Eu Gosto de Jardins Transparentes
João Jacinto é hoje, decerto, dos nomes mais relevantes quando se considera o contexto vasto da chamada arte portuguesa contemporânea. Autor de obra consistente e múltipla que, desde certa margem, ganhou visibilidade própria, destacada e mesmo referencial,
foi-se tornando aos poucos no que vulgarmente se designa um artista de culto…
… Quero dizer, um artista cujo reconhecimento mais forte se vai construindo quase secretamente, assente em pressupostos próprios e, sobretudo, sem que essa margem, forjada em certa obscuridade a partir da qual opera, e em que a obra discretamente se vai desenvolvendo, se tenha dissolvido, e que antes, ao contrário, se reforça como signo do singular.
Assim, justamente, e sobretudo no seu caso, porque a obra insiste nesse ir ao encontro de um conjunto de temas e de formas, de processos e modos de invenção plástica — roubando o termo a Francis Bacon — que, por si mesmos, bastam para chamar a si um conjunto singular de espectadores, que fazem uma comunidade à parte dentro do grande, enorme teatro em que se jogam os múltiplos destinos da arte actual. E, como acontece com todos aqueles cuja obra resiste aos sinais e modos mais evidentes do seu tempo — de que, por isso mesmo, se separa, fugindo à grande uniformidade que assiste aos casos de sucesso e de mediatização que garantem visibilidades rapidamente destinadas ao desgaste e à usura do tempo, factores que lhe são de algum modo indiferentes por não trabalhar na ânsia de um apressado reconhecimento — a sua desenvolve-se, afirmativa mas solitariamente, e os seus espectadores vão encontrá-la cúmplices, também porque desse modo não cumprem acto de submissão ao gosto dominante do tempo.
[Bernardo Pinto de Almeida]
Este livro foi publicado por ocasião da exposição, Eu gosto de jardins transparentes, realizada na Galeria Sete – Arte Contemporânea, em Coimbra, de 7 de Maio a 11 de Junho de 2022
Bernardo Pinto de Almeida nasceu em 1954. Professor Catedrático na Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto. Tem publicado obras de ensaio e de poesia
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Memórias do Presente - Passagem de Isabel e Rodrigo Cabral na Arte PortuguesaOs anos 60 em Portugal têm sido considerados, por vários sectores da crítica, como uma década de ruptura. Por outro lado, deveremos ter presente que no seu levantamento exaustivo sobre a arte portuguesa no século XX, José Augusto França - longamente autor da única obra historiográfica sobre esse período - interrompeu o seu estudo no final dos anos cinquenta, deixando em suspenso a problematização do que representaram os ditos anos 60 no contexto da arte nacional. Quem, conscienciosamente, abordar a arte portuguesa realizada no período de forte transformação vivido no início da década de setenta, deve começar por entender a profunda mudança de contexto e de significações culturais que ocorreu nesses anos: mudança substancial que se prendia, desde logo, com as transformações ocorridas na década anterior, em que toda uma nova paisagem no plano das práticas e conceitos próprios do campo artístico tomara lugar, na arte e cultura portuguesas, reflectindo debates mais alargados, num momento em que secretamente se iniciara um novo surto de globalização. -
O Plano de ImagemEste livro demonstra que o campo da arte é muito vasto, pelas possibilidades de observação e estudo que proporciona. Bernardo Pinto de Almeida, sem excluir uma visão histórica, aproxima-nos de uma leitura antropológica, sempre muito sensível, estabelecendo as linhas pessoais de um inovador plano de imagem. -
Negócios em ÍtacaNegócios em Ítaca é o novo livro de poesia do poeta e ensaísta Bernardo Pinto de Almeida com fotografias de Isabel Lopes Gomes. -
Uma Ciência das SombrasA Ciência das Sombras, de Bernardo Pinto de Almeida, é uma recolha definitiva de todos os poemas publicados entre 1975 e 2006, rescritos e apresentados de forma a constituírem um novo livro.Acrescentam-se aos livros antes publicados mais três inéditos, um de 1977 e dois de 2006.O livro é acompanhado de um prefácio de Eduardo Lourenço e de oito desenhos de Julião Sarmento, que o artista fez expressamente. -
Arte e Infinitude: o contemporâneo entre a arkhé e o tecnológicoEste ensaio desenvolve, até ao campo que, não sem equívocos, se designa por Contemporaneidade, a investigação começada pelo autor com o livro O Plano de Imagem (1996), cujo propósito foi elaborar uma "arqueologia da modernidade". Parte-se de uma concepção antiformalista do Modernismo, que permite reinterpretar criticamente os legados de Picasso, Duchamp ou Malévich, bem como o lugar de alguns artistas e movimentos europeus da década de 60 - Pop inglesa, Beuys, Arte Povera -, para evidenciar o que os diferencia ou opõe ao contexto da arte americana no mesmo período (Warhol, Minimalismo, Arte Conceptual). . -
Nikias Skapinakis — Paisagens (2018-2020)Paisagens desabitadas, crepusculares que se esvaziaram de toda a presença humana para acolherem apenas, no seu locus desabitado, o olhar e espanto de quem as olha. Agora, com esta nova série, Preto e Branco— que julgo, sem qualquer reserva, ser a mais radical e extrema a que o artista chegou, na incansável busca de levar sempre mais longe e adiante os pressupostos da obra, esclarecendo através de cada uma o sentido profundo de quanto a precedeu — aquele que, porventura, foi um dos mais fulgurantes e ricos coloristas da arte portuguesa do passado século, surpreende-nos de novo, e muito, ao trazer-nos, inesperadamente, uma pintura cujas cores repousam, já, todas secretamente ocultas, fechadas dentro do seu espesso e inexorável negro. Um negro que, diremos ainda, se adensa como se para anunciar a obscuridade destes novos tempos que enfrentamos, e no qual se dissolve, como se numa noite escura, tudo quanto julgávamos saber. Um negro (que aqui se mostra, enfim, na evidência de ser a síntese extrema de todas as demais cores) que se expande vorazmente pela tela, que a risca, invade, mancha, a povoa tal qual as cores mais vivas o fariam, mas sem que por isso jamais se deixe cair na tentação de servir como desenho, ou como ser gráfico, portador, como tal, de uma qualquer forma de escrita ou de sinal, nem de um qualquer desejo de se prender no plano do esboço, sequer no que seria da ordem de uma síntese poderosa manifestada num esquisso. […] A arte de Nikias, sempre distanciada e grave, irónica por vezes na sua distância, nada tem de melancólico. E tal como esses animais que, com leveza, por sucessivas mutações vão deixando para trás a pele que os identificava, e assim se transfiguram, também esta pintura uma vez mais se transfigura diante dos nossos olhos, e se faz outra do que foi, sem por isso deixar de se ligar com toda a sua memória.[Bernardo Pinto de Almeida]Desenvolvidas entre 2018 e o presente, as Paisagens a Preto e Branco pertencem à série Paisagens Ocultas, das quais conservam os sete planos que estruturam a composição e a sinuosidade da linha; substituem, porém, o cromatismo(que identifica a maioria dos períodos do meu trabalho) por um monocromatismo que utiliza o preto (ivory black), aplicado sobre a tela em sucessivas camadas de diferentes densidades. O branco mais luminoso é, assim, o próprio branco da tela, onde as nuances substituem as cores lisas que caracterizam as Paisagens Ocultas.[Nikias Skapinakis] -
Imagem da Fotografia«O autor deste livro prossegue como melhor lhe apraz, é um piloto num voo de reconhecimento, e no seu diário de bordo o mapa regista uma geografia tão variável que desconcerta.» - do prefácio de Antonio Tabucchi -
A Estrada Menos VijadaImagens: Chama e Ficção e Miguel Branco -
Velocidade de Cruzeiro. 100 anos: Cruzeiro SeixasCelebrando o centenário do nascimento de Cruzeiro Seixas, a Biblioteca Nacional de Portugal exibiu cerca de centena e meia de obras suas inéditas produzidas, sobretudo, entre os anos 40 e 70, selecionadas de entre mais de 400 desenhos e variada documentação, legados pelo artista àquela instituição. Com um ensaio introdutório do historiador Bernardo Pinto de Almeida, curador da exposição, a edição do catálogo Velocidade de Cruzeiro. 100 anos Cruzeiro Seixas regista, de forma indelével, o percurso artístico de Cruzeiro Seixas, um dos nomes de maior relevo do Surrealismo português e europeu. -
SicíliaOs poemas deste livro falam de coisas, casas, acidentes, encontros e desencontros, gestos, muros, paisagens, rostos, tempos, palavras e memórias que, quais ecos, reverberam. Duas viagens à Sicília permitiram ao autor compreender que existem lugares em que o mito permanece vivo, activo.Ali, o trabalho do tempo ajudado pelo vento foi moldando não só a configuração dos lugares e gentes, como a própria geografia. Com ele, os homens aprenderam a fazer da ilha o lugar mágico onde o seu trabalho encontra o do tempo, produzindo admiráveis sínteses.
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What Great Paintings Say. 100 Masterpieces in DetailThis important addition to our understanding of art history’s masterworks puts some of the world's most famous paintings under a magnifying glass to uncover their most small and subtle elements and all they reveal about a bygone time, place, and culture. Guiding our eye to the minutiae of subject and symbolism, authors Rose-Marie and Rainer Hagen allow even the most familiar of pictures to come alive anew through their intricacies and intrigues. Is the bride pregnant? Why does the man wear a beret? How does the shadow of war hang over a scene of dancing? Along the way, we travel from Ancient Egypt through to modern Europe, from the Renaissance to the Roaring Twenties. We meet Greek heroes and poor German poets and roam from cathedrals to cabaret bars, from the Garden of Eden to a Garden Bench in rural France. As we pick apart each painting and then reassemble it like a giant jigsaw puzzle, these celebrated canvases captivate not only in their sheer wealth of details but also in the witness they bear to the fashions and trends, people and politics, loves and lifestyles of their time.Vários