Coração Lento
Em Coração Lento, assistimos ao afinar meticuloso da linguagem poética, um monumento de cujas ruínas se reergue a paisagem em chamas desse lugar onde, a custo, tentamos sempre voltar. Frederico Pedreira, no seu livro de estreia na Assírio & Alvim, constrói esse caminho de volta como se as suas palavras fossem cristais de sal: Mocho malabarista, rodeado de santaria, trata-me, digamos, com carinho, e ao voltares as páginas da minha heráldica, não digas um dia, quando a biblioteca estiver calada; – não se aproveita nada desta ninhada.
| Editora | Assírio & Alvim |
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| Categorias | |
| Editora | Assírio & Alvim |
| Negar Chronopost e Cobrança | Não |
| Autores | Frederico Pedreira |
Frederico Pedreira nasceu em Lisboa em 1983. Publicou Breve Passagem pelo Fogo (Artefacto, 2011), O Artista Está Sozinho (edição do autor, 2013), Doze Passos atrás (Artefacto, 2013), Um Bárbaro em Casa (Língua Morta, 2014), Presa Comum (Relógio D’Água, 2015), Fazer de Morto (Língua Morta, 2016), A Noite Inteira (Relógio D’Água, 2017), Uma Aproximação à Estranheza (INCM, 2017), A Lição do Sonâmbulo (Companhia das Ilhas, 2020) e Coração Lento (Assírio & Alvim, 2021).
Colaborou na secção de cultura de alguns periódicos nacionais. Doutorou-se no Programa em Teoria da Literatura da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.
Venceu o Prémio INCM/Vasco Graça Moura na categoria de Ensaio (2016).
O romance A Lição do Sonâmulo recebeu o Prémio de Literatura da União Europeia 2021 e o Prémio Literário Fundação Eça de Queiroz/Fundação Millennium bcp 2021.
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Uma Aproximação À Estranheza«A sensação de estranheza que a leitura de alguns textos pode provocar não deve assim ser procurada nas propriedades da linguagem. Essa estranheza encontrar-se-á no momento da interpretação e, portanto, nas expectativas e crenças do intérprete quando este procura entender a intenção investida na expressão de um pensamento.»A estranheza - que pode ocorrer quando nos deparamos com algumas formas de arte, mas também em situações do quotidiano - é, segundo o autor, uma inquietação metafísica perante a impossibilidade de conhecer verdadeiramente um outro e de nos darmos verdadeiramente a conhecer. Pressupõe, por um lado, a confusão intelectual provocada pelo uso estranho atribuído a palavras cujo significado nos é familiar; e, por outro, a noção de que a compreensão que fazemos dos outros e de nós mesmos nunca está garantida. Uma espécie de mal necessário, que nos impele a participar ativamente no reconhecimento que fazemos dos outros, e na construção dos vários significados, ainda que provisórios, no momento da interpretação. Uma Aproximação à Estranheza, de Frederico Pedreira, é a edição distinguida com o Prémio INCM/Vasco Graça Moura 2016, na categoria de Ensaio. -
A Noite Inteira"Fumo de Caçadores", "A Noite dos Salteadores" e "A Noite Inteira" são os capítulos da última obra de um dos mais importantes poetas da nova geração. -
A Lição do SonâmbuloNo prefácio a um livro curioso da sua autoria, José Rodrigues Miguéis escreve: “até que ponto pode um escritor falar das suas experiências pessoais, sem incorrer na pecha de subjectivismo e sem ser indiscreto a respeito de si próprio? Será possível, nesta época e num meio como o nosso, avesso por tradição e preconceito à literatura de confissões, que tem enriquecido e ajudado a esclarecer tantas outras culturas, usar da franqueza de um Rosseau, de um Stendhal, de uma Bashkírtseva, para não dizer já de um De Quincey ou Baudelaire?” A época a que Rodrigues Miguéis se refere podia também ser a nossa. O problema da confissão (se é realmente isso o que está em causa) mantém-se e será sempre um dos aperitivos preferidos da teoria da literatura. Ainda assim, talvez se insurja outro problema maior nos nossos tempos: a ficção deslumbrada consigo mesma, a ficção como conceito saturado, enquanto via profissionalizante, livre-trânsito do bom gosto, imitação da vida explicada como quem junta dois mais dois, sendo que o caso não se dá apenas em literatura. Mas voltando a esta: talvez desta vez o autor se tenha cansado de escrever “José disse” ou “Joaquina disse” quando foi ele que disse e mais ninguém. Talvez nestes tempos de passamanes não valha muito a pena embelezar um caminho esburacado, quando apesar de tudo são esses buracos que ainda lhe dão um nome. -
Um Virar de Costas SedutorA noção de intimidade em poesia é aqui contrastada com a de teatralidade. Alguns dos poetas incluídos neste livro parecem contrariar a ideia de poema como espaço de celebração conjunta de emoções (entre poeta e leitor de poesia). A intimidade parece, assim, estar algo às avessas com a ideia de poema enquanto domínio privilegiado para um entendimento ou uma educação sentimental recíproca (entre autor e leitor). De certo modo, nestes poetas a intimidade é estabelecida de forma algo contrariada, como uma espécie de virar de costas sedutor perante o leitor. Para esclarecer o que se pretende dizer com intimidade (e teatralidade) em poesia, estes dez ensaios inspiram-se não só em poemas, mas também na letra de um fado conhecido, num filme de Woody Allen e numa peça de Ibsen. -
Sonata Para SurdosDuas vozes de mulher entrecortadas por suaves mãos que experimentavam a felicidade da carne, uma só respiração igualmente soberba e bifurcada que ia ganhando corpo em reluzente coluna. Jónica? Como o modo musical grego? Não, começava a dispersar-se, e, fosse como fosse, se calhar não era com as suas grandes orelhas que escutava agora à porta do apartamento, se calhar ouvia tudo com a surdez interesseira da imaginação. E, fosse como fosse, a imensa coluna que formavam essas duas vozes lânguidas só poderia ser uma ofuscante cariátide, elevando a beleza, esse começo do terrível, uns centímetros acima da sua cabeça delirante. Depois de se debater com sombras inexistentes que pareciam prendê-lo àquela porta como ao martírio de um muro, Francisco deixou que o seu coração disparasse à larga, não se preocupando já em sossega-lo, todo ele retesado para um combate que dispensava de bom grado as armas do género masculino. Numa palavra, abandonou-se ao espanto tingido de desespero, embora não se tratasse do espanto suscitado pelo novo, que nos acomete, por exemplo, na presença de um inesperado arco-íris; não era sequer um espanto simpático ou empático, o seu, pois sabia que um fundo selvagem o animava, com o mesmo gosto ferino com que o animal destrói a sua presa, rasgando-lhe a pele num começo de luxúria.
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Tal como És- Versos e Reversos do RyokanAntologia poética do monge budista Ryokan, com tradução a partir do original japonês. -
TisanasReedição das Tisanas de Ana Hatherly, poemas em prosa que ocuparam grande parte da vida da poeta e artista. -
NocturamaOs poemas são a exasperação sonhada As palavras são animais esquivos, imprecisos e noturnos. É desse pressuposto que Nocturama lança mão para descobrir de que sombras se densifica a linguagem: poemas que se desdobram num acordeão impressionante, para nos trazerem de forma bastante escura e às vezes irónica a suprema dúvida do real. -
Primeiros Trabalhos - 1970-19791970-1979 é uma selecção feita pela autora, da sua escrita durante esse mesmo período. Uma parte deste livro são trabalhos nunca publicados, onde constam excertos do seu diário, performances e notas pessoais. A maioria dos textos foram publicados ao longo da década de setenta, em livros que há muito se encontram esgotados, mesmo na língua original.“Éramos tão inocentes e perigosos como crianças a correr por um campo de minas.Alguns não conseguiram. A alguns apareceram-lhes mais campos traiçoeiros. E algunsparece que se saíram bem e viveram para recordar e celebrar os outros.Uma artista enverga o seu trabalho em vez das feridas. Aqui está então um vislumbredas dores da minha geração. Frequentemente bruto, irreverente—mas concretizado,posso assegurar, com um coração destemido.”-Patti SmithPrefácio de Rafaela JacintoTradução de cobramor -
Horácio - Poesia CompletaA obra de Horácio é uma das mais influentes na história da literatura e da cultura ocidentais. Esta é a sua versão definitiva em português.Horácio (65-8 a.C.) é, juntamente com Vergílio, o maior poeta da literatura latina. Pela variedade de vozes poéticas que ouvimos na sua obra, estamos perante um autor com muitos rostos: o Fernando Pessoa romano. Tanto a famosa Arte Poética como as diferentes coletâneas que Horácio compôs veiculam profundidade filosófica, mas também ironia, desprendimento e ambivalência. Seja na sexualidade franca (censurada em muitas edições anteriores) ou no lirismo requintado, este poeta lúcido e complexo deslumbra em todos os registos. A presente tradução anotada de Frederico Lourenço (com texto latino) é a primeira edição completa de Horácio a ser publicada em Portugal desde o século XVII. As anotações do professor da Universidade de Coimbra exploram as nuances, os intertextos e as entrelinhas da poética de Horácio, aduzindo sempre que possível paralelo de autores portugueses (com destaque natural para Luís de Camões e Ricardo Reis). -
Um Inconcebível AcasoNo ano em que se celebra o centenário de Wisława Szymborska, e coincidindo com a data do 23º aniversário da atribuição do prémio Nobel à autora, as Edições do Saguão e a tradutora Teresa Fernandes Swiatkiewicz apresentam uma antologia dos seus poemas autobiográficos. Para esta edição foram escolhidos vinte e seis poemas, divididos em três partes. Entre «o nada virado do avesso» e «o ser virado do avesso», a existência e a inexistência, nesta selecção são apresentados os elementos do que constituiu o trajecto e a oficina poética de Szymborska. Neles sobressai a importância do acaso na vida, o impacto da experiência da segunda grande guerra, e a condição do ofício do poeta do pós-guerra, que já não é um demiurgo e, sim, um operário da palavra que a custo trilha caminho. Nos poemas de Wisława Szymborska esse trajecto encontra sempre um destino realizado de forma desarmante entre contrastes de humor e tristeza, de dúvida e do meter à prova, de inteligência e da ingenuidade de uma criança, configurados num território poético de achados entregues ao leitor como uma notícia, por vezes um postal ilustrado, que nos chega de um lugar que sabemos existir, mas que muito poucos visitam e, menos ainda, nos podem dele dar conta. -
AlfabetoALFABET [Alfabeto], publicado em 1981, é a obra mais conhecida e traduzida de Inger Christensen.Trata-se de um longo poema sobre a fragilidade da natureza perante as ameaças humanas da guerra e da devastação ecológica. De modo a salientar a perfeição e a simplicidade de tudo o que existe, a autora decidiu estruturar a sua obra de acordo com a sequência de números inteiros de Fibonacci, que está na base de muitas das formas do mundo natural (como a geometria da pinha, do olho do girassol ou do interior de certas conchas). Como tal, Alfabeto apresenta catorze secções, desde a letra A à letra N, sendo que o número de versos de cada uma é sempre a soma do número de versos das duas secções anteriores. Ao longo destes capítulos, cada vez mais extensos, Christensen vai assim nomeando todas as coisas que compõem o mundo.Este livro, verdadeiramente genesíaco, é a primeira tradução integral para português de uma obra sua. -
Fronteira-Mátria - [Ou Como Chegamos Até Aqui]Sou fronteiradois lados de lugar qualquerum pé em cada território.O ser fronteiriço énascer&serde todo-lugar/ lugar-nenhum.(…)Todas as coisas primeiras são impossíveis de definir. Fronteira-Mátria é um livro que traz um oceano ao meio. Neste projeto original que une TERRA e MAZE, há que mergulhar fundo para ler além da superfície uma pulsão imensa de talento e instinto.Toda a criação é um exercício de resistência. Aqui se rimam as narrativas individuais, com as suas linguagens, seus manifestos, suas tribos, mas disparando flechas para lá das fronteiras da geografia, do território, das classes e regressando, uma e outra vez, à ancestral humanidade de uma história que é coletiva — a nossa. Veja-se a beleza e a plasticidade da língua portuguesa, a provar como este diálogo transatlântico é também a celebração necessária do que, na diferença, nos une.Todas as coisas surpreendentes são de transitória definição. Há que ler as ondas nas entrelinhas. Talvez o mais audacioso deste livro seja o servir de testemunho para muito mais do que as quatro mãos que o escrevem. Ficamos nós, leitores, sem saber onde terminam eles e começamos nós.Todas as coisas maravilhosas são difíceis de definir. Este é um livro para ouvir, sem sabermos se é poesia, se é música, se é missiva no vento. Se é uma oração antiga, ainda que nascida ainda agora pela voz de dois enormes nomes da cultura hip-hop de Portugal e do Brasil. Mátria carregada de futuro, anterior à escrita e à canção.Minês Castanheira
