História da Sexualidade: a vontade de saber - Vol. I
«Trata-se, em suma, de interrogar o caso de uma sociedade que há mais de um século se fustiga ruidosamente pela sua hipocrisia, fala prolixamente do seu próprio silêncio, se obstina em pormenorizar o que não diz, denuncia os poderes que exerce e promete libertar-se das leis que a fizeram funcionar. Gostaria de inventariar não apenas esses discursos mas a vontade que os impele e a intenção estratégica que os sustenta. A questão que gostaria de pôr não é a de saber porque é que somos reprimidos, mas porque é que dizemos, com tanta paixão, com tanto rancor contra o nosso passado mais próximo, contra o nosso presente e contra nós próprios, que somos reprimidos. Por que espiral chegámos ao ponto de afirmar que o sexo é negado, de mostrar ostensivamente que o escondemos, de dizer que o calamos – e isto formulando-o em palavras explícitas, procurando mostrá-lo na sua realidade mais nua, afirmando-o na positividade do seu poder e dos seus efeitos?»
| Editora | Relógio d' Água |
|---|---|
| Categorias | |
| Editora | Relógio d' Água |
| Negar Chronopost e Cobrança | Não |
| Autores | Michel Foucault |
-
Nascimento da BiopolíticaEste curso de Michel Foucault no Collège de France, de Janeiro a Abril de 1979, inscreve-se na sequência do que ele havia proferido no ano anterior, Securité, Territoire, Population. Depois de ter mostrado como a economia política no século XVIII assinala o nascimento de uma nova razão governamental – governar menos, para uma eficácia máxima –, Michel Foucault passa à análise das formas deste governo liberal. Trata-se agora de descrever a racionalidade política no seio da qual se colocaram os problemas específicos da vida e da população: «Estudar o liberalismo como quadro geral da biopolítica».Esta análise realça o papel paradoxal que a «sociedade» desempenha em relação ao governo, princípio em nome do qual este tende a autolimitar-se, mas objecto, também, de uma intervenção governamental permanente, para produzir, multiplicar e garantir as liberdades necessárias ao liberalismo económico. A sociedade civil, longe de se opor ao Estado, é o correlativo da tecnologia liberal do governo. -
Vigiar e Punir«Hoje, talvez tenhamos vergonha das nossas prisões. No entanto, o século XIX tinha orgulho nas fortalezas que construía nos limites e, por vezes, no centro das cidades. Esses muros, esses ferrolhos, essas células representavam todo um trabalho de ortopedia social. Quem rouba vai para a prisão; quem viola vai para a prisão; quem mata, a mesma coisa. De onde vem esta estranha prática e o curioso projeto de encarcerar para adestrar, que estão incluídos nos Códigos Penais da época moderna? Uma velha herança das masmorras da Idade Média? Ao invés, uma nova tecnologia: o aperfeiçoamento, do século XVI ao século XIX, de todo um conjunto de processos para policiar, controlar, avaliar, adestrar os indivíduos, torná-los “dóceis e úteis”. Vigilância, exercícios, manobras, notas, níveis e lugares, classificações, exames, registos, toda uma forma de submeter os corpos, de dominar as multiplicidades humanas e de manipular as suas forças se desenvolveu durante os séculos clássicos, nos hospitais, no exército, nas escolas, nos colégios ou nas oficinas: a disciplina. A prisão deve ser substituída na formação desta sociedade de vigilância. O sistema penal moderno já não ousa dizer que pune crimes; pretende readaptar delinquentes. Será possível fazer a genealogia da moral moderna a partir de uma história política dos corpos?» -
A Arqueologia do Saber«A geração de Foucault (1926-1984) é aquela que, no imediato pós-guerra, assiste à proeminência da fenomenologia e do existencialismo nos meios filosóficos e culturais franceses, mas também à omnipresente influência da geração anterior que viveu a resistência, com Jean-Paul Sartre à cabeça. Com os da idade de Foucault, a época é já a da transição entre os últimos anos da reconstrução e os anos brilhantes de quantos, discípulos desobedientes daqueles mestres, lhes escapam rumo a um mundo de que o Maio de 68 constituía a grande promessa. Sem esta alusão, sumaríssima, não poderíamos começar a compreender como foi possível à geração de Foucault o desassombro, a obstinação, a alegre ferocidade com que ela dá os primeiros passos na senda de vários “pós”: pós-estruturalismo, pós-marxismo, pós-modernidade.» António Fernando Cascais, Nota de Apresentação -
Vigiar e PunirÉ um estudo científico, fartamente documentado, sobre a evolução histórica da legislação penal e respectivos métodos coercitivos e punitivos adotados pelo poder público na repressão da delinqüência. Métodos que vão da violência física até instituições correcionais. -
História da Sexualidade: o uso dos prazeres - Vol. IIAtravés do estudo da moral sexual da Grécia Antiga e da Roma dos séculos I e II, Foucault acrescenta à sua obra, até então principalmente epistemológica e política, uma dimensão ética. A liberdade do sujeito afirma-se.«Que fique bem claro que não faço uma história dos costumes, dos comportamentos, uma história social da prática sexual, mas uma história do modo como o prazer, os desejos, os comportamentos sexuais foram problematizados, reflectidos e pensados na Antiguidade em relação com uma certa arte de viver.»(Foucault, em entrevista a François Ewald). -
História da Sexualidade: o cuidado de si - Vol. III«Está-se ainda longe de uma experiência dos prazeres sexuais em que estes serão associados ao mal, onde o comportamento deverá submeter-se à forma universal da lei e onde a decifração do desejo será condição indispensável de acesso a uma existência purificada. Contudo, pode já ver-se como a questão do mal começa a influenciar o antigo tema da força, como a questão da lei começa a inflectir o tema da arte e da techne, como a questão da verdade e o princípio do conhecimento de si se desenvolvem nas práticas de ascese. Mas convém, previamente, procurar saber qual o contexto e porque razões a cultura de si se desenvolveu desse modo, e precisamente na forma que acabámos de ver.» -
História da Sexualidade: as confissões da carne - Vol. IVO volume completa os três livros da História da Sexualidade. É uma obra redigida entre 1981 e 1982, que permaneceu inédita até há pouco. Os temas vão de "A formação de uma experiência nova" até "A libidinização do sexo", passando pelo que é "Ser virgem". -
O que é a Crítica? Seguido de A Cultura de SiEm 27 de Maio de 1978 Michel Foucault proferiu na Société française de Philosophie uma conferência em que, na perspetiva aberta pelo artigo de Kant O que é o Iluminismo? (1784), define a crítica como uma atitude ético-política que consiste na arte de não se ser governado de determinada maneira. O presente volume oferece pela primeira vez a edição crítica dessa conferência. Apresenta ainda outra conferência: A Cultura de si, proferida na Universidade da Califórnia, em Berkeley, a 12 de abril de 1983. Na vasta obra de Foucault, é o único momento em que estabelece a ligação entre as suas reflexões sobre o Iluminismo e análises sobre a Antiguidade greco-romana. Durante a mesma passagem pela Califórnia, Foucault participa em três debates públicos em que é levado a evocar vários aspetos do seu percurso filosófico; os textos desses debates encontram-se a seguir aos das conferências. -
Doença Mental e PsicologiaPublicado em 1954, este ensaio de Michel Foucault tem sido lido desde então por sucessivas gerações em todo o mundo. Revolucionário, este texto fundador, prenúncio da genialidade que caracteriza a obra do Autor, observa, com espantosa argúcia, que a «psicologia só foi possível quando se aprendeu a dominar a loucura». Esta obra destina-se a todos os que estão envolvidos com as matérias da Psicologia, Psiquiatria, Filosofia, e a todos o que se interessam por estes temas e apreciam a obra de Michel Foucault. -
Vigiar e PunirÍndice NOTA DE APRESENTAÇÃO SUPLÍCIO Capítulo 1. O Corpo dos Condenados Capítulo 2. O Espetáculo dos Suplícios II. PUNIÇÃO Capítulo 3. A Punição Generalizada Capítulo 4. A Brandura das Penas III. DISCIPLINA Capítulo 5. Os Corpos Dóceis A Arte das Distribuições O Controlo da Atividade A Organização das Géneses A Composição das Forças Capítulo 6. Os Meios do Bom Adestramento A Vigilância Hierárquica A Sanção Normalizadora O Exame Capítulo 7. O Panoptismo IV. PRISÃO Capítulo 8. Sobre as Instituições Completas e Austeras Capítulo 9. Ilegalidades e Delinquência Capítulo 10. O Sistema Prisional VER POR DENTRO Ver página inteira
-
As Lições dos MestresO encontro pessoal entre mestre e discípulo é o tema de George Steiner neste livro absolutamente fascinante, uma sólida reflexão sobre a interacção infinitamente complexa e subtil de poder, confiança e paixão que marca as formas mais profundas de pedagogia. Baseado em conferências que o autor proferiu na Universidade de Harvard, As Lições dos Mestres evoca um grande número de figuras exemplares, nomeadamente, Sócrates e Platão, Jesus e os seus discípulos, Virgílio e Dante, Heloísa e Abelardo, Tycho Brahe e Johann Kepler, o Baal Shem Tov, sábios confucionistas e budistas, Edmund Husserl e Martin Heidegger, Nadia Boulanger e Knute Rockne. Escrito com erudição e paixão, o presente livro é em si mesmo uma lição magistral sobre a elevada vocação e os sérios riscos que o verdadeiro professor e o verdadeiro aluno assumem e partilham. -
Novo Iluminismo RadicalNovo Iluminismo Radical propõe um olhar crítico e uma atitude combativa face à credulidade do nosso tempo. Perante os discursos catastrofistas e solucionistas que dominam as narrativas e uniformizam as linguagens, Marina Garcés interpela-nos: «E se nos atrevêssemos a pensar, novamente, na relação entre saber e emancipação?» Ao defender a capacidade de nos auto‑educarmos, relança a confiança na natureza humana para afirmar a sua liberdade e construir, em conjunto, um mundo mais habitável e mais justo. Uma aposta crítica na emancipação, que precisa de ser novamente explorada. -
Um Dedo Borrado de Tinta - Histórias de Quem Não Pôde Aprender a LerCasteleiro, no distrito da Guarda, é uma das freguesias nacionais com maior taxa de analfabetismo. Este livro retrata a vida e o quotidiano de habitantes desta aldeia que não tiveram oportunidade de aprender a ler e a escrever. É o caso de Horácio: sabe como se chama cada uma das letras do alfabeto, até é capaz de as escrever uma a uma, mas, na sua cabeça, elas estão como que desligadas; quando recebe uma carta tem de «ir à Beatriz», funcionária do posto dos correios e juntadora de letras. Na sua ronda, o carteiro Rui nunca se pode esquecer da almofada de tinta, para os que só conseguem «assinar» com o indicador direito. Em Portugal, onde, em 2021, persistiam 3,1% de analfabetos, estas histórias são quase arqueologia social, testemunhos de um mundo prestes a desaparecer. -
Sobre a Ganância, o Amor e Outros Materiais de ConstruçãoTextos de Francisco Keil do Amaral sobre o problema da habitação 1945-1973. Francisco Keil do Amaral (1910-1975), arquitecto português, com obra construída em Portugal e no estrangeiro, destacou-se com os grandes projectos para a cidade de Lisboa de parques e equipamentos públicos, dos quais se destacam o Parque de Monsanto e o Parque Eduardo VII. Foi também autor de diversos artigos que escreveu para a imprensa, obras de divulgação sobre a Arquitectura e o Urbanismo - "A arquitectura e a vida" (1942), "A moderna arquitectura holandesa" (1943) ou "Lisboa, uma cidade em transformação" (1969) - e livros de opinião e memórias - "Histórias à margem de um século de história" (1970) e "Quero entender o mundo" (1974). Apesar da obra pública projectada e construída durante o Estado Novo, Keil do Amaral foi um crítico do regime. Alguns dos textos mais críticos que escreveu e proferiu em público foram dedicados ao Problema da Habitação, título do opúsculo publicado em 1945 que reproduz o texto de uma palestra dada em 1943, e que surge novamente no título da comunicação que faz no 3º Congresso da Oposição Democrática em 1973. São dois dos textos reproduzidos nesta pequena publicação que reúne textos (e uma entrevista) de diferentes períodos da vida de Keil do Amaral. Apesar da distância que medeia os vários textos e aquela que os separa do presente, o problema da habitação de que fala Keil do Amaral parece ser constante, e visível não apenas em Lisboa, seu principal objecto de estudo, como noutras zonas do país e globalmente. -
Problemas de GéneroVinte e sete anos após a sua publicação original, Gender Trouble está finalmente disponível em Portugal. Trata-se de um dos textos mais importantes da teoria feminista, dos estudos de género e da teoria queer. Ao definir o conceito de género como performatividade – isto é, como algo que se constrói e que é, em última análise uma performance – Problemas de Género repensou conceitos do feminismo e lançou os alicerces para a teoria queer, revolucionando a linguagem dos activismos. -
Redes Sociais - Ilusão, Obsessão e ManipulaçãoAs redes sociais tornaram-se salas de convívio global. A amizade subjugou-se a relações algorítmicas e a vida em sociedade passou a ser mediada pela tecnologia. O corpo mercantilizou-se. O Instagram é uma montra de corpos perfeitos e esculpidos, sem espaço para rugas ou estrias. Os influencers tornaram-se arautos da propagação do consumo e da felicidade. Nas redes sociais, não há espaço para a tristeza. Os bancos do jardim, outrora espaços privilegiados para as relações amorosas, foram substituídos pelo Tinder. Os sites de encontros são o expoente de uma banalização e superficialidade de valores essenciais às relações humanas. As nudes são um sinal da promoção do corpo e da vulgarização do espaço privado. Este livro convida o leitor para uma viagem pelas transformações nas relações de sociabilidade provocadas pela penetração das redes sociais nas nossas vidas. O autor analisa e foca-se nos novos padrões de comportamento que daí emergem: a ilusão da felicidade, a obsessão por estar ligado e a ligeireza como somos manipulados pelos gigantes tecnológicos. Nas páginas do livro que tem nas mãos é-lhe apresentada uma visão crítica sobre a ilusão, obsessão e manipulação que ocorre no mundo das redes sociais. -
Manual de Investigação em Ciências SociaisApós quase trinta anos de sucesso, muitas traduções e centenas de milhares de utilizadores em todo o mundo, a presente edição foi profundamente reformulada e complementada para responder ainda melhor às necessidades dos estudantes e professores de hoje.• Como começar uma investigação em ciências sociais de forma eficiente e formular o seu projecto? • Como proceder durante o trabalho exploratório para se pôr no bom caminho?• Quais os princípios metodológicos essenciais que deve respeitar?• Que métodos de investigação escolher para recolher e analisar as informações úteis e como aplicá-las?• Como progredir passo a passo sem se perder pelo caminho?• Por fim, como concluir uma investigação e apresentar os contributos para o conhecimento que esta originou?Estas são perguntas feitas por todos os estudantes de ciências sociais, ciências políticas, comunicação e serviço social que se iniciam na metodologia da investigação e que nela têm de se lançar sozinhos.Esta edição ampliada responde ainda melhor às actuais necessidades académicas: • Os exemplos e as aplicações concretas incidem sobre questões relacionadas com os problemas da actualidade.• A recolha e a análise das informações abrangem tanto os métodos quantitativos como os métodos qualitativos.• São expostos procedimentos indutivos e dedutivos. -
Gramsci - A Cultura, os Subalternos e a EducaçãoGramsci, já universalmente considerado como um autor clássico, foi um homem e um pensador livre. Livre e lúcido, conduzido por uma racionalidade fria e implacável, por um rigor e uma disciplina intelectual verdadeiramente extraordinários. Toda a história da sua vida, a sua prisão nos cárceres fascistas, onde ficou por mais de dez anos, as terríveis provações físicas e morais que suportou até à morte, os confrontos duríssimos com os companheiros de partido, na Itália e na Rússia, o cruel afastamento da mulher e dos filhos, tudo isso é um testemunho da sua extraordinária personalidade e, ao mesmo tempo, da agitada e dramática página da história italiana, que vai do primeiro pós-guerra até à consolidação do fascismo de Mussolini. Gramsci foi libertado em 1937, após um calvário de prisões e graves doenças, que o levaram a morrer em Roma, no dia seguinte ao da sua libertação. Só anos mais tarde, no fim da segunda guerra e com o regresso da Itália à democracia, a sua obra começou a ser trabalhada e publicada.