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Sinopse

Este livro, a noite dos lírios, reúne a sua obra poética.

97

quem me dera ser ontem

e do terraço da casa da mãe

ver a primavera a estender a toalha de linho

no monte de hortezelo

há lugares que não deveríamos

nomear nunca mais: está aí tudo

segredos indivisíveis a memória infinita

da nossa juventude

o monte de hortezelo observado

do terraço com todos os meus irmãos

a sentirem o mesmo: ali fomos felizes

ali deveríamos ser felizes

e um dos mais novos ia à adega

buscar o vinho e as histórias dos furões

que se perdiam nos abismos do penedo branco

saltavam na mesa: quem desconhece o cheiro intenso

dos furões nunca entenderá as minhas palavras

o furão é a heresia que escondíamos debaixo do casaco

na noite dos lírios de quem me dera ser ontem

fi co engurunhido desajeitado sem a alma veloz

de romeiro descrente de todos os santos

engurunhido era o que a mãe me chamava

quando me surpreendia triste num tempo em que não tinha

direito de me agasalhar nesse sentimento.

23

a folha branca é estrada livre

onde as palavras rolam como esferas

e eu fico feliz a ver o mecanismo da língua

semântica gerativa a crescer nas paredes

que povo foi esse que fez palácios

com paredes de palavras como placas

sumérias de grande dimensão

na noite dos lírios alguém sonhou essa enigmática

arquitetura luminosa habitável pelos cultos

os jardineiros do palácio de alhambra

não sabiam ler mas curvavam-se

perante as trepadeiras de vocábulos

nas paredes interiores

o amo dizia:é a existência tangível do nosso deus

eu a guardo eu a habito

por isso o nosso deus me fez amo.

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Autor

Manuel Maria Aboim

Nasceu em S. Bento das Gavieiras.Nunca conduziu automóvel, moto ou trotinete, embora o movimento o cative. O movimento das ideias, das coisas. Durante alguns anos, trabalhou na Biblioteca Itinerante da Gulbenkian.

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