A Vida da Poesia - Textos críticos reunidos
A tensão e o rigor exigidos para o poema deverão igualmente consolidar a reflexão que toma por objecto a poesia: um texto de que a emoção não pode estar excluída e em que o poder da palavra continua a ser essencial. Falar de poesia, se não é tentar o impossível aprisionamento do poema ou do seu fugidio sentido entre as linhas do quadrilátero onde eles não hão-de caber, não poderá ser, também, o desajustado divagar extrapolante que tantas vezes encontramos na chamada crítica de poesia. O entendimento do poema, o acerto com que dele se fala, são fenómenos tão infrequentes quanto o é a criação de verdadeira poesia. E assim como não é fácil dizer por que razão um poema é um poema e não um simples amontoado de versos ou de frases com pretensões poéticas, difícil será explicar por que um texto sobre poesia não falha (quando não falha) o seu objectivo, que é entrar no «lago escuro», não para o iluminar, mas para lhe conhecer a escuridão.
| Editora | Assírio & Alvim |
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| Coleção | Peninsulares |
| Categorias | |
| Editora | Assírio & Alvim |
| Negar Chronopost e Cobrança | Não |
| Autores | Gastão Cruz |
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Poesia 1961-1981Nos seus poemas, alia Gastão Cruz os processos de ruptura, descontinuidade e relativa desconexão de uma poesia «aberta» e de carácter experimental, à intencionalidade participante, cujo tom, em vez de reivindicativo e optimista, é extremamente pungente e quase sempre nostálgico e elegíaco. Preocupado com valores e tensões formais, não os desliga do conteúdo que se lhes revela nos níveis expressivos do poema. António Ramos Rosa -
Os Nomes“Na praia exterminada não pudemoscantar a liberdadesobre o teu corpo correm turvas asasde entre as pedras levantas a cabeça enquanto caisDepois a roupa gera e espalha a escuridãocada corpo isolado se transformasob as asas que o cobremDesencontramo-nos a terra recomeça a deter-tepreciso de dizeresse teu nome Mas não ouças a minha fala transformada” -
As Leis do CaosMURMÚRIOParámos à entrada da cidadeLevemente agitado humedeciada praia suburbana as areias do rioVoltávamos do mar ou só o frioduma água parada nos cobriacom rimas pobres como a realidade? -
Crateras“ConversaFalo contigo e a noiteque nos une como arde areia negratorna-se espessa e choras a pobrezada solidão Torno a falar maistarde tu esgotasteos soluços E a nossa conversa é este pânicodo sofrimento que mancha os rostosinvisíveis Demadrugada em sonhos gritarásna escuridão estreita queseparaas margens que nós somos” -
Rua de Portugal“A MÚSICASempre ali esteve, a música,o mar, e as ondasde pássaros caindo como chuva ao fimda tarde,o piano tão líquido ou batendoem acordes sobre o aço, umailusão transformandoo som sem som, em tudo semelhanteao silêncio,a orquestra expandindo-se ou o refluxolimpo dos pianíssimos,ali estavao silêncio, equivalenteao som do mar e da cortinade oliveiras defendidas do crepúsculopor um muro de branco a escuropassando, adolescentemúsicacomo um corpo rolando nu na areia dodiaquando na outra margema nota alucinada da fábrica o enchia,o silvo que erigia em doro sexo,as ondas desse mar orquestrado porbraços que nadavam” -
Poemas de Gastão Cruz ditos por Luís Miguel Cintra“Comecei a ler poesia em voz alta com o Gastão Cruz. Na Faculdade de Letras de Lisboa. Fim dos anos 60. Ele andava ainda por lá. Não sei se já tinha acabado o curso, se ainda lhe faltava alguma cadeira. Sei que o Gastão fazia parte desses dias da vida em comum que nesses anos vivemos e nos afeiçoaram a vida inteira. Reuníamo-nos na pequenina sala do grupo de teatro ao lado do bar, às vezes em sua casa. Ele trazia a escolha de poemas: toda a grande poesia. De Camões e Sá de Miranda aos novos: os novos mais velhos, Carlos de Oliveira, Eugénio de Andrade, Sophia, Ramos Rosa, e a nossa poesia, a Fiama, a Luiza Neto Jorge, o Ruy Belo, o Herberto Helder, e também, mas raramente, o próprio Gastão. Aprendíamos a ler: as respirações, os ritmos, as sonoridades, as palavras uma a uma, a estrutura dos poemas, o sentido. Queríamos dar-lhes voz mas deixá-los intactos na pureza da sua escrita, verso a verso, sem exibicionismo de interpretação. Só aprendíamos a ler, com a minúcia e o cuidado de quem muito ama e não quer estragar. Depois íamos dá-los a ouvir onde nos deixassem, lutando para que o trabalho das palavras fizesse parte da transformação do mundo que teríamos e para que queríamos trabalhar: na própria Faculdade, na 111, nas chamadas sessões de canto livre, muito na margem esquerda, tantas vezes com o Zeca Afonso a cantar. O Gastão começava assim um ofício afectivo que, a par do seu ofício de poeta, nunca abandonou: ler e dar a ler a poesia dos outros(...)Não gravei este disco sozinho. Não quis. Tive vontade de partilhar a escolha dos poemas com o Gastão, e foi ele que mos ouviu ler, como se retomasse um trabalho antigo que, perto ou longe, afinal sempre fui fazendo com ele. Tentei que na minha voz ficasse exposta uma parte de mim que é uma sua trabalhada maneira de sentir, que a minha voz dissesse uma outra voz que me formou e que tenho por exemplar.”Luís Miguel Cintra, na apresentação a este livro. -
Outro Nome/ Escassez/ As Aves“[…]Gastão Cruz é daqueles poetas que fizeram a experiência e voltaram vivos; daqueles que compreenderam o que há de ritual e de busca de uma singularização, no poema. O que este livro de três livros mais ou menos indirectamente nos mostra é que a sua mão mental e as outras duas se afeiçoaram de tal modo à escrita do canto, que ele tira as consequências de assumir a poesia como uma arte. Na unidade tensa da sua obra, ele pode aliás mudar de mão ou de maneira, ele consegue modelar ou modular o pequeno artifício artístico capaz de suscitar a mais frágil recordação da infância: o desenho de um gesto, o gráfico de um sentimento, uma sombra ou uma pessoa, a mais mínima coisa da praia ou da ria.”Manuel Gusmão, no prefácio deste livro. -
A Moeda do TempoA MOEDA DO TEMPODistraí-me e já tu ali não estavasvendeste ao tempo a glória do inícioe na mão recebeste a moeda friacom que o tempo pagou a tua entrada -
Observação do VerãoANOITECER EM BUENOS AIRES As longas avenidas talvez imaginárias demonstram-me a existência de lugares que poderiam ter-me pertencido numa idade passada; é irreal agora percorrê-las: tê-lo-ia sido sempre, não poderia haver motivo para dor num tempo que com este presente se divide; é um espectro tardio o espaço finalmente criado pelo olhar: aí estás olhando-me nos olhos cidade sob a forma de jovem ser unívoco ainda inexistente no tempo de uma vida vivendo no espaço que não teve o seu tempo, e tarde volta do tempo onde não esteve -
FogoEste é o mais recente livro de poesia de Gastão Cruz, nome incontornável da poesia portuguesa contemporânea, reconhecido pelos leitores e pela crítica, como o prova a sua recente nomeação como finalista do Prémio Portugal Telecom de Literatura 2012.
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Esquerda e Direita: guia histórico para o século XXIO que são, afinal, a esquerda e a direita políticas? Trata-se de conceitos estanques, flutuantes, ou relativos? Quando foi que começámos a usar estes termos para designar enquadramentos políticos? Esquerda e Direita: guia histórico para o século XXI é um ensaio historiográfico, político e filosófico no qual Rui Tavares responde a estas questões e explica por que razão a terminologia «esquerda / direita» não só continua a ser relevante, como poderá fazer hoje mais sentido do que nunca. -
Sobre as MulheresSobre as Mulheres é uma amostra substancial da escrita de Susan Sontag em torno da questão da mulher. Ao longo dos sete ensaios e entrevistas (e de uma troca pública de argumentos), são abordados relevantes temas, como os desafios e a humilhação que as mulheres enfrentam à medida que envelhecem, a relação entre a luta pela libertação das mulheres e a luta de classes, a beleza, o feminismo, o fascismo, o cinema. Ao fim de cinquenta anos – datam dos primeiros anos da década de 1970 –, estes textos não envelheceram nem perderam pertinência. E, no seu conjunto, revelam a curiosidade incansável, a precisão histórica, a solidez política e o repúdio por categorizações fáceis – em suma, a inimitável inteligência de Sontag em pleno exercício.«É um deleite observar a agilidade da mente seccionando através da flacidez do pensamento preguiçoso.» The Washington Post«Uma nova compilação de primeiros textos de Sontag sobre género, sexualidade e feminismo.» Kirkus Reviews -
Para Tão Curtos Amores, Tão Longa VidaNuma época e num país como o nosso, em que se regista um número muito elevado de divórcios, e em que muitos casais preferem «viver juntos» a casar-se, dando origem nas estatísticas a muitas crianças nascidas «fora do casamento», nesta época e neste país a pergunta mais próxima da realidade não é por que duram tão pouco tantos casamentos, mas antes: Por que é que há casamentos que duram até à morte dos cônjuges? Qual é o segredo? Há um segredo nisso? Este novo livro de Daniel Sampaio, que traz o título tão evocativo: Para Tão Curtos Amores, Tão Longa Vida, discute as relações afetivas breves e as prolongadas, a monogamia e a infidelidade, a importância da relação precoce com os pais e as vicissitudes do amor. Combinando dois estilos, o ficcional e o ensaístico, que domina na perfeição, o autor traz perante os nossos olhos, de modo muito transparente e sem preconceitos, tão abundantes nestas matérias, os problemas e dificuldades dos casais no mundo de hoje, as suas vitórias e derrotas na luta permanente para manterem viva a sua união.Um livro para todos nós porque (quase) todos nós, mais tarde ou mais cedo, passamos por isso. -
O PríncipeUm tratado clássico sobre a política ou a arte de bem governar que, embora tenha sido escrito no século XVI, mantém toda a sua atualidade, podendo facilmente transpor-se para os dias de hoje. Inspirado na figura de César Bórgia e na admiração desmedida que manifestava por ele, Maquiavel faz uma abordagem racional para aconselhar os aspirantes a líderes, desenvolvendo argumentos lógicos e alternativas para uma série de potenciais problemas, a forma de lidar com os domínios adquiridos e o tratamento a dar aos povos conquistados, de modo consolidar o poder. Obra de referência e de um pragmatismo radical e implacável. -
A Vida na SelvaHá quem nasça para o romance ou para a poesia e se torne conhecido pelo seu trabalho literário; e quem chegue a esse ponto depois de percorrer um longo caminho de vida, atravessando os escolhos e a complexidade de uma profissão, ou de uma passagem pela política, ou de um reconhecimento público que não está ligado à literatura. Foi o caso de Álvaro Laborinho Lúcio, que publicou o seu primeiro e inesperado romance (O Chamador) em 2014.Desde então, em leituras públicas, festivais, conferências e textos com destinos vários, tem feito uma viagem de que guarda memórias, opiniões, interesses, perguntas e respostas, perplexidades e reconhecimentos. Estes textos são o primeiro resumo de uma vida com a literatura – e o testemunho de um homem comprometido com as suas paixões e o diálogo com os outros. O resultado é comovente e tão inesperado como foi a publicação do primeiro romance. -
Obras Completas de Maria Judite de Carvalho - vol. I - Tanta Gente, Mariana - As Palavras PoupadasA presente coleção reúne a obra completa de Maria Judite de Carvalho, considerada uma das escritoras mais marcantes da literatura portuguesa do século XX. Herdeira do existencialismo e do nouveau roman, a sua voz é intemporal, tratando com mestria e um sentido de humor único temas fundamentais, como a solidão da vida na cidade e a angústia e o desespero espelhados no seu quotidiano anónimo.Observadora exímia, as suas personagens convivem com o ritmo fervilhante de uma vida avassalada por multidões, permanecendo reclusas em si mesmas, separadas por um monólogo da alma infinito.Este primeiro volume inclui as duas primeiras coletâneas de contos de Maria Judite de Carvalho: Tanta Gente, Mariana (1959) e As Palavras Poupadas (1961), Prémio Camilo Castelo Branco. Tanta Gente, Mariana «E a esperança a subsistir apesar de tudo, a gritar-me que não é possível. Talvez ele se tenha enganado, quem sabe? Todos erram, mesmo os professores de Faculdade de Medicina. Que ideia, como havia ela de se enganar se os números ali estavam, bem nítidos, nas análises. E no laboratório? Não era o primeiro caso? Lembro-me de em tempos ter lido num jornal? Qual troca! Tudo está certo, o que o médico disse e aquilo que está escrito.» As Palavras Poupadas (Prémio Camilo Castelo Branco) «- Vá descendo a avenida - limita-se a dizer. - Se pudesse descer sempre - ou subir - sem se deter, seguir adiante sem olhar para os lados, sem lados para olhar. Sem nada ao fim do caminho a não ser o próprio fim do caminho. Mas não. Em dado momento, dentro de cinco, de dez minutos, quando muito, terá de se materializar de novo, de abrir a boca, de dizer «vou descer aqui» ou «pare no fim desta rua» ou «dê a volta ao largo». Não poderá deixar de o fazer. Mas por enquanto vai simplesmente a descer a avenida e pode por isso fechar os olhos. É um doce momento de repouso.» Por «As Palavras Poupadas» vai passando, devagar, o quotidiano anónimo de uma cidade, Lisboa, e dos que nela vivem. type="application/pdf" width="600" height="500"> -
O Anticrítico«O Anticrítico» é uma compilação dos ensaios de Diogo Vaz Pinto — textos de crítica literária, e não só —, escritos entre 2014 e 2023, incluindo alguns inéditos. «Não tenho conta para as vezes todas em que, para ir com a rábula insultuosa que me tecem, pegando uns onde outros deixaram, numa cooperativa de imbecis que, sinceramente, me comove, já me quiseram tirar a condição que vem de tudo o que faço. Mais difícil seria desmontar alguma coisa. Resta que, ou ignoram muito vermelhuscos, ou a ideia é revogar-me a carta, licença, prostrar-me na indigência de eu ser uma qualquer abominação, «Bicho», monstro que ligam com tudo o que é baixo, e mesmo assim paira sobre eles sem explicação. Um Chernobyl encarnado. Crítico não sou. Ou só pseudo. Videirinho e jornaleiro, pilha-galinhas e o mais que eu coso bem ao meu estuporado currículo. Pois seja, eu fico então gordo disso tudo. E viro-me do avesso. Sou o anticrítico, então! Roubando esta de Augusto de Campos sem pudor. Há muito que não me retiram do sentido a ideia de que o principal é cortar com a impostura disto tudo. A gloríola da mediocridade, o sentido gregário, essa ratada ficção ligando os «egozinhos de porta-aberta» do nosso meio literato.» -
O Infinito num JuncoA Invenção do livro na antiguidade e o nascer da sede dos livros.Este é um livro sobre a história dos livros. Uma narrativa desse artefacto fascinante que inventámos para que as palavras pudessem viajar no tempo e no espaço. É o relato do seu nascimento, da sua evolução e das suas muitas formas ao longo de mais de 30 séculos: livros de fumo, de pedra, de argila, de papiro, de seda, de pele, de árvore, de plástico e, agora, de plástico e luz.É também um livro de viagens, com escalas nos campos de batalha de Alexandre, o Grande, na Villa dos Papiros horas antes da erupção do Vesúvio, nos palácios de Cleópatra, na cena do homicídio de Hipátia, nas primeiras livrarias conhecidas, nas celas dos escribas, nas fogueiras onde arderam os livros proibidos, nos gulag, na biblioteca de Sarajevo e num labirinto subterrâneo em Oxford no ano 2000.Este livro é também uma história íntima entrelaçada com evocações literárias, experiências pessoais e histórias antigas que nunca perdem a relevância: Heródoto e os factos alternativos, Aristófanes e os processos judiciais contra humoristas, Tito Lívio e o fenómeno dos fãs, Sulpícia e a voz literária de mulheres.Mas acima de tudo, é uma entusiasmante aventura coletiva, protagonizada por milhares de personagens que, ao longo do tempo, tornaram o livro possível e o ajudaram a transformar-se e evoluir – contadores de histórias, escribas, ilustradores e iluminadores, tradutores, alfarrabistas, professores, sábios, espiões, freiras e monjes, rebeldes, escravos e aventureiros.É com fluência, curiosidade e um permanente sentido de assombro que Irene Vallejo relata as peripécias deste objeto inverosímil que mantém vivas as nossas ideias, descobertas e sonhos. E, ao fazê-lo, conta também a nossa história de leitores ávidos, de todo o mundo, que mantemos o livro vivo.Um dos melhores livros do ano segundo os jornais El Mundo,La Vanguardia e The New York Times(Espanha).