais tarde, quando tocado pela fama e escolhido para papel de destaque na novela alfacinha com epicentro no Chiado, nem então, o seu rosto se deixou fixar para além dos mínimos. O essencial ficou impresso por jornais e revistas, nas páginas de saudação aos colaboradores ou nas entrevistas e notícias de que foi sendo alvo, apesar de tudo, com regularidade. A linguagem corporal estará conservada algures nas pequenas figurações em filmes que lhe mataram a fome dos anos de Paris, ou no papel de pai das mais famosas personagens do universo infantil e nacional, Quim e Manecas, em fita também ela desaparecida. Para acedermos ao arruivado da tez, olho azul felino, talvez herança da mãe, Margarida Amélia Stuart Torrie, cujas raízes mergulhavam na aristocracia escocesa, ou ao andar desajeitado de pés metidos para dentro, que não temos razão para atribuir ao pai, José de Almeida Carvalhais, engenheiro agrónomo, oriundo como a mulher de abastadas famílias rurais do Douro, comerciantes de vinho do Porto, para lhe conhecermos o perfil, portanto, devemos, não sem ironia, cruzar as descrições escritas com os retratos desenhados. Num caso, como noutro será difícil evitar a beata, os olhos semicerrados, o ar de desafio mal barbeado. -
João Abel Manta - Caprichos e DesastresDepois de Rafael Bordalo Pinheiro, Stuart Carvalhais e André Carrilho, dedicamos este volume à obra de João Abel Manta (Lisboa, 1928). O texto é, como nos volumes anteriores, de João Paulo Cotrim, que aponta «a força das imagens» como critério decisivo na selecção das reproduções que aqui figuram. Formado em arquitectura pela Escola Superior de Belas Artes de Lisboa, começou desde cedo a publicar desenhos em órgãos de imprensa. Desenhou para O Século Ilustrado, Gazeta Musical e de Todas as Artes, Seara Nova, Eva e sobretudo para o Diário de Lisboa, ficando conhecido maioritariamente pelas caricaturas que fez da sociedade portuguesa, e cujo traço grosso e simples é ainda hoje reconhecido. Actualmente, João Abel Manta dedica-se à pintura. «Em João Abel Manta cruzam-se, além das disciplinas da pintura e do design, que convoca amiúde para o seu labor de livre comentador, um agudo sentido de observação, o desejo de intervir muito para além do acto criativo, a persistência na abordagem de questões-chave como a condição humana, tocada pelo absurdo, e uma obsessão com as questões da nacionalidade, no que constitui uma relação bastante dúbia com os acontecimentos. Além de uma rara capacidade para traduzir interpretações em imagens poderosas, que o foram em datas concretas, contribuindo em muito para um imaginário colectivo da sociedade portuguesa do pós 25 de Abril.» (excerto) -
Salazar - Agora, na Hora da sua MorteA Parceria A M Pereira, na estratégia de, no presente, retomar tradições do seu passado, lança agora uma obra de banda desenhada. Com efeito, em Outubro de 1974, a Parceria realizou nas suas instalações de então, situadas em Lisboa, uma exposição de banda desenhada que obteve e grande sucesso naquele período tumultuosos da nossa história.
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Tal como És- Versos e Reversos do RyokanAntologia poética do monge budista Ryokan, com tradução a partir do original japonês. -
TisanasReedição das Tisanas de Ana Hatherly, poemas em prosa que ocuparam grande parte da vida da poeta e artista. -
NocturamaOs poemas são a exasperação sonhada As palavras são animais esquivos, imprecisos e noturnos. É desse pressuposto que Nocturama lança mão para descobrir de que sombras se densifica a linguagem: poemas que se desdobram num acordeão impressionante, para nos trazerem de forma bastante escura e às vezes irónica a suprema dúvida do real. -
Primeiros Trabalhos - 1970-19791970-1979 é uma selecção feita pela autora, da sua escrita durante esse mesmo período. Uma parte deste livro são trabalhos nunca publicados, onde constam excertos do seu diário, performances e notas pessoais. A maioria dos textos foram publicados ao longo da década de setenta, em livros que há muito se encontram esgotados, mesmo na língua original.“Éramos tão inocentes e perigosos como crianças a correr por um campo de minas.Alguns não conseguiram. A alguns apareceram-lhes mais campos traiçoeiros. E algunsparece que se saíram bem e viveram para recordar e celebrar os outros.Uma artista enverga o seu trabalho em vez das feridas. Aqui está então um vislumbredas dores da minha geração. Frequentemente bruto, irreverente—mas concretizado,posso assegurar, com um coração destemido.”-Patti SmithPrefácio de Rafaela JacintoTradução de cobramor -
Horácio - Poesia CompletaA obra de Horácio é uma das mais influentes na história da literatura e da cultura ocidentais. Esta é a sua versão definitiva em português.Horácio (65-8 a.C.) é, juntamente com Vergílio, o maior poeta da literatura latina. Pela variedade de vozes poéticas que ouvimos na sua obra, estamos perante um autor com muitos rostos: o Fernando Pessoa romano. Tanto a famosa Arte Poética como as diferentes coletâneas que Horácio compôs veiculam profundidade filosófica, mas também ironia, desprendimento e ambivalência. Seja na sexualidade franca (censurada em muitas edições anteriores) ou no lirismo requintado, este poeta lúcido e complexo deslumbra em todos os registos. A presente tradução anotada de Frederico Lourenço (com texto latino) é a primeira edição completa de Horácio a ser publicada em Portugal desde o século XVII. As anotações do professor da Universidade de Coimbra exploram as nuances, os intertextos e as entrelinhas da poética de Horácio, aduzindo sempre que possível paralelo de autores portugueses (com destaque natural para Luís de Camões e Ricardo Reis). -
Um Inconcebível AcasoNo ano em que se celebra o centenário de Wisława Szymborska, e coincidindo com a data do 23º aniversário da atribuição do prémio Nobel à autora, as Edições do Saguão e a tradutora Teresa Fernandes Swiatkiewicz apresentam uma antologia dos seus poemas autobiográficos. Para esta edição foram escolhidos vinte e seis poemas, divididos em três partes. Entre «o nada virado do avesso» e «o ser virado do avesso», a existência e a inexistência, nesta selecção são apresentados os elementos do que constituiu o trajecto e a oficina poética de Szymborska. Neles sobressai a importância do acaso na vida, o impacto da experiência da segunda grande guerra, e a condição do ofício do poeta do pós-guerra, que já não é um demiurgo e, sim, um operário da palavra que a custo trilha caminho. Nos poemas de Wisława Szymborska esse trajecto encontra sempre um destino realizado de forma desarmante entre contrastes de humor e tristeza, de dúvida e do meter à prova, de inteligência e da ingenuidade de uma criança, configurados num território poético de achados entregues ao leitor como uma notícia, por vezes um postal ilustrado, que nos chega de um lugar que sabemos existir, mas que muito poucos visitam e, menos ainda, nos podem dele dar conta. -
AlfabetoALFABET [Alfabeto], publicado em 1981, é a obra mais conhecida e traduzida de Inger Christensen.Trata-se de um longo poema sobre a fragilidade da natureza perante as ameaças humanas da guerra e da devastação ecológica. De modo a salientar a perfeição e a simplicidade de tudo o que existe, a autora decidiu estruturar a sua obra de acordo com a sequência de números inteiros de Fibonacci, que está na base de muitas das formas do mundo natural (como a geometria da pinha, do olho do girassol ou do interior de certas conchas). Como tal, Alfabeto apresenta catorze secções, desde a letra A à letra N, sendo que o número de versos de cada uma é sempre a soma do número de versos das duas secções anteriores. Ao longo destes capítulos, cada vez mais extensos, Christensen vai assim nomeando todas as coisas que compõem o mundo.Este livro, verdadeiramente genesíaco, é a primeira tradução integral para português de uma obra sua. -
Fronteira-Mátria - [Ou Como Chegamos Até Aqui]Sou fronteiradois lados de lugar qualquerum pé em cada território.O ser fronteiriço énascer&serde todo-lugar/ lugar-nenhum.(…)Todas as coisas primeiras são impossíveis de definir. Fronteira-Mátria é um livro que traz um oceano ao meio. Neste projeto original que une TERRA e MAZE, há que mergulhar fundo para ler além da superfície uma pulsão imensa de talento e instinto.Toda a criação é um exercício de resistência. Aqui se rimam as narrativas individuais, com as suas linguagens, seus manifestos, suas tribos, mas disparando flechas para lá das fronteiras da geografia, do território, das classes e regressando, uma e outra vez, à ancestral humanidade de uma história que é coletiva — a nossa. Veja-se a beleza e a plasticidade da língua portuguesa, a provar como este diálogo transatlântico é também a celebração necessária do que, na diferença, nos une.Todas as coisas surpreendentes são de transitória definição. Há que ler as ondas nas entrelinhas. Talvez o mais audacioso deste livro seja o servir de testemunho para muito mais do que as quatro mãos que o escrevem. Ficamos nós, leitores, sem saber onde terminam eles e começamos nós.Todas as coisas maravilhosas são difíceis de definir. Este é um livro para ouvir, sem sabermos se é poesia, se é música, se é missiva no vento. Se é uma oração antiga, ainda que nascida ainda agora pela voz de dois enormes nomes da cultura hip-hop de Portugal e do Brasil. Mátria carregada de futuro, anterior à escrita e à canção.Minês Castanheira