O Existencialismo é um Humanismo
"Mas o que é então o Existencialismo? Sartre define o, como vimos, a partir do princípio de que, não existindo Deus, «há pelo menos um ser no qual a existência precede a essência, um ser que existe antes de poder ser definido por um conceito», sendo este ser «o homem», ou, como diz Heidegger, a «realidade humana».
Para Sartre, portanto, o homem primeiro existe e depois é; primeiro age e depois define se a partir de tal acção. Não tem o homem pois uma «natureza» dada previamente, não se define antes de existir, mas a sua definição, o que ele é, a sua «essência», será o que ele fizer, será o que ele se constrói, existindo.
O homem, pois, faz se (como já Mirandola pensou em De hominis dignitate) ou é, genericamente, a «soma» dos seus actos (como Malraux proclama)."
| Editora | Quetzal |
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| Editora | Quetzal |
| Negar Chronopost e Cobrança | Não |
| Autores | Vergílio Ferreira |
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Manhã SubmersaO despertar para a vida de uma criança, entre a austeridade da casa senhorial de D. Estefânia, a sensualidade da sua aldeia natal e o silêncio das paredes do seminário. Um jovem seminarista de 12 anos, é obrigado a ir para o seminário. E a história desenrola-se em torno das vivência e sentimentos que o jovem seminarista vai experimentando. Num ambiente negro, triste, ríspido e severo do seminário, o jovem descobre-se e descobre o mundo que o rodeia: a repressão na educação, a pobreza da sua terra, as desigualdades sociais, o desejo do seu corpo, a camaradagem, a amizade, o amor. «E tomei uma bomba, e cheguei fogo ao rastilho, e esperei. A chama fervia pelo rastilho dentro, aproximava-se vertiginosamente da bolsa de pólvora. Uma placa de aço incandescente colava-se-me, por dentro, ao osso da fronte, queimava-me os olhos uma ácida lucidez. Eu estava sozinho, diante de mim e do mundo, perdido no súbito silêncio em redor. Mas no instante-limite da explosão, no ápice infinito em que tudo iria acontecer, um impulso absurdo, vindo não sei de que raízes, fez-me arremessar a bomba. Ou talvez que não houvesse impulso algum e tudo seja apenas, ainda agora, uma incrível fímbria de receio de que não cumprisse o meu propósito até ao fim.» -
Para SempreEm Para Sempre, «no final de uma vida, entrando no seu epílogo, um homem já sem destino para cumprir medita sobre o seu passado e o seu futuro, no regresso a uma casa vazia onde passou parte da sua infância, povoada de fantasmas que evocam os momentos-chave da sua existência. Recheado de flashbacks para o passado e para o futuro (!), a antevisão, real e com todos os detalhes, da degradação da sua velhice e do seu funeral urge em Paulo a derradeira tentativa de procura da explicação de um sentido para a vida». «Contínua e cada vez mais solitária viagem em volta do único ponto do seu universo: o da sua infância como monólogo inacabado e inacabável em torno do milagre ardente e pavoroso da sua própria aparição no meio do mundo - montanha, estrelas, água, vento que é uma resposta antes de ser desesperada e inútil interrogação.» - Eduardo Lourenço -
Até ao FimUm homem passa a noite numa capela sobre o mar, a velar o corpo do filho, um jovem adulto, deliquente e toxicodependente. Durante essas horas, vai contando na primeira pessoa a história da sua vida e dirige-se ao filho morto, num intenso e perturbante monólogo. -
Do Mundo Original«E eis que, enfim, cerro a porta sobre a minha discussão. É bom estar só. Depois de todo o esforço para estar prevenido, para entender, para me pensar, para ser "coerente" (tão difícil...), para organizar as razões como quem entra em combate, depois de toda a fúria e alvoroço com que enfrentei a contradita dos outros, a minha publicidade e o meu ridículo - é bom regressar e estar só. Ouço a velha voz que me chama essa presença antiga que me espera - presença anterior a todo o meu pensar e que assim jamais discute comigo. Ah, como é fatigante ter razão.» «Em Vergílio Ferreira a arte é a recriação de uma angústia. Essa recriação é uma catarse mas não simplesmnete uma libertação, muito menos uma fuga. O artista revela o seu tempo, com todo o seu contexto epocal, mas transcende o tempo.» -
Em Nome da TerraTenho nas mãos a memória do teu corpo, do boleado doce do teu corpo. As pernas, os seios, deixa-me encher as mãos outra vez. O fio ardente da tua pele. A face. Mal te vejo os olhos, mas o teu olhar cai sobre mim em torrente. Despi-me brusco, deitados os dois na areia, e a fúria, e o limite. E uma só verdade para nós e o universo. Deitados de costas, lemos as estrelas. A paz enorme de horizonte a horizonte. A eternidade. E a necessidade de estarmos lá, para não haver mais nada para fora de nós. Depois erguemo-nos, mergulhámos nas águas. -
ContosVergílio Ferreira, escrevendo no Portugal de Salazar, descreve um país ancorado nos confins dos tempos e que permaneceu inalterado quase até aos nossos dias. Frases magníficas, num português sem rugas, mas que nos introduzem afinal num mundo primitivo, com as suas anacrónicas noções de honra e os seus insólitos rituais de inspiração bíblica. O Vergílio Ferreira-contista nada fica a dever ao Vergílio Ferreira-romancista: em qualquer dos casos é sempre um vulto maior das nossas letras. -
A Estrela«Um dia, à meia-noite, ele viu-a. Era a estrela mais gira do céu, muito viva, e a essa hora passava mesmo por cima da torre. Como é que não a tinham roubado? Ele próprio, Pedro, que era um miúdo, se a quisesse empalmar era só deitar-lhe a mão. Na realidade, não sabia bem para quê. Era bonita, no céu preto, gostava de a ter. Talvez depois a pusesse no quarto, talvez a trouxesse ao peito. E daí, se calhar, talvez a viesse a dar à mãe para enfeitar o cabelo. Devia-lhe ficar bem, no cabelo.» -
Diário InéditoPublicação de manuscritos do Espólio de Vergílio Ferreira, correspondentes a um diário que escreveu, com algumas interrupções, entre 1944 e 1949. Este diário foi escrito por V.F. entre os 26 e os 32 anos e documenta uma fase da evolução do jovem romancista na época em que começou a interessar-se pela leitura de obras de filósofos (entre os quais avulta Sartre) e em que escreveu o romance Mudança que, como é sabido, representou um marco de viragem na evolução da sua obra. Contém reflexões literárias e filosóficas, comentários de leituras e de episódios do dia-a-dia, evidenciando já algumas características que virão, muitos anos mais tarde, a expandir-se em Conta-Corrente. -
A Curva de uma VidaÉ a primeira história (1938) escrita por Vergílio Ferreira e que o seu Espólio nos dá a conhecer. É anterior de um ano ao primeiro romance publicado, O Caminho Fica Longe, acabado de escrever em 1939, e apresenta uma escrita que anuncia já o futuro grande escritor que Vergílio Ferreira será. Encontramos o grande tema vergiliano da ausência do pai, aqui matizado pelo desconhecimento da genealogia, uma vez que o verdadeiro pai não é o marido da mãe, tendo-se este, de resto, suicidado quando o percebeu, deixando o que se julga seu filho supostamente órfão. Em Estrela Polar aparecer-nos-á a incerteza da genealogia (no Ernestinho fraco que talvez não seja o pai do narrador) ligada à necessidade da questionação metafísica: do quem é biologicamente passa ao quem é metafisicamente. Aqui, a descoberta de que não é quem pensa e a consequência que isso tem na avaliação que faz da figura da mãe, leva o jovem a um comportamento eticamente reprovável, levando-o ao estupro da irmã adolescente do que fora o seu melhor amigo no liceu, que entretanto se tornara advogado e que ele contrata para o defender desse estupro, desconhecendo a identidade da rapariga. A novela termina com essa descoberta pelo advogado ao tomar conhecimento dos dados do caso. -
A PromessaÚnico romance completo (1947) que Vergílio Ferreira deixou inédito. A sua importância deriva de ser o primeiro romance de ideias, entre Vagão J e Mudança. É um romance de temática hegeliana (a epígrafe é mesmo uma frase de Hegel), como será Mudança, em que é trabalhado o conflito entre o intelectual nãoactivo e não comprometido na transformação social do mundo, Sérgio, e Flávio, filho de um activista político, que deseja mudar a sociedade. Os dois vão-se confrontando ao longo de todo o romance, apesar de Sérgio ter acolhido e possibilitado a educação de Flávio depois de o pai deste ter passado à clandestinidade. É de notar no romance não só o que será o importante tema vergiliano do pai ausente e, aqui, substituído, como também a complexidade da figura de Sérgio que negativizado pelo racionalismo linear de Flávio, e sendo frequentemente inconsequente, é também generoso no afecto quase paternal para com este e antecipa o que virá a ser o "herói" existencialista a partir de Mudança.
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InstantâneosUma pequena comédia humana, um fresco das nossas vidas cuja moldura é o espírito cáustico e irónico de um grande autor do nosso tempo. Um instantâneo é uma fotografia tirada com um tempo de exposição muito breve e sem apoio de um tripé. Aqui, Magris compõe uma sequência (cronológica) de textos muito breves, em que disseca pequenos e grandes aspetos da vida quotidiana, da vida política e da nossa intimidade. Estigmatiza falsas crenças, maneiras de ler e comportamentos por detrás dos quais se escondem abismos de incompreensão e superficialidade; destaca pequenos gestos que revelam a grandeza da alma humana; e tira da História e da Literatura situações surpreendentes que iluminam o presente confuso em que vivemos.Daqui emerge uma pequena comédia humana, um fresco das nossas vidas cuja moldura é o espírito cáustico e irónico de um grande autor moralista (na mais elevada aceção do termo) do nosso tempo – que não nos diz como devemos ser ou viver, mas que nos convida a olhar para nós com rigor e ternura.