O Cântico dos Cânticos: traduzido do hebreu, com um estudo sobre o plano, a idade e o carácter do poema
O mais antigo grito da literatura que em voz feminina reivindica a liberdade sexual da mulher.
A meio do Velho Testamento, entre a sabedoria perplexa do «Eclesiastes» e a boa nova aos pobres derramada no «Livro de Isaías», a autoridade de um versículo faz deste Salomão erótico o poeta da grande surpresa profana — pese embora esta evidência às retóricas da interpretação aconselhada; do «Cântico dos Cânticos», chamado assim porque talvez melhor momento entre os hinos ao amor físico saídos da velha literatura hebraica, e que é o incómodo, o indisfarçável embaraço cristão nas águas da espiritualidade bíblica; colecção de metáforas sobre a gramática dos sentidos e com potencialidades de interpretação que chegam a uma inesperada licença. Na verdade, até onde pode levar a redução a realismo das palavras de uma apaixonada que acha o fruto do seu amado «doce ao paladar», o incita a «penetrar no seu jardim e comer dos seus belos frutos», a «beber o mosto das suas romãs», ou vê os dedos da sua própria mão molhados pela «mirra líquida que banha o ferrolho»?
[…]
A relação de Ernest Renan com o «Cântico» não prolonga a veia destas intenções poéticas. Para as palavras bíblicas do «Cântico» Renan quer um palco; quer actores; quer um libelo contra a escravatura dos haréns e recuperar o mais antigo grito da literatura que em voz feminina reivindica a liberdade sexual da mulher.
[Aníbal Fernandes]
| Editora | Sistema Solar |
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| Editora | Sistema Solar |
| Negar Chronopost e Cobrança | Não |
| Autores | Ernest Renan |
Ernest Renan nasceu em Tréguier, Bretanha, no dia 27 de Fevereiro de 1823. Escreveu sobre livros do Antigo Testamento, assumindo o papel de implacável filólogo mas evitando sempre posições demasiado radicais. La vie de Jésus é o ponto alto da sua carreira de escritor e um dos grandes acontecimentos literários do século XIX. Aí recusa o Jesus divino, restituindo-o à sua dimensão humana. Escritor controverso, dividiu e extremou opiniões mas acabou por ser reconhecido, no seu país, como importante figura nacional. Foi professor das línguas hebraica, caldaica e siríaca no Collège de France, de onde foi suspenso devido às suas ideias. Readmitido mais tarde, ascendeu à direcção deste estabelecimento de ensino e teve direito a um lugar na Academia Francesa. Morreu em Paris no dia 2 de Outubro de 1892.
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A Vida De JesusUm dos maiores escritores e historiadores franceses do século XIX, Ernest Renan investiu grande parte da sua vida na perseguição de um grande objectivo: a definição das origens do cristianismo. Uma obra que, quando concluída, atingiu os sete volumes. O primeiro deles é, precisamente, este A Vida de Jesus. Debatendo-se com a tradicional dificuldade em se munir de fontes credíveis (tendo em conta que muitas das fontes originais foram destruídas assim que Constantino assumiu as rédeas do Império Romano),Renan tenta ler nas entrelinhas. Procurando em alguns dos evangelhos menos conhecidos, vasculhando nos poeirentos legados do Império Romano, o historiador leva a efeito uma investigação ímpar e extremamente minuciosa ,capaz de nos trazer uma luz totalmente inovadora sobra a personagem histórica de Jesus Cristo. É então que entra em campo o escritor: envolvendo-se na narrativa, Renan arrasta consigo ;como se, a determinado momento, também nós tivéssemos calcorreado os caminhos da Galileia, pescado nas margens do lago Tiberíades ou assistido em directo ao Sermão da Montanha. Acima de tudo, rejeitando a divinização de Jesus (posto que se trata de uma questão do foro da fé e não propriamente da história),Ernest Renan apresenta-nos um Jesus humano: um homem repleto de ideais que contratavam com muitos dos valores dominantes no seu tempo.
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NovidadeTal como És- Versos e Reversos do RyokanAntologia poética do monge budista Ryokan, com tradução a partir do original japonês. -
NovidadeNocturamaOs poemas são a exasperação sonhada As palavras são animais esquivos, imprecisos e noturnos. É desse pressuposto que Nocturama lança mão para descobrir de que sombras se densifica a linguagem: poemas que se desdobram num acordeão impressionante, para nos trazerem de forma bastante escura e às vezes irónica a suprema dúvida do real. -
Primeiros Trabalhos - 1970-19791970-1979 é uma selecção feita pela autora, da sua escrita durante esse mesmo período. Uma parte deste livro são trabalhos nunca publicados, onde constam excertos do seu diário, performances e notas pessoais. A maioria dos textos foram publicados ao longo da década de setenta, em livros que há muito se encontram esgotados, mesmo na língua original.“Éramos tão inocentes e perigosos como crianças a correr por um campo de minas.Alguns não conseguiram. A alguns apareceram-lhes mais campos traiçoeiros. E algunsparece que se saíram bem e viveram para recordar e celebrar os outros.Uma artista enverga o seu trabalho em vez das feridas. Aqui está então um vislumbredas dores da minha geração. Frequentemente bruto, irreverente—mas concretizado,posso assegurar, com um coração destemido.”-Patti SmithPrefácio de Rafaela JacintoTradução de cobramor -
Horácio - Poesia CompletaA obra de Horácio é uma das mais influentes na história da literatura e da cultura ocidentais. Esta é a sua versão definitiva em português.Horácio (65-8 a.C.) é, juntamente com Vergílio, o maior poeta da literatura latina. Pela variedade de vozes poéticas que ouvimos na sua obra, estamos perante um autor com muitos rostos: o Fernando Pessoa romano. Tanto a famosa Arte Poética como as diferentes coletâneas que Horácio compôs veiculam profundidade filosófica, mas também ironia, desprendimento e ambivalência. Seja na sexualidade franca (censurada em muitas edições anteriores) ou no lirismo requintado, este poeta lúcido e complexo deslumbra em todos os registos. A presente tradução anotada de Frederico Lourenço (com texto latino) é a primeira edição completa de Horácio a ser publicada em Portugal desde o século XVII. As anotações do professor da Universidade de Coimbra exploram as nuances, os intertextos e as entrelinhas da poética de Horácio, aduzindo sempre que possível paralelo de autores portugueses (com destaque natural para Luís de Camões e Ricardo Reis). -
Um Inconcebível AcasoNo ano em que se celebra o centenário de Wisława Szymborska, e coincidindo com a data do 23º aniversário da atribuição do prémio Nobel à autora, as Edições do Saguão e a tradutora Teresa Fernandes Swiatkiewicz apresentam uma antologia dos seus poemas autobiográficos. Para esta edição foram escolhidos vinte e seis poemas, divididos em três partes. Entre «o nada virado do avesso» e «o ser virado do avesso», a existência e a inexistência, nesta selecção são apresentados os elementos do que constituiu o trajecto e a oficina poética de Szymborska. Neles sobressai a importância do acaso na vida, o impacto da experiência da segunda grande guerra, e a condição do ofício do poeta do pós-guerra, que já não é um demiurgo e, sim, um operário da palavra que a custo trilha caminho. Nos poemas de Wisława Szymborska esse trajecto encontra sempre um destino realizado de forma desarmante entre contrastes de humor e tristeza, de dúvida e do meter à prova, de inteligência e da ingenuidade de uma criança, configurados num território poético de achados entregues ao leitor como uma notícia, por vezes um postal ilustrado, que nos chega de um lugar que sabemos existir, mas que muito poucos visitam e, menos ainda, nos podem dele dar conta. -
NovidadeAlfabetoALFABET [Alfabeto], publicado em 1981, é a obra mais conhecida e traduzida de Inger Christensen.Trata-se de um longo poema sobre a fragilidade da natureza perante as ameaças humanas da guerra e da devastação ecológica. De modo a salientar a perfeição e a simplicidade de tudo o que existe, a autora decidiu estruturar a sua obra de acordo com a sequência de números inteiros de Fibonacci, que está na base de muitas das formas do mundo natural (como a geometria da pinha, do olho do girassol ou do interior de certas conchas). Como tal, Alfabeto apresenta catorze secções, desde a letra A à letra N, sendo que o número de versos de cada uma é sempre a soma do número de versos das duas secções anteriores. Ao longo destes capítulos, cada vez mais extensos, Christensen vai assim nomeando todas as coisas que compõem o mundo.Este livro, verdadeiramente genesíaco, é a primeira tradução integral para português de uma obra sua. -
Fronteira-Mátria - [Ou Como Chegamos Até Aqui]Sou fronteiradois lados de lugar qualquerum pé em cada território.O ser fronteiriço énascer&serde todo-lugar/ lugar-nenhum.(…)Todas as coisas primeiras são impossíveis de definir. Fronteira-Mátria é um livro que traz um oceano ao meio. Neste projeto original que une TERRA e MAZE, há que mergulhar fundo para ler além da superfície uma pulsão imensa de talento e instinto.Toda a criação é um exercício de resistência. Aqui se rimam as narrativas individuais, com as suas linguagens, seus manifestos, suas tribos, mas disparando flechas para lá das fronteiras da geografia, do território, das classes e regressando, uma e outra vez, à ancestral humanidade de uma história que é coletiva — a nossa. Veja-se a beleza e a plasticidade da língua portuguesa, a provar como este diálogo transatlântico é também a celebração necessária do que, na diferença, nos une.Todas as coisas surpreendentes são de transitória definição. Há que ler as ondas nas entrelinhas. Talvez o mais audacioso deste livro seja o servir de testemunho para muito mais do que as quatro mãos que o escrevem. Ficamos nós, leitores, sem saber onde terminam eles e começamos nós.Todas as coisas maravilhosas são difíceis de definir. Este é um livro para ouvir, sem sabermos se é poesia, se é música, se é missiva no vento. Se é uma oração antiga, ainda que nascida ainda agora pela voz de dois enormes nomes da cultura hip-hop de Portugal e do Brasil. Mátria carregada de futuro, anterior à escrita e à canção.Minês Castanheira
