Notas sobre uma Arte Útil - Parte escrita I (1942-1960)
;Introdução de Sara Antónia Matos;Organização de Pedro Faro
A publicação dos textos críticos de Júlio Pomar procura trazer ao conhecimento do público uma parte fundamental da sua obra, muitas vezes esquecida em detrimento dos seus desenhos e pinturas. Os textos críticos que produziu, o pensamento que neles se materializa, certificam o autor, não apenas como artista, mas também como um sujeito da escrita e um agente profundamente inquieto que não evita tomar posições.
A edição em três volumes abrange os primeiros textos, tinha o artista 16 anos de idade, passando pela sua fase madura, indo até ao último texto, escrito em 2013. Notas Sobre uma Arte Útil, Parte Escrita I (1942-1960); Da Cegueira dos Pintores, Parte Escrita II (1985); Temas e Variações, Parte Escrita III (1968-2013), dão a conhecer o pensamento crítico do pintor, as relações que o artista estabeleceu com as obras dos seus pares, com a história da arte, mostrando que os desenvolvimentos da arte moderna não se produzem isoladamente.
Particularmente, Notas Sobre uma Arte Útil, este primeiro volume da Parte Escrita, abarca textos de teor político, incluindo os do período neo-realista, escritos até 1960 (momento em que o artista parte para Paris), nos quais se evidencia uma vinculação da arte à utilidade. A arte e a escrita têm, entre outros, o propósito da denúncia, da resistência, do comentário social e de veicular correntes ideológicas. [Sara Antónia Matos]
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Júlio Pomar - Desenhos Para Guerra e Paz de TolstóiUma das características de qualquer obra de qualidade, seja na literatura, na música ou na pintura, é inspirar em nós o desejo evangélico de a partilhar. Por isso não posso deixar de dizer que se este livro serve algum propósito, ele deveria ser o de despertar, em quem o folhear, o desejo de ler a obra-prima de Tolstói. Só assim se apreciará plenamente as ilustrações de Pomar e perceberá como ele conseguiu extrair-lhe a essência, penetrar até à medula, para depois a transmudar numa expressão plástica diferente e original. Entenderá também a razão porque a memória não deixou que ele esquecesse estes estudos e lhe segredou no momento certo que algures, no cafarnaum do seu atelier, repousavam as legendas que ele havia escrito para uma das mais geniais criações do espírito humano. Elas aqui estão agora, para nosso encanto, revelando mais uma face, esta longamente velada, da obra de um Mestre. João Lobo Antunes -
Da Cegueira dos Pintores - Parte escrita IIDa Cegueira dos Pintores, Parte Escrita II (1985) repõe nas mãos do público um conjunto de ensaios irrepetíveis sobre a pintura, sobre a actividade artística e sobre a própria natureza do olhar. Este conjunto de ensaios, que se pode considerar também uma cartilha para os profissionais, reveste-se de um teor literário e estético que coloca a actividade artística, sobretudo a pintura, ao nível do pensamento filosófico. [Sara Antónia Matos]Não é fácil o autor falar da sua própria pintura, mesmo olhando-a «com olhos frios», como um «intruso», já que, segundo o pintor-escritor, «a pintura começa onde já não se pode falar dela, onde as palavras fracassam e vogam à deriva». Este livro não é a resposta à pergunta nunca feita («E que pensa você de si mesmo?») mas uma deambulação, ou preferencialmente «uma ruminação no vazio», que é a decomposição das imagens pela palavra. [ ]Partindo da sua obra, a «imagem deu origem a outras imagens» em «sucessivos encaixes ou desencaixes», até atingir as raízes da arte contemporânea. Passando por Bacon, para dissecar Matisse e Cézanne, o pintor-escritor escapa do vazio da palavra-discurso, para analisar «o diálogo entre o que o pintor quer e o que o pintor faz».Neste itinerário literário, o artista expôs-se a numerosos perigos, mas, tal como um «herói da ficção», escapou ao perigo da autocontemplação, ou ao deserto da análise-vazio-estético. E tudo termina bem quando reconhece «a paixão do pintor: quotidiana partida do mundo (partida no sentido de pregar partidas?). Rito solitário, festa mistério, calvário, droga, bebedeira. Merda para os pintores aplicados (eu incluído)». [Osvaldo de Sousa, «Da cegueira dos pintores», in Diário de Notícias, supl. «Cultura», Lisboa, 1986] -
Edição & Utopia: Obra Gráfica de Júlio PomarLivro publicado por ocasião da exposição «Edição & Utopia - Obra Gráfica de Júlio Pomar», apresentada no Atelier-Museu Júlio Pomar de 24 de Outubro de 2014 a 8 de Março de 2015. O que leva um artista a fazer edições e tiragens de múltiplos de uma mesma imagem? A exposição «Edição e Utopia - Obra Gráfica de Júlio Pomar» procura levantar um conjunto de questões relacionadas com as práticas da gravura, da serigrafia e, lato sensu , das formas de reprodução de imagens. O que motiva, em diferentes momentos, o recurso a técnicas que permitem uma multiplicação de imagens? Com que fim? As práticas da gravação, as edições mais ou menos especiais, as tiragens mais ou menos limitadas, transportam uma espécie de contradição: a difusão e circulação alargada da imagem da obra de arte, cuja natureza singular e irrepetível a torna restrita a um universo especializado - paradoxo que em si mesmo releva uma utopia. -
Júlio Pomar e Rui Chafes: DesenharCatálogo publicado por ocasião da exposição «Júlio Pomar e Rui Chafes: Desenhar», realizada no Atelier-Museu Júlio Pomar, em Lisboa, de 8 de Outubro de 2015 a 21 de Fevereiro de 2016. «Júlio Pomar e Rui Chafes: Desenhar» dá início a um programa de exposições do Atelier-Museu que procura cruzar a obra de Júlio Pomar com a de outros artistas, de modo a estabelecer novas relações entre a obra do pintor e a contemporaneidade. A exposição foi pensada, desde a sua génese, como uma intervenção específica no espaço do Atelier-Museu, onde Júlio Pomar [Lisboa, 1926] e Rui Chafes [Lisboa, 1966] desenham recorrendo às qualidades dos traços negros, esboçados ora em linhas de carvão e grafite ora em linhas de ferro tridimensionais, assim investindo sobre uma ideia particular de «desenho» que toma corpo no espaço. Sendo a exposição pensada como um desenho que ocupa todo o Atelier-Museu, transformando-se o espaço do museu no suporte dessa disciplina, isso envolve questões disciplinares, nomeadamente a de pensar o desenho no campo da espacialidade, e a permeabilidade da obra pelo espectador, que nela penetra ao entrar no espaço. -
Decorativo, Apenas? Júlio Pomar e a Integração das ArtesCatálogo publicado por ocasião da exposição «Decorativo, Apenas? - Júlio Pomar e a integração das artes», de Catarina Rosendo, de 5 de Maio de 2015 a 8 de Setembro de 2016. - «Um motivo decorativo, apenas » - Não é verdade que isto se ouve muitas vezes? Ora na boca de um arquitecto, ao solicitar a colaboração do pintor ou do escultor, ora na de um destes; ou com um arzinho escondido de desculpa, ou com as maviosidades do cigano que impinge burro velho. De passagem se diga que é possível também ouvi-lo dito com inocência, dado que a inocência em matéria de arte é muito mais corrente do que se pinta. De passo em falso a passo em falso, tem-se consolidado uma concepção empobrecida do decorativo. Cortaram-se à garçonne as tranças de estafe: fazer «moderno» passou a ser pôr 10 onde dantes se punha 100, e usar à vontade de uns tantos cosméticos, sem cuidar primeiro de lavar a cara. Quantas santas almas puderam assim encontrar o descanso! E deste modo, «decorativo» foi significando arrebique, boneco de estampar, farfalhice obrigatoriamente inexpressiva. [ ] Eu creio que, entre nós, se tem empurrado a obra decorativa, voluntária ou involuntariamente, para a categoria de Parque Mayer das artes. À parte raras tentativas honestas, que vemos? Um coro mal afinado em que se juntam o conformismo, o delicodoce, as soluções mil vezes gastas. O que faz com que tantos vão interpretando o decorativo como uma espécie de doença vergonhosa, e não, afinal, como a expressão, de todas a mais viva, da arte do nosso tempo. Júlio Pomar -
Void*: Júlio Pomar- Vol. IIITerceira secção do catálogo Void*: Júlio Pomar & Julião Sarmento, publicado por ocasião da exposição que juntou os dois artistas no Atelier-Museu Júlio Pomar, entre 29 de Outubro de 2016 e 12 de Março de 2017, este volume apresenta um extenso conjunto de fotografias a preto-e-branco que mostram obras datadas da segunda metade da década de 1960, quase todas captadas em 1968 (antes ou depois de Maio), no atelier do pintor em Paris.As imagens que aqui se publicam, com a permissão do artista, disponibilizadas pela Fundação Júlio Pomar especialmente para esta edição, revelam obras em execução ou deixadas inacabadas e outras talvez dadas por concluídas, mas todas igualmente destruídas. As imagens permitem dar a conhecer, por um lado, o cenário privado da residência e atelier do pintor - instalado em 1963 em Paris, na Rue Molitor, n.º 39, XVIe Arrondissement - e, por outro, documentam uma produção datável de 1964 a 1968 com a qual Júlio Pomar deixou então de se identificar e que por isso destruiu, num momento de mudança de processos de trabalho e também de temáticas.O pendor abstracto das obras que são aqui pela primeira vez apresentadas parece acompanhar uma saturação face às séries e aos meios formais que o pintor vinha a desenvolver anteriormente, num «realismo» de cunho eminentemente gestual, com movimentos amplos e pinceladas livres, sempre com origem na observação directa das cenas e dos espaços. Trata-se de um período de experiências e inovações temáticas, que incluiu o bem sucedido ciclo das corridas de cavalos, Les Courses, mas também de um tempo de exaustão e de incerteza, a que não terá sido indiferente a instalação no meio francês.Sara Antónia Matos e Alexandre Pomar -
Júlio Pomar - Obras no espaço públicoO que importa ressalvar destas intervenções, das mais antigas às mais recentes, diz respeito à transformação dos lugares públicos em lugares «antropológicos», processo que Marc Augé, antropólogo francês, analisou como sendo um processo que envolve a transformação de «não-lugares» em lugares. Esta publicação, cuja motivação surge ainda com o pintor em vida, nasce da vontade de mapear e conhecer todas as obras que Júlio Pomar realizou no espaço público. Para cumprir o propósito, foi necessário estabelecer um roteiro de visitas aos lugares onde o artista tinha intervenções públicas – o que em alguns casos levou Júlio Pomar a rever e surpreender-se com obras de que se tinha praticamente esquecido. A primeira visita – posso aqui revelar – foi ao painel da Avenida Infante Santo, que tinha sido acabado de restaurar pela equipa da Câmara Municipal de Lisboa. Essa visita, acompanhada pela vereadora da Cultura da CML, Catarina Vaz Pinto, e pela equipa de restauro, foi motivo de entusiasmo para todos, incluindo o artista, que observou o painel com grande espanto e admiração. Esse momento encetou o périplo pelo roteiro traçado, o qual foi crescendo à medida que Júlio Pomar ia sendo convidado para fazer novas intervenções. Das obras que realizou em espaços públicos, ou em lugares visitáveis pelo público, já com o Atelier-Museu em funcionamento, contam-se: o painel cerâmico do Museu da Cerveja (2013); o átrio do Teatro Nacional D. Maria II (com Henrique Cayatte) (2014); o painel cerâmico da Casa Portuguesa do Pastel de Bacalhau (2015); o retrato de Champalimaud, na Fundação Champalimaud (2016); o painel cerâmico Participação na Assembleia Municipal de Lisboa (2017) e uma instalação na entrada do edifício da Fidelidade – Chiado 8, todas em Lisboa. A curiosidade que «mordia» o pintor e a equipa do Atelier-Museu levou-nos aos lugares onde havia intervenções públicas suas, para descobrir o estado das obras, e mesmo a sua existência, de que em alguns casos se duvidava já, como era o caso da intervenção escultórica dos anos 1950 na fachada principal do antigo Mercado da Pontinha, e dos doze vitrais da Igreja da Sagrada Família, de 1954, na mesma localidade. [Sara Antónia Matos] -
Júlio Pomar: Ver, Sentir, Etc.Júlio Pomar: «A arte não é outra coisa senão um poderoso e apaixonado meio de conhecimento, uma forma superior de comunicação, um instrumento que o homem tem ao seu alcance na luta contra a alienação.» A exposição «Júlio Pomar: Ver, Sentir, Etc. — Obras do Acervo do Atelier-Museu Júlio Pomar», no espaço museológico do Centro Interpretativo do Tapete de Arraiolos [24-X-2019 a 16-II-2020, com curadoria de Sara Antónia Matos e Pedro Faro], mostrando obras de várias épocas e apropriando-se do título de um texto escrito pelo artista em 1951, chama à atenção para a importância da familiarização com a obra de arte, da participação da experiência estética na formação do conhecimento e dos actos perceptivos — particularmente ver e sentir — nesse processo. […] O que Júlio Pomar faz reequacionar é uma outra relação entre espaço óptico e espaço háptico, dito de outro modo, o ver e o sentir, em que a experiência do desenho e da pintura não é apenas mental e ocular. Existe uma permeabilidade evidente entre interior e exterior do corpo, tornando-se este indispensável na apreensão do meio envolvente. É este corpo, do artista e do observador, nosso corpo irregular, de relevos e texturas irrepetíveis, que a arte põe em movimento. Ela gera pontos de atracção que actuam não apenas sobre o intelecto mas sobre todo o ser somático, recobrindo-o de interrogação e pondo-o em movimentação. Para sintetizar, pode dizer-se que a obra de arte põe em jogo um movimento dialéctico entre saberes e não-saberes, raciocínios e fantasias, metáforas e metamorfoses, revelando a erupção da visceralidade, dos desejos e do erotismo do corpo. Assim, a obra de arte é, como defendem Georges Didi-Huberman e José Gil, mencionados ao longo deste texto, uma superfície de conversão através da qual o corpo manifesta os seus sintomas, dando corpo e materialidade sensível à expressão e vertendo nela um sentido incorporado de vivência e significado. [Sara Antónia Matos] -
Formas Que se Tornam OutrasFazer arte a partir de corpos. Fazer arte com corpos. Fazer da arte corpo. Do movimento do corpo sobre outro corpoproduzir mais corpo e desse gerar uma forma de arte. O corpo está sempre a evoluir: o corpo da arte, da política, do trabalho. O corpo da sexualidade, do amor, da amizade. O corpo da luta. O corpo preso. O corpo livre. Pomar trabalhou todos estes corpos e outros não nomeados (sobretudo os de difícil fixação, em transformação) – os quais se procurou sinalizar nas diversas partes da exposição, dando a perceber que o corpo e a sua indefinição inata esteve sempre subjacente ao longo do seu percurso e produção artísticos.Aquele desenho a lápis sobre papel de carta, um estudo sem título, não datado, provavelmente da altura em que JúlioPomar teve atelier na Praça da Alegria, em Lisboa, é um desenho de uma flor. Provavelmente não haverá elemento mais erótico do que uma flor, que abre e fecha como o corpo humano, dá-se e protege-se, liberta e recolhe, é inseminada e reproduz, como o macho e a fêmea, concentrando em si a beleza e a fluidez que o conceito de erotismo envolve. Como, aliás, refere Emanuele Coccia no livro A Vida das Plantas. Uma Metafísica da Mistura [Documenta, 2019], a flor é, por excelência, «o instrumento activo da mistura: qualquer encontro e toda a união com outros indivíduos se fazem por meio dela». Assim, nesta exposição, a flor, um ser séssil, serve como ponto de partida para abordar uma série de conceitos que se tornaram fundamentais nas experiências de Júlio Pomar em torno do Erotismo, nomeadamente a ideia de devir contínuo, de transformação, de fusão e de metamorfose, indissociabilidade entre penetrado e penetrante – aspecto plasmado nos desenhos Étreinte [Abraço], da série de 1979, realizados para ilustrar o livro Corpo Verde, de Maria Velho da Costa, com quem Júlio Pomar trabalhou e de quem se publicam textos neste catálogo.[Sara Antónia Matos e Pedro Faro]
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Arte, Religião e Imagens em Évora no tempo do Arcebispo D. Teodósio de Bragança, 1578-1601D. Teotónio de Bragança (1530-1602), Arcebispo de Évora entre 1578 e 1602, foi um grande mecenas das artes sob signo do Concílio de Trento. Fundou o Mosteiro de Scala Coeli da Cartuxa, custeou obras relevantes na Sé e em muitas paroquiais da Arquidiocese, e fez encomendas em Lisboa, Madrid, Roma e Florença para enriquecer esses espaços. Desenvolveu um novo tipo de arquitectura, ser- vindo-se de artistas de formação romana como Nicolau de Frias e Pero Vaz Pereira. Seguiu com inovação um modelo «reformado» de igrejas-auditório de novo tipo com decoração integral de interiores, espécie de ars senza tempo pensada para o caso alentejano, onde pintura a fresco, stucco, azulejo, talha, imaginária, esgrafito e outras artes se irmanam. Seguiu as orientações tridentinas de revitalização das sacrae imagines e enriqueceu-as com novos temas iconográficos. Recuperou lugares de culto matricial paleo-cristão como atestado de antiguidade legitimadora, seguindo os princípios de ‘restauro storico’ de Cesare Baronio; velhos cultos emergem então, caso de São Manços, São Jordão, São Brissos, Santa Comba, São Torpes e outros alegadamente eborenses. A arte que nasce em Évora no fim do século XVI, sob signo da Contra-Maniera, atinge assim um brilho que rivaliza com os anos do reinado de D. João III e do humanista André de Resende. O livro reflecte sobre o sentido profundo da sociedade de Évora do final de Quinhentos, nas suas misérias e grandezas. -
Cartoons - 1969-1992O REGRESSO DOS ICÓNICOS CARTOONS DE JOÃO ABEL MANTA Ao fim de 48 anos, esta é a primeira reedição do álbum Cartoons 1969‑1975, publicado em Dezembro de 1975, o que significa que levou quase tanto tempo a que estes desenhos regressassem ao convívio dos leitores portugueses como o que durou o regime derrubado pela Revolução de Abril de 1974.Mantém‑se a fidelidade do original aos cartoons, desenhos mais ou menos humorísticos de carácter essencialmente político, com possíveis derivações socioculturais, feitos para a imprensa generalista. Mas a nova edição, com alguns ajustes, acrescenta «todos os desenhos relevantes posteriores a essa data e todos os que, por razões que se desconhece (mas sobre as quais se poderá especular), foram omitidos dessa primeira edição», como explica o organizador, Pedro Piedade Marques, além de um aparato de notas explicativas e contextualizadoras. -
Constelações - Ensaios sobre Cultura e Técnica na ContemporaneidadeUm livro deve tudo aos que ajudaram a arrancá-lo ao grande exterior, seja ele o nada ou o real. Agora que o devolvo aos meandros de onde proveio, escavados por todos sobre a superfície da Terra, talvez mais um sulco, ou alguma água desviada, quero agradecer àqueles que me ajudaram a fazer este retraçamento do caminho feito nestes anos de crise, pouco propícios para a escrita. […] Dá-me alegria o número daqueles a que precisei de agradecer. Se morremos sozinhos, mesmo que sejam sempre os outros que morrem — é esse o epitáfio escolhido por Duchamp —, só vivemos bem em companhia. Estes ensaios foram escritos sob a imagem da constelação. Controlada pelo conceito, com as novas máquinas como a da fotografia, a imagem libertou-se, separou-se dos objectos que a aprisionavam, eles próprios prisioneiros da lógica da rendibilidade. Uma nova plasticidade é produzida pelas imagens, que na sua leveza e movimento arrastam, com leveza e sem violência, o real. O pensamento do século XX propôs uma outra configuração do pensar pela imagem, desenvolvendo métodos como os de mosaico, de caleidoscópio, de paradigma, de mapa, de atlas, de arquivo, de arquipélago, e até de floresta ou de montanha, como nos ensinou Aldo Leopoldo. Esta nova semântica da imagem, depois de milénios de destituição pelo platonismo, significa estar à escuta da máxima de Giordano Bruno de que «pensar é especular com imagens». Em suma, a constelação em acto neste livro é magnetizada por uma certa ideia da técnica enquanto acontecimento decisivo, e cada ensaio aqui reunido corresponde a uma refracção dessa ideia num problema por ela suscitado, passando pela arte, o corpo, a fotografia e a técnica propriamente dita. Tem como único objectivo que um certo pensar se materialize, que este livro o transporte consigo e, seguindo o seu curso, encontre os seus próximos ou não. [José Bragança de Miranda] -
Esgotar a Dança - A Perfomance e a Política do MovimentoDezassete anos após sua publicação original em inglês, e após sua tradução em treze línguas, fica assim finalmente disponível aos leitores portugueses um livro fundamental para os estudos da dança e seminal no campo de uma teoria política do movimento.Nas palavras introdutórias à edição portuguesa, André Lepecki diz-nos: «espero que leitores desta edição portuguesa de Exhausting Dance possam encontrar neste livro não apenas retratos de algumas performances e obras coreográficas que, na sua singularidade afirmativa, complicaram (e ainda complicam, nas suas diferentes sobrevidas) certas noções pré-estabelecidas, certos mandamentos estéticos, do que a dança deve ser, do que a dança deve parecer, de como bailarines se devem mover e de como o movimento se deve manifestar quando apresentado no contexto do regime da 'arte' — mas espero que encontrem também, e ao mesmo tempo, um impulso crítico-teórico, ou seja, político, que, aliado que está às obras que compõem este livro, contribua para o pensar e o fazer da dança e da performance em Portugal hoje.» -
Siza DesignUma extensa e pormenorizada abordagem à obra de design do arquiteto Álvaro Siza Vieira, desde as peças de mobiliário, de cerâmica, de tapeçaria ou de ourivesaria, até às luminárias, ferragens e acessórios para equipamentos, apresentando para cada uma das cerca de 150 peças selecionadas uma detalhada ficha técnica com identificação, descrição, materiais, empresa distribuidora e fotografias, e integrando ainda um conjunto de esquissos originais nunca publicados e uma entrevista exclusiva ao arquiteto.CoediçãoArteBooks DesignCoordenação Científica + EntrevistaJosé Manuel PedreirinhoDesign GráficoJoão Machado, Marta Machado -
A Vida das Formas - Seguido de Elogio da MãoEste continua a ser o livro mais acessível e divulgado de Focillon. Nele o autor expõe em pormenor o seu método e a sua doutrina. Ao definir o carácter essencial da obra de arte como uma forma, Focillon procura sobretudo explicitar o carácter original e independente da representação artística recusando a interferência de condições exteriores ao acto criativo. Afastando-se simultaneamente do determinismo sociológico, do historicismo e da iconologia, procura demonstrar que a arte constitui um mundo coerente, estável e activo, animado por um movimento interno próprio, no fundo do qual a história política ou social apenas serve de quadro de referência. Para Focillon a arte é sempre o ponto de partida ou o ponto de chegada de experiências estéticas ligadas entre si, formando uma espécie de genealogias formais complexas que ele designa por metamorfoses. São estas metamorfoses que dão à obra de arte o seu carácter único e a fazem participar da evolução universal das formas.


