Letra Encarnada/ A Teoria e o Cão/ Os Caminhos que Tomamos (Pack)
Nathaniel Hawthorne (1804-1864), descendente de um dos juízes responsáveis pela condenação à morte das “bruxas de Salem”, em 1862, preocupava-se muito com as questões relativas à moralidade e ao preconceito. Utilizou a sua pena como um bisturi para explorar os deleites e tormentos interiores das personagens que criou. Não se interessou muito por questões puramente éticas (aliás, os críticos sempre discutiram a posição moral do autor perante a infidelidade de Hester Prynne, portadora da letra encarnada) — as suas origens e sobretudo os seus efeitos na alma humana.
De tudo isto pouco ou nada poderia seduzir Pessoa, indiferente ao problema do bem e do mal em termos individuais, por achar que um ser humano — seja bom ou mau — é o resultado de forças exteriores que não controla. Há, porém, um ponto em comum com Hawthorne, cuja análise psicológica, com culpa ou sem culpa, acaba por ser auto-reflexiva. Assim, tanto num escritor como noutro, a tendência para analisar, incorporada em personagens mais ou menos autobiográficas, torna-os objecto da sua própria análise.
“Passou por nós uma mulher de cara aprazível e mundana; levava preso um cachorro amarelo, um bruto resfolegante, mal focinhado e oscilatório. O cão embrulhou-se nas pernas do Bridger e arreliou-lhe as canelas com uma mordedura rosnada e de má índole. O Bridger, num sorriso feliz, esvaziou-lhe os bofes com um pontapé; a mulher brindou-nos com um aguaceiro de adjectivos bem orientados que não deixavam dúvida sobre o nosso lugar na opinião dela; e fomos andando.”
Excerto do conto A Teoria e o Cão.
“O cofre explodiu no sentido de trinta mil dólares, ouro e notas. Os passageiros espreitaram vagamente pelas janelas a ver donde vinha a trovoada. O condutor puxou a correia, que lhe ficou lassa e caída na mão. O Dodson Tubarão e o Bob Tidball, com o espólio numa saca de lona forte, saíram do vagão e correram pesadamente, com suas botas altas, até à máquina.
O maquinista, amuado, mas prudente, correu velozmente a máquina, obedecendo a ordens, para longe do comboio parado. Mas, antes que isto estivesse feito, o guarda do rápido, tendo despertado do argumento com que o Bob Tidball lhe tinha imposto a neutralidade, saltou do vagão com uma Winchester e entrou no jogo.”
Extracto de Os Caminhos Que Tomamos.
Nota: Soma do preço dos livros, se comprados separadamente = 24.30 €
| Editora | Assírio & Alvim |
|---|---|
| Coleção | Outras Publicações |
| Categorias | |
| Editora | Assírio & Alvim |
| Negar Chronopost e Cobrança | Não |
| Autores | O. Henry, Nathaniel Hawthorne |
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A Teoria e o Cão - Os Caminhos que Tomamos“Passou por nós uma mulher de cara aprazível e mundana; levava preso um cachorro amarelo, um bruto resfolegante, mal focinhado e oscilatório. O cão embrulhou-se nas pernas do Bridger e arreliou-lhe as canelas com uma mordedura rosnada e de má índole. O Bridger, num sorriso feliz, esvaziou-lhe os bofes com um pontapé; a mulher brindou-nos com um aguaceiro de adjectivos bem orientados que não deixavam dúvida sobre o nosso lugar na opinião dela; e fomos andando.” Excerto do conto A Teoria e o Cão.“O cofre explodiu no sentido de trinta mil dólares, ouro e notas. Os passageiros espreitaram vagamente pelas janelas a ver donde vinha a trovoada. O condutor puxou a correia, que lhe ficou lassa e caída na mão. O Dodson Tubarão e o Bob Tidball, com o espólio numa saca de lona forte, saíram do vagão e correram pesadamente, com suas botas altas, até à máquina.O maquinista, amuado, mas prudente, correu velozmente a máquina, obedecendo a ordens, para longe do comboio parado. Mas, antes que isto estivesse feito, o guarda do rápido, tendo despertado do argumento com que o Bob Tidball lhe tinha imposto a neutralidade, saltou do vagão com uma Winchester e entrou no jogo.” Extracto de Os Caminhos Que Tomamos. -
A Letra EncarnadaNathaniel Hawthorne (1804-1864), descendente de um dos juízes responsáveis pela condenação à morte das 'bruxas de Salem', em 1862, preocupava-se muito com as questões relativas à moralidade e ao preconceito. Utilizou a sua pena como um bisturi para explorar os deleites e tormentos interiores das personagens que criou. Não se interessou muito por questões puramente éticas (aliás os críticos sempre discutiram a posição moral do autor perante a infidelidade de Hester Prynne, portadora da letra encarnada) as suas origens e sobretudo os seus efeitos na alma humana.De tudo isto pouco ou nada poderia seduzir Pessoa, indiferente ao problema do bem e do mal em termos individuais, por achar que um ser humano 'seja bom ou mau' é o resultado de forças exteriores que não controla. Há, porém, um ponto em comum com Hawthorne, cuja análise psicológica, com culpa ou sem culpa, acaba por ser auto-reflexiva. Assim, tanto num escritor como noutro, a tendência para analisar, incorporada em personagens mais ou menos autobiográficas, torna-os objecto da sua própria análise. -
Sherlock Holmes - Histórias ApócrifasApresentado pela primeira vez pelo seu autor, o médico e escritor Conan Doyle, ao público, em 1887, no romance A Study in Scarlet (Um Estudo em Vermelho), a personagem de Sherlock Holmes viria a significar, para gerações de leitores e fãs, «o detective», dando início à longa fortuna moderna da literatura policial. Objecto de análises por todos os ramos do saber, dos estudos literários à filosofia, ao Direito, à antropologia, à criminologia ou à Medicina, as histórias de Sherlock Holmes suscitaram também, desde o começo mas sobretudo após a sua «morte» na Suíça em 1911, no volume The Adventure of the Final Problem, inúmeras versões apócrifas, mais ou menos paródicas. É um conjunto representativo dessas sequelas das aventuras do grande detective, aqui apresentado com nomes nem sempre coincidentes com o oficial, que se reúne neste volume. -
A Letra EncarnadaDepois de ter sido sentenciada como culpada por adultério, Hester Prynne é obrigada a usar a letra vermelha bordada "A" como castigo pelo seu crime. A tradução é de Fernando Pessoa. -
A Letra EscarlateNa América puritana, o peito das mulheres adúlteras era marcado com uma letra escarlate, a marca da infâmia.Nesta sociedade quase totalitária, onde a vontade individual se verga ao peso da moralidade, uma mulher, Hester, será ostracizada, perseguida e vilipendiada por um crime que não é crime - amar fora do casamento. Mas ela ergue-se em todo o seu esplendor. Resiste e persiste. Indomável. Além de Hester, duas outras personagens permanecem na memória do leitor. Arthur Dimmesdale, o amante cobarde, torturado pelo peso da culpa, incapaz de assumir a sua relação. E Roger Chillingworth, o marido traído, de espírito vingativo, atormentando a vida dos amantes. Psicologicamente denso, de uma simbologia complexa, este é o primeiro dos grandes romances americanos. Uma obra única. Uma obra imortal. Um verdadeiro monumento à literatura. ESTA EDIÇÃO INCLUI: Nota introdutória · Ensaio de D. H. Lawrence sobre A Letra Escarlate · Lista de personagens -
Penguin English Library: Scarlet Letter'Shame, Despair, Solitude! These had been her teachers, - stern and wild ones, - and they had made her strong, but taught her much amiss' Fiercely romantic and hugely influential, The Scarlet Letter is the tale of Hester Prynne, imprisoned, publicly shamed, and forced to wear a scarlet 'A' for committing adultery and bearing an illegitimate child, Pearl. In their small, Puritan village, Hester and her daughter struggle to survive, but in this searing study of the tension between private and public existence, Hester Prynne's inner strength and quiet dignity means she has frequently been seen as one of the first great heroines of American fiction. The Penguin English Library - 100 editions of the best fiction in English, from the eighteenth century and the very first novels to the beginning of the First World War. -
The Scarlet LetterRoger Chillingworth arrives in New England after two years' separation from his wife, Hester Prynne, to find her on trial for adultery. She refuses to reveal her lover and is sentenced to wear a scarlet letter 'A' sewn onto her clothes. Resolving to discover the man's identity, Roger sets out to destroy his rival, while Hester desperately tries to protect her illegitimate daughter from a society determined to condemn them both.A smash hit in its day, The Scarlet Letter by Nathaniel Hawthorne is the gripping tale of three New England settlers at odds with the seventeenth-century Puritan society in which they live, and remains one of literature's most evocative portraits of a love triangle.This beautiful Macmillan Collector's Library edition of The Scarlet Letter features an afterword by broadcaster Jonty Claypole. -
A Letra EscarlateO ambiente, asfixiante de puritanismo, duma colónia do Novo Mundo e, nele, o drama de um amor taxado de pecaminoso pelo convencionalismo da sociedade. O drama do amor entre um homem e uma mulher - uma mulher corajosa e um homem frouxo: enquanto ela enfrenta o opróbio a que a votam, ele, «piedoso» ministro da religião, acoberta-se na respeitabilidade de uma fachada irrepreensível,a esconder o drama profundo duma consciência torturada pelo remorso. Um livro forte e pungente, um dos mais poderosos romances da literatura americana do século XIX, ao qual Nathaniel Hawthorne - o autor de A Casa das Sete Empenas - deve a sua consagração como escritor com assento entre os grandes da literatura universal. -
A Casa das Sete EmpenasObra emblemática do século XIX, que ilustra de forma impressionante o espírito dos finais do século XVII puritano, A Casa das Sete Empenas apresenta-nos uma acção onde a hipocrisia, a bruxaria, o crime e a traição são os elementos fundamentais, fazendo o autor coincidir a história da família com a história nacional. Neste texto, Hawthorne conta-nos a maldição lançada, segundo a lenda, sobre a sua família.De factos, nos finais do século XVII um antepassado seu, juiz dos infames julgamentos durante a caça às bruxas, é amaldiçoado, bem como os seus descendentes, por uma das suas vítimas judiciais. É esta maldição que ecoará no destino dos Pyncheon em A Casa as Sete Empenas. Em meados do século XIX, o juiz Jaffrey Pyncheon de Salem, Massachusetts, está decidido a encontrar a escritura da propriedade pertencente ao seu tio rico,aparentemente assassinado pelo seu primo Clifford. As maquinações deste último e o seu reflexo sobre toda a família, aliados às consequências de crimes antigos que voltam para ensombrar a acção, são assuntos de um tema que surgira já em A Letra Escarlate, tratados aqui de um ponto de vista mais cómico. Ao apresentar-nos as últimas gerações de uma família decadente da Nova Inglaterra, Hawthorne mostra-nos a sua habilidade para criar personagens bizarras, extravagantes e grotescas, dando simultaneamente largas à ironia e ao gosto pelas histórias de amor. -
Estórias de Nova IorqueA ironia em certas situações tão próxima do sarcasmo; a ternura que impregna todas as páginas destas magnificas estórias, relatos em que se desenha frente aos nossos olhos a vida quotidiana, com uma lucidez desarmante, de uma das maiores, mais assombrosas e atraentes cidades do mundo – a tão sonhada e desejada Nova Iorque, cidade que O. Henry amava e compreendia, mas sobretudo aceitava. Aceitava as pequenas tragédias dos perdidos na multidão, as pequenas misérias de cada dia que tanto afligiam os seus personagens, heróis anónimos e improváveis.O. Henry amava e compreendia Nova Iorque e inspirou-se nesta trágica e bela cidade, única nas suas virtudes e defeitos, para criar as suas melhores estórias.
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O Essencial Sobre José Saramago«Aquilo que neste livro se entende como essencial em José Saramago corresponde à sua específica identidade como escritor, com a singularidade e com as propriedades que o diferenciam, nos seus fundamentos e manifestações. Mas isso não é tudo. No autor de Memorial do Convento afirma-se também uma condição de cidadão e de homem político, pensando o seu tempo e os fenómenos sociais e culturais que o conformam. Para o que aqui importa, isso é igualmente essencial em Saramago, até porque aquela condição de cidadão não é estranha às obras literárias com as quais ela interage, em termos muito expressivos.» in Contracapa -
Confissões de um Jovem EscritorUmberto Eco publicou seu primeiro romance, O Nome da Rosa, em 1980, quando tinha quase 50 anos. Nestas suas Confissões, escritas cerca de trinta anos depois da sua estreia na ficção, o brilhante intelectual italiano percorre a sua longa carreira como ensaísta dedicando especial atenção ao labor criativo que consagrou aos romances que o aclamaram. De forma simultaneamente divertida e séria, com o brilhantismo de sempre, Umberto Eco explora temas como a fronteira entre a ficção e a não-ficção, a ambiguidade que o escritor mantém para que seus leitores se sintam livres para seguir o seu próprio caminho interpre tativo, bem como a capacidade de gerar neles emoções. Composto por quatro conferências integradas no âmbito das palestras Richard Ellmann sobre Literatura Moderna que Eco proferiu na Universidade Emory, em Atlanta, nos Estados Unidos, Confissões de um jovem escritor é uma viagem irresistível aos mundos imaginários do autor e ao modo como os transformou em histórias inesquecíveis para todos os leitores. O “jovem escritor” revela-se, afinal, um grande mestre e aqui partilha a sua sabedoria sobre a arte da imaginação e o poder das palavras. -
Sobre as MulheresSobre as Mulheres é uma amostra substancial da escrita de Susan Sontag em torno da questão da mulher. Ao longo dos sete ensaios e entrevistas (e de uma troca pública de argumentos), são abordados relevantes temas, como os desafios e a humilhação que as mulheres enfrentam à medida que envelhecem, a relação entre a luta pela libertação das mulheres e a luta de classes, a beleza, o feminismo, o fascismo, o cinema. Ao fim de cinquenta anos – datam dos primeiros anos da década de 1970 –, estes textos não envelheceram nem perderam pertinência. E, no seu conjunto, revelam a curiosidade incansável, a precisão histórica, a solidez política e o repúdio por categorizações fáceis – em suma, a inimitável inteligência de Sontag em pleno exercício.«É um deleite observar a agilidade da mente seccionando através da flacidez do pensamento preguiçoso.» The Washington Post«Uma nova compilação de primeiros textos de Sontag sobre género, sexualidade e feminismo.» Kirkus Reviews -
Para Tão Curtos Amores, Tão Longa VidaNuma época e num país como o nosso, em que se regista um número muito elevado de divórcios, e em que muitos casais preferem «viver juntos» a casar-se, dando origem nas estatísticas a muitas crianças nascidas «fora do casamento», nesta época e neste país a pergunta mais próxima da realidade não é por que duram tão pouco tantos casamentos, mas antes: Por que é que há casamentos que duram até à morte dos cônjuges? Qual é o segredo? Há um segredo nisso? Este novo livro de Daniel Sampaio, que traz o título tão evocativo: Para Tão Curtos Amores, Tão Longa Vida, discute as relações afetivas breves e as prolongadas, a monogamia e a infidelidade, a importância da relação precoce com os pais e as vicissitudes do amor. Combinando dois estilos, o ficcional e o ensaístico, que domina na perfeição, o autor traz perante os nossos olhos, de modo muito transparente e sem preconceitos, tão abundantes nestas matérias, os problemas e dificuldades dos casais no mundo de hoje, as suas vitórias e derrotas na luta permanente para manterem viva a sua união.Um livro para todos nós porque (quase) todos nós, mais tarde ou mais cedo, passamos por isso. -
A Vida na SelvaHá quem nasça para o romance ou para a poesia e se torne conhecido pelo seu trabalho literário; e quem chegue a esse ponto depois de percorrer um longo caminho de vida, atravessando os escolhos e a complexidade de uma profissão, ou de uma passagem pela política, ou de um reconhecimento público que não está ligado à literatura. Foi o caso de Álvaro Laborinho Lúcio, que publicou o seu primeiro e inesperado romance (O Chamador) em 2014.Desde então, em leituras públicas, festivais, conferências e textos com destinos vários, tem feito uma viagem de que guarda memórias, opiniões, interesses, perguntas e respostas, perplexidades e reconhecimentos. Estes textos são o primeiro resumo de uma vida com a literatura – e o testemunho de um homem comprometido com as suas paixões e o diálogo com os outros. O resultado é comovente e tão inesperado como foi a publicação do primeiro romance. -
Almoço de DomingoUm romance, uma biografia, uma leitura de Portugal e das várias gerações portuguesas entre 1931 e 2021. Tudo olhado a partir de uma geografia e de uma família.Com este novo romance de José Luís Peixoto acompanhamos, entre 1931 e 2021, a biografia de um homem famoso que o leitor há de identificar — em paralelo com história do país durante esses anos. No Alentejo da raia, o contrabando é a resistência perante a pobreza, tal como é a metáfora das múltiplas e imprecisas fronteiras que rodeiam a existência e a literatura. Através dessa entrada, chega-se muito longe, sem nunca esquecer as origens. Num percurso de várias gerações, tocado pela Guerra Civil de Espanha, pelo 25 de abril, por figuras como Marcelo Caetano ou Mário Soares e Felipe González, este é também um romance sobre a idade, sobre a vida contra a morte, sobre o amor profundo e ancestral de uma família reunida, em torno do patriarca, no seu almoço de domingo.«O passado tem de provar constantemente que existiu. Aquilo que foi esquecido e o que não existiu ocupam o mesmo lugar. Há muita realidade a passear-se por aí, frágil, transportada apenas por uma única pessoa. Se esse indivíduo desaparecer, toda essa realidade desaparece sem apelo, não existe meio de recuperá-la, é como se não tivesse existido.» «Os motoristas estão à espera, o brado da multidão mistura-se com o rugido dos motores. Antes de entrarmos, o Mário Soares aproxima-se de mim, correu tudo tão bem, e abraça-me com um par estrondosas palmadas no centro das costas. A coluna de carros avança devagar pelas ruas da vila. Tenho a garganta apertada, não consigo falar. Como me orgulha que Campo Maior seja a capital da península durante este momento.»«Autobiografia é um romance que desafia o leitor ao diluir fronteiras entre o real e o ficcional, entre espaços e tempos, entre duas personagens de nome José, um jovem escritor e José Saramago. Este é o melhor romance de José Luís Peixoto.»José Riço Direitinho, Público «O principal risco de Autobiografia era esgotar-se no plano da mera homenagem engenhosa, mas Peixoto evitou essa armadilha, ao construir uma narrativa que se expande em várias direções, acumulando camadas de complexidade.»José Mário Silva, Expresso -
Electra Nº 23A Atenção, tema de que se ocupa o dossier central do número 23 da revista Electra, é um recurso escasso e precioso e por isso objecto de uma guerra de concorrência sem tréguas para conseguir a sua captura. Nunca houve uma tão grande proliferação de informação, de produtos de consumo, de bens culturais, de acontecimentos que reclamam a atenção. Ela é a mercadoria da qual depende o valor de todas as mercadorias, sejam materiais ou imateriais, reais ou simbólicas. A Atenção é, pois, uma questão fundamental do nosso tempo e é um tópico crucial para o compreendermos. Sobre ela destacam-se neste dossier artigos e entrevistas de Yves Citton, Enrico Campo, Mark Wigley, Georg Franck e Claire Bishop. Nesta edição, na secção “Primeira Pessoa”, são publicadas entrevistas à escritora, professora e crítica norte-americana Svetlana Alpers (por Afonso Dias Ramos), cujo trabalho pioneiro redefiniu o campo da história da arte nas últimas décadas, e a Philippe Descola (por António Guerreiro), figura central da Antropologia, que nos fala de temas que vão desde a produção de imagens e das tradições e dos estilos iconográficos à questão da oposição entre natureza e cultura. A secção “Furo” apresenta um conjunto de desenhos e cartas inéditos da pintora Maria Helena Vieira da Silva. Em 1928, tinha vinte anos. Havia saído de Portugal para estudar arte em Paris e, de França, foi a Itália numa viagem de estudo. Durante esse percurso desenhou num caderno esboços rápidos do que via, e ao mesmo tempo, escrevia cartas à mãe para lhe contar as suas impressões e descobertas. Uma selecção destes desenhos e destas cartas, que estabelecem entre si um diálogo íntimo e consonante, é agora revelada. Na Electra 23, é publicada, na secção “Figura”, um retrato do grande poeta grego Konstandinos Kavafis, feito pelo professor e tradutor Nikos Pratsinis, a partir de oito perguntas capitais; é comentada, pelo escritor Christian Salmon, na secção “Passagens”, uma reflexão sobre a história trágica da Europa Central do consagrado romancista e ensaísta checo, Milan Kundera. Ainda neste número, o ensaísta e jornalista Sergio Molino dá-nos um mapa pessoal da cidade de Saragoça, em que a história e a geografia, a literatura e a arte se encontram; o jornalista e colunista brasileiro Marcelo Leite trata das investigações em curso desde os anos 90, com vista ao uso farmacológico e terapêutico dos psicadélicos; a escritora e veterinária María Sanchez constrói um diário que é atravessado por procuras e encontros, casas e viagens, livros e animais, terras e mulheres, amor e amizade; o arquitecto, investigador e curador chileno Francisco Díaz aborda a relação entre solo e terreno, a partir do projecto da Cidade da Cultura de Santiago de Compostela, da autoria de Peter Eisenman; o artista e ensaísta João Sousa Cardoso escreve sobre a obra do escultor Rui Chafes, revisitando três exposições e um livro apresentados durante o ano de 2023; e o dramaturgo Miguel Castro Caldas comenta a palavra “Confortável”.Vários -
Diário SelvagemEste «Diário Selvagem», «até aqui quase integralmente inédito, é um livro mítico, listado e discutido em inúmeras cartas e cronologias do autor, a que só alguns biógrafos e estudiosos foram tendo acesso».