Exercícios e Linguagens
A crítica literária em geral realça o compromisso político-social, quando muito a colocação de João Melo na complexa e tensa questão identitária angolana. Indo por aí, porém, não considera o que há na sua poesia de trabalho literário, ou faz uma referência breve à sua consciência poética. É importante notar a importância que teve para este autor o conhecimento de outra poesia, como a de João Cabral, Daniel Filipe, Alexandre O’Neill ou Gastão Cruz, apenas para dar esses exemplos. Essas referências e outras declarações do autor («a técnica é fundamental. Isso vai do trabalho linguístico à estrutura») vieram confirmar a preocupação com o fazer literário, a precisão, a concretude, a busca da nudez verbal que o afastou de uma certa tendência para o discursivismo. […] É desse inconformismo, da sua componente estética, voltado também sobre as próprias criações anteriores, que se faz este quinto e último volume antológico da sua poesia produzida entre 1970-2020.
Francisco Soares
| Editora | Editorial Caminho |
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| Editora | Editorial Caminho |
| Negar Chronopost e Cobrança | Não |
| Autores | João de Melo |
João de Melo nasceu nos Açores, em 1949, e fez os seus estudos no continente. Licenciou-se em Filologia Românica pela Faculdade de Letras de Lisboa e foi professor nos ensinos secundário e superior. Entre 2001 e 2010, desempenhou o cargo de conselheiro cultural na embaixada de Portugal em Madrid.
Autor de mais de vinte livros já publicados (ensaio, antologia, poesia, romance e conto), algumas das suas obras de ficção valeram-lhe vários prémios literários, nacionais e estrangeiros, e foram adaptadas para teatro e televisão, estando traduzidas em Espanha, França, Itália, Holanda, Roménia, Bulgária, Alemanha, Estados Unidos, México e Croácia. O romance Gente Feliz com Lágrimas recebeu os maiores galardões e continua a ser uma referência na sua brilhante carreira literária, que em 2016 foi coroada com a atribuição do Prémio Vergílio Ferreira.
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Gente Feliz com LágrimasRomance de uma família que se desfaz e refaz pelas paragens onde alevam os bons e maus augúrios que motivam a sua dispersão, Gente Feliz com Lágrimas é uma saga que irresistivelmente arrasta o leitor ao longo de cinco mundos, vividos e pensados através da obsessiva busca da felicidade que move os seus protagonistas.Concebida polifonicamente como a descrição dos vários modos de viver a amargura que medeia entre o abandono da terra e o retorno ao domínio do que é familiar, esta peregrinação possível em tempos de escassez de aventura é a definitiva lição de que o regresso se não limita a perfazer o círculo e constitui uma visão fascinante do Portugal que todos, de uma maneira ou de outra, conhecemos.Gente Feliz com Lágrimas, o romance de João de Melo distinguido com cinco importantes prémios literários, foi adaptado a televisão para a RTP, numa série de cinco episódios dirigida por José Medeiros, e ao teatro por João Brites para o grupo “O Bando”. -
Lugar Caído no CrepúsculoO que nos acontece depois da morte? Esta é a pergunta implícita ao longo das páginas deste romance. Um livro que impõe a vida, em protesto contra a tragédia da morte humana, recusando-se a aceitar o silêncio e a escuridão do desconhecido e do sagrado - os mistérios acreditados pela fé de muitos, mas não pela angústia dos que questionam o Além. É com elegância e com a qualidade literária a que João de Melo nos habitou que somos guiados numa viagem pelo outro lado, cruzando o Limbo, o Purgatório, o Paraíso e o Inferno. Com uma abordagem distinta dos conceitos tradicionais e numa escrita marcada pelo realismo fantástico, o autor humaniza a imagética cristã, conferindo-lhe uma realidade mais próxima do mundo e da vida. O Limbo, recentemente extinto por decreto papal, solta os espíritos esquecidos que lá moravam e abre-lhes caminho para a glória eterna. O Purgatório, sem o fogo ardente das almas, converte-se num estado depressivo cuja dor parece cingir-se à dimensão do sentimento e do espírito. O Paraíso, mesmo como reino da liberdade, mantém oculto o mistério de Deus. E o Inferno traz consigo uma paisagem gelada, surpreendentemente erguida a sul do Tejo (o rio que as almas condenadas têm de atravessar na velha barca do Sr.Vicente). -
As Coisas da Alma e Outras Histórias em ContoAs Coisas da Alma – agora profundamente revisto e reescrito com vista ao apuro definitivo da linguagem, uma das preocupações do autor, e aumentado com três novos contos que o complementam – apresenta ao leitor um estilo poético e singular, e um imaginário repleto de personagens sensíveis e violentamente humanas.Autor de referência deste género literário, os contos de João de Melo são invariavelmente poderosos retratos da condição humana, repletos de sentimentos, desejos, imaginação e mistério. -
Gente Feliz Com LágrimasUma saga que irresistivelmente arrasta o leitor ao longo de cinco mundos, vividos e pensados através da obsessiva busca da felicidade que move os seus protagonistas. Concebida polifonicamente como a descrição dos vários modos de viver a amargura que medeia entre o abandono da terra e o retorno ao domínio do que é familiar, esta peregrinação possível em tempos de escassez de aventura é a definitiva lição de que o regresso se não limita a perfazer o círculo e constitui uma visão fascinante do Portugal que todos, de uma maneira ou de outra, conhecemos. -
A Divina MisériaDo mesmo autor do famoso romance Gente Feliz com Lágrimas. Há histórias, personagens, invenções sobre o mundo que podem viver connosco durante anos e anos, ser parte do nosso imaginário e suscitar em nós a linguagem dos chamados «grandes sistemas» políticos e sociais do nosso tempo. Esse é o caso desta novela. O autor trouxe-a consigo de estação em estação, de livro para livro, em momentos de pausa, pulsão de reescrita e obra inacabada, por entre outras ficções - como um texto que estivesse à espera da sua própria completude, para só então existir fora de quem o escreveu e criou. A Divina Miséria separa-se definitivamente do seu autor para adquirir vida própria e propor-nos a imagem do obscurantismo moderno, os poderes terreno e divino como tema de uma literatura que tenta forçar os limites da própria imaginação. Eis um ser vivo à margem do seu criador. É de uma nova «trindade» que esta novela nos fala: o triunfo da religião sobre a morte simbólica da Igreja, a rota de colisão entre o humano e o transcendente, a grande potência invasora do mundo de hoje, mais forte do que Deus e senhora absoluta dos homens.Ver por dentro: -
O Mar de MadridA primeira vez em que viajou até ao país vizinho, Francisco Bravo Mamede, o senhor poeta, viu que as cidades de Espanha ficavam no fim de todos os caminhos.Para se ir de uma para a outra, e não havendo passagem para a cidade seguinte, andava-se por ali ao deus-dará, às voltas e mais voltas para não se enredar a gente no fio de orientação que levava para fora do emaranhado urbano, como quem procura e finalmente encontra a porta de saída de uma casa desconhecida.Ia-se então adiante, sem rumo nem certeza alguma sobre a hora de chegada ao destino que se havia traçado (se haciendo el camino al andar, como no verso do querido mestre Antonio Machado) - e logo toda ela se recortava ao longe, muito nítida de luz, como um baixo-relevo que emergisse do fundo da paisagem.Ver por dentro: -
As coisas da almaAs coisas da alma é o quarto livro de contos de um grande escritor português contemporâneo. Tal como em obras anteriores, apresenta ao leitor uma linguagem própria e um imaginário singular repleto de personagens credíveis e violentamente humanas. Autor de referência deste género literário, os seus contos são invariavelmente poderosos retratos da condição humana, como na história da mulher que penhora as jóias da família, na indigência do ex-toxicodependente José António, ou na da beata à procura de uma redenção que insiste em não chegar.Ver por dentro: -
Antologia do Conto PortuguêsOrganizado para sair em Espanha por altura da última Liber, este volume é também apresentado aos leitores portugueses. Reúne 50 contos seleccionados pelo romancista (e actual conselheiro cultural da Embaixada portuguesa em Madrid) João de Melo, que escreveu também o prefácio e as notas. São contos de escritores do século XIX e XX, que vão de Camilo e Eça a autores mais recentes, como José Riço Direitinho ou José Luís Peixoto. Para além dos textos, há sempre uma pequena biografia e bibliografia de cada autor.Ver por dentro: -
O Homem SuspensoJoão de Melo, natural dos Açores e nascido em 1949, é autor do muito premiado Gente Feliz com Lágrimas. Em O Homem Suspenso apresenta uma apaixonante análise e reflexão sobre a identidade portuguesa, construindo e desconstruindo os valores e hábitos identitários portugueses, quer através da descrição dos longos passeios numa Lisboa que tem tanto de bela e imponente como de paradoxalmente anacrónica, quer nas considerações ponderadas do seu narrador. O Homem Suspenso é indiscutivelmente um romance essencial na carreira de João de Melo, e uma obra obrigatória em qualquer biblioteca.Ver por dentro: -
Entre Pássaro e AnjoEntre Pássaro e Anjo é apenas o segundo livro de contos de João de Melo, mas é indiscutivelmente um marco na sua obra. Sendo um dos autores açorianos de maior reconhecimento, apresenta, tal como nas suas obras anteriores, uma identidade própria e um imaginário singular onde as personagens são humanamente credíveis e autênticas. Autor de referência deste género literário, os seus contos são reflexos fidedignos da humanidade, como na questão da pena de morte em Sombra de Touro Azul ou no fardo da insularidade presente em A Divina Miséria.Ver por dentro:
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Tal como És- Versos e Reversos do RyokanAntologia poética do monge budista Ryokan, com tradução a partir do original japonês. -
TisanasReedição das Tisanas de Ana Hatherly, poemas em prosa que ocuparam grande parte da vida da poeta e artista. -
NocturamaOs poemas são a exasperação sonhada As palavras são animais esquivos, imprecisos e noturnos. É desse pressuposto que Nocturama lança mão para descobrir de que sombras se densifica a linguagem: poemas que se desdobram num acordeão impressionante, para nos trazerem de forma bastante escura e às vezes irónica a suprema dúvida do real. -
Primeiros Trabalhos - 1970-19791970-1979 é uma selecção feita pela autora, da sua escrita durante esse mesmo período. Uma parte deste livro são trabalhos nunca publicados, onde constam excertos do seu diário, performances e notas pessoais. A maioria dos textos foram publicados ao longo da década de setenta, em livros que há muito se encontram esgotados, mesmo na língua original.“Éramos tão inocentes e perigosos como crianças a correr por um campo de minas.Alguns não conseguiram. A alguns apareceram-lhes mais campos traiçoeiros. E algunsparece que se saíram bem e viveram para recordar e celebrar os outros.Uma artista enverga o seu trabalho em vez das feridas. Aqui está então um vislumbredas dores da minha geração. Frequentemente bruto, irreverente—mas concretizado,posso assegurar, com um coração destemido.”-Patti SmithPrefácio de Rafaela JacintoTradução de cobramor -
Horácio - Poesia CompletaA obra de Horácio é uma das mais influentes na história da literatura e da cultura ocidentais. Esta é a sua versão definitiva em português.Horácio (65-8 a.C.) é, juntamente com Vergílio, o maior poeta da literatura latina. Pela variedade de vozes poéticas que ouvimos na sua obra, estamos perante um autor com muitos rostos: o Fernando Pessoa romano. Tanto a famosa Arte Poética como as diferentes coletâneas que Horácio compôs veiculam profundidade filosófica, mas também ironia, desprendimento e ambivalência. Seja na sexualidade franca (censurada em muitas edições anteriores) ou no lirismo requintado, este poeta lúcido e complexo deslumbra em todos os registos. A presente tradução anotada de Frederico Lourenço (com texto latino) é a primeira edição completa de Horácio a ser publicada em Portugal desde o século XVII. As anotações do professor da Universidade de Coimbra exploram as nuances, os intertextos e as entrelinhas da poética de Horácio, aduzindo sempre que possível paralelo de autores portugueses (com destaque natural para Luís de Camões e Ricardo Reis). -
Um Inconcebível AcasoNo ano em que se celebra o centenário de Wisława Szymborska, e coincidindo com a data do 23º aniversário da atribuição do prémio Nobel à autora, as Edições do Saguão e a tradutora Teresa Fernandes Swiatkiewicz apresentam uma antologia dos seus poemas autobiográficos. Para esta edição foram escolhidos vinte e seis poemas, divididos em três partes. Entre «o nada virado do avesso» e «o ser virado do avesso», a existência e a inexistência, nesta selecção são apresentados os elementos do que constituiu o trajecto e a oficina poética de Szymborska. Neles sobressai a importância do acaso na vida, o impacto da experiência da segunda grande guerra, e a condição do ofício do poeta do pós-guerra, que já não é um demiurgo e, sim, um operário da palavra que a custo trilha caminho. Nos poemas de Wisława Szymborska esse trajecto encontra sempre um destino realizado de forma desarmante entre contrastes de humor e tristeza, de dúvida e do meter à prova, de inteligência e da ingenuidade de uma criança, configurados num território poético de achados entregues ao leitor como uma notícia, por vezes um postal ilustrado, que nos chega de um lugar que sabemos existir, mas que muito poucos visitam e, menos ainda, nos podem dele dar conta. -
AlfabetoALFABET [Alfabeto], publicado em 1981, é a obra mais conhecida e traduzida de Inger Christensen.Trata-se de um longo poema sobre a fragilidade da natureza perante as ameaças humanas da guerra e da devastação ecológica. De modo a salientar a perfeição e a simplicidade de tudo o que existe, a autora decidiu estruturar a sua obra de acordo com a sequência de números inteiros de Fibonacci, que está na base de muitas das formas do mundo natural (como a geometria da pinha, do olho do girassol ou do interior de certas conchas). Como tal, Alfabeto apresenta catorze secções, desde a letra A à letra N, sendo que o número de versos de cada uma é sempre a soma do número de versos das duas secções anteriores. Ao longo destes capítulos, cada vez mais extensos, Christensen vai assim nomeando todas as coisas que compõem o mundo.Este livro, verdadeiramente genesíaco, é a primeira tradução integral para português de uma obra sua. -
Fronteira-Mátria - [Ou Como Chegamos Até Aqui]Sou fronteiradois lados de lugar qualquerum pé em cada território.O ser fronteiriço énascer&serde todo-lugar/ lugar-nenhum.(…)Todas as coisas primeiras são impossíveis de definir. Fronteira-Mátria é um livro que traz um oceano ao meio. Neste projeto original que une TERRA e MAZE, há que mergulhar fundo para ler além da superfície uma pulsão imensa de talento e instinto.Toda a criação é um exercício de resistência. Aqui se rimam as narrativas individuais, com as suas linguagens, seus manifestos, suas tribos, mas disparando flechas para lá das fronteiras da geografia, do território, das classes e regressando, uma e outra vez, à ancestral humanidade de uma história que é coletiva — a nossa. Veja-se a beleza e a plasticidade da língua portuguesa, a provar como este diálogo transatlântico é também a celebração necessária do que, na diferença, nos une.Todas as coisas surpreendentes são de transitória definição. Há que ler as ondas nas entrelinhas. Talvez o mais audacioso deste livro seja o servir de testemunho para muito mais do que as quatro mãos que o escrevem. Ficamos nós, leitores, sem saber onde terminam eles e começamos nós.Todas as coisas maravilhosas são difíceis de definir. Este é um livro para ouvir, sem sabermos se é poesia, se é música, se é missiva no vento. Se é uma oração antiga, ainda que nascida ainda agora pela voz de dois enormes nomes da cultura hip-hop de Portugal e do Brasil. Mátria carregada de futuro, anterior à escrita e à canção.Minês Castanheira