As Quatro Invisualidades
«Vários objectivos guiam este livro em simultâneo. Aliás, é mesmo afirmado ao longo do trabalho que os seus conceitos centrais — visual, invisual, visível e invisível — apenas podem ser definidos se em conjunto e interacção. Que não “fusão”, pois cada conceito ou realidade ilumina a outra, em manutenção de relativa autonomia. E daqui nascerá um novo entendimento da pintura, das artes visuais que se projectam na música (arte nocturna em Jankélévich), levando as artes ao campo de todos os sentidos.
No ocidente cartesiano a pintura é uma arte ocular, ou seja, visual. Acontece que essa visualidade gera a suspeição ocular, sobretudo no século XX; ocularidade já questionada no romantismo, em Herder, Novalis, Beethoven, Wagner: a música não é ocular, ela é um discurso (próprio), como nos diz Nikolaus Harnoncourt. Sinteticamente, elabora-se um trajecto de Descartes a Debord ou Derrida, passando por Ernst Bloch e a música, sobretudo pelo “caso” Wagner (ou pelo sofrimento de Wagner, retomando um ensaio de Thomas Mann) e a “arte total”.
Outro momento do texto é a questão da interpretação: o “caso” Velázquez e de Las Meninas. Ora, se o mais enigmático dos quadros suscita uma infinitude de interpretações, ter-se-á de considerar que uma infinitude de interpretações é a prova de que a interpretação não será a melhor maneira de relação com a obra de arte: interpretar sem fim não é interpretar. Mas tal demonstra que o quadro é interpretável. E que o interpretável se distingue da interpretação. É nestas situações que percebemos que o sentido da visão não nos basta.
Velázquez e Wagner são disso prova e testemunho.» Carlos Vidal
| Editora | Edições do Saguão |
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| Coleção | Sanguínea |
| Categorias | |
| Editora | Edições do Saguão |
| Negar Chronopost e Cobrança | Não |
| Autores | Carlos Vidal |
Artista, crítico de arte e professor na Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa, onde lecciona Pintura, Composição, Estudos de Pintura, Crítica de Arte (Mestrado de Pintura), Temas da Arte Contemporânea (Mestrado de Pintura) e seminários de doutoramento. É doutorado em Belas-Artes/Pintura pela Universidade de Lisboa.
Como artista plástico, participou em algumas destacadas colectivas da década de 90 em Portugal: Imagens para os Anos 90 (Museu de Arte Contemporânea, Serralves, Porto e Culturgest Lisboa, 1993-94), Espectáculo, Disseminação, Deriva, Exílio: um Projecto em Torno de Guy Debord (Metalúrgica Alentejana, Beja, 1995), várias edições dos Encontros de Fotografia de Coimbra, entre outros eventos. Encontra-se representado em colecções particulares e institucionais públicas (Museu de Arte Contemporânea-Serralves, Porto; MEIAC, Badajoz; CAV, Coimbra, etc).
Colaborador de Lapiz (desde 1992 até ao desaparecimento da publicação) e de Exit (Madrid), colaborando também com outras publicações nacionais e estrangeiras. Publicou vários livros sobre arte e teoria estética, entre eles: Sombras Irredutíveis: Arte, Amor, Ciência e Política em Alain Badiou, 2005, Deus e Caravaggio, 2011, [esgotado], ambos Lisboa, Vendaval; Invisualidade da Pintura: Uma História de Giotto a Bruce Nauman, 2015; de Dios y Caravaggio saiu a segunda edição espanhola e uma edição inglesa God and Caravaggio, em Madrid, Editora Brumaria, 2016 e 2020; a mesma editora publicou também o estudo sobre Badiou e o trajecto de Giotto a Bruce Nauman (de que prepara segunda edição).
Entre várias participações em livros colectivos, destacam-se: o ensaio para Over Here: International Perspectives on Art and Culture, New Museum of Contemporary Art de Nova Iorque (The MIT Press, 2004, com 2ª edição em 2007) e prefácios para Badiou e Hal Foster.
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Uma Mão Cheia de CoisasCinco objetos. Cinco histórias. Cinco narradores inesperados, que veem o mundo através de uma perspetiva muito própria. O sapato, a bola, o grão de areia, a casa e o barco protagonizam estas histórias deliciosas que vão encantar as crianças. Nelas encontramos toda a sensibilidade e criatividade de um homem que tem dedicado desde sempre o seu talento aos mais jovens. E assim é, uma vez mais. -
Invisualidade da Pintura: uma história de Giotto a Bruce Nauman«Este livro demonstra que a pintura não é uma das «artes visuais». Porque a sua suposta visualidade depende de um medium absolutamente imaterial que mistura o sensível (a coisa física dos seus materiais actuantes) com a vontade do autor, pois é a vontade, ou seja, a sua característica proclamativa, que não é visível nem invisível, que faz a obra aparecer no mundo visível para ser tanto vista como tocada Por isso se defende que essa vontade, repito, nem visível nem invisível, é acima de tudo INVISUAL. Mas o medium da pintura não pode chamar-se apenas e genericamente «vontade», porque ele é «vontade óptica», logo terá por nome «opticalidade».» -
Deus e Caravaggio: a negação do claro-escuro e a invenção dos corpos compactosTenta-se neste estudo desmitificar a vida e obra de Caravaggio, para que, desse modo, seja mais efectiva a leitura das suas obras e invenções pictóricas: portanto, o mito dá aqui lugar a uma leitura rasante à pintura. Defende-se que a visão do mundo do autor é influenciada pela espiritualidade da época: por S. Filipe Néri, nomeadamente (por sua vez influenciado por Francisco de Assis).Por outro lado, como alguns biógrafos atentos à documentação disponível já o indicaram, a vida violenta do pintor foi antes uma vivência no seio do clima violento da Roma de então. A sua ausência de produção desenhística não se pode relacionar com qualquer tipo de ausência de reflexão formal ou composicional. Antes enfatiza as particularidades da sua pintura. O que é reforçado pelas suas invenções luministas. Estas invenções não simbolizam, nem apenas modelam.A luz de Caravaggio não é instrumental. Ela é pictórica. e apenas na pintura encontra as palavras que a explicam. e será através desta concepção moderna do seu ofício que o pintor vai procurar relacionar-se com as figuras da sua devoção.
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Arte, Religião e Imagens em Évora no tempo do Arcebispo D. Teodósio de Bragança, 1578-1601D. Teotónio de Bragança (1530-1602), Arcebispo de Évora entre 1578 e 1602, foi um grande mecenas das artes sob signo do Concílio de Trento. Fundou o Mosteiro de Scala Coeli da Cartuxa, custeou obras relevantes na Sé e em muitas paroquiais da Arquidiocese, e fez encomendas em Lisboa, Madrid, Roma e Florença para enriquecer esses espaços. Desenvolveu um novo tipo de arquitectura, ser- vindo-se de artistas de formação romana como Nicolau de Frias e Pero Vaz Pereira. Seguiu com inovação um modelo «reformado» de igrejas-auditório de novo tipo com decoração integral de interiores, espécie de ars senza tempo pensada para o caso alentejano, onde pintura a fresco, stucco, azulejo, talha, imaginária, esgrafito e outras artes se irmanam. Seguiu as orientações tridentinas de revitalização das sacrae imagines e enriqueceu-as com novos temas iconográficos. Recuperou lugares de culto matricial paleo-cristão como atestado de antiguidade legitimadora, seguindo os princípios de ‘restauro storico’ de Cesare Baronio; velhos cultos emergem então, caso de São Manços, São Jordão, São Brissos, Santa Comba, São Torpes e outros alegadamente eborenses. A arte que nasce em Évora no fim do século XVI, sob signo da Contra-Maniera, atinge assim um brilho que rivaliza com os anos do reinado de D. João III e do humanista André de Resende. O livro reflecte sobre o sentido profundo da sociedade de Évora do final de Quinhentos, nas suas misérias e grandezas. -
Cartoons - 1969-1992O REGRESSO DOS ICÓNICOS CARTOONS DE JOÃO ABEL MANTA Ao fim de 48 anos, esta é a primeira reedição do álbum Cartoons 1969‑1975, publicado em Dezembro de 1975, o que significa que levou quase tanto tempo a que estes desenhos regressassem ao convívio dos leitores portugueses como o que durou o regime derrubado pela Revolução de Abril de 1974.Mantém‑se a fidelidade do original aos cartoons, desenhos mais ou menos humorísticos de carácter essencialmente político, com possíveis derivações socioculturais, feitos para a imprensa generalista. Mas a nova edição, com alguns ajustes, acrescenta «todos os desenhos relevantes posteriores a essa data e todos os que, por razões que se desconhece (mas sobre as quais se poderá especular), foram omitidos dessa primeira edição», como explica o organizador, Pedro Piedade Marques, além de um aparato de notas explicativas e contextualizadoras. -
Constelações - Ensaios sobre Cultura e Técnica na ContemporaneidadeUm livro deve tudo aos que ajudaram a arrancá-lo ao grande exterior, seja ele o nada ou o real. Agora que o devolvo aos meandros de onde proveio, escavados por todos sobre a superfície da Terra, talvez mais um sulco, ou alguma água desviada, quero agradecer àqueles que me ajudaram a fazer este retraçamento do caminho feito nestes anos de crise, pouco propícios para a escrita. […] Dá-me alegria o número daqueles a que precisei de agradecer. Se morremos sozinhos, mesmo que sejam sempre os outros que morrem — é esse o epitáfio escolhido por Duchamp —, só vivemos bem em companhia. Estes ensaios foram escritos sob a imagem da constelação. Controlada pelo conceito, com as novas máquinas como a da fotografia, a imagem libertou-se, separou-se dos objectos que a aprisionavam, eles próprios prisioneiros da lógica da rendibilidade. Uma nova plasticidade é produzida pelas imagens, que na sua leveza e movimento arrastam, com leveza e sem violência, o real. O pensamento do século XX propôs uma outra configuração do pensar pela imagem, desenvolvendo métodos como os de mosaico, de caleidoscópio, de paradigma, de mapa, de atlas, de arquivo, de arquipélago, e até de floresta ou de montanha, como nos ensinou Aldo Leopoldo. Esta nova semântica da imagem, depois de milénios de destituição pelo platonismo, significa estar à escuta da máxima de Giordano Bruno de que «pensar é especular com imagens». Em suma, a constelação em acto neste livro é magnetizada por uma certa ideia da técnica enquanto acontecimento decisivo, e cada ensaio aqui reunido corresponde a uma refracção dessa ideia num problema por ela suscitado, passando pela arte, o corpo, a fotografia e a técnica propriamente dita. Tem como único objectivo que um certo pensar se materialize, que este livro o transporte consigo e, seguindo o seu curso, encontre os seus próximos ou não. [José Bragança de Miranda] -
Esgotar a Dança - A Perfomance e a Política do MovimentoDezassete anos após sua publicação original em inglês, e após sua tradução em treze línguas, fica assim finalmente disponível aos leitores portugueses um livro fundamental para os estudos da dança e seminal no campo de uma teoria política do movimento.Nas palavras introdutórias à edição portuguesa, André Lepecki diz-nos: «espero que leitores desta edição portuguesa de Exhausting Dance possam encontrar neste livro não apenas retratos de algumas performances e obras coreográficas que, na sua singularidade afirmativa, complicaram (e ainda complicam, nas suas diferentes sobrevidas) certas noções pré-estabelecidas, certos mandamentos estéticos, do que a dança deve ser, do que a dança deve parecer, de como bailarines se devem mover e de como o movimento se deve manifestar quando apresentado no contexto do regime da 'arte' — mas espero que encontrem também, e ao mesmo tempo, um impulso crítico-teórico, ou seja, político, que, aliado que está às obras que compõem este livro, contribua para o pensar e o fazer da dança e da performance em Portugal hoje.» -
Siza DesignUma extensa e pormenorizada abordagem à obra de design do arquiteto Álvaro Siza Vieira, desde as peças de mobiliário, de cerâmica, de tapeçaria ou de ourivesaria, até às luminárias, ferragens e acessórios para equipamentos, apresentando para cada uma das cerca de 150 peças selecionadas uma detalhada ficha técnica com identificação, descrição, materiais, empresa distribuidora e fotografias, e integrando ainda um conjunto de esquissos originais nunca publicados e uma entrevista exclusiva ao arquiteto.CoediçãoArteBooks DesignCoordenação Científica + EntrevistaJosé Manuel PedreirinhoDesign GráficoJoão Machado, Marta Machado -
A Vida das Formas - Seguido de Elogio da MãoEste continua a ser o livro mais acessível e divulgado de Focillon. Nele o autor expõe em pormenor o seu método e a sua doutrina. Ao definir o carácter essencial da obra de arte como uma forma, Focillon procura sobretudo explicitar o carácter original e independente da representação artística recusando a interferência de condições exteriores ao acto criativo. Afastando-se simultaneamente do determinismo sociológico, do historicismo e da iconologia, procura demonstrar que a arte constitui um mundo coerente, estável e activo, animado por um movimento interno próprio, no fundo do qual a história política ou social apenas serve de quadro de referência. Para Focillon a arte é sempre o ponto de partida ou o ponto de chegada de experiências estéticas ligadas entre si, formando uma espécie de genealogias formais complexas que ele designa por metamorfoses. São estas metamorfoses que dão à obra de arte o seu carácter único e a fazem participar da evolução universal das formas.



