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Sinopse

"Foi, desde sempre, incentivada pela família a nunca desistir de sonhar e lutar até alcançar a realização dos seus sonhos. Frequentando escolas de ensino regular foi confrontada com desafios e desventur...as que, mesmo dolorosas, a ajudaram a compreendero sentido da vida. Hoje vê as "colheitas" dessa luta da qual nunca desistiu. Trabalha na Câmara Municipal de Espinho - Divisão de Turismo - desempenhando as funções de Técnica de Multimédia, num ambiente saudável de carinho e amizade partilhado por todos. Este livro mostra mais um desafio superado.

Com o intuito terapêutico, proposto pela Dra. Ivone Almeida Soares, Licenciada em Psicologia, a Liliana descreve vivamente todas as cores do Arco-Íris que, no seu dia-a-dia, foi descobrindo e que com elas adorna o seu sorriso, mesmo em alturas em que, no céu da sua alma, possam surgir algumas nuvens."

O meu nascimento – 11 de Dezembro de 1977

Só pela minha primeira respiração, dou graças a Deus.
O parto tornou-se um pouco difícil. Com o auxílio da ventosa, conseguiram tirar-me do corpo da Maria do Mar. Nasci! A sala de partos do Hospital continuava sem o meu choro,… mas com a ajuda da respiração boca-a-boca e da reanimação da equipa médica e com toda a força da minha mãe, consegui chorar, consegui começar a viver! Tudo isto aconteceu na madrugada do dia 11 de Dezembro de 1977, na vareira cidade de Espinho, embelezada pelo mar e pelo frio que cobria aquele dia.

Tudo parecia certo, mas algo estava errado…

Cheguei a minha casa acolhida pelo meu pai e pela a ansiedade risonha da Gabriela, a minha única irmã de oito anos de idade.
A tia Noémia foi quem tomou conta de mim depois de eu ter completado os quatro meses de idade, para que a minha mãe pudesse recomeçar a trabalhar no jardim-de-infância, onde também já lidava com crianças. Aparentemente, todo o meu desenvolvimento parecia normal, mas a minha mãe foi-se apercebendo de que a posição das minhas mãos não era muito correcta e disso falou ao pediatra na consulta dos oito meses. Mas, pela força com que abria e fechava as gavetas da secretária do Dr. Trindade, este disse que nada viu que o alarmasse. No entanto, e para seu sossego, a minha mãe foi comigo à Dra. Ofélia Miranda, médica no Hospital Maria Pia no Porto. Tudo parecia certo, no entanto algo estava errado… Com um ano de idade ainda não conseguia caminhar sozinha e apenas com o auxílio do banco da cozinha andava pela casa. A má notícia chegou pela boca da Dra. Ofélia Miranda, neuropediatra, que diagnosticou uma paralisia cerebral. Inúmeras coisas podem ter provocado a lesão: o facto de ter nascido com o cordão umbilical à volta do pescoço; o uso da ventosa; a paragem respiratória ou a falta de oxigénio que ocorreu naqueles minutos em que estive “como morta”, até à incompatibilidade sanguínea dos meus pais, ou ainda, a vontade de Deus… (ou talvez a minha vontade quando decidi vir a este mundo...).

A “bonequinha” de carne e osso da Gabriela

Nesse dia começou a grande luta da minha mãe, que nunca desistiu de “correr tudo” para me ver melhorar dia-a-dia, sofrendo ainda pela ausência de Francisco, o meu pai, que vivia na incerteza familiar. Num dia vinha jantar e acariciava-nos, no outro já não sabíamos onde se encontrava. Depois, já não tinha pai para brincar… Vivíamos um dia de cada vez! Para não magoar o avô Gabriel e a avó Carlota, pais da minha mãe, nada se dizia sobre a situação familiar vivida. Tornei-me na verdadeira “bonequinha” da Gabriela, que já com os seus nove anos, era o braço direito da minha mãe. Lembro-me muito bem de que, muitas e muitas vezes, era a minha irmã que me dava banho. A nossa casa de banho não tinha grandes condições, não tinha banheira, sequer… e para não escorregar, era numa enorme bacia plástica que me davam banho. Depois, a minha irmã vestia-me na sala por ser mais fácil. Recordo-me de o meu pai chegar depois de uns dias fora. A minha irmã estava a acabar de me vestir quando ele regressou. Foi com um enorme sorriso que o recebemos. Trazia um jogo de água que comprara para mim, que tinha uns botões grandes, que me facilitava muito o manuseamento.

O meu primeiro aniversário

No dia do meu primeiro aniversário comemorei com os meus amiguinhos do jardim-de-infância, onde parti um bolo com todos da minha sala.
Quando soprei a primeira vela, estava a minha mãe e também estavam o Miguel, a Rosana, o Rodrigo e a Joana, os meus grandes amigos de infância e meus vizinhos. Apesar de estar no jardim-de-infância onde a minha mãe trabalhava, não estava na sala dela. Mas sempre que ela passava na minha sala, mesmo sem a ver e sem a ouvir, eu chorava, como se a sentisse e conhecesse os seus passos.

O início da minha reabilitação

Uma nova etapa chegava até nós, uma nova corrida para a minha mãe: a avaliação no Centro de Reabilitação de Paralisia Cerebral do Porto (CRPC). Começaram a fazer parte da nossa rotina semanal as idas ao Porto, quer fizesse calor ou frio, quer houvesse sol ou chuva. Partíamos no comboio da manhã e, da estação de S. Bento até a Arca d’Água, a minha mãe transportava-me ao colo, para apanhar os vários autocarros que nos permitissem lá chegar. Era complicado subir e descer nos transportes públicos com a cadeirinha de bebé… Depois de chegar ao Centro, tinha então as sessões de terapia ocupacional e de fisioterapia, que ajudaram imenso ao meu desenvolvimento. Graças a estas, fui aprendendo a gatinhar, a encontrar formas de equilíbrio, a controlar a saliva, bem como muitas outras coisas e estratégias para o dia-a-dia, tanto para mim como para a minha família.
Com o esforço de toda a família, com a fisioterapia e a terapia ocupacional, no CRPC, comecei a dar os meus primeiros passos e a ser cada vez mais independente. Fui vivendo e aprendendo dia-a-dia a equilibrar-me e a controlar a saliva e os movimentos das minhas mãos.
Pouco a pouco, com ajuda de talheres com um cabo mais grosso, para que pegasse melhor, consegui fazer a minha alimentação sozinha. A saliva não foi um caso de treino, mas uma forma de me concentrar para a engolir, como o terapeuta Lucas (terapeuta ocupacional) me ensinava. Com o tempo, fui também aprendendo a vestir sozinha aquelas peças que não precisava de apertar.

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Autor

Liliana Ribeiro

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