Paliranto é um reino sem mapa e, precisamente por isso, os historiadores nunca lhe deram, e ainda hoje não dão, grande atenção. Não aparece nos mapas, mas o último rei que nele houve, e que fez tristíssima figura, teve direito a Crónica. Escreveu-a Pancreto, cronista-mor, e ela aí está, publicada na íntegra à mistura com outros relatos, sobre acontecimentos - dramáticos, cómicos, misteriosos - ocorridos naquele mesmo período de tempo.
"O Sol faz de guia na viagem sem mapa nem bússola, mas com versos, que neste livro se relata. Tem 23 etapas, a viagem. A primeira começará onde quer que tu, leitor, te encontres. Presta atenção: haverá sempre um girassol por perto. E estimáveis criaturas. Pessoas e bichos. E também frutos. E flores. E... A última etapa tem guardado dentro dela um sonho. Que sonho? É segredo. Só fazendo a viagem, mas a viagem toda, até ao fim, ele se desvenda. Quando partes?"
A história é sempre a mesma. A personagem principal é uma criança entre os cinco e os quinze anos, só e orgulhosa, só e inconformada com a sua solidão, sempre sozinha. (...) À sua volta, há outras crianças e alguns adultos com defeitos e feitios às vezes cómicos, às vezes tão tristes que dão vontade de rir. O tempo é curto e o espaço limitado (...). A criança faz as coisas banais de uma vida infantil e banal: não faz nada. No fim da história, nada parece ter mudado, mas arrastaram-se móveis pesados, limparam-se os cantos à história de sempre (...). É preciso abrir a janela, arejar esta casa.Ver por dentro:
O João subiu para a bicicleta, que rangeu aflitivamente. Às primeiras pedaladas, ela respondeu com estalidos, como os ossos de um velho que se levanta de uma cadeira, mas pouco depois já rolava pela estrada abaixo. Ele pedalou com mais força e atravessou o ar morno da manhã. Sentia não sabia o quê que o empurrava para diante. Cheirava-lhe não sabia a quê, sabia-lhe não sabia a quê. E esse "não sei quê" era a liberdade. Estava dentro dele e à volta dele, por todo o lado. Também ele era um rapaz numa bicicleta azul e também ele levava a flor da liberdade numa manhã de Abril. Com ela, podia ir até onde quisesse. Por isso, pedalou ainda com mais força e avançou a sorrir na direcção do Sol.Ver por dentro: